
Karina Buhr tocando o primeiro disco dos Secos & Molhados, Cidadão instigado relendo a íntegra do Dark Side of The Moon do Pink Floyd, Céu visitando Catch a Fire do Bob Marley & The Wailers e Fred Zeroquatro apresentando a clássica estréia em disco de Nelson Cavaquinho. É um pequeno festival dos sonhos, mas não é tão sonho assim, pois irá acontecer: a nova encarnação do projeto 72 Rotações, realizado no ano passado pelos compadres do Radiola Urbana, ganha uma versão 2013 e mais uma vez o palco do Sesc Santana recebe nomes da nova música brasileira reinterpretando clássicos com 40 anos de idade, no final de setembro. Os shows do evento 73 Rotações acontecem entre os dias 26 a 29 do mês que vem, sempre às 21h (à exceção do último show, no domingo, às 18h), e conversei com os compadres Ramiro Zwetsch e com o Filipe Luna, capitães tanto do Radiola Urbana quanto do festival, sobre o evento que já pode ser considerado histórico. A entrevista segue abaixo:

Em 1994 quem quisesse achar gravações dos Beatles que não fossem as que eles mesmos haviam lançado, teria que se aventurar pelo caótico mercado dos discos piratas, que, naquela época, já entrava na era digital. Mas não estou falando em MP3 ou torrents de discos inteiros – essas coisas literalmente não existiam naquela época. A grande novidade nos anos 90 – não apenas em se tratando de pirataria, mas em termos de mercado fonográfico – eram os CDs, que passaram de item de luxo dos anos 80 à carne de vaca na década seguinte – e logo a indústria dos piratas começou a digitalizar seus discos e se beneficiar das mesmas vantagens que as grandes gravadoras viram no compact disc (a possibilidade de fazer o consumidor comprar mais de uma vez o disco que já tinha, a facilidade no transporte e no estoque, a comodidade de relançar coleções inteiras em caixas compactas, etc.).
A pirataria beatle logo entrou nessa e, de repente, apareciam não apenas versões digitais de clássicos não-oficiais como até mesmo discos dedicados a períodos inteiros de gravações de John, Paul, George e Ringo – e além de lançamentos que se ocupavam das versões alternativas de discos clássicos, também haviam diferentes box sets reempacotando as principais fontes desta pirataria, as gravações na BBC e as do disco que, depois que os Beatles acabaram, virou o Let it Be. Era o sinal de alerta para por em prática um projeto que Paul McCartney vinha insistindo há anos, de relançar todo aquele material com a chancela oficial da banda. O grupo havia oficializado sua discografia em CD no final dos anos 80 (consagrando a versão inglesa dos discos pré-Revolver como canônica) e tudo indicava que os anos 90 seriam bons para os Beatles. Este processo – que culminou no projeto Anthology mas teve desdobramentos posteriores como o lançamento dos filmes em DVD, novas coletâneas e o Let it Be… Naked – começou com um CD duplo chamado Live at the BBC.
Um disco delicioso, cheio de versões para ídolos dos quatro e gracinhas feitas no rádio, que arredonda maravilhosamente a fase inocente e pré-psicodélica dos Beatles, servindo tanto como boa introdução à parte do universo da banda como caixa de surpresas para os fãs mais ortodoxos. Mas não é nem um décimo da totalidade do material que os Beatles gravaram na rádio estatal inglesa – as caixas de CDs piratas tinham nove, dez discos.
Acontece que há indícios que o grupo está prestes a entrar em mais uma fase de lançamentos oficiais e estes incluirão mais do que discos, graças a um novo acordo do grupo com a Universal Music (fala-se em linha de roupas e até uma máquina de pinball do Submarino Amarelo). Mas o que importa é a música – e além de uma nova versão para o velho Live at the BBC (com mais músicas? Em vinil? Não há detalhes) há a expectativa para o lançamento de um segundo volume com faixas desta cepa – até a data já foi cravada, 4 de outubro. A pré-venda de um livro oficial dedicado inteiramente às gravações na BBC (The Beatles: The BBC Archives: 1962-1970, que também será lançado no início do próximo outubro) reforça este rumor.

