Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Estes são os vencedores do prêmio APCA na categoria música popular em 2024

Alaíde Costa, Hermeto Pascoal, Amaro Freitas, Maria Esmeralda, Boogarins, Racionais MCs e Black Pantera foram os vencedores de 2024 de acordo com a comissão de música popular do júri da Associação Paulista dos Críticos de Arte após assembleia geral realizada no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo nesta segunda-feira. Eis o resultado de cada categoria:  

Quem vem pro Lollapalooza desse ano que também vai tocar fora do Lollapalooza? Fontaines D.C., Parcels, Girl in Red, Inhaler e Jpegmafia

Fontaines D.C., Girl in Red, Inhaler, Jpegmafia e Parcels: estes são os artistas gringos que virão para o Lollapalozza brasileiro deste ano e que também tocarão fora do festival, como foi anunciado nesta terça-feira. O evento principal acontece no último fim de semana de março e trará, entre suas atrações principais, nomes como Olivia Rodrigo, Alanis Morrissette, Justin Timberlake e Tool, que coroam uma edição do festival que finalmente sai da mesmice confudsa das versões anteriores. Os shows paralelos começam numa quarta-feira, no dia 26 de março, quando o incensado grupo irlandês Fountains D.C. mostra seu novo álbum Romance em um show no Áudio feito em parceria com o selo Balaclava Records. No dia seguinte, quinta-feira, quatro shows diferentes acontecem em duas casas: no Cine Joia o carioca DJ RaMeMes (único brasileiro nestes shows paralelos) abre para o MC nova-iorquino Jpegamafia, que tocou há pouco no Brasil na primeira edição do festival Primavera em 2023, enquanto no Áudio a noite reúne a norueguesa Girl in Red com outra banda irlandesa, o Inhaler liderado pelo filho do Bono, do U2, Elijah Hewson. A última atração paralela ao festival acontece no dia 31, uma segunda-feira, quando o grupo australiano Parcels apresenta-se também no Áudio. Confesso que tinha uma expectativa por shows do The Marias, do Caribou ou do Michael Kiwanuka, mas estas quatro noites são uma boa opção para quem não quer pegar o perrengue do festival. Os ingressos já estão à venda neste link.

Os 50 discos brasileiros mais importantes de 2024 segundo júri da Associação Paulista dos Críticos de Arte

Nesta segunda-feira, a Associação Paulista de Críticos de Arte reúne-se mais uma vez para escolher os grandes nomes do ano que passou e esta relação abaixo lista os 50 discos mais importantes de 2024 de acordo com o júri de música popular da Associação, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (Mistura Cultural), Bruno Capelas (Programa de Indie), Camilo Rocha (Bate Estaca), Cleber Facchi (Música Instantânea), Felipe Machado (Times Brasil), Guilherme Werneck (Canal Meio), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola) e Pérola Mathias (Poro Aberto).

Adorável Clichê – Sonhos Que Nunca Morrem
Alaíde Costa – E o Tempo Agora Quer Voar
Amaro Freitas – Y’Y
Bebé – Salve-se!
Black Pantera – Perpétuo
Bonifrate – Dragão Volante
Boogarins – Bacuri
Cátia de França – No Rastro de Catarina
Caxtrinho – Queda Livre
Céu – Novela
Chico Bernardes – Outros Fios
Chico César e Zeca Baleiro – Ao Arrepio da Lei
Crizin da Z.O. – Acelero
Curumin – Pedra de Selva
Duda Beat – Tara e Tal
Exclusive Os Cabides – Coisas Estranhas
Febem – Abaixo do Radar
Fresno – Eu Nunca Fui Embora
Giovani Cidreira – Carnaval Eu Chego Lá
Gueersh – Interferências na Fazendinha
Hermeto Pascoal – Pra você, Ilza
Ilessi – Atlântico Negro
Josyara – Mandinga Multiplicação – Josyara Canta Timbalada
Junio Barreto – O Sol e o Sal do Suor
Kamau – Documentário
Lauiz – Perigo Imediato
Luiza Brina – Prece
Maria Beraldo – Colinho
Milton Nascimento & Esperanza Spalding – Milton + Esperanza
Ná Ozzetti e Luiz Tatit – De Lua
Nando Reis – Uma Estrela Misteriosa
Negro Leo – RELA
Nina Maia – Inteira
Nomade Orquestra – Terceiro Mundo
Oruã – Passe
Papangu – Lampião Rei
Paula Cavalciuk – Pangeia
Pluma – Não Leve a Mal
Pullovers – Vida Vale a Pena?
Samuel Rosa – Rosa
Selton – Gringo Vol. 1
Sergio Krakowski Trio e Jards Macalé – Mascarada: Zé Kéti
Silvia Machete – Invisible Woman
Sofia Freire – Ponta da Língua
Tássia Reis – Topo da Minha Cabeça
Taxidermia – Vera Cruz Island
Teto Preto – Fala
Thalin, Cravinhos, Pirlo, iloveyoulangelo & VCR Slim – Maria Esmeralda
Thiago França – Canhoto de Pé
Zé Manoel – Coral

