O melhores shows internacionais de 2023 no Brasil segundo a revista Rolling Stone

, por Alexandre Matias

Já estamos em 2024, mas os ecos de 2023 seguem aí, como é o caso de mais uma edição impressa da revista Rolling Stone que chega às bancas com o Robert Smith na capa, resumindo os melhores shows que aconteceram no Brasil no ano passado. Fui chamado para escrever sobre dois dos shows que mais gostei no ano, o das Haim no festival Mita e o último show de Paul McCartney em São Paulo. Os textos estão no site da revista, mas também podem ser lidos abaixo:

HAIM
Felizes da vida, as irmãs californianas se esbaldaram no Brasil
MITA Festival – Novo Anhangabaú – São Paulo (SP) – 4 de junho

A primeira visita ao Brasil de Este, Danielle e Alana Haim foi um acontecimento histórico – mais até para as três irmãs do que para o público, que as acolheu apaixonadamente. Após versões maravilhosas para “3 AM” e “Gasoline”, ambas do disco lançado em 2020, o ótimo Women in Music – Part III, Alana se dirigiu às outras duas: “Ei, caras! A vida pode ser melhor do que esse momento?” Quando responderam que achavam que não, a caçula do trio cravou que elas de fato viviam a melhor fase de suas trajetórias durante a apresentação no MITA Festival, em São Paulo.

Aquele era o segundo show do grupo no Brasil (elas se apresentaram na versão carioca do evento na semana anterior), o que tornou o palco paulistano o ápice da passagem das Haim pelo país, que se jogaram na noite brasileira e se esbaldaram como se não houvesse amanhã. No palco montado no Novo Anhangabaú, as irmãs até fizeram o público ajudar na escolha entre duas opções de after party para depois do show, entre outras gracinhas.

Vestidas com calças de couro preta e partes superiores de biquínis amarelas bordadas com a bandeira local, as irmãs levaram o populismo à brasileira para outro patamar, quando simplesmente tocaram uma versão de “Ilariê”, o hit proto-axé de Xuxa (algo que também fizeram no Rio). Entre conversas com o público e trocas de instrumentos (todas as três se revezando entre baixo, violão, guitarras, teclado e bateria), as Haim não apenas se divertiram por aqui como trouxeram a energia dessa diversão para os palcos, contagiando a plateia até nos momentos mais melancólicos do setlist, como em “Summer Girl”. Também foi demais presenciar a mãe das três, Donna Haim, divertindo-se no backstage, enquanto cantava as músicas das filhas.

O show terminou com uma lembrança dupla do ótimo primeiro disco, Days Are Gone (2014), ao emendar os primeiros hits “Forever” e “The Wire” para deleite dos fãs, que ainda festejaram o encerramento com a melhor música do álbum mais recente, “The Steps”.

Paul McCartney
Temporal lavou a alma da última apresentação do eterno beatle, hors concurs de nossa lista, em São Paulo
Allianz Parque – São Paulo (SP) – 10 de dezembro

O derradeiro show de Paul McCartney em São Paulo – se os boatos sobre sua aposentadoria se confirmarem – foi debaixo de um pé d’água histórico, o que tornou a apresentação ainda mais intensa. Afinal, foram poucos momentos em que os fãs se arriscaram a tirar seus celulares para registrar o show para a posteridade, tamanha a chuva. Assim, o terceiro show de Paul na cidade em 2023 repetiu que o ex-beatle havia proporcionado semanas antes, quando realizou o já histórico show-surpresa no Clube do Choro, em Brasília. Naquela ocasião, uma pequena multidão de centenas foi proibida de fazer qualquer registro em foto ou vídeo. Já no estádio do Palmeiras, Iansã e São Pedro providenciaram a queda drástica da quantidade de lentes apontadas para o palco, fazendo o público abraçar a inevitável tempestade e se jogar no rosário de hits que forma o repertório-padrão de qualquer show deste nobre senhor.

À frente de uma banda que capitaneia há 20 anos, Paul é o maestro que rege tanto a movimentação de seus músicos (sempre atentos para corrigir eventuais deslizes do patrão, que já sente a idade) quanto a massa de dezenas de milhares de vozes em uníssono. Estas entoam versos e refrãos vigorosamente, tanto da maior banda da história da música gravada quanto das diferentes fases da carreira solo do músico canhoto, que escolhe a dedo cada uma das pérolas do setlist – quase como se administrasse uma palestra musical sobre a importância histórica de sua carreira. Assim, ele caminha pelos degraus da trajetória dos Beatles, revê seus Wings e músicas dos álbuns mais recentes, além de dedicar canções a seus antigos e saudosos “parças”, como disse em português típico de um tiozão querendo se enturmar: John Lennon (“Here Today”, com quem também fez um dueto virtual em “I’ve Got a Feeling”), George Harrison (“Something”) e Denny Laine (seu comparsa de Wings, que faleceu na semana anterior). Foi um show previsível como sempre, mas nem por isso menos emocionante. Apenas Paul McCartney sendo Paul McCartney.

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