Dedos cruzados.
Desculpa, mas se até hoje você não leu A Piada Mortal, do Alan Moore, pare o que está fazendo e dê um jeito de lê-la. Tudo que vem abaixo da imagem é spoiler, óbvio:


Conheça: Pedro Veríssimo
Baixe o disco em seu site oficial e veja o clipe de “Por Aí”
Ao contrário da maioria dos músicos, o primeiro trabalho de Pedro Veríssimo foi autoral. Pedro era vocalista de uma das mais celebradas (embora menos ouvidas) bandas gaúchas da virada do século – a Tom Bloch -, uma banda que talvez tenha sofrido do mal de não pertencer ao universo imaginário da cena musical de sua época, de bandas com apelo humorístico e apego à new wave e ao rock pra dançar, epitomizada na Bidê ou Balde. A Tom Bloch, em contrapartida, era séria e contemplativa, um National com sotaque do Rio Grande. Gravou dois discos, um EP, tocou muito pelo Brasil e muito mais no Rio Grande do Sul, ganhou fãs e entrou para a história.
Foi quando Pedro se viu solo com uma carreira essencialmente autoral. “Levou tempo pra conseguir desligar o módulo Tom Bloch”, ele me explica Pedro Veríssimo, detalhando que passou por “um processo que consistiu basicamente em tocar músicas dos outros, coisa que numa banda autoral como a Tom Bloch eu quase nunca tinha feito.E minha experiência de palco até ali tinha sido só essa, tocando nossas músicas pra pessoas que muitas vezes estavam ouvindo tudo pela primeira vez”.
Sua transição começou em parceria com a cantora gaúcha Izmália – “uma cantora cujo estilo é o oposto do meu, do repertório à postura no palco e relação com a platéia”, tocando covers de artistas como Radiohead e David Bowie. Depois se apresentou com a Orquestra de Ulbra em concertos chamados Clássicos do Rock, de repertório óbvio, a partir do título. “É interessante não escolher o que se vai cantar, tudo é proposto pelo maestro”, lembra, comentando que “digamos que eu nunca me imaginaria cantando Jethro Tull…”. Além destes trabalhos também participou de um projeto que juntava música e gastronomia chamado O Sabor e o Som (“sempre com uma cidade diferente como tema, a cada evento um setlist e um menu diferentes. Um laboratório bem divertido e muito gostoso de fazer. Literalmente”), antes de mudar-se para o Rio de Janeiro.
“Foi só quando comecei a passar mais tempo no Rio e montei um show por aqui – também de covers, inclusive de Tom Bloch – que a vontade de compor reapareceu. A formação era voz, guitarra e baixo acústico. Basicamente a mesma com a qual gravei, adicionando aí uma bateria mínima. Nos ensaios com o Fernando Aranha (guitarra), Marcello Cals (bateria) e Claudio Alves (baixo acústico) é que começou a se desenhar esse album”, lembra.
O novo trabalho, seu primeiro disco solo, chama-se Esboços e é claramente uma continuação natural de seu trabalho com a Tom Bloch – música contemporânea tocada por uma banda de formação rock, ênfase na canção, o grande trunfo de Pedro. “O álbum se originou a partir de um projeto interativo patrocinado pela Petrobrás Cultural em que eu montei um site em que me propus a postar uma música inédita a cada 15 dias – as vezes menos, as vezes mais – e deixar o público responder com imagens inspiradas por cada single”.
“Chamei de Esboços porque todas as canções são como estudos, tentativas sem grandes pretensões”, continua. “Não é um album de certezas e nem queria que fosse. Mas deixou mais claro na minha cabeça o que era Tom Bloch e o que sou eu – a banda tinha conceitos mais firmas, coisas pré-definidas, se valia muito do estúdio e das possibilidades de recortes e sobreposições, loops e texturas. Esse trabalho solo não, meio que vai se definindo enquanto é feito, é igual tanto na gravação quanto ao vivo, uma banda tocando tudo com a mesma formação”.