Desaniversário | 18.1.2025

Vamos à primeira Desaniversário de 2025 neste sábado, quando mais uma vez eu, Clarice, Camila e Claudinho transformamos o Bubu em nossa pista de dança preferida, pinçando clássicos de todas as épocas e músicas que você nem lembrava que gostava para se acabar de dançar neste começo de ano quente! O Bubu fica na marquise do estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/n) e não custa reforçar que nós começamos e terminamos cedo pra dar tempo pra todo mundo curtir o domingo – começamos às 19h e vamos até a meia-noite. Vem dançar com a gente!

Sob a influência de Joni Michell

Como é de se esperar, a cada nova apresentação do show que fizemos em homenagem a Joni Mitchell ele sobe um degrau, mas essa quarta edição que Luiza Villa conduziu no Sesc Avenida Paulista nessa sexta-feira foi um salto em relação às anteriores. Foi o primeiro show feito para o público assistir de pé, o que deu outra cara à apresentação. Também foi a estreia do novo guitarrista, João Vaz, comedido e preciso em suas participações e abrindo vocais com Luiza com frequência, deixando os outros músicos – Pedro Abujamra, revezando-se entre o piano de cauda e o teclado elétrico, Tommy Coelho, que fez um solo maravilhoso de bateria no meio do show, e João Ferrari sempre esmerilhando no baixo – soltarem-se ainda mais, reforçando o vínculo instrumental da banda. Foi o primeiro show com a participação de um músico convidado e a estreia foi de João Barisbe, trazendo seu sax para o universo de Joni sem cerimônias. Mas o principal foi ver como a idealizadora do tributo está cada vez mais à vontade ao encarar uma obra tão rígida. Luiza Villa brilha a apresentação inteira não apenas como vocalista mas também como instrumentista, trocando de guitarras e violões para criar atmosferas especificas para diferentes momentos na noite. O figurino celebrando Patti Smith na capa de seu primeiro disco – a camisa social branca frouxa e a gravata mal amarrada – ajudou-a a soltar-se ainda mais no palco, inclusive nos momentos em que não canta. Mas era a influência de Joni Mitchell que pairava sobre a noite, não apenas com suas letras gigantescas e jogos de palavras, mas com camadas musicais que misturavam folk, jazz, blues e, por que não?, música brasileira, base instrumental de todos no palco. O show contou com músicas novas no repertório: “Goodbye Pork Pie Hat” e “Black Crow”, ambas da fase mais jazz de Joni com Barisbe arrasando em seu instrumento (ele ainda tocou em “Help Me” e no bis do final com “Free Man in Paris”. O show, que ainda teve os belos vídeos de Olívia Albegaria, ainda reverenciou Neil Young no momento acústico, quando Villa chamou Vaz para dividir vocais e violões na maravilhosa “Harvest Moon”. Fácil dizer que o show atingiu outro patamar, vamos ver quais serão os próximos passos.

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Inferninho Black Lodge

Calhou de fazer o primeiro @inferninhotrabalhosujo no Porão da @casadefrancisca no mesmo dia em que David Lynch foi para o plano imaterial e o cenário não poderia ser mais adequado para celebrar a importância do mestre, com pesadas cortinas vermelhas e o ladrilho contínuo do chão da casa transformando o Inferninho num black lodge involuntário. Pois essa bênção etérea deu o tom da noite, que começou com o primeiro encontro público de Olívia Munhoz e Sophia Chablau no projeto Lembrancinha, em que as duas cantarolaram suas respectivas canções abusando de efeitos elétricos nas guitarras e nos pedais, alternando entre a melodia e o noise com direito a respectivos momentos solo, quando uma deixava o palco para a outra brincar sozinha. Tudo sob a supervisão sônica da carabobina Alejandra Luciani, terceiro elemento (ainda) invisível do projeto, que de vez em quando chegava perto do palco para fazer suas intervenções. A noite continuaria com o show frenético do Ottopapi.

