Show

Beastie Boys, New Order, Franz Ferdinand, Daft Punk… Agora sim.

Mais YouTubices


Calypso com Iron Maiden;


Bing Bong Brothers e o poder do bigode (são os mesmos caras do Just 2 Guys);


James Brown mutcholoco;


Clipe classe do Mr. Catra (“Sem Mistério”);


Erros de gravação do Chaves;

O vizinho chato do Mateus;


Frank Zappa com John Belushi;


Orson Welles breaco;
Calotas picture (vai dizer que não era tudo que você queria?);
“Crazy” kid.

Tem mais, claro que tem. E valeu quem me mandou essas coisas, eu não lembro quem mandou o que (Vlad, Kalatalo, Mini), mas valeu eniuei.

Registro Geral

Surfe no YouTube, foco no rock independente brasileiro e olha só a relação de filé mignon que eu separei aí embaixo… E eu sei que tem mais, mas se liga:

Calma” e “Pinto de Peitos” – Cidadão Instigado
Chuva Negra” e “Mestro” – Hurtmold
Câncer” – Walverdes
Rainmaker” – Grenade
Swinga” – Mombojó
Máquina de Ricota” – Bonde do Rolê
Noite” – Ronei Jorge & os Ladrões de Bicicleta
Babydoll de Nylon” – Karine Alexandrino
Querida Superhist x Mr. Frog” e “Beatle George” – Jupiter Maçã
Burn Baby Burn” – MQN e o Marquinho Butcher
Nada a Ver” – Autoramas
Blablabla” – Pipodélica

Bonus track: Clipe não-autorizado para “Alala”, do Cansei de Ser Sexy, gravado na Torre (esse aqui é o oficial e aqui a mesma música no trio elétrico do Skol Beats, junto com o Camilo Rocha).
Bonus track dois: Teenage Fanclub no No Ar: Coquetel Molotov, em Recife (“What You Do To Me“, melhor impossível)., que dá a deixa pra outro tópico – shows gringos no Brasil.

Ajudem aí. Tanto esse quanto o próximo. Inclusive vocês que têm um monte de vídeos desses em casa.

Nada como um pala

Eu tinha comentado com a Fab dia desses que demorou pra aparecer o vídeo em que o Jarvis Cocker aparece aloprando a apresentação do Michael Jackson no Brit Awards de 96, coisa que a gente só conhecia dos NME da vida. Eis que ela me manda o link hoje.

Burburinho Timfa

Clap Your Hands Say Yeah, Devendra Banhard, DJ Shadow, Yeah Yeah Yeahs… Tudo 100%. E já rola um papo CocoRosie. Radiohead, nada. Sigo apurando…

Mas, ae, tirando o Shadow…

Que vaceeeelo

A Prefeitura miou a festa de um ano do Vegas, que iria acontecer, além do Vegas, em quatro puteiros da Augusta simultaneamente. Na correria, colocaram as atrações no The Week, que é onde vai acontecer a acabação. A festa ia ser foda (isso porque eu já tinha desistido de ir), com Nepal, Forgotten Boys, Tim Sweeney, Primo, Bonde do Rolê, Bispo, Camilo, Lucio, Eclectic Method, Mau Mau, Zé Gonzalez, Dubstrong e outros. Tomara que continue legal, mas é muito deprê esse papo da prefeitura contra a noite de São Paulo… Avisa pros putos que noite é divisa econômica e setor de serviços, que é o futuro dessa cidade.

Update: Nem no The Week. Alguém sabe o nome e o partido do vereador que tá agitando isso? Ou da pessoa que se beneficiaria com o fracasso do Vegas?

É, tamos fudidos: o CPF (eu odeio esse Rock do meio) vai ser em julho e não em setembro, o que quer dizer que vamos passar um frio do caralho – inda mais se for na Pedreira. Quem confirmou foi o site da primeira banda confirmada no evento. Fino, não?