O disco foi produzido por JR Tostoi, guitarrista de outra grande banda que não aconteceu (e por motivos semelhantes aos que fizeram a Tom Bloch não decolar), o Vulgue Tostoi, no estúdio Ministereo. “A idéia era meio um esquema de ‘adicione água’: terminar o arranjo, gravar, mixar e postar sem muito tempo para pensar. E com um prazo relativamente curto entre uma postagem e outra. As canções e essa galeria com as intervenções do público ficaram no ar por um tempo, nesse formato estilhaçado. Mas o todo tinha coerência e achei que fazia sentido reunir num arquivo único, num album. Além do que facilitava para quem se interessase em ouvir poder baixar tudo num clic só e não ficar catando pelo site. Demos um tapa na mixagem, arrumamos pequenos detalhes e masterizamos. Por ter sido bancado por um patrocinador, achei que o mais correto era colocar pra baixar de graça mesmo. Não pretendo prensar nenhuma cópia, é um album virtual e sem intermediários”.
Isso quer dizer que não iremos mais ouvir a Tom Bloch? “Acho que esse disco é um meio de caminho, não só pra mim mas pra Tom Bloch também. Notícias em breve”. Vamos aguardar.

“Color is important on Breaking Bad; we always try to think in terms of it. We always try to think of the color that a character is dressed in, in the sense that it represents on some level their state of mind”
O post a seguir não traz tantos possíveis spoilers, mas deve ser lido por quem está acompanhando a série.

Talvez o grande feito jornalístico dos Mídia Ninja não tenha nada a ver com os protestos do meio deste ano e esteja acontecendo exatamente agora, ao servir, graças ao último Roda Viva, de isca para o início da discussão sobre esse tal de Fora do Eixo. Essa entidade há alguns anos vem tomando conta de diferentes corredores da produção cultural brasileira, com um discurso prolixo, evasivo e muitas vezes contraditório e constantemente teve seu modus operandi questionado – além de falar mais sobre política do que sobre cultura. Será que há algum whistleblower disposto a mostrar as coisas como elas realmente são do lado de dentro do Fora? A transmissão 3G e o jornalismo POV dessa nova comunicação ninja poderia mostrar, mesmo que na base do relato anônimo (pode usar a máscara do V, tá tranquilo), as trincheiras direto do front das Casas Fora do Eixo? E não custa lembrar que documentos digitais não se destroem facilmente.
Eis a grande reportagem de cultura no Brasil de 2013.
***
Alguns textos já ajudam a costurá-la:
- O depoimento da cineasta Beatriz Seigner
- O desabafo de Daniel Peixoto, ex-Montage, em relação à forma como o coletivo atua
- O longo artigo sobre o grupo no site Passa Palavra
- A curta indireta anônima no site do Centro de Mídia Independente
O Vlad propõe uma interessante autocrítica que poderia ser proferida pelo coletivo(Vlad apagou sua sugestão)- E o Mini já compilava links relacionados ao tema há muitos tempo, no Tumblr Discurso Alternativo
- Manuela Barem fala sobre sua experiência com o grupo ainda no Mato Grosso do Sul
- Fernanda Popsonic também conta o que viveu
- O Gustavo também faz boas perguntas, além de resgatar um post apagado
- Laís conta histórias mais escabrosas – e deixa esse vídeo ao final de seu post
- O Alt Newspaper detalha os problemas da entidade em Pernambuco
- O Caco conta mais histórias envolvendo o coletivo em Macapá
- A Shannon dá seu parecer como observadora externa
- George fala da presença do coletivo na América Central
- E o UOL entrevistou Pablo Capilé
E agora criaram o Fora do Eixo Leaks de fato.
Alguém aí quer falar ou linkar mais algo?

