Botaram lá no Last.fm que eles tocam em maio em São Paulo. Tem cara de boataço, mas como a banda anda sendo sondada pra outro show por aqui, cruzo meus dedos pra não ser.
O Brasil sempre importou modismos estrangeiros como uma forma de buscar assunto para compor suas próprias músicas – nunca foi pré-requisito, mas o que fazia sucesso no exterior (seja na França, nos EUA, na Inglaterra, na América Latina ou na Itália) sempre encontrava eco em nosso jovem país, que sempre dava um jeito de, com o tempo, abrasileirar timbres, tempos, temas. Não é privilégio do Cansei de Ser Sexy: Carmen Miranda já cantava “Disseram Que Eu Voltei Americanizada” depois de sua temporada em Hollywood.
Nos final dos anos 50, o cool jazz era o indie rock de seu tempo e o apartamento da Nara Leão era o equivalente ao Midsummer Madness nos anos 90. Era onde uma turma que não gostava do som que tocava nos rádios e nas ruas e buscava, nos discos importados, refúgio e conforto. A sorte da turma de Nara foi a aparição de João Gilberto, que sozinho, transformou um bando de adolescentes fanáticos por jazz na primeira geração de um gênero que não existia nos anos 60, mas que tornou-se onipresente a partir dos 70: a MPB.
O sucesso da bossa nova fez com que outro modismo americano passasse despercebido por aqui e suas referências e necessidades fossem assimiladas de outra forma, sendo ignorado no Brasil em seu tempo. Antes da Beatlemania varrer o mundo no começo dos anos 60, a folk music estava se tornando um dos principais novos gêneros no início daquela década (ao lado da californiana surf music e daquele gospel tão macio e novo que chamavam de soul). Mas como o Brasil tornou-se obcecado com a bossa nova pouco antes dos tanques mineiros chegarem a Brasília, em 64, este gênero acabou suprindo o refúgio no violão e em valores nacionais defendidos, nos EUA, pela nova tribo folk, que habitava o Greenwich Village, em Nova York. No Brasil, todo o vínculo que a folk music representava nos EUA tanto com a questão dos direitos civis quanto com os valores de um país tentando encontrar a própria identidade podem ser resumidos em duas rupturas de fundadores da bossa nova: quando Carlos Lyra se junta ao grupo de teatro Arena e quando Nara Leão chama Zé Kéti e João do Vale para o palco do espetáculo Opinião. Esses dois artistas podem ser considerados os principais responsáveis por nos isolar de uma geração inteira de artistas americanos, como Kingston Trio, Joan Baez, Weavers, Odetta, Peter Paul & Mary, Phil Ochs, John Denver, Pete Seeger e Bob Dylan. E sorte nossa: imagine se, nos anos 60, o discurso folk americano fosse adaptado para o Brasil – ia soar forçado e alienante, como se a jovem guarda tivesse alguma pretensão política. Felizmente, não foi o caso.
Isso explica principalmente o revival folk que estamos atravessando atualmente. Todos esses artistas – e o cânone que eles geraram – têm sido revisitados e descobertos nos últimos anos e aos poucos estão sendo apropriados por diferentes gerações, criando essa cena folk que até o final de 2007 era só uma vontade, mas depois de 2008 – e dos shows do Dylan, Will Oldham, Conor Oberst e Bill Calaham no Brasil, da festa Folk This Town, dos discos de Mallu Magalhães e a ascensão do Vanguart – tornou-se fato. E, aos poucos, surgem artistas comprovando isso.
Um destes é a dupla Rosie and Me, de Curitiba. Quem me deu o toque sobre eles foi o Vinícius, mas eles já estão chamando atenção no exterior antes mesmo de surgir no radar da cena independente brasileira. Não é difícil entender porquê – canções compostas por melodias singelas e refrões irresistíveis são emolduradas por arranjos discretos e leves, funcionando como veículo para o jogo entre as vozes de Roseanne Machado – doce e de textura levemente áspera – e Alex Sousa – de timbre grave e informal. “No começo éramos só eu e o Alex”, lembra Rosie. “Na época ele morava no Rio e eu em Curitiba. Eu costumava gravar as bases das músicas no meu computador e depois ele sincronizava e complementava os arranjos no computador dele, tudo a distância. Foi um impulso disponibilizar as faixas na internet, era tão lo-fi que o Rosie and Me era mais entre a gente. Em uns dois meses o número de ouvintes aumentou inesperadamente. Foi quando decidimos convidar alguns amigos e formar a banda”.
