Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Black Future: “Eu Quero Tocar a Lapa”

E quem diria que ouviríamos uma música nova do Black Future, um dos principais nomes do pós-punk brasileiro, em pleno 2024? A culpa é do diretor Paulo Severo, que dirigiu o documentário Black Future: Eu Sou o Rio, que esteve na edição deste ano do festival In Edit, e usou uma música inédita do grupo, gravada depois do período em que banda estava em atividade, para encerrar seu filme. “Eu Quero Tocar a Lapa” já existia, mas só foi registrada em 2006, quando o grupo se reuniu para tentar relançar seu único LP, Eu Sou o Rio, de 1988, com produção de Thomas Pappon, algo que nunca aconteceu, até hoje. Não conseguiram chegar a um acordo com a gravadora multinacional que detém os direitos do disco e gravaram a música inédita, que finalmente vai ser lançada nessa sexta-feira, em todas as plataformas digitais, e que você ouve em primeira mão – com direito a assistir ao clipe divulgado pelo diretor – aqui no Trabalho Sujo. “Essa música surgiu com a ideia de reunir a banda em estúdio, depois de muito tempo sem se apresentarem juntos, e acabou virando o videoclipe que encerra o documentário”, explica o diretor. “E está valendo pois a música do Black continua atual 38 anos depois.” Severo reforça que Eu Sou o Rio nunca foi lançado em nenhum outro formato desde seu lançamento original. “Nem em CD e também não está em nenhuma das plataformas de streaming de música, continua existindo apenas em vinil e só é encontrado em sebos e na mão de colecionadores – e não são baratos”, continua o diretor, que anima-se com a possibilidade de um novo interesse no grupo permitir não apenas o relançamento do disco, mas também dos clipes que fizeram nos anos 80. “Nada está descartado, nem a volta da banda, nem músicas novas.” Tomara que role!

Assista abaixo:  

Airporto

Imagina você chegando em Paris e o Air está tocando “Playground Love” com o vocalista do Phoenix em pleno terminal? Mais um vídeo fodaço do Blogothèque, que filmou esse encontro – que não acontecia ao vivo há 20 anos – no terraço do aeroporto parisiense. Assista abaixo:  

Um século em uma aula

Na primeira aula do curso Do Disco ao Ouvido, que dei nesta quarta-feira no Sesc Vila Mariana, condensei parte do meu curso anterior – O Ecossistema da Música -, contando a história de como a música gravada criou um novo mercado ao redor do disco e como esse mercado foi se moldando às novas transformações tecnológicas – como o rádio e a televisão – até ser desmantelado pela internet, o que deu origem ao mercado independente em escalas nacioanais e global. Mas a rede aos poucos foi sendo cooptada pelo antigo mercado de discos e em parceria com os gigantes da tecnologia e a pandemia só acelerou um processo contrário ao que estava acontecendo até então – e este é o tema da segunda aula, que acontece nesta quinta-feira, gratuitamente, no auditório daquela unidade do Sesc, a partir das 19h – e nem precisa se inscrever, só retirar os ingressos meia hora antes.

O Colinho de Maria Beraldo

Eis a capa de Colinho, segundo disco solo de Maria Beraldo, que sua autora vem cozinhando há algum tempo e que finalmente está prestes a colocar no mundo. O sucessor do ousado Cavala é mais uma parceria da compositora com o produtor Tó Brandileone, contará com participações especiais (e pelo teor de um repost, Ana Frango Elétrico é uma delas), tem em Kendrick Lamar uma de suas principais referências (como contou em um stories) e terá seu primeiro single lançado na semana que vem. São as boas notícias do segundo semestre que não param de chegar!

“Lá vem o temporal!”: Timothée Chalamet canta “A Hard Rain’s a-Gonna Fall” no primeiro trailer da cinebiografia de Bob Dylan

Eis o que esperávamos: finalmente o gostinho de Bob Dylan que teremos da interpretação do fenômeno pop Timothée Chalamet, escalado para viver o menestrel norte-americano em sua primeira cinebiografia, no primeiro trailer de A Complete Unknown, de James Mangold, que estreia no final deste ano – e ele vem com música. Depois de vagar de óculos escuros na noite nova-iorquina do início dos anos 60, passando por lugares-chave do período com o Café Wha? e o Chelsea Hotel, o Dylan de Chalamet sobe ao palco para cantar o início de “A Hard Rain’s a-Gonna Fall” e… não faz feio. Não é nada estarrecedor, no entanto, mas não compromete nem a imagem de Dylan para as novas gerações nem a reputação do ator como talento em ascensão. É claro que poucas cenas não fazem um filme, mas o pouco que é mostrado neste primeiro aperitivo faz a aguçar a expectativa para um outro tipo de filme… Muito bem…

Assista abaixo:  

Luiza Villa: “You don’t know what you’ve got ‘til it’s gone”