E nesta edição da Galileu bati um papo com um dos maiores autores de livros de não-ficção da atualidade. Biógrafo de Richard Feynman e de Isaac Newton, James Gleick finalmente tem seu A Informação – de 2011 – lançado no Brasil. Editei textos dele nos meus tempos de editor do Link (um sobre memes e outro sobre o Google), por isso foi uma satisfação dupla conversar com ele. A íntegra do papo segue abaixo:
Bit a bit
Autor de importantes livros sobre ciência mostra que tudo – eu, você e o universo – é formado por informação
A bibliografia do jornalista e escritor norte-americano James Gleick já contava com obras de fôlego, como seu primeiro livro Caos — A Criação de uma Nova Ciência (1987), sobre a teoria do caos, e as biografias que escreveu sobre mestres da física como Richard Feynman (Feynman — A Natureza do Gênio, de 1992) e Isaac Newton (Isaac Newton — Uma Biografia, de 2003). Mas com A Informação — Uma História, Uma Teoria, Uma Enxurrada (Cia das Letras, R$ 59,90), lançado em 2011 e que só agora chega ao Brasil pela Companhia das Letras, o escritor dá um salto ainda maior em abrangência ao explicar que a base do Universo é o bit de informação. “Somos processadores de informação”, crava o escritor, em entrevista por telefone. • Alexandre Matias
Quando você notou que o tema “informação” daria um livro?
Ao pesquisar para fazer meu primeiro livro, Caos, descobri esta ciência chamada Teoria da Informação, criada por Claude Shannon, sem chamá-la assim, em 1948. Lembro ter visto seu livro A Teoria Matemática da Comunicação, que nunca saiu de catálogo, ainda naquela época, mas não me aprofundei. Os anos se passaram e vimos as drásticas mudanças que ocorreram. E, a partir daquela descoberta, sempre soube que sob todas aquelas mudanças havia uma ciência não muito conhecida chamada Teoria da Informação. Havia uma conexão entre uma área da ciência tão obscura e a extremamente dramática e óbvia revolução da informação pela qual estamos passando. Foi quando percebi que poderia organizar isso tudo em um livro. Queria contar apenas a história toda, desde o começo.
Uma tarefa tão ambiciosa quanto megalomaníaca.
Sim, uma tarefa impossível, como se fosse contar a história do mundo. Mas sempre achei que houvesse um tema, que daria coerência ou que funcionasse como um fio da meada para esta história tão complicada.
O subtítulo do livro dá a entender que ele pode ser encarado como três livros.
Sempre soube que este meu livro se chamaria apenas A Informação, só no final do processo é que o subtítulo apareceu. Não havia percebido que estava trabalhando num livro de três partes e essas três partes — a história, a teoria e a enxurrada — vêm todas ao mesmo tempo. E, sim, há três livros em um só volume, embora a divisão não seja clara.
Na parte histórica, um dos grandes méritos do livro é o reconhecimento de figuras que foram esquecidas pela história.
Duas delas, Charles Babbage e Ada Lovelace, surgiram na Inglaterra vitoriana. Algo peculiar sobre sua importância é que, por muito tempo, eles foram esquecidos. Babbage foi bem conhecido em seu próprio tempo, na Inglaterra. Mas logo depois ele sumiu da consciência das pessoas. Se você perguntasse para alguém, nos anos 1930, por exemplo, quem era Charles Babbage, acho que ninguém teria ouvido falar dele, mesmo em seu país. Com Ada Lovelace era pior, você teria de ser um estudioso sério de poesia inglesa para saber que Lord Byron teve uma filha e mesmo assim era pouco provável que alguém soubesse que ela era matemática.
