O clássico do Cure Disintegration completa 30 anos e o site Sounds Like Us me chamou – além de uma galera – para falar sobre a importância do disco – confere lá.
Fui conversar com o Tom Zé para o site Reverb sobre o segredo de sua longevidade e ele aproveitou para dar uma aula de história sobre sua percepção de mundo – confere lá.
Conversei com o maestro Thiago França, líder da Espetacular Charanga do França, um dos blocos-símbolos do novo carnaval de rua de São Paulo – este é o assunto da minha coluna Tudo Tanto desta semana no Reverb, confere lá.
Na minha primeira colaboração para a revista Zum, escrevi sobre deepfakes, monitoramento online e guerra não-linear em um texto sobre a imagem na era da pós-verdade – confere lá.
Na edição desta semana da minha coluna Tudo Tanto, conversei com Rafa, João e Fred, donos dos selos Assustado, EAEO e Goma Gringa, que se uniram com o nome de Três Selos relançar velhos e novos clássicos da música brasileira em vinil – começando pelo último disco de Sérgio Sampaio, Sinceramente. Lê lá no Reverb.
Alma d’O Rappa e um dos principais ativistas de nossa música neste século despediu-se deste plano – escrevi sobre sua importância a pedido do UOL.
É triste a partida de Marcelo Yuka neste momento da história do Brasil. Embora sempre associado ao grupo O Rappa e ao incidente que o deixou preso a uma cadeira de rodas pelo resto da vida, o compositor e baterista, que morreu nesta sexta-feira (18), reconstruiu sua vida para além deste trecho de sua biografia. Foram sete anos com a banda e 18 depois de sua saída. E uma de suas maiores frustrações era ver a ascensão do fascismo à rotina de nosso país, normalizando a violência e tirando o ódio do armário dos brasileiros.
Ele é um dos personagens-chave na música pop do fim do século passado que ajudou o legado cultural brasileiro do período ir além das monoculturas industrializadas da axé music, do sertanejo e do pagode, puxando temas importantes para serem discutidos em canções que poderiam ser simples hits vazios. Sua presença no grupo O Rappa, que ajudou a fundar no início dos anos 90, era mais importante do que seu papel como músico ou compositor, cargo que dividia com seus companheiros de banda.
Yuka era um ativista da arte e sabia da importância da política nos pequenos atos do dia a dia. Pertencia a uma geração disposta a contar a história das ruas em canções que vão para os rádios, como a Nação Zumbi de Chico Science e os Racionais MC’s de Mano Brown. Juntos, os três delimitaram um território musical no imaginário musical brasileiro que via o levante cultural de uma nova periferia como o começo de um rascunho de um novo país.
“Da Lama ao Caos” (a estreia da Nação Zumbi em 1994), “Sobrevivendo no Inferno” (o disco-manifesto que os Racionais lançaram em 1997) e “Lado B Lado A” (o disco d’O Rappa de 1999 dirigido por Yuka) criaram, através da música, uma nova consciência de classe e uniram diferentes focos do público ouvinte brasileiro que não se identificava com o romantismo escapista do pop que tomava conta das rádios da época.
“Lado B Lado A” é um dos grandes discos de nossa música e a responsabilidade é toda de Yuka, que colocou em prática o que sabia em teoria: a música poderia ter um impacto na vida das pessoas para além da simples diversão. Nos discos anteriores (o homônimo álbum de estreia, de 1994, e “Rappa Mundi”, de 1996), o baterista já se destacava como o principal compositor da banda, assinando letras que sintetizavam sua consciência social, como “Todo Camburão tem um Pouco de Navio Negreiro”, “Fogo Cruzado”, “Brixton, Bronx ou Baixada”, “Catequeses do Medo”, “Pescador de Ilusões”, “A Feira”, “O Homem Bomba” e a versão da letra de “Hey Joe”, imortalizada por Jimi Hendrix.
Sem as canções de Yuka, O Rappa, que foi montado às pressas para acompanhar o cantor jamaicano Pato Banton em uma turnê em 1993, talvez nem existisse –ou se existisse seria menos relevante que outros grupos de reggae no Brasil, como Cidade Negra ou Tribo de Jah.