“Nosso primeiro show foi em novembro do ano passado no Wonka Bar em Curitiba”, continua Alex. “Fomos convidados para abrir o show de lançamento dos nossos amigos do Je Rêve de Toi. Foi de última hora e, apesar do nervosismo, foi divertido tocar pra uma casa cheia e receptiva. Era estranho ver gente que sequer conhecíamos cantando algumas das nossas músicas. Na formação tínhamos a Rô no vocal e violão, eu no vocal e synth, o Guilherme no baixo e o Tiago na bateria. Estes são os membros oficiais da banda. Convidamos um amigo, o Fião, para nos ajudar com mais um violão”. Foi o único show da banda, que ainda mandou covers de Metronomy e The Knife.
Rosie and Me – “Heartbeats” (The Knife)
Rosie and Me – “Heartbreaker” (Metronomy)
Alex segue falando da repercussão online que a banda teve mesmo antes de começar pra valer. “No começo estávamos bastante empolgados com o Last.fm e criamos um perfil pra banda com uma ou duas músicas. De repente o número de ouvintes aumentou e alguns comentários positivos foram nos encorajando a criar mais músicas e enviar para o site. De forma alguma esperávamos ter ouvintes em países como Polônia e Alemanha antes mesmo dos nossos amigos daqui ouvirem as músicas. Uma guria chegou a enviar uma de nossas músicas para uma rádio polonesa e nos avisar quando a música foi ao ar. Lembro da Rô me ligando desesperada para avisar quando tocaram ‘Folkie Song’. Demoramos a criar um perfil no MySpace e só o fizemos depois de alguns pedidos de alguns ouvintes do last.fm que queriam nos ajudar a divulgar a banda”.
A banda sem querer faz parte de uma nova safra de bandas curitibanas que, como convém quase sempre à capital paranaense, quase nunca se movimenta como uma cena, e sim como várias ações coletivas que se movimentam em paralelo: “Várias bandas, de diversos estilos tem surgido e apresentado um trabalho muito bom. Temos gente como o próprio Je Rêve de Toi, Delta Cockers, Copacabana Club, Bo$$ in Drama, Sabonetes, Stella Viva”, Alex enumera. “Sem dúvida há outras bandas que como nós tem produzido alguma coisa às escondidas também”.
“Temos hoje cerca de 13 músicas gravadas, das quais 9 estão disponíveis para download no Last.fm“, continua Roseanne. “Duas são covers acidentais que o Alex acabou postando em um período que estive fora. ‘I Lost You, But I Found Country Music’ é do Ballboy e significa bastante pra ele. ‘You’re Laughing At Me’ de Irving Berlin foi gravada com instrumentos ‘emprestados’ de uma banda de jazz do Seneca High em Wisconsin. Até o momento não temos qualquer show marcado. Pretendemos finalizar e lançar um EP ainda no primeiro semestre deste ano. Mas a experiência de tocar ao vivo foi muito boa. Acho que não recusaremos caso suja uma nova oportunidade”.
As mesmas perguntas: Rosie and Me
O que levou vocês a fazerem música?
Rosie: Foi a influência musical que nos aproximou quando nos conhecemos, além do gosto parecido pra lo-fi/folk/country tunes nossas histórias também tinham muitos pontos em comum. Podemos passar horas nos divertindo com um violão, gaita e teclado sem percebermos.
Qual foi a primeira música que vocês tocaram juntos?
Alex: A primeira foi “Folkie Song”. Ela ficou conhecida como “Folkie Song #2” porque apesar de ser a primeira a surgir, foi a segunda a ser gravada.
Como foi a primeira apresentação como Rosie and Me?