Os dois foram redescobertos em nossa época por cientistas da computação — e mesmo hoje não dá para saber quem foi o responsável por desenterrar seu trabalho de bibliotecas e perceber que o que estava sendo feito nos anos 1950 na área de computação havia sido imaginado anteriormente, com muito detalhe e criatividade, por Babbage e Lovelace. E isso é muito excitante. Estas idéias nunca deixaram a consciência mundial, mesmo que a grande máquina de calcular idealizada por Babbage tenha sido um fracasso. Tentei entender suas motivações e acho que ele tentava estabelecer uma conexão entre o mundo abstrato dos números e o mundo físico das máquinas. Só isso já era algo emocionante: máquinas podem manipular não apenas tecidos e metais, mas também coisas de natureza mental. É uma ideia muito poderosa que nos fez viver no mundo que vivemos hoje. E é aí que a Ada torna-se uma figura tão importante nessa história, pois enquanto Babbage só pensava em termos de números, ela entendeu melhor do que ele que a informação é algo mais geral — se uma máquina pode manipular números, pode fazê-la manipular palavras e linguagens também.
O livro também cita exemplos de que não é a primeira vez que nos sentimos inundados por informação – você cita que, quando livros deixaram de ser novidade e aos poucos viraram um mercado, muitos diziam que era impossível ler tanto e que isso emburreceria a civilização. Mas ao mesmo tempo, estamos vivendo uma época única em respeito à velocidade e ao volume de informação.
Tentei escrever justamente para que parecesse contraditório. Por um lado, sentimos que nosso tempo não parece com nenhum outro que veio anteriormente. Afinal, no mundo em que vivemos hoje, todos estão conectados eletronicamente por todo o planeta, de forma instantânea, na velocidade da luz, e que podemos ver imagens do que está acontecendo exatamente agora no sudeste da Ásia – sem contar o fato de estarmos tendo esta conversa, mesmo a milhas de distância. Ao mesmo tempo, todos nós podemos ter acesso a todo o conhecimento do mundo ao acionar um aparelho de nossos bolsos. Tudo isso é genuinamente novo e nós só podemos supor o que poderá acontecer com a espécie humana a partir disso.
E o que torna esta afirmação contraditória é que as pessoas sempre sentiram isso, por várias vezes, em toda a história. E toda nova tecnologia da informação trouxe junto um coro de reclamações, medo e ansiedade que é muito parecida com a que vivemos hoje. E à medida em que fui escrevendo o livro, sabia que ele iria terminar na enxurrada de informações a que somos submetidos hoje, afogados em informação.
Mas sabia que iria repetir as previsões loucas do século 17 quando, depois da criação da impressora de tipos móveis, as pessoas temiam por uma terrível enxurrada de livros, que seria tão drástica que faria a humanidade retornar à barbárie, pois não haveria forma de acompanhar tanto conhecimento que, de repente, começava a ser impresso.
A forma que se fala que a internet irá aniquilar o tempo e o espaço é parecida com a forma como o telégrafo foi recebido ao ser criado. E realmente há conexões entre todas estas tecnologias de informação – não é só uma coincidência.
Isso tudo me levou a três considerações. Primeiro, já vimos isso acontecer e é importante termos isso em mente. Segundo, que é realmente diferente desta vez. E terceiro que não dá para imaginar como as pessoas daqui a 50 anos verão a época em que vivemos agora. Acho que isso é impossível de imaginar.
A compreensão da natureza da informação vai para além da área das comunicações e explica, inclusive, nossa biologia.
Com certeza. Pensar o mundo em termos de informação abriu nossos olhos e nos ajudou a entender o que somos como criaturas biológicas. Não há dúvida sobre isso: somos processadores de informação. Nosso sistema nervoso é responsável por mandar mensagens por todo o nosso corpo – e não apenas o sistema nervoso, que é um sistema de fios elétricos, mas também nossos hormônios e outros sinais químicos que são foram percebidos por muitos biólogos como sendo apenas informação. Isso só foi possível entender depois que o telégrafo foi inventado, ele funcionou como uma metáfora para nosso próprio funcionamento.