Com Yuka, O Rappa era um colosso. Em seu terceiro disco, Yuka ia além e afundava ainda mais o dedo na ferida brasileira, em canções imortais como “Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero)”, “Cristo e Oxalá”, “Me Deixa”, “Tribunal de Rua” e “O Que Sobrou do Céu”, transformando O Rappa em uma potência musical de fortes matizes políticas, como alguns dos artistas que inspiraram o baterista, como Bob Marley, Public Enemy e The Clash.
Mas foi drasticamente interrompido quando, no dia 9 de novembro do ano 2000, ao tentar parar um assalto que testemunhara no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, Yuka foi vítima de uma chuva de 15 tiros disparados contra seu carro. Um deles atingiu uma de suas vértebras, deixando-o paraplégico. Mas nem as balas foram o suficiente para pará-lo e o músico seguiu com a banda, mesmo sem poder tocar mais bateria.
Lembro de uma noite memorável no Recife, no primeiro dia do festival Abril Pro Rock de 2001, num dos últimos shows com o músico – já cadeirante – na banda, quando dividiram o palco com a Nação Zumbi e o grupo anglo-indiano Asian Dub Foundation e a tensão política atingia o mesmo clímax que a potência musical dos três grupos reunidos. Yuka deixou O Rappa naquele mesmo 2001, insatisfeito com o rumo que seus ex-companheiros queriam dar para a banda. Ele lamentava que o grupo, que encerrou suas atividades em 2017, mantinha-se como “a maior banda cover de si mesmo do Brasil”, sobrevivendo de um repertório que o baterista havia composto duas décadas antes.
A partir de então, ele passou a se dedicar a seu projeto solo, que logo virou um grupo. Resumido na sigla F.Ur.T.O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), ele seguia a fusão de rap, rock, reggae e punk d’O Rappa acrescentando funk, dub e música eletrônica à mistura, ao lado do guitarrista carioca Maurício Pacheco (ex-Mulheres Q Dizem Sim e Stereo Maracanã) e dos pernambucanos Alexandre Garnizé (do grupo de rap Faces do Subúrbio) e Jamilson da Silva (da banda de DJ Dolores Orchestra Santa Massa). Seu único disco, “Sangueaudiência”, foi lançado em 2005.
O F.Ur.T.O. também o engajou definitivamente em causas sociais e ele era uma voz constante na periferia, sempre lutando pelo desarmamento e pelo diálogo junto aos mais desassistidos pelo estado. Sua luta política foi para a prática: além de filiado ao PSOL, Yuka também foi candidato a vice-prefeito na chapa liderada por Marcelo Freixo, em 2012. Antes disso, foi assunto do documentário “Marcelo Yuka no Caminho das Setas”, dirigido por Daniela Broitman, em 2011, quando tentou, sem sucesso, encontrar-se com os assaltantes que lhe fizeram vítima, e depois lançou sua versão para os fatos na biografia “Não Se Preocupe Comigo”, assinada ao lado do jornalista Bruno Levinson, em 2014.
Em 2017, Yuka lançou seu primeiro disco solo, “Canções para Depois do Ódio”, que contava com participações das cantoras Céu e Cibelle e lidava com o tema da depressão, que o atacou após o incidente de 2001. Sempre engajado, detectou o início da onda reacionária no Brasil quando o público vibrava ao ver os bandidos mortos no filme Tropa de Elite, de 2007, e numa entrevista na TV com um ator global que se gabava de não ler nem nunca ter feito teatro. “Ele só teve coragem (de falar isso) porque existe um pensamento burro no ar que o respalda”, disse em uma entrevista de 2014.
Por isso mesmo é triste saber que ele partiu deste plano sabendo que a lógica oposta à que sempre trabalhou chegou ao poder justamente por orgulhar-se de sua abjeção. Fica, no entanto, seu legado.
1° de janeiro de 1962 – Os Beatles fazem uma audição para a gravadora Decca, que os dispensa
O empresário Brian Epstein já vinha tentando fazer que gravadoras de Londres ouvissem a banda com a qual havia começado a trabalhar. Os Beatles vinham da distante Liverpool, mas já tinham um público fiel no norte do país. Para ele, o sucesso local poderia ser reproduzido na capital. Depois de tomar portas na cara da Columbia, HMV, Philips, Oriole e Pye, ele finalmente conseguiu a atenção de um selo. E, no último dia de 1961, o grupo sairia de Liverpool rumo a Londres sob uma tempestade de neve, para serem ouvidos profissionalmente pela primeira vez.
