80 anos e dando tudo!
O anúncio da “última canção dos Beatles”, que será lançada na semana que vem com as duas coletâneas clássicas do grupo (a vermelha e a azul) em versões expandidas, é mais um exemplo que a geração baby boom, nascida durante a Segunda Guerra Mundial e responsável por mexer na história da cultura e do comportamento nos anos 60, segue à toda e sem dar sinal de aposentadoria à vista. Nomes como Rolling Stones, Pink Floyd, Roger Waters e os brasileiros Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Paulinho da Viola endossam sua vida criativa mesmo entrando na oitava década de vida. Foi sobre isso que escrevi na matéria que fiz nesta quinta-feira para o site da CNN Brasil.
Leia abaixo:
Beatles, Stones, Pink Floyd, Caetano e Gil seguem ativos aos 80 anos
A geração rock que nasceu na década da Segunda Guerra Mundial e consolidou a década transformadora dos anos 60 não dá sinais que irá se aposentar ao lançar discos e seguir fazendo shows
A espera acabou e a última música dos Beatles já tem data para ser lançada – e como cogitamos nesta quarta-feira, “Now and Then” é o carro-chefe das novidades.
A música seria o single do terceiro volume da coletânea Anthology, lançada nos anos 90, mas foi abortada na época pois as condições tecnológicas da época não permitiram separar a voz de John Lennon de um ruído ambiente.
Trinta anos depois, essa questão foi sanada e o vocal de Lennon nos anos 70 encontra-se com a guitarra de George Harrison nos anos 90 e com o baixo de Paul McCartney e a bateria de Ringo Starr de 2023 para encerrar a discografia dos Beatles com uma única canção, que será lançada no próximo dia 2 de novembro, às 10 da manhã do horário de Brasília.
Também é o mesmo horário de relançamento das clássicas coletâneas duplas vermelha e azul, que funcionaram como porta de abertura para a discografia do grupo para diferentes gerações e agora ganha novo tratamento de áudio, além de 21 faixas novas (doze na vermelha e nove na azul, incluindo a “última faixa dos Beatles”).
O grupo não havia relançado as coletâneas desde a transição do vinil para o CD e apenas a incluíram nas plataformas de streaming sem nenhuma novidade, até agora.
Com a nova seleção de faixas, as coletâneas 1962-1966 (a vermelha, que reproduz a capa do primeiro disco dos Beatles, com o grupo olhando para baixo a partir de uma varanda interna do antigo prédio da gravadora EMI) e 1967-1970 (com a mesma pose repetida sete anos depois, cabeludos e barbudos, quando o grupo ilustraria a capa do disco abortado Get Back, que se transformaria no primeiro disco póstumo da banda, Let it Be, com outra capa) entram com roupa de gala na era digital.
As novidades dos Beatles não vêm sozinhas. Há um momento que celebra a geração octogenária a partir da própria relação com a atividade musical. Mesmo apenas relançando discos dos Beatles, nem Paul McCartney nem Ringo Starr falam em aposentadoria.
Roger Waters, baixista do Pink Floyd, já está em terras brasileiras naquela que chama de “a primeira turnê de despedida” e acaba de lançar uma versão Redux para o clássico Dark Side of the Moon, de sua antiga banda. O próprio Pink Floyd não fala em mais em turnês ao vivo, mas também relançou o disco, que completa 50 anos neste 1973, em nova versão remasterizada.
Mas nenhum artista personifica melhor este momento que os Rolling Stones. Mesmo após a morte do baterista Charlie Watts, em 2021, o grupo permanece em atividade, não apenas fazendo shows como lançando um de seus melhores discos em décadas, com participações de nomes como Lady Gaga, Stevie Wonder (os dois ao lado de uma das melhores músicas da banda, “Sweet Sounds of Heaven”), o ex-baixista da banda Bill Wyman e Sir Paul MCCartney – que, por sua vez, também está vindo para o Brasil.
Hackney Diamonds foi lançado há uma semana e, como o novo single dos Beatles, parece sinalizar um encerramento, ao menos fonográfico, da carreira do grupo, ao finalizar o disco com uma versão crua para a música do blueseiro Muddy Waters que batizou a banda. Mas o grupo segue em shows ao vivo – nenhum anúncio para o Brasil, no entanto.
Os boomers, geração que nasceu durante e após a Segunda Guerra Mundial, tem esse nome porque surgiram no chamado “baby boom”, a explosão de novos bebês que começou a aparecer após o fim do conflito, em 1945. Foi a geração que aumentou o número de adolescentes durante os anos 1960 e consolidou essa faixa etária como um público-alvo para um novo mercado consumista, o da cultura pop. Centrada no rock de guitarras inaugurado pelos Beatles, é uma geração que mudou radicalmente os parâmetros artísticos e comportamentais do período, de discussões por direitos civis ao comprimento dos cabelos, passando por transformações radicais de estilo, o uso de drogas alucinógenas, a abertura para a cultura asiática e, claro, shows e festival para dezenas, centenas de milhares de pessoas. A popularização da televisão também ajudou a consolidar essa safra de artistas que inclui todos os citados até aqui e dezenas de outros artistas, que respondem à provocação millenial de “ok, boomer” (meme inventado para deixar os mais velhos falando sozinhos) com mais trabalho.
Geração tropicalista segue ativa no Brasil
Isso também acontece no Brasil. Talvez o melhor exemplo esteja na geração tropicalista, que segue produzindo discos, shows, filmes e séries sem pensar em aposentadoria. Caetano Veloso cedeu recentemente ao revival de seu disco mais consensual, Transa, lançado em 1972, e resolveu recriar o disco ao vivo um ano depois de seu aniversário de 50 anos.
Pular a efeméride é menor, ainda mais se levarmos em conta que ele está corrigindo um erro histórico ao voltar aos palcos com Jards Macalé, Tutty Moreno, Áureo de Souza e Angela Ro Rô, que nem foram citados na ficha técnica do álbum original.
Seu compadre Gilberto Gil também não para. Lançou um seriado durante a pandemia sobre sua família musical (Em Casa com os Gil, produzido pelo Amazon Prime), e, numa mistura de reality show com shows, fez uma turnê e uma temporada sobre esta turnê, também com seus filhos e netos. Mas os dois não vivem só de nostalgia e seguem gravando discos novos e também em contato com novos artistas. Assim como outros seus contemporâneos, como Ney Matogrosso, Paulinho da Viola e Milton Nascimento, este último o único a realmente se aposentar (apenas dos palcos, no entanto), mas que não sai das redes sociais. Roberto Carlos e Maria Bethânia são outros que nem cogitam parar tão cedo.
Mas a onda de nostalgia em relação à essa geração continua mesmo sem a presença destes. É o caso de Gal Costa e Rita Lee, que morreram no ano passado mas seguem sendo celebradas, a primeira no filme recém-lançado Meu Nome é Gal, filme de Dandara Ferreira e Lô Politi, ou no show que Filipe Catto está fazendo em sua homenagem, enquanto a segunda ressurge numa regravação de “Doce Vampiro” feita por ninguém menos que Marisa Monte. E a impressão que se tem é que esta festa por estar vivo e ativo aos plenos 80 anos está só começando…
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