Mesmo num nível genético, somos feitos de informação. Quando falamos do código genético, isso não é uma metáfora, é literal. O DNA é um código, um alfabeto formado por quatro letras que codifica informações sobre como criar um novo organismo. Até os biólogos entenderem isso seria impossível para eles descobrirem, ou melhor, criarem a linguagem genética.
A grande revolução genética aconteceu nos anos 1950 e 1960, e não ocorreu apenas pela evolução da química ou pela criação de grandes microscópios eletrônicos, que nos permitiu ver a famosa hélice dupla, e sim o entendimento dos processos que estão na base de nossa biologia.
E você acha que em algum momento podemos nos fundir com as máquinas que criamos? O Google Glass, por exemplo, seria o próximo passo rumo à tal singularidade?
Fala-se muito sobre singularidade e acho que boa parte do que é dito é meio bobo, mas de certa forma esta singularidade já aconteceu. Eu não acho que iremos nos fundir como um só organismo com os Borgs (uma entidade coletiva do universo de Jornada nas Estrelas), mas acredito que já podemos nos ver como já somos criaturas mais complexas quando levamos em conta as máquinas e a tecnologia que ampliam nossas habilidades humanas. E é claro que o Google Glass é um dispositivo protético, da mesma forma que o celular que carregamos no bolso também é. Se você parar para pensar, até a escrita é uma tecnologia inventada para ampliar nossas capacidades mentais, como os muitos dispositivos que agregamos ao nosso corpo. Nós já somos híbridos e estamos felizes em nos conectar com o mundo eletrônico.
Dá para ser otimista imaginando este futuro?
Eu tendo a ser otimista pessoalmente, mas não posso defender isso. É mais uma questão de humor. Claro que há muitas coisas que nós precisamos temer e nos preocupar, não acho que seja saudável achar que tudo será ótimo e que a tecnologia irá resolver todos nossos problemas. Não acredito nisso, temos que estar alerta e temos o direito de termos medo e nos preocupar com o fato de estarmos cada vez mais distraídos, sobre perder a habilidade de nos concentrar, devemos nos vigiar se estivermos fazendo muitas coisas ao mesmo tempo e nos esquecermos de prestar atenção naquilo que é próximo da gente, no mundo físico. Mas acho que se fizermos isso, se formos cuidadosos, os desafios que teremos a seguir não serão tão diferentes dos desafios que vimos antes. Portanto, sim, sou um otimista.
E você pode antecipar qual é o assunto de seu próximo livro?
Eu só posso dizer brevemente que comecei a escrever um livro sobre viagens no tempo. Sobre a história da viagem no tempo. Acho que levarei alguns anos para concluí-lo.
E por falar em Tame Impala, tava precisando escrever sobre eles (não só). Cheguei de volta das “minhas férias“, começou a rolar toda aquela onde de protestos e não pude recapitular o que assisti na gringa, nessas duas semanas que estive fora. Começo essa retrospectiva agora, lembrando alguns dos shows que vi no velho continente quando passei esses dias fora do ar – alguns desses shows que vi passarão pelo Brasil esse ano e uns deles merecem o bis. Primeiro comento alguns shows do Primavera para depois falar do festival como um todo – e do show do Neil Young. Mas começo pelo Tame Impala, um dos shows mais importantes da edição do evento nesse ano, da carreira da banda e de 2013 – lembrando que o Tame Imapala é um desses que volta ao Brasil ainda este semestre:

Todas estes adjetivos vêm do fato de que o Tame Impala foi o primeiro grande show do festival catalão. O Primavera começa com shows esporádicos nas noites anteriores à abertura oficial, que aconteceu numa quinta-feira e a banda de Kevin Parker marcava justamente este início, afinal era a primeira grande atração em seu palco principal. Em nítida ascendente evolutiva, é possível ver que a intimidade dos músicos com o palco e com a platéia ultrapassou aquela timidez simpática de seu líder que assistimos nos shows aqui no Brasil, há um ano. Kevin não ri mais de vergonha, mas de orgulho do que está fazendo em pleno 2013 – revivendo os anos áureos da psicodelia como se o Lennon de 67 tocasse com o Pink Floyd de 72. Não é mais uma referência ou uma citação – Kevin SABE que pertence a esse cânone technicolor com a grande vantagem de já ter visto o que de ruim pode acontecer com uma banda de rock clássico pelos motivos mais mesquinhos – dinheiro, mulher, álcool e drogas. Ele vive o sonho psicodélico da infância perdida como se ela nunca tivesse sumido – e o brilho da inocência pudesse chegar à maturidade intacto.
Ao contrário disso, ele entrega sua banda à fluidez do idioma lisérgio elétrico sessentista, intercalando riffs e solos como se tais fraseados instrumentais não fossem elementos à parte na estrutura da canção. Uma das grandes diferenças do Tame Impala que vimos no Brasil em agosto de 2012 para o Tame Impala no Primavera este ano era o fato de que a banda se sente mais à vontade como instrumentistas, não se prendendo necessariamente às canções. O show começou com o riff de “Led Zeppelin” que não deixou a canção começar – em vez disso, a introdução da faixa tornou-se apenas uma introdução à próxima música, “Solitude is Bliss”. E seguiu assim, com a banda criando pequenas vinhetas e alongando compridas jams sempre para voltar para suas músicas mais sólidas (principalmente as do segundo disco, Lonerism, que não foi tocado ao vivo nas apresentações daqui, fora “Elephant” e “Apocalypse Dreams”, as únicas faixas que haviam vazado na época).
A sinergia musical entre os cinco integrantes da banda é conduzida também pela guitarra (e pela presença de palco) de um Kevin cada vez mais seguro de si e dos rumos que tem tomado. É visível perceber que estamos frente a uma banda com um futuro brilhante pela frente, não é preciso muito esforço para imaginar que o terceiro disco talvez possa superar o impacto dos dois primeiros.
Mas basta o presente para sentirmos esperança – não no futuro do rock ou no da música pop, mas esperança pura e simples a partir do fato de que ainda há gente boa disposta a passar boas vibrações para mais gente e melhorar nossa estada neste planeta. E se essas vibrações vêm como o timbre de uma guitarra psicodélica, melhor ainda.
Fiz uns vídeos no show, saca aí embaixo. Há até o momento farofa-brasil quando o Mutlei puxou o corinho de “PROGUÊ, PROGUÊ” no momento mais “Set the Controls to the Heart of the Sun” do disco, procuraê:

Como diziam os Mutantes “you know, it’s time now to learn Portuguese…”
Esses autralianos…
Na edição da Galileu que está nas bancas, há uma entrevista que fiz com Tobias Andersson, porta-voz do PirateBay que vem ao Brasil no início do mês que vem para participar do YouPix. Segue a matéria abaixo.

OS RÉUS E O PORTA-VOZ:Fredrik Neij, Gottfrid Svartholm e Peter Sunde recorrem no processo que estão sendo julgados na Suécia; Tobias (à direita), não
Um pirata no Brasil
Porta-voz do maior site de compartilhamento de arquivos do mundo é a atração do Youpix deste ano
Quando pergunto a Tobias Andersson qual é o seu papel no PirateBay, o maior site de compartilhamento de arquivos do mundo, nem ele sabe responder direito: “Estou no site desde o início”, explica por e-mail, “mas o trabalho no PirateBay é muito anárquico, para dizer o mínimo. Não há papéis específicos na equipe, da mesma forma que não há um líder ou um dono. Todo mundo faz o que quer. Falamos todos os dias pelo mesmo canal de informações, todo mundo participa de todos os processos. Pensamos de forma bem parecida e quase não há controvérsia entre nós”. Mas, para todos os efeitos, Andersson age como o porta-voz do grupo, que é representado pelas figuras de Fredrik Neij, Gottfrid Svartholm e Peter Sunde. Os três, suecos como Andersson, são os réus em um julgamento que teve seu veredito em fevereiro do ano passado, mas que ainda se arrasta através de novos recursos e instâncias. E Andersson vem a São Paulo como principal convidado do festival de cultura da internet YouPix, que acontece no início de julho e também terá mesas de debates oferecidas pela GALILEU. No evento, o pirata vem falar sobre sua experiência no PirateBay, política mundial e o futuro da internet. Ele também prepara um livro sobre os 10 anos do site — “e minha estada em São Paulo fará parte do livro”, adianta.
Qual é a situação do PirateBay? Os servidores de vocês foram para a Islândia?
Não, apenas o domínio está hospedado na Islândia. Nossos servidores estão espalhados pelo planeta eestamos transferindo todos os dados para serviços na nuvem. O domínio deve continuar mudando sempre, para estarmos um passo adiante. Há também um plano para começar um projeto via Kickstarter para comprarmos o domínio .bay.
O que você acha da pirataria digital ter virado uma bandeira política, com os Partidos Piratas pelo mundo?
Mark Getty, da agência de fotos Getty, disse que “a propriedade intelectual é o petróleo do século 21” e esta frase é bem interessante. Nós do PirateBay anunciamos que 2012 seria o ano da tempestade e foi isso que aconteceu: tivemos as brigas contra a Sopa [projeto de lei norte-americano que endurecia a vigilância e a punição aos direitos autorais], o Acta [tratado internacional com fins semelhantes] e o veredito de culpado contra os três fundadores do site — um deles está preso por um ano e os outros dois aguardam julgamento em liberdade, mas o site continua funcionando independentemente do julgamento. Acho que os próximos anos serão ainda mais inquietos.
Então você acha que a legislação digital deve endurecer nos próximos anos?
Acho que teremos duas opções: ou um estado de vigilância ou uma internet independente. Todos ganhariam caso a última alternativa prevalecesse. Modelos de negócio prosperariam e pessoas de todo o mundo usariam a internet para aprender sozinhas. Mas isso não acontecerá sem briga. Por outro lado temos outros fatores, como o crescimento da capacidade de armazenamento. A Lei de Krysder diz que o espaço de um HD dobra a cada 20 meses, o que quer dizer que, em 10 anos, teremos toda a história da música em nossos bolsos.
O que você acha de Kim Dotcom, do Megaupload, que foi caçado pela justiça norte-americana?
Kim Dotcom é um esquisito megalomaníaco que poderia ter se dado melhor se não pensasse apenas em ganhar dinheiro. Sites de armazenamento como o Mega não são a forma certa de agir. A internet precisa ser aberta e não se tornar um festival de “pague pelo arquivo”.
Você acha que o streaming de serviços como o Spotify irá suplantar o download?
Remixando as clássicas palavras do Chuck D, do Public Enemy: desculpe-me, mas foda-se o Spotify. Ele não resolve nada, pois é parcialmente mantido pelas três grandes gravadoras, que não submeteriam seus catálogos caso não fossem sócias. O que quer dizer que eles ainda ganham mais dinheiro que os artistas a cada execução. Isso inclui artistas que não são contratados por estas três gravadoras. Acredito que a evolução da tecnologia terá seu papel e veremos redes descentralizadas e anônimas onde amigos trocam conteúdo gratuitamente.
E quais são os próximos passos do PirateBay?
Espero que apareça algum sistema que torne o PirateBay obsoleto. Dez anos é muito tempo para um site como este. Adoraria ver um aplicativo com um cliente torrent embutido que poderia utilizar todos os agregadores de metadados disponíveis. Algo que nos tornasse livres de sites e domínios…
TPB: AFK | Lançado no início de 2013, o documentário TPB: AFK (The PirateBay: Away From Keyboard, Longe do teclado, em inglês), do sueco Simon Klose, acompanha o julgamento dos três fundadores do site desde o meio de 2008 até o veredito, no início do ano passado. O filme foi disponibilizado gratuitamente para download no próprio PirateBay. Tobias Andersson diz ter achado o filme “meio entediante”.