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Estou pra falar essa há um tempo e nunca lembro: se você gosta do Indiana Jones, vai lá ver o novo no cinema. Indiana Jones e a Relíquia do Destino pode não inspirar por inúmeros motivos – o excesso de remakes e continuações, franquias velhas sendo requentadas, só pelo fato de ser mais um hit de Hollywood -, mas o fato é que o quinto filme da série encerra a agora pentalogia no mesmo tom que conseguiu fechar no final dos anos 80, com o terceiro episódio, A Última Cruzada. O quarto filme não ajuda nessa percepção e por mais que George Lucas tenha insistido no tom de ficção científica dos anos 50 (a década em que o filme se passa), Shia LaBeouf se finja James Dean de forma quase caricata (me lembra a ponta do Michael Cera na terceira temporada de Twin Peaks) e a famigerada cena da geladeira antinuclear (que me incomoda menos do que o ataque de macacos de computação gráfica), ele é um bom filme – tanto que sua bilheteria no ano que foi lançado só ficou atrás do segundo filme que Christopher Nolan fez sobre o Batman (é, o do Coringa oo Heath Ledger). Mas não fazia justiça ao encerramento do personagem no cinema. Como muitos, me animei desde que soube que um fictício quinto Indiana Jones poderia se materializar e obviamente iria assistir mesmo que as críticas o destruíssem de saída – Harrison Ford e seu personagem mais clássico é um inspiração contínua desde que vi Caçadores da Arca Perdida e reencontrá-lo causava um certo nervosismo como rever um tio ou primo querido que não se vê há tempos. Mas se mesmo com as críticas, Indy havia sobrevivido ao quarto filme, não poderia ser de todo mal.

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Mais uma pro site da CNN Brasil sobre o Zé Celso, desta vez entrevistando seu biógrafo, Aimar Labaki.

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Com a morte de Zé Celso, o site da CNN Brasil me convidou para escrever sobre o momento em que seu Teatro Oficina virou a cultura brasileira do avesso a partir de duas montagens: a do Rei da Vela de Oswald de Andrade e a de Roda Viva de Chico Buarque.

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Panteras, formigas, zebras, aranhas, crocodilos, abelhas, hienas, leões.. Letrux abriu a jaula das faixas de seu terceiro disco, que lança nessa sexta-feira, entregando o mundo animal que pauta Letrux Como Mulher Girafa, entregando inclusive a participação especial do álbum, Lulu Santos. E entre as canções inteiras, pequenos intervalos que funcionam como ensaios meio making-of de momentos mais intimistas entre os integrantes da banda, num disco que brinca de parecer frágil para não entregar toda sua força de cara (minha favorita é “Louva Deusa”, com as gaivotas que antecedem um verso que vai fazer todo mundo se identificar). Aproveito a deixa para ressuscitar uma matéria que fiz pro site da UBC quando ela estava lançando o ótimo Aos Prantos, lançado no fatídico 13 de março de 2020 que nos arremessou num dos abismos (o pandêmico) que caímos nos últimos anos. A pauta abordava a forma como a cantora e compositora carioca lidava com as redes sociais, ao mesmo tempo em que o então novo disco tocava em feridas que se tornariam ainda mais densas à luz daquela nova realidade que nem sabíamos que enfrentaríamos (a entrevista foi feita antes do lançamento do disco). Daí o assunto da conversa com Letícia ter sido estranhamente premonitório, pois conversamos sobre saúde mental e o uso das redes sociais.

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Fui no último show da temporada de reencontro que os Titãs originais fizeram no estádio do Palmeiras neste domingo e a sensação da primeira apresentação, na sexta-feira, manteve-se intacta: o grupo é protagonista de um novo paradigma de entretenimento ao vivo no Brasil. A bem-sucedida turnê que o grupo fez neste primeiro semestre ainda não terminou: além de umas datas-extra que surgiram quando estavam fechando as principais capitais (próximos dias 23 em Vitória e 30 em Ribeirão Preto) e três datas no exterior (3 de outubro na Flórida, 6 de outubro em Nova York e 3 de novembro em Lisboa), o grupo ainda volta para mais um show em São Paulo, desta vez no tal do Vibra, o antigo Credicard Hall, em uma apresentação no próximo dia 27. Mas além destas, todas oficiais, Paulo Miklos deixou escapar algo que já é comentado nos bastidores – que o grupo fará outra rodada de shows no segundo semestre pelo Brasil.