Luiza Villa voltou ao palco do Blue Note nesta terça-feira para celebrar sua reverência a Joni Mitchell e algumas pequenas mudanças no show mudaram completamente a dinâmica da noite. O primeiro veio por um problema técnico, que impossibilitou que o jovem maestro Pedro Abujamra usasse seu teclado, deixando-o à vontade com o piano da casa, dando uma súbita elegância que os timbres elétricos do teclado ofuscam dos arranjos da compositora canadense. O outro detalhe foi caso pensado, quando Luiza passou a tocar menos guitarra ou violão – embora ainda siga tocando-os em momentos-chave da noite -, deixando-a mais solta para improvisar com sua voz e sua presença de palco. Os dois estavam o tempo todo próximos do resto da Orfeu Menino – a banda que os cinco têm juntos, completa pela guitarra de Tomé Antunes (que decidiu tocar de pé desta vez), o contrabaixo solista de João Pedro Ferrari e a bateria de Tommy Coelho, agora com congas -, deixando o show ainda mais elétrico e direto no ponto, na melhor apresentação que vi do grupo até agora.

Assista a um trecho aqui.

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Dentro de um sonho

O público que foi ao Centro da Terra foi hipnotizado pela mistura de sensações propostas pelo projeto Onira, que contou com participações especiais que aprofundaram ainda mais o estado de sonho encapsulado pela dupla formada por Jovem Palerosi e Tatiana Nascimento. Enquanto a contrabaixista Lea Arafah dava uma dimensão mais orgânica e grave às texturas sonoras, a dupla formada por Daisy Serena e Bruna Isumavut transformavam o escuro do teatro em uma viagem visual para dentro. À frente, o produtor paulista criava texturas eletrônicas e andamentos de guitarra, enquanto a poeta brasiliense conduzia todos a um estado de vigília em que cânticos ancestrais e conversas triviais misturavam-se sem rumos definidos, criando um híbrido de confusão com perda que aumentava ainda mais a intensidade da noite.

Assista a um trecho aqui.

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Onira: Sonhar a Tempestade

Maior satisfação receber no Centro da Terra mais uma apresentação do projeto Onira, criado pela poeta brasiliense Tatiana Nascimento e peli músico e produtor paulista Jovem Palerosi, que mostram o espetáculo Sonhar a Tempestade, pensado especialmente para a ocasião desta terça-feira. Os dois vem misturando som e poesia desde o ano passado e agora juntam-se à contrabaixista Lea Arafah (que também faz a arte do cartaz), à vídeo-artista Daisy Serena e à iluminadora Bruna Isumavut para reverenciar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana homenageando existências negras trans, travestis e nao-binárias e as referências à dissidência sexual e/ou deserção de gênero trazidas no panteão por Orixás como Otim, Iansã, Oxumaré, Oxum, Oxossi e Ossaim. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria ou no site do Centro da Terra.

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Entre o Caribe, Salvador e a Jamaica

A segunda noite da temporada BNegron Convida que o compadre BNegão está apresentando no Centro da Terra também foi a estreia de um mago das teclas e das produções no palco. Freelion, pseudônimo usado pelo baiano Sandro Mascarenhas para fundir sua mescla de ritmos caribenhos, reggae e pagodão eletrônico baiano, brilhou em sua primeira apresentação, misturando sozinho levadas primas em diferentes instrumentos, seja a escaleta, os sintetizadores, a MPC e até o piano do teatro – tudo para uma celebração de ritmo e groove que fez o público levantar-se das poltronas no final da apresentação. Ele ainda convidou o MC Dante Oxidante e o anfitrião da noite para subir no palco e fazer alguns números, entre elas a irresistível “Essa é Pra Tocar no Baile”, que fez com que todos dançassem no teatro. Estreia de responsa!

Assista a um trecho aqui.

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Cure sem energia elétrica

Quando o Cure estava prestes a encerrar seu contrato com a gravadora Fitcion no início do século, Robert Smith sugeriu que o grupo lançasse uma nova coletânea, com a única condição que o próprio líder da banda escolhesse todas as músicas. A empolgação com o novo lançamento levou Smith a puxar uma gravação desta mesmo repertório em formato acústico e o grupo anunciou que finalmente disponibilizará este disco, lançado origtinalmente em 2001, nas plataformas digitais no próximo dia 9 de agosto – e vêm soltando clipes de versões em vídeo de algumas músicas, como “A Forest”, “The Lovecats” e “Close to Me”. O disco ao vivo, que é tocado pela formação do Cure que inclui Simon Gallup no baixo, Jason Cooper na bateria e percussão, Roger O’Donnell nos teclados e Boris Williams na percussão – além do próprio Bob, claro -, também será relançado em vinil (duplo, já em pré=venda) na mesma data de relançamento da versão online. Assista aos clipes abaixo: