Mais uma vez fui chamado pelo Toca UOL para escrever sobre música e desta vez o assunto foi a importância de um dos maiores nomes de nossa cultura, que completaria 80 anos se estivesse vivo neste sábado. Raul Seixas é mais do que a personificação do rock brasileiro e sua obra transcende discos e canções. Continue
Aos poucos voltando pro jornalismo industrial, desta vez convocado pelo Toca UOL a escrever sobre o show que Alice Cooper fez neste sábado em São Paulo – e como atesto no final do texto, mais do que pai de toda uma vertente do heavy metal, ele pertence ao cada vez mais seleto grupo de lendas vivas do período clássico. Continue
A morte de Brian Wilson me levou a escrever mais um texto pro Toca UOL, desta vez falando sobre sua importância. Continue
Tive que ir de novo no formidável encontro dos violões de Kiko Dinucci e Jards Macalé, que, nessa sexta-feira, fizeram um show quase idêntico ao que fizeram no dia anterior, numa apresentação menos informal – embora tenha rendido boas prosas entre as músicas, como na quinta – e um pouco menor que a anterior, talvez porque Jards tenha trocado “Mal Secreto” – que é mais extensa devido a uma citação do clássico da bossa nova “Corcovado” – por uma versão acachapante – e solitária – para “Movimento dos Barcos”, esta posta no repertório a pedido de Kiko. Escrevi sobre o show, que deverá repetir-se em algum momento em breve, em mais uma colaboração que faço para o Toca do UOL. Continue
Você nem sabe o quanto precisa ver Ritas, documentário sobre Rita Lee que faz jus ao maior nome do rock brasileiro e a uma das grandes compositoras de nossa música, que estreou no dia de seu escolhido aniversário e agora está em salas de cinema em todo o Brasil. Nem eu sabia, embora já tivesse visto versões iniciais e conversado quase semanalmente nos últimos dois anos com seu diretor, meu comparsa de pastel na feira, o grande Oswaldo Santana, à medida que o filme finalmente embicava para o fim. Conheço Oswaldinho desde os tempos em que ele agitava uma das primeiras trupes de VJs do Brasil, o emblemático Embolex que acompanhava os inacreditáveis shows do Instituto de Daniel Ganjaman, Rica Amabis Tejo Damasceno (que está no filme!) no início do século, e venho acompanhando sua ascensão primeiro como montador de filmes e agora em sua estreia na direção. Como tive informações de coxia sobre o parto de fazer um filme com imagens de arquivo e músicas alheias (e todas as restrições e travas jurídicas para usar trechos de forma autorizada), sabia de algumas ideias que o diretor teve para não deixar sua história ser encurralada por isso. Mas não estava preparado para assistir à forma harmoniosa que Oswaldinho costurou uma vasta coleção de imagens incríveis (Rita adorava ser filmada e estar na TV), cenas de shows, fotografias, recortes de jornal e artes de Ricardo “Magrão” Fernandes a partir do fio condutor que é a própria Rita contando sua história. E, como na autobiografia que o filme se baseia, não espere uma cronologia detalhada nem olho arquivista. O que conta na história de Rita é sua vontade e seus sentimentos, como ela tornou-se quem ela queria a partir de desafios estéticos, comerciais e comportamentais que a tornam um dos grandes nomes da história do Brasil. O filme tem uma narrativa cronológica, mas não cita anos, nomes de discos ou efemérides, prefere ater-se à paixão que Rita irradiava em sua obra e aos que a cercam, saudando primeiro sua família, depois seus mestres (que tornaram-se parceiros e um por um – Caetano, Gil, Elis, Bethania e João – surgem felizes ao seu lado em diferentes palcos), seu eterno companheiro Roberto de Carvalho, os filhos e, finalmente, os animais e o planeta Terra. E é um filme alto astral que mesmo em seus momentos mais tensos Rita conduz tudo com seu clássico humor debochado, dissolvendo reuniões em gravadoras, a ditadura militar, a caretice brasileira e a própria morte em gargalhadas. Um filme que traduz a essência dessa artista única de forma emocionante e concisa – e que tem tudo pra ir bem nas bilheterias, pois é um filme musical, daqueles que se canta junto em vários momentos, e que pede uma nova visita logo ao final, como acontecia com os melhores discos dela. Viva Rita Lee!
Assista ao trailer abaixo: Continue
Experiência surreal poder ver dois integrantes originais do King Crimson recriar três obras-primas que fizeram parte nessa sexta-feira, no Espaço Unimed, quando o projeto Beat reviveu a trilogia Three of a Perfect Pair que o grupo liderado por Robert Fripp fez no início dos anos 80, quando circulava com o Brian Eno e os Talking Heads. Ainda mais quando um de seus integrantes é o guitarrista Adrian Belew, um dos maiores monstros sagrados do seu instrumento e a prova de que o conceito guitar hero pós-punk é possível, por mais que possa ser contraditório. Mago supremo da guitarra, também era o mestre de cerimônias e anfitrião da corte do dia, deixando o público à vontade com seu carisma. Fazendo as vezes de Fripp estava ninguém menos que Steve Vai, comedido na autoindulgência que lhe é característica e soltando a mão nos grooves mais funk do grupo. No baixo, toda destreza e detalhismo do senhor Tony Levin, que ainda aproveitou o final da apresentação (como fez quando veio ao Brasil em 2019 com o próprio Fripp e seu King Crimson, naquela mesma casa de shows, que ainda se chamava Espaço das Américas), para tirar fotos do público com sua câmera analógica, que em breve aparecerão em seu site. E no lugar de Bill Brufford, o caçula da banda, Danny Carey, mais conhecido como baterista do Tool, que foi surpreendido com um parabéns no palco, assim que o relógio virou a meia-noite. Todos completamente entregues a um momento improvável da banda de rock progressivo mais séria de todos os tempos, três discos que fazem o público dançar e cantar juntos – mas à moda King Crimson. Escrevi sobre o show de sexta no primeiro texto que escrevi para o Toca do UOL. Continue
Escrevi sobre a morte de Nana Caymmi a convite do UOL Splash, onde reforcei que, mesmo apesar de seu temperamento e das tristes convicções políticas no final de sua vida, ela foi uma das maiores vozes do país. Continue
E por falar em disco cinquentenário, compartilho aqui as impressões atuais do mestre Tom Zé sobre o primeiro disco solo de Arnaldo Baptista, o imortal Lóki?, que também completa meio século de idade neste 2024, e que nunca tinha sido ouvido pelo lóki baiano. O texto foi publicada pelo próprio Arnaldo em sua conta no Instagram. Leia abaixo: Continue
29 anos são mais que uma vida, mas ainda sinto como se estivesse começando. Os 29 anos do Trabalho Sujo, completos oficialmente nesta quarta-feira, também selam 30 anos da minha carreira como jornalista, mas este único ano de diferença entre as duas datas é o que separa minha vida profissional (ênfase em “profissional”) da minha vida profissional (ênfase em “minha”). Ao rotular meu trabalho com um nome que eu havia criado para um fanzine (que acabou virando uma coluna num jornal impresso e depois virou site, blog, conta em redes sociais, podcast, festa, curso, programa de rádio, curadoria, direção e o que mais der na minha telha), sem querer separei o trabalho que não me interessa daquele que eu quero fazer e consegui ressignificar essa atividade sem que ela carregasse o peso profissional – e sempre carregando a minha assinatura, a minha edição, o meu ponto de vista. Carrego trabalho no nome e sempre que falo que meu signo é capricórnio a reação dos que acreditam em astrologia é um olhar arregalado de obviedade devido à minha dedicação à labuta. Mas por mais que canse (e, acredite, cansa), o Trabalho Sujo não é um frila que eu peguei pra fechar as contas, um emprego formal que me cobra horário e prazos, uma tarefa insuportável justificável apenas pelo preço pago. Mais do que isso, nesses 29 anos dou ênfase à palavra “vida” no que diz respeito à minha vida profissional quase três décadas passadas. Meu caráter foi formado antes mesmo de pensar em trabalho, ainda em Brasília, mas a maior parte da minha vida que comemoro agora consolidou o que meus pais, meus irmãos e minha cidade me ensinaram antes de me tornar maior de idade: a importância de fazer o que se quer, de colocar planos logo em prática, respeito e franqueza como principais filtros da vida e a importância da parceria. O Trabalho Sujo é um trabalho solitário sim, mas nunca estive só, mesmo porque sempre contei com pessoas importantes da minha vida próximas ao que faço – e não apenas relações profissionais. Laços que firmei ao longo destes trinta anos que são elos forjados para a vida inteira: não apenas coleguinhas de redação, parceiros de escrita, compadres e comadres com quem já discotequei e apresentei e projetei programas, mas também amigos que se tornaram irmãos, esposas, namoradas, professores, gurus, casos e confidentes, gente foda cuja relação transcende o trabalho e só ajudou a forjar as regras pelas quais pauto minha vida – e estou falando de centenas de pessoas, gente que dividi baias, quartos, redes, espaços virtuais e conexões físicas. O Trabalho Sujo só existe por causa de vocês – e vocês sabem quem vocês são. Amo todos a 29 anos ou menos – e pra que serve tudo isso se não há amor? Seguimos juntos, sempre. Bora que só melhora. ❤️
Minha conterrânea de cerrado e quase-parente Pérola Mathias foi uma das que esbaldou-se na festa em que comeemorei os 29 anos do Trabalho Sujo na Casinha e ela aproveitou a deixa para me entrevistar sobre as quase três décadas desta minha obra contínua. E foi assim que ela me apresentou na introdução do papo:
No último sábado, o jornalista Alexandre Matias comemorou os 29 anos do Trabalho Sujo — “jornalismo arte desde 1995”. O site e o trabalho do Matias na cobertura musical, curadoria, discotecagem e produção é referência para todo mundo que gosta de música, de música brasileira, de música brasileira independente. O Matias é muito mais do que o cara que você vê nos shows (para quem está em São Paulo) filmando o palco e que te apresenta bandas novas. Ele é pioneiro num modelo de fazer jornalismo cultural. Não é que ele estava aqui quando a internet ainda era mato, o Trabalho Sujo já existia antes mesmo dela adentrar nas casas brasileiras.
Por ocasião do aniversário do projeto e da grande comemoração que aconteceu no último Sábado (01) com uma festa que reuniu vários DJs amigos, aproveitei para entrevistar o jornalista no estilo: tudo que você sempre quis saber sobre o Trabalho Sujo e nunca teve coragem de perguntar. Já ouvi muitas pessoas perguntarem “como você dá conta de fazer tudo?”, “por que você foi escolher escrever logo sobre música?”, “vai ter um festival pra comemorar os 30 anos?”, “de onde você tirou esse nome?”.
Agradeço imensamente a deferência, os adjetivos e, mais do que tudo, a companhia nesses anos todos – e em breve eu e ela lançamos mais uma. Leia a íntegra da entrevista lá no site dela, o Poro Aberto.