Rosie: A estréia foi no Wonka Bar com o Je Rêve de Toi e Delta Cockers. Lembro da casa cheia e do quanto estavamos nervosos no início. Abrimos o set com “The Big Fight” e arriscamos um cover do Metronomy. A reação do público foi ótima, estávamos realmente nos divertindo com tudo aquilo.
De quem vocês queriam abrir um show? E quem vocês gostariam que abrisse um show de vocês?
Rosie: Putz. Dá pra sonhar bastante com essa coisa de abrirmos shows pra alguém. Acho que Stars, Wilco, Weepies pra nós dois seria algo incrível. Acho que para abrir um show nosso convidariamos o Pylas. Projeto de um grande amigo nosso.
Com que banda/artista brasileiro você dividiria um disco?
Rosie: O Pylas. Sem dúvidas.
Rosie and Me – “You’re Laughing At Me (Irving Berling Cover)“
Rosie and Me – “Youre Laughing At Me (Irving Berling Cover)”
Led com Beastie Boys – que aliás, vai ser o segundo tema do curso. O mashup é do DJ Moule – e a versão em vídeo do DJ Cougar.
Em seu blog:
Nada como um evento de internet pras noticias se espalharem tao rápido.
Ontem no CAMPUS PARTY aconteceu uma confusão devido – fiquei sabendo hoje, quase agora – a minha música MÉXICO.
Aí um cara chegou e quis desligar o som e ficou discutindo comigo sem me explicar o porquê.
Abri meu email hoje e recebi vários emails de pessoas já sabendo do evento sem nem ter ido, hehe.
Queria agradecer a todo mundo que me escreveu declarações positivas, mas queria deixar, gente, que essas coisas acontecem e que tá tranquilo, tem nada não, essas coisas acontecem.
Como eu disse pro FLU ontem, eu esperava tudo nesta apresentação de ontem, que ninguem fosse ver, que ninguem fosse prestar atenção, etc, mas nunca, nunca pensei que alguem fosse querer brigar e/ou discutir comigo.
Tou falando, De Leve é muito de boa… E pra continuar no clima, eis “México” de novo, sem interrupção:
Passagem de som do Saturday Night Live e o ator Jorma Taccone estraga todo o clima…
Olha que mico:
E justo com o De Leve, que é um dos caras mais tranqüilos que eu conheço nesse metier – além de ser um dos primeiros caras a usar a internet como forma de divulgar o próprio trabalho… Não gostou, vaia, tudo bem. O artista tem todo o direito de ser vaiado – e sabe disso. Agora, partir pra porrada? Ameaçar o cara via YouTube? Truculência é pior que burrice, hein. Com tanta sarna pra se coçar, nego fica perdendo o tempo e querendo arrumar briga por causa de falso moralismo? Brincadeira…
Ooh, I bet you’re wondering how I knew
About you’re plans to make me blue
With some other guy that you knew before.
Between the two of us guys
You know I love you more.
It took me by surprise I must say,
When I found out yesterday.
Don’t you know that…
I heard it through the grapevine
Not much longer would you be mine.
Oh I heard it through the grapevine,
Oh and I’m just about to lose my mind.
Honey, honey yeah.
I know that a man ain’t supposed to cry,
But these tears I can’t hold inside.
Losin’ you would end my life you see,
Cause you mean that much to me.
You could have told me yourself
That you love someone else.
Instead…
I heard it through the grapevine
Not much longer would you be mine.
Oh I heard it through the grapevine,
Oh and I’m just about to lose my mind.
Honey, honey yeah.
People say believe half of what you see,
Son, and none of what you hear.
I can’t help bein’ confused
If it’s true please tell me dear?
Do you plan to let me go
For the other guy you loved before?
Don’t you know…
I heard it through the grapevine
Not much longer would you be mine.
Oh I heard it through the grapevine,
Oh and I’m just about to lose my mind.
Honey, honey yeah.
Sexta agora tem o Autoramas em versão acústica. Será que vira?
Tou falando que tá muito mal contada essa história…
Caceta, não é boato, não… Já tem até show de volta! (Acima, a banda no festival Juntatribo, em Campinas, há quinze anos – e eu estava lá…)