O que nos leva a uma questão exatamente ao redor deste novo paradigma estabelecido pelo grupo no Brasil de 2023. Os Titãs surgiram na mesma década em que o mercado de diversão no país começou a se profissionalizar de fato. Clássicos causos envolvendo equipamentos precários, procedimentos amadores e o heroísmo de raros artistas internacionais que se aventuraram por aqui antes daquela época só maquiam o fato de que não havia uma indústria cultural no Brasil até o momento em que as gravadoras tornaram-se empresas multinacionais e provocaram transformações que tornaram aquela década tão memorável. A cena do rock brasileiro daquele período é fruto específico do momento em que as gravadoras estrangeiras começaram a tomar conta de vez do mercado fonográfico brasileiro.

Não por acaso é o mesmo período em que estas gravadoras criaram artistas de escala gigantesca, fazendo os shows em estádio dos anos 60 e os festivais dos anos 70 parecerem brincadeiras. A safra que transforma Michael Jackson, Madonna, George Michael, Prince, Bruce Springsteen e U2 em gigantes numéricos maiores que os Beatles ou o Led Zeppelin foram em seu tempo transforma o mercado da música em palco muito mais amplo que a compra e venda de discos. É o momento em que os shows ganham estaturas cênica e imagética que se contrapunha ao impacto do videoclipe naquela década. É quando os shows internacionais cruzam uma barreira e atingem um outro paradigma de entretenimento ao vivo – o mesmo que os Titãs atingiram nestes shows, só que em escala nacional.

O problema é que estes shows, por mais emocionantes e vivos que possam parecer, são uma enorme peça de teatro. Não que a emoção de seus atores não seja real, mas quem assistiu a mais de um dos shows desta turnês assistiu a shows praticamente idênticos. A única mudança em todo o repertório da turnê foi a inclusão de “Ovelha Negra” de Rita Lee no show de Salvador na semana em que a mãe do rock brasileiro nos deixou e sua repetição, por três vezes, nos shows em São Paulo, e a troca de posição entre “Marvin” e “Família” da primeira para a segunda metade da turnê. Fora isso, os shows tiveram exatamente as mesmas músicas na mesma ordem – bem como o assunto de todos os interlúdios falados, com a mesma mensagem repetida de formas diferente a cada nova apresentação. Isso faz com o que o show seja pontual e preciso, que tudo possa ser lapidado no decorrer da turnê para chegar à excelência da performance, mas tira o elemento-surpresa de uma apresentação ao vivo: era possível acompanhar música a música em cada um dos dias a partir das listas de músicas dos shows anteriores publicadas no site Setlist.fm.

Esta transformação de um show em um parque temático sobre o momento atual daquele artista tem suas vantagens e desvantagens, mas é possível chegar a um equilíbrio, como fazem Paul McCartney e os Rolling Stones (dois mestres dos shows idênticos que surfaram esta onda dos artistas gigantescos dos anos 80) propondo surpresas nas turnês vez ou outra, tocando ao vivo músicas próprias do passado ou versões que nunca foram tocadas nos palcos. Os shows de São Paulo poderiam ter convidados e houve até quem cogitasse que eles poderiam homenagear o recém-falecido tecladista do RPM Luiz Schiavon, que fazia parte da mesma cena musical que revelou os TItãs, mas além da menção à Rita Lee, foi tudo mais do mesmo. A performance catártica, o som perfeito, os telões de cair o queixo, a extensão da noite – tudo perfeito para uma única apresentação. A banda torna-se um relógio que funciona exatamente como se prevê.

(Cabe comentar a reação dos bolsonaristas na plateia ao discurso que Nando Reis – que baixista, pqp – fez lamentando os quatro anos de destruição que atravessamos há pouco ou quando o mesmo músico trocou um dos nomes da letra de “Nome Aos Bois” para incluir o nome do ex-presidente de merda. Houve vaias esparsas – embora os aplausos fossem mais intensos – e dedos em riste, algo que funciona pra lembrar que essa choldra ainda está entre nós.)