Get Crazy

O Piangers me deu a letra num comments aí e eu fui atrás da “Hey Ya” da segunda metade da década no YouTube. Começa com a aeroversão slow-pitch que eles fizeram no Top of the Pops (aqui, bem boa pra esse meu maio), mas ainda tem o primeiro rascunho do vídeo, a primeira vez que a música foi tocada ao vivo, o show deles no Coachella e um sync massa com o anime Samurai Shampoo. Aliás, tem muito vídeo com essa música, buscaê.

Domingo-feira

Dia 23 de Abril – Domingo
Projeto 2em1 agora no
Coppola Music apresenta:
Móveis Coloniais de Acaju & Lado 2 Estéreo
Djs: Alexandre Matias e Luciano Kalatalo
Horário : 19h00
Preço:
Lista de desconto R$12,50
Inteira 25,00
Coppola Music
Rua Girassol, 323 – Vila Madalena
3034 – 5544

Já é

Aeroporto tinindo, trincando de novo, o Zumbi dos Palmares faz bater os dentes até do visitante mais anticalor que Maceió pode receber – não era o meu caso, mas o frio vinha avassalador. Novinho em Folha, o aeroporto cheira a frigorífico e um ar condicionado power me gela-me os ossos feito filme de terror. Não deixa de ser assustador: tremendo aeroporto, completamente vazio, gelado por dentro e exibindo um sol escaldante do lado de fora. Sinto como se estivesse no aeroporto de Fenda no Tempo do Stephen King ou no shopping de A Madrugada dos Mortos, de George Romero: a qualquer minuto, o desconhecido vai entrar por aquelas portas de vidro e invadir geral.

Mas estamos no Brasil e a nóia com a violência é importada – invadamos nós. Do aeroporto pro calor das Alagoas (que não desce dos trinta, no máximo à noite), atravesso Maceió rumo ao Lagoa das Antas, onde os “gringos” (convidados, imprensa, bandas) ficarão hospedados. “Gringos”, expressão dita com uma ironia atravessada na garganta, são os cariocas e paulistanos que visitam a cidade – representantes do eixo Rio-SP que podem nem serem nascidos no sudeste (Gabriel do Autoramas é de Brasília, Catatau do Cidadão é cearense) mas foram respaldados por cidades que não são as suas. “Gringos”, expressão que carrega todo o escárnio sentido pelos locais: esses sujeitos que têm mais dinheiro que a gente.

Em Maceió, o simples fato de entrar na cidade pelo aeroporto te faz gringo. O ar condicionado lembra à alma que você não é dali, ou, se é, está deixando de ser. O frio como uma zona de transferência, uma doca social entre dois ambientes, um que voa com freqüência e um que admira e inveja esses que voam. Em Alagoas, índices sociais quase no fundo do poço, essa diferença fundamental do Brasil cresce aos olhos, pobreza e miséria de diferentes nuances vêm lembrar à caravana de turistas que, belas praias, belas praias, mas isso aqui é o terceiro mundo.

Maceió é um imenso amontoado de pequenas cidades do interior, como se centenas delas migrassem do agreste para o litoral para não morrer de fome e, quis o destino, sobreviveram melhor unidas, sem fronteiras. Pelas inacreditáveis distâncias percorridas em uma cidade com menos de um milhão de habitantes, é possível ver diversas pracinhas, com casas de fachada portuguesa, árvores frondosas, carrinhos de pipoca. Não há neon nem placas com luzes fluorescentes, as lojas se anunciam pintando letreiros nas paredes, como se ainda fossem os anos 50 ou 60. Pouquíssimos carros (o “engarrafamento” anda a 20 por hora) e muita gente a pé, belíssimas praias sujas pelo descaso. Não há prédios com vinte andares, avenidas caóticas, poluição visual ou sonora nem a vocação para a metrópole. A noite é um imenso barzinho, quase sempre de terra batida ou mesa na calçada.

Cenário mais do que improvável para um festival de música independente? Analisando superficialmente, sim. Afinal, nem Alagoas nem Maceió têm tradição em revelar nomes musicais para o resto do país, como seus estados vizinhos: fora Hermeto Paschoal e Djavan, que raramente são associados a seu estado de origem, pouco se sabe da música que sai daquele estado. Ainda paira sobre Alagoas o fantasma de PC Farias e a sombra de Fernando Collor, embora que, ao mesmo tempo em que estes montavam seu império com sede em Brasília, uma geração de músicos começasse a, lentamente, colocar a cidade no mapa.

O pioneiro foi o grupo Living in the Shit, cujo nome, sintomático, denunciava a falta de perspectiva do cenário local. Era a fagulha necessária para dar ignição à cena. Depois do Living, vieram bandas como Oito, Ball e Santo Samba, cada uma acrescentando um pequeno tijolo na incipiente cena alagoana do final do século vinte. Das fileiras destas bandas saíram nomes que ajudaram a cidade se estabelecer como um pequeno celeiro musical, com atmosfera, tempero e sotaques culturais próprios, longe de estar à margem de Recife ou Salvador.

Se a cidade nada tem de metropolitana, o mesmo não pode ser dito de parte de seus habitantes. Há um pequeno mas expressivo público para cultura independente, mais interessado nas novidades da cidade do que buscando fugas para o aparente tédio local. Gente que, com piercings, dreads, tatuagens, cabelos coloridos e sem preconceitos sonoros, fura só nos anos 00 do novo milênio uma barreira pela qual as principais cidades do Brasil atravessaram entre 1969 e 1996 – do pós-tropicalismo ao pós-mangue beat. Essa chegada tardia de Maceió ao cenário pop brasileiro, no entanto, não deformou os ares locais, como aconteceu em cidades como Curitiba (coesa mas esquizofrênica, segura de si mas sem rumo), Salvador (onde a axé music transformou roqueiros em xiitas), Florianópolis (que só faz quando tá com vontade, os verdadeiros novos baianos) e Belo Horizonte (cuja síndrome de inferioridade sob Rio e SP a faz esquecer que alguns dos nomes-chave do pop Brasil dos 90 [Sepultura, Pato Fu, Skank e, sem julgamento de valor, Jota Quest] vieram de lá). Tanto que os principais nomes da cena local não parecem emular bandas “gringas” – sejam internacionais ou do dito “sul maravilha”. Há um som que é da cidade. Todos os principais nomes da cena pós-Living buscam uma sonoridade que, ao mesmo tempo desalinhe a evolução urbana atrasada de Maceió e mantenha as características de uma pequena vila de pescadores que parece persistir nas metáforas e no clima quase sempre ensolarado – se noturno, ao menos quente – dos luminares da cidade (soando igualmente alagoano, cosmopolita e universal).

Estes são três, não por acaso os melhores shows da primeira edição do Festival de Música Independente, da infame sigla FMI, que aconteceu no último fim de semana de março, na capital de Alagoas. Wado, Mopho e Sonic Jr. Consagraram-se como o tripé fundamental da música da cidade, ao redor das quais orbitam nomes como os locais Xique Baratinho e Marcelo Cabral & Trio Coisa Linda, e novatos equivalentes de estados próximos como o paraibano Jackson Envenenado, o potiguar Experiência Apyus, o pernambucano Negroove e o mestiço Pedra de Raio (das ex-comadre florzinha Telma César, de Alagoas, e Renata Mattar, de São Paulo), todos convocando sonoridades distintas (forró, MPB, rock clássico, choro, funk, samba, música regional, indie rock, reggae) que se mesclam à medida em que cada grupo puxa determinados ingredientes do parêntese acima para compor o seu guisado musical. A música de Alagoas já absorve a tendência ao amálgama musical, pulando a fase da justaposição (funk metal, forró-core, ska com rap, indie com bossa) pela qual todo grande centro pop brasileiro já ultrapassou.