No dia 1° de janeiro de 1962, os Beatles se apresentaram ao vivo por quase uma hora no estúdio da gravadora Decca nesta que se tornou a sessão de gravação mais conhecida da história – pelos motivos errados. Os Beatles, que ainda contavam com Pete Best como seu baterista, tocaram 15 músicas no total. Entre elas, vários clássicos do rock que foram depois eternizados por eles, como “Money (That’s What I Want)”, “Till There Was You” e “To Know Her Is to Love Her”, além de hits como “Take Good Care of My Baby”, “Three Cool Cats”, “Memphis, Tennessee”, “Sure to Fall (In Love with You)” e até “Bésame Mucho”. Ainda apresentaram três composições da dupla de compositores e vocalistas da banda, John Lennon e Paul McCartney: “Like Dreamers Do”, “Hello Little Girl” e “Love of the Loved”.
A banda saiu animada da sessão, mas logo recebeu más notícias: a gravadora os dispensou, dizendo que “grupos de guitarra estão fora de moda” e que “os Beatles não tinham futuro no showbusiness”. Meses depois, Brian conseguiu contatos na gravadora EMI e, depois de ter sido dispensado por rigorosamente todos eles, finalmente chegou aos ouvidos de George Martin, que tocava um selo de comédia chamado Parlophone e achou que valeria dar uma chance para aqueles garotos que Brian vendia tão entusiasmadamente. A partir daí, começa a carreira fonográfica dos Beatles, meses após aquele infame primeiro de janeiro, uma data que todos os envolvidos preferiam ver apagadas da história.
Felizmente a gravação sobreviveu (Brian pagou a Decca pelo registro) e nunca foi lançada oficialmente pelos Beatles (embora algumas faixas aparecessem no primeiro volume da coletânea “Anthology”). Algumas faixas circulam entre pirateiros como uma prova da falta de noção de uma gravadora que perdeu sua chance de entrar para a história, cometendo este é que é considerado o maior erro da música.
Conversei com o filósofo digital Jaron Lanier, que está lançando no Brasil um livro cujo título é auto-explicativo: Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, que está sendo lançado no Brasil pela Editora Intrínseca – a entrevista saiu no site da editora. Um trecho:
Realmente acho que não devemos entrar em pânico ou ficar desesperados, especialmente agora. Estamos entrando em uma era em que o mundo será comandado por esses caras mal-humorados e paranoicos e ela pode durar muito tempo; talvez seja uma época em que não tenhamos democracia. E a única coisa que podemos fazer de verdade por ora é tentar nos preparar para a próxima época, quando as coisas talvez melhorem. Esse é um projeto meu. É o que estamos tentando fazer aqui nos Estados Unidos e vocês precisam fazer no Brasil e os europeus na Europa. Todos temos que tentar atravessar este período e não podemos perder a fé nem nossa imaginação para encontrar o caminho para a nova era.
Leia a íntegra da entrevista aqui.

Ilustração: Babee Scarambone
Colaboro mais uma vez com a ótima Revista Helena, desta vez escrevendo o ensaio “Interferir, mexer, remixar“, que versa sobre como a tecnologia moderna está destruindo o conceito de indústria cultural para reinventar um novo parâmetro de cultura, com a ascensão do prosumer – produtor e consumidor – antevisto por Marshall McLuhan (sempre ele). O texto vem ilustrado pelas belas colagens da querida Babee Scarambone e esta edição da revista ainda conta com um papo de Kamille Viola com Rogerio Skylab, uma entrevista com José Ramos Tinhorão, Roberto Mugiatii lembrando do inverno de 1962 em Londres, uma linda HQ do Guazzelli, um conto de Carol Bensimon, a celebração no aniversário do romance Avalovara, de Osman lins, entre outras ótimas pautas – confere lá.
O evento Sons da Rua, que neste sábado, reúne integrantes de diferentes gerações do rap nacional (de Mano Brown a Djonga, Rincon Sapiência e Alt.Niss, Thaíde e Emicida), é uma das muitas manifestações da consolidação da importância do gênero em nossa cultura – falei sobre isso na minha coluna Tudo Tanto desta semana.