Daí o questionamento sobre esta segunda fase da turnê. Será que eles irão manter exatamente o mesmo roteiro dos próximos shows, ou podem prometer shows novos, com novas músicas? Nem tô pedindo para eles tocaram músicas de discos que são simplesmente ignorados pela turnê (toda a discografia da banda a partir dos anos 90, à exceção da fase acústica), mas há canções dos discos clássicos que nem deram as caras, como “Corações e Mentes”, “Insensível”, “Saia de Mim”, “Querem Meu Sangue”, “Mentiras”, “Armas pra Lutar”, “Clitóris”, “Massacre”, “Deus e o Diabo” e até mesmo “A Face do Destruidor”. Há também a possibilidade de chamar novos convidados – e não faltam candidatos para músicas de diferentes fases da banda – e até mesmo de tocar versões de músicas de artistas contemporâneos ou que foram influência para o grupo. Nem precisava mexer na estrutura dos telões (impecável), mas quem sabe mudar as animações – algumas funcionam bem, como as de “Flores”, “Jesus Não Tem Dentes…”, “Sonífera Ilha” e “Televisão”; outras (“AAUU”, “Comida”, “Bichos Escrotos”) são dispensáveis ou superficiais, quando não vergonhosas.

Não sei nem se isso é um esforço extra desnecessário, uma vez que nunca foi intenção do grupo passar mais tempo junto do que as datas que já foram anunciadas da turnê. Mas é uma possibilidade esticar ainda mais esse momento sem que ele caia na mera repetição mecânica do que já foi feito. E mesmo que isso aconteça, é inevitável que o grupo tenha mais datas lotadas em várias cidades do Brasil, mas seria tão mais interessante se eles mudassem um pouco a máquina que afiaram para esse semestre, justamente para seguir rompendo as barreiras atravessadas nessa primeira série de shows e não servir apenas como demarcação de uma nova fase. Depois desta primeira fase, os Titãs têm moral para seguir essa jornada.

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Pude assistir neste sábado à primeira exibição de Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, um dos principais títulos da edição deste ano do festival In Edit. O documentário de Roberto de Oliveira já seria um objeto de estudo por si só, afinal seu diretor, responsável por registrar a gravação desta obra-prima, sentou-se sobre estas imagens por mais de cinco décadas e transformou a expectativa em relação ao filme quase um personagem coadjuvante de sua criação.

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Pra maioria das pessoas, nomes como Olivia Tremor Control, Neutral Milk Hotel, Apples In Stereo, Of Montreal, Elf Power e Music Tapes parecem paródias de nomes de bandas inventadas como fizeram Robert Anton Wilson e Robert Shea no final de seu épica trilogia Illuminatus! Mas para poucos, são senhas para um universo de psicodelia e experimentação, magia e ciência sônica aliada ao uso de psicodélicos recreativos, clássicos do rock e espírito de comunidade que ia de encontro à lógica de marketing total que dominou o mercado da música a partir dos anos 80. Reunidos sob o nome de Elephant 6 esta cena musical que começou na cidade norte-americana de Anthens, na Georgia, e não era nem uma gravadora, um movimento musical ou um coletivo artístico, mas um híbrido destas coisas que começou a surgir ao redor das três primeiras bandas criadas por Bill Doss, Will Cullen Hart, Jeff Mangum e Robert Schneider: Olivia Tremor Control, Neutral Milk Hotel e Apples In Stereo. Este é o foco do documentário Elephant 6 Recording Co., que finalmente viu a luz do dia no ano passado, depois de anos em produção e chega às salas de cinema brasileiras graças ao festival In Edit, cuja 15ª edição acontece neste mês. Assista ao trailer abaixo: Continue

Recuperando reportagens que fiz para outros veículos no passado para cá, eis a matéria que escrevi para a revista da UBC sobre o conceito de mercado midstream, área entre o underground e mainstream que foi devastada pela pandemia e que tenta recuperar-se neste novo momento.

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Nossa Rita Lee

Meça suas palavras. Não perdemos Rita Lee. Nunca perderemos Rita Lee. Ganhamos Rita Lee, isso sim. Ela é uma personagem ímpar em nossa história, não apenas em nossa cultura, não apenas em nossa música, em nosso rock. Mas Rita é muito maior que tudo isso. É um acidente feliz que mudou completamente nossas vidas, contemporâneos dela ou (agora) não. Não é exagero dizer que essa paulistana mudou a história do Brasil.

Lógico que existiria rock brasileiro sem Rita Lee. Certamente muito mais sem graça, menos provocador, menos sexy, menos mulher. Não existe um ícone roqueiro tão preciso no Brasil, não tem Roberto Carlos nem Cazuza, nem Baby Consuelo nem Ney Matogrosso, nem Celly Campelo nem Renato Russo. Não à toa Rita não era comparada a nenhum de seus conterrâneos, as referências eram sempre internacionais. No dia de sua passagem não faltam comparações que a colocam ao lado de outros ídolos do rock, todos homens: “nosso Mick Jagger”, “nosso David Bowie”, “nosso Paul McCartney”… São comparações bem vindas, mas que morrem na praia, porque nossa Rita Lee era maior do que qualquer um desses, porque ela conseguiu ser tudo isso sendo mulher num país atrasado da América Latina e cantando em português. Nenhuma mulher do rock internacional tem a força e o espírito de Rita, nem Grace Slick, nem Patti Smith, nem PJ Harvey. Porque mesmo tendo saído de uma das bandas de rock mais importantes de todos os tempos (e pouco reconhecida internacionalmente como tal), ela superou a importância do grupo – e tornou-se uma estrela central em seu próprio sistema solar, mais do que um planeta girando em torno de um sol nostálgico.

Mesmo porque Rita Lee é muito mais do que rock. Só o início de sua carreira solo (minha fase favorita) pode ser rotulada estritamente como rock, discos gravados com os Mutantes embora lançados com seu nome ou lançados ao lado do Tutti-Frutti deveriam estar em quaisquer discografias básicas do gênero e a dobradinha Fruto Proibido e Entradas e Bandeiras é a porta de entrada pra quem quiser entender o que é o rock feito no Brasil. Mas depois disso, ela flertou com a disco music, preparou o terreno para a chegada do pop dos anos 80, gravou canções com sabor latino, crônicas pop, paródias de outros gêneros musicais, além das eternas declarações de amor aos Beatles.

Sua atuação ia para além da música, comemorando o feminismo, o hedonismo, a sexualidade, o uso de drogas recreativas e batendo de frente de qualquer tipo de autoritarismo que visse em sua frente. Era a primeira a se ridicularizar e fazer pouco de sua importância, mas sabia o quanto havia deixado ouvintes felizes, tornado outros tantos fãs e inspirados mais outros – e, principalmente, outras – a seguir a carreira artística. Não era uma mulher à frente do seu tempo – era o próprio tempo nos lembrando que era uma mulher. Uma mulher brasileira, desbocada e de saco cheio de tudo, mas também mãe e esposa amorosa e uma personalidade pública que nunca se esquivou de dar sua opinião em assuntos espinhosos – por mais que odiasse dar entrevistas. Seu papel como motor das transformações comportamentais que aconteceram no Brasil nas últimas décadas a coloca acima de nomes consagrados do pop brasileiro não apenas pelo fato de ser mulher (a imensa maioria dessa lista é composta por homens), mas pelo fato de ter seguido influente para várias outras gerações.

Também é uma personagem fundamental para a habilitação de São Paulo como polo cultural brasileiro, a mais querida torcedora do Corinthians, uma atriz nata, a popstar quem melhor explicou a androginia (e, infelizmente, a misoginia) por aqui, a primeira ativista pelos direitos dos animais que você conheceu, escritora de livros infantis e, claro, uma de nossas maiores compositoras. Seu domínio da canção brasileira aproximou nosso léxico musical à cultura pop do planeta e nos deu um repertório de hits que todos nós sabemos de cor.

Uma mulher imensa, uma estrela que não se apaga, a alma da rebeldia contemporânea do Brasil, devemos tanto a essa mulher que o mínimo que devemos fazer e mantê-la viva. Afinal de contas, ela é nossa.

Em mais uma colaboração para o caderno Eu& do jornal Valor Econômico, escrevi sobre os bastidores da tão aguardada volta dos Titãs, que começou neste fim de semana. Conversei com os diretores da empresa novata 30E, Pepeu Correa e Gustavo Luveira, que fazem os festivais Knotfest, Ultra, Mita e GPWeek e no último ano trouxeram Jungle, Wu-Tang Clan, Killers, Two Door Cinema Club, Gorillaz, Hot Chip e Kooks para o Brasil, e eles me contaram como conseguiram convencer esse bicho de sete cabeças voltar à ativa. Continue