Mas antes dos shows memoráveis do sábado e domingo, a abertura do FMI na sexta, sem querer, teve cara de carta de intenções. Chamou um baiano e um pernambucano contemporâneos dos movimentos musicais que sagraram suas cidades no mapa pop brasileiro – o tropicalista Tom Zé e o mangue beat do Bonsucesso Samba Clube – e dois representantes locais da música alagoana, clássicos senhores, Chau do Pife e Tororó do Rojão. O primeiro, que se fosse metido à besta se apresentaria como Charles do Pífano, é um Louis Armstrong do forró. Conduzindo standards do gênero com a sutileza e a reverência de um mestre, Chau só parava para agradecer a oportunidade de tocar para aquele público e para falar da própria feiúra. O segundo, o forrozeiro classudo Tororó do Rojão, anunciado como uma espécie de ancestral de Genival Lacerda, mas que, na prática, localiza-se entre o sambista Riachão e o pagodeiro Moreira da Silva – um malandro clássico, terno branco e tudo o mais, que aconteceu de nascer nas Alagoas em vez de na Lapa carioca. Juntos, Chau e Tororó em nada parecem remeter à nova geração do pop alagoano, mas essencialmente têm, juntos a mesma qualidade que partece unir a música de Maceió – a reverência e a irreverência simultânea, como se respeitar e rir fossem o mesmo verbo.

Entre os dois, Tom Zé tirou um atraso de toda uma carreira para com a cidade, onde só tinha se apresentado em 1962, cinco anos antes de iniciar sua carreira discográfica, quando ainda era apenas estudante de música na Federal de Salvador. E o fez em grande estilo, executando um pout-pourri não apenas de suas músicas, mas de suas apresentações. Começou passando a íntegra da opereta Segregamulher e Amor, de seu último CD, Estudando o Pagode, que funcionou maravilhosa no cenário de ópera que era o local da noite de abertura, o Teatro Deodoro. Depois reviu seus hits tropicalistas, sua fase pós-David Byrne, seus anos 70, sua faceta de bardo solitário – faltaram apenas os instrumentos de seu bestiário particular, encarnados em disco no ano 2000. Mas o público, maravilhado com a compleição do artista, deixou-se hipnotizar e, mesmo encarando esparsas caretas de esgar quando pegava em assuntos belicosos (lembre-se que seu disco mais recente fala sobre machismo, feminismo, homossexualismo e prostituição infantil – quase sempre sem rodeios), foi guiado para a Utopia de Tom Zé, este plano de palavras e sons para onde somos levados num êxtase em meio ao show do baiano – e quem nunca foi, bom sujeito não é.

Depois, do lado de fora do teatro, o grupo olindense Bonsucesso Samba Clube começou a segunda parte da sexta-feira apresentando pérolas do novo disco, Tem Arte na Barbearia, como “Derrapar”, “Não Posso Pensar em Não Ir”, “Rios, Fios” e “Meu Jornal”, ao lado de notáveis de seu disco de estréia, como “Pensei Se Há” e “O Samba Chegou”. O carisma do vocalista RogerMan é comparável ao dos sambistas de velha guarda (aquele mesmo que Seu Jorge – atração do Coachella – emula com tanto cuidado e mercê), o que sublinha a palavra do meio do nome da banda, que ainda abre espaço para “um cover”, anunciam, ironicamente, antes de tocar o clássico “Volta por Cima” (“Levanta, sacode a poeira…”) do sambista e paleontólogo Paulo Vanzolini. A banda, sutil e detalhista, segue o samba, mas bate do ar da caixa feito bossa nova, tem o grave condutor do reggae roots e a escaleta do dub, além de um backing vocal da era do rádio e um guitarrista rock não-ortodoxo, funcionando quase como tios musicais do Mombojó.