Depois foi a vez de Ottopapi invadir aquele black lodge. Prometendo gravações de suas canções ainda para esse ano, ele reforçou que suas jovens hinos underground (“Bala de Banana”, “Controle”, “Pó Poeira”, entre outras joias) só podem ser ouvidos em seus shows e acompanhado por um quinteto de ouro (Thales Castanheira, Vitor Wutzki, Gael Sonkin, Bianca Godói e Danilera) conseguiu ligar a química do Inferninho ao fazer o público, que estava assistindo ao show anterior sentado, levantar e dançar juntos esse rock de linhagem velvetundergroundiana, puxando a linhagem nova-iorquina de um rock paulistano que vai ser bastante ouvido em 2025. A noite seguiu essa linha na discotecagem que eu, Pérola e Bamboloki fizemos juntos – e que mais tarde descambou até pra latinidades, numa primeira edição quente do Inferninho na Casa de Francisca. Quem foi sabe.

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Billie Eilish via Twin Shadow

E esse tapa que George William Lewis Jr., também conhecido como a banda de um homem só Twin Shadow, deu no hit de Billie Eilish do ano passado (a música mais tocada no Spotify em 2024), “Birds Of A Feather”? Ele postou a versão em seu Instagram sem dizer se irá lançá-la oficialmente, mas explicando que deu um “tratamento invernal” à canção, levando-a para os anos 80 que tanto gosta de impregnar em sua discografia. A música provavelmente estará em seu próximo álbum, Georgie, que segue o disco batizado com seu próprio pseudônimo de 2021 e foi anunciado no fim do ano passado para sair em março, com o lançamento do primeiro single, a apenas mediana “As Soon As You Can”. Mas a versão pra música da Billie foi uma joia e tomara que ele libere logo a íntegra. Ouça as duas abaixo:  

Teenage Fanclub em São Paulo!

Confirmada a vinda de uma das bandas escocesas mais queridas de todos os tempos para o Brasil, quando, no dia 4 de setembro, ninguém menos que o Teenage Fanclub volta pra cá pra uma apresentação única no Cine Joia. É a primeira vez que o grupo vem ao Brasil desde 2011, quando tocaram no The Week, e também a primeira vinda da banda desde a saída de um dos seus fundadores, Gerard Love, que saiu do grupo em 2018, sendo substituído por dois novos integrantes, o baixista Dave McGowan e o tecladista Euros Childs, este último fundador da clássica banda galesa Gorky’s Zygotic Mynci. O grupo vem ao país na turnê de seu disco de 2023, Nothing Lasts Forever, mas inevitavelmente tocará músicas de seus discos clássicos dos últimos 30 anos. Os ingressos já estão à venda neste link.

Veja abaixo o poster do show brasileiro:  

50 anos hoje

Eis os 50. Cinquentinha. Cinquentão. Cinquentenário. Meio século. Meia vida. Me deem os parabéns — e vamos lá. ❤️

Diva Guimarães (1940-2025)

Muito triste saber que dona Diva Guimarães, que emocionou a Flip e o Brasil em um depoimento espontâneo em 2017, morreu no sábado passado. Foi a primeira vez que a Festa Literária Internacional de Paraty abriu o microfone para a participação do público e Diva, professora, foi a primeira a falar durante uma mesa em que participava o ator e escritor Lázaro Ramos, quando sentiu-se à vontade para contar toda a dor do racismo que atravessou sua biografia, num depoimento que recupero para lembrar sua passagem. Era minha quarta Flip à frente das redes sociais do evento e quando soube daquela tocante participação não tive dúvidas sobre a possibilidade de publicar no Facebook da festa, o que transformou sua participação não apenas em uma das principais atrações do ano, mas também trouxe à tona questões ligadas à escravidão que ainda fingimos esconder sob a sensação de normalidade que ainda paira sobre o país. Aquela fala a transformou em uma voz a ser ouvida e durante a festa pude colocá-la ao lado de Conceição Evaristo, que tanto admirava. Diva seguiu sendo ouvida em outros programas e entrevistas, levando sua triste história para milhões de pessoas no Brasil e escancarando uma ferida que fingimos ter cicatrizado. Obrigado pela coragem de contar sua história.

Assista abaixo: