Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Nouvelle Vague, un film de Richard Linklater

Mais notícias de Cannes: o grande Richard Linklater revelou mais um projeto que é bem a cara dele – embora não tenha sido bem recebido pela crítica – ao mostrar seu novo filme, batizado de Nouvelle Vague. E como o título deixa claro, é a história do punk rock cinematográfico que críticos da Cahier du Cinema transformados em cineastas deram na sétima arte ao livrá-la de diversas amarras impostas pela versão norte-americana que a ainda infante disciplina foi submetida por Hollywood ao transformá-la em indústria. Linklater é um dos diretores americanos contemporâneos que melhor subverte estas regras ao encabeçar projetos tão distintos quanto a deslumbrante trilogia Antes, o lindo Apollo 10 e ½, o paranoico Homem Duplo o ousado Boyhood, o onírico Waking Life e os divertidos Escola do Rock, SubUrbia e Jovens Loucos e Rebeldes e resolveu contar a história da cena impulsionada por nomes como François Truffaut, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer, Claude Chabrol, Alain Resnais, Agnès Varda e Jacques Demy transformando-a não apenas em um documentário fantasiado de ficção como também em uma espécie de bula sobre os valores estéticos e políticos do movimento (ao ser filmado como foi Acossado, o marco-zero daquela cena). Independentemente de ser um bom filme ou não, não tenho dúvidas que fará muita gente descobrir a nouvelle vague e buscar rever os clássicos, além de, a médio prazo, fazer filmes (ou clipes ou vídeos pro YouTube ou pra próxima plataforma de vídeo) inspirados nessa iniciativa.

Assista ao trailer abaixo:  

Será que é só um clipe novo da Charli XCX?

“Party 4 U”, música que Charli XCX fez em 2016, quase foi lançada em 2017 no disco Pop 2 (quando o produtor A.G. Cook acabou por tirá-la da seleção final) e finalmente veio a público no disco que ela lançou durante a pandemia, How I’m Feeling Now, viralizou no começo do ano e deu a dica para que a sensação inglesa relançasse a música para comemorar os cinco anos deste que ela considera seu disco mais desafiador, por ter sido organizado e lançado durante o período mais crítico da pandemia, com gravações feitas à distância e sem expectativas sobre shows no horizonte. Ela agora celebra o aniversário de seu disco pandêmico lançando um clipe para a música, idealizado, gravado e editado em quatro dias, mas algo me diz que ela não está fazendo apenas isso. Afinal, mudou mais uma vez a capa do disco (que, como fez com todos os seus álbuns durante a era Brat, o grande acontecimento fonográfico de 2024), restaurando a imagem original que a mostrava adeitada na cama, apontando sua handycam para o alto. Não duvide se nos próximos dias ela aparecer com uma versão do disco de 2020 cheia de extras, repetindo a fórmula que Taylor Swift inventou para permanecer nas paradas das plataformas de streaming por mais tempo, e que ela mesma atomizou de forma intensa com seu disco do ano passado. E isso se ela não começar este processo em relação a todo seu catálogo, uma boa deixa para preencher o período sem novidades pós-Brat. A ver.

Assista abaixo:  

Novidades do Dylan!

O sujeito está prestes a completar 84 anos e não para de nos surpreender. Primeiro foi nesta terça, quando realizou o primeiro show de mais uma turnê que vem fazendo com Willie Nelson (a tal Outlaw Tour, que fez os dois se encontrar no ano passado), em Phoenix, nos EUA, e pinçou algumas músicas que não tocava há tempos, como sua clássica “Mr. Tambourine Man” e versões de músicas que nunca havia tocado, como “Axe In The Wind” de George “Wild Child” Butler, “I’ll Make It All Up To You” de Jerry Lee Lewis e “A Rainy Night In Soho”, clássico dos Pogues, que encerrou a noite (assista aos vídeos abaixo). Não bastasse isso, parece que ele está prestes a lançar o segundo volume de suas Crônicas, algo que os fãs já haviam desistido. A notícia, no entanto, veio de uma fonte pouco provável, quando Sean Penn, que foi o narrador da versão em áudio do livro autobiográfico que Dylan lançou em 2004, deixou escapar em uma entrevista para o podcast de Louis Theroux no Spotify, que “parece que irei fazer o segundo também. É, Crônicas Dois!”. Dedos cruzados!  

Que tal um disco dos Feelies só com versões de músicas alheias?

Os Feelies, clássica banda da cena pós-punk nova-iorquina (embora seja de Nova Jérsei), só queriam oficializar sua versão para “Dancing Barefoot”, da Patti Smith, para as plataformas de streamings, mas uma conversa puxa a outra e o que seria apenas um single tornou-se uma compilaçao, chamada Rewind, que reúne diferentes versões que o grupo fez para as músicas que amam de alguns de seus artistas favoritos. Algumas versões são clássicos inclusive na história da banda, outras, como a versão para o hit de Patti Smith, nunca foram lançadas. O disco será lançado dia 20 de junho (e já está em pré-venda) e ainda conta com versões de músicas dos Beatles (“She Said She Said” e “Everybody’s Got Something to Hide Except Me and My Monkey”), dos Stones (“Paint It Black”), de Dylan (“Seven Days”), dos Doors (“Take It As It Comes”), Modern Lovers (“I Wanna Sleep in Your Arms”) e Neil Young (“Sedan Delivery” e “Barstool Blues”, esta última também recém-lançada. Ouça as duas primeiras músicas que eles soltaram abaixo:  

Olha a Charli aí de novo…

How I’m Feeling Now, o disco que a Charli XCX gravou em casa sozinha durante a pandemia, completa cinco anos nesta quinta-feira e parece que a comemoração é das boas. Além de ter escrito uma carta à mão sobre o impacto do disco para ela e como ela agradecia aos fãs que a apoiaram sempre, ela também promete uma celebração que, até onde ela falou, conta com o relançamento do disco em vinil e um clipe para “Party 4 U”, que voltou a tocar desde o final do ano passado, principalmente nas redes sociais, mas parece que não vai ser só isso…

Veja a carta e o teaser do clipe abaixo:  

Josy.Anne: Bateia – Gira Que Salta para o Novo

Nesta terça-feira temos a satisfação de receber a cantora e compositora mineira Josy.Anne, que começa a revelar a segunda parte de sua trilogia, batizada de Negra Ressonância Mineira, depois de lançar o primeiro capítulo como um disco, chamado de Mozamba. No espetáculo desta terça, ela começa a investigar como será a continuação de sua saga, em que ela mergulha nas tradições de seu estado para falar sobre negritude e ancestralidade a partir deste recorte social e geográfico. No segundo ato, que ela chama de Bateia (que vem com um subtítulo ousado: Gira Que Salta para o Novo), ela vem acompanhada de uma bandaça, com Curumin na bateria, Maurício Badé na percussão e Podeserdesligado nos efeitos e produção eletrônica. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

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Lá vem Kung Fury… 2!

Se o primeiro Kung Fury, lançado há dez anos, já era o cúmulo dos anos 80, que dizer de sua continuação, que foi finalizada há dois anos mas ainda não foi lançada por questões legais? Olha esses 10 minutos absurdos que vazaram essa semana provavelmente pra reaquecer o interesse no filme, que ainda conta com Michael Fassbender, Schwarzenegger e David Hasselhoff no elenco…?

Assista abaixo:  

Vocês estão prontos pro Tiny Desk da Beth Gibbons?

Eu não estava. Pelamordedeus, o que que é isso? Tragam urgente o show solo dessa mulher pro Brasil!

Assista abaixo:  

A missa do papa negro

Sábado pude comparecer a mais uma missa do papa negro Mateus Aleluia, que, mesmo lançando disco novo neste fim de semana (o soberbo disco batizado com seu próprio nome), preferiu ater-se ao seu repertório clássico, que une tanto pérolas do africanto dos Tincoãs, ancestral trio vocal que trouxe o terreiro puro para o repertório da MPB ainda nos anos 70, quanto hinos já imortais de sua recente carreira solo. A apresentação aconteceu na Casa Natura Musical e eu escrevi mais uma vez cobri um show para o Toca do UOL.  

Quando a Cavala encontrou o Crocodilo

O encontro de Maria Beraldo e Arrigo Barnabé no palco que aconteceu neste sábado, no Sesc Avenida Paulista, é uma grande ideia, para começar, conceitual. Parte do encontro Travessia, idealizado por Caroline Zitto e dirigido pelo Curumin, a apresentação foi a segunda noite do evento, no dia seguinte à da dupla Di Melo e Jadsa e no dia anterior à junção de Yma e Maurício Pereira. O alinhamento cósmico Arrigo e Beraldo não é novidade, só ganha outros contornos em 2025, quando a compositora catarinense já tem sua carreira solo consolidada (com o ótimo segundo disco Colinho, lançado em 2024) e não mais como integrante da banda do mestre Crocodilo. Sem acompanhamentos, os dois se confrontaram com vozes e instrumentos – Arrigo sentado ao piano elétrico, Beraldo alternando-se entre ficar sentada ou de pé para tocar clarinete ou guitarra. Os dois começaram com um envolvente número instrumental (ele ao piano, ela no clarinete) e foram para a chuvosa (num sábado igualmente chuvoso) “Cidade Oculta” de Arrigo emendada com uma versão deslumbrante para “Ninfomaníaca” do disco mais recente de Maria, que Arrigo aproveitou para recitar a tradução que Augusto de Campos fez para o Canto I do Inferno da Divina Comédia, de Dante Alighieri. Ele deixou o palco e ela seguiu só na guitarra, quando puxou sua “Da Menor Importância”, de seu primeiro disco, Cavala, emendou um solo de clarinete (enquanto fazia sua guitarra rugir com os pés) que transformou-se em uma versão cacofônica de “Rainha” para chegar à melodia plena da fatalista “Baleia”. Arrigo voltou ao palco quando sozinho ao piano visitou Itamar Assumpção (“Noite Torta”), Carlos Drummond de Andrade (ao recitar de pé “Relógio do Rosário”) e um número instrumental, antes de trazer de volta sua pupila e entraram juntos na parte final do show. Esta veio com a mistura de “Diversões Eletrônicas” com “I Can’t Stand My Father Anymore”, que foi sensacional, e descambou a dupla final do show, quando visitaram as clássicas “Sabor de Veneno” e “Clara Crocodilo” para a encerrar a apresentação lá no alto e num lugar familiar aos dois, numa boa amostra do que foi essa noite mágica.

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