Será que os Strokes vão terminar antes do Planeta Terra?
Pablo passou pelo Bonaroo e mandou essa:
Havia um clima estranho minutos antes do show do Strokes no Bonnaroo, e não parecia ser exatamente a ansiedade no ar. Quando a banda subiu ao palco, pontualmente atrasada 15 minutos, ficou claro qual era o problema: não havia ansiedade no ar. O público do Bonnaroo, basicamente proveniente do centrão norte-americano, é mais chegado ao esquema “menos guitarra, mais violão”. Os Strokes, nova-iorquinos trabalhados em jaquetas de couro (no caso, apenas Julian, cool até no calor de 35º), tênis sujos e tédio blasé, eram um corpo estranho em meio à programação semiacaipirada do festival – tinha Buffalo Springfield, Greg Almann, além de Black Keys, Iron & Wine, My Morning Jacket, entre outros.
Musicalmente, foi tudo quase sem erro. O som estava limpo e alto, até demais – parecia esvaziado, como se faltasse sustain às guitarras. As músicas fluíram sem defeitos, em versões quase perfeitas, ainda que levemente enferrujadas ou arrastadas. Aquele show no TIM Festival de 2005 era barulho puro se comparado a esse aqui. Pelo menos o quinteto parecia entrosado, mas muito porque se focaram no repertório que já tocam desde o século passado (abriram com a abertura das aberturas, “Is This is It”, anticlimática – a massa não comprou de cara). Na sequência, só hits dos três primeiros discos e, ali no meio, uma ou outra do novo Angles (felizmente, só as boas, com exceção da esquisita “You’re So Right”). Rolaram “Under Cover of Darkness”, “Taken fora Fool”, “Gratisfaction” e “Life is Simple in the Moonlight”, todas recebidas com uma mornice que não combinava com o calor fumegante do Tennessee. A galera pulou (tímida) com “Last Nite”, agitou (com as mãos) em “Reptilia”, protestou (daquele jeito) com “New York City Cops”, pulou (de levinho) com “Take it or Leave it”. Mas a recepção dos bonnarooers não se comparou ao que foi entregue no dia anterior, ali mesmo naquele Which Stage (o palco secundário), ao Mumford & Sons (histeria, choradeira) e ao Buffalo Springfield de Neil Young (comoção nostálgica). Ali no Bonnaroo, o Strokes era só mais uma banda de roque pauleira, talvez velha demais (!) para uma plateia too much riponga-maluco-beleza nascida majoritariamente na segunda metade dos anos 80.
Se no som parecia tudo certo, no palco, porém, os cinco pareciam desencontrados. De longe, era difícil dizer o que rolava. A comunicação entre eles era pífia, mais para inexistente. Fabrizio Moretti dava sinais de impaciência antes de iniciar cada música com as quatro batidinhas de baquetas, mas talvez fosse só impressão minha. Do lado direito, Nikolai Fraiture e Nick Valensi não se comunicavam com o restante do palco. Albert Hammond Jr., pós-rehab e aparentando uns dez anos a menos (ou a mais, dependendo do ângulo de visão), era o único ali que parecia tocar por prazer. Julian Casablancas rei da modorra, de óculos espelhados (me lembrou aqueles que o Didi Mocó usava, com olhos desenhados), estava mais em outro planeta do que de costume. Para provocar o público redneck, puxou um “U.S.A.!, U.S.A.!”, só para sentir a reação. Alguns gatos pingados devolveram o coro. “Até que foi rápido”, respondeu, engraçadão. Difícil saber se o desconforto que exalava do palco tinha a ver com a recepção da plateia, ou se não está fácil pra ninguém ser integrante do Strokes atualmente.
Será que a banda tá acabando? Isso pode ser um problemaço pro Terra, ainda mais agora que os Vaccines aparentemente já deram pra trás.
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