O fato do festival ter começado no Teatro Deodoro dava uma suntuosidade de brinquedo ao evento: com a mesma cara de um teatro de ópera clássico, o pequeno Deodoro é muito menor do que casas de ópera de verdade, dando um ar de miniatura ao simpático teatro. Na entrada do Teatro, uma banda mecânica nos recepcionava – “robôs” musicais como os bonecos do Kraftwerk, a banda Só Bonecos é, na verdade, um enorme sintetizador analógico com engrenagens que disparam instrumentos de verdade, que tocam diferentes ritmos nordestinos ao simples apertar de botões – frevo, forró, maracatu, baião, xote. Uma inacreditável relíquia musical, quase uma invenção do professor Pardal encarnada aos olhos dos passantes. Nos dias seguintes, mesmo com a presença surreal da banda, a coisa mudaria de figura, em termos de ambientação. Sai a ostentação pequena do Teatro, entra a superestrutura montada na Uzina, uma enorme usina transformada em casa noturna, com pé direito de mais de vinte metros de altura e dois palcos para dez shows por dia, um deles com direito a ar condicionado. Foi neste palco que aconteceram as atrações mais deslocadas do festival (o instrumental Duofel, o free jazz de Beto Batera e o trance acústico roots do Projeto Cru), que, independente de suas “propostas”, foram bem recebidos pelo público.

Outros shows-chave do evento aconteceram ali, como os locais Mopho e Sonic Jr. Enquanto a última é, na verdade, apenas o ex-baterista do Living in the Shit Juninho que, depois de diferentes formações, resumiu a própria versão ao live P.A. consigo mesmo, cantando, disparando bases e às vezes assumindo a batera sozinho no palco; o Mopho existe na cabeça do vocalista e guitarrista João Paulo do mesmo jeito que o Pink Floyd foi uma visão de Syd Barrett. Dois grandes shows, o Mopho ganhou pela paixão despertada pelo público, que já compreende este amálgama de Mutantes e Roberto Carlos como patrimônio estadual. Quase sempre frito, o vocalista é observado como um sobrevivente de uma época que não viveu, como se fosse possível resgatar Arnaldo Baptista do pé-na-bunda que Rita Lee lhe deu no fim dos Mutantes, quase uma relíquia histórica. Já Juninho vai pela cintura e conquista todos com o ritmo.

Outro momento mágico do festival foi a apresentação do grupo cearense Cidadão Instigado, o Dark Side of the Moon da rádio AM. Irrepreensível, o grupo gira o momentum musical progressivo e popularesco ao redor de seu líder, Fernando Catatau, que transforma qualquer lapso de holofote deixado pela banda num monumento a seu instrumento, a guitarra. Cada show do Cidadão é melhor do que o anterior, Catatau atingiu a autonomia de vôo em suas composições e a banda está entrosada como se tivessem uma década de existência, pelo menos. Uma apresentação imperdível, um dos grandes shows brasileiros atualmente.

Já no palco quente (e sem ar condicionado, em Maceió, isso quer dizer pelo menos 30 graus), os grandes shows foram os da banda Vibrações Rasta, dos Autoramas e de Wado. A Vibrações é o equivalente alagoano de bandas como Natiruts e Planta & Raiz – uma banda de reggae raiz, e ponto. Uma boa banda de reggae raiz, bom salientar, apesar da afetação marleyista demais do vocalista – que é um verdadeiro fenômeno popular em Maceió. Faz muitos shows, tem público fiel – principalmente na periferia, que é quase toda a cidade – e são até pirateados por camelôs, que é um parâmetro definitivo pro sucesso comercial. Foi o que fez o bom show da banda, boa resposta de público, bom vínculo com a banda, química perfeita.

O Autoramas fez a mesma coisa, mas com a pegada industrial do rock’n’roll e para um público bem menor. Uma das poucas bandas independentes brasileiras que sobrevive de seu trabalho, o trio carioca faz shows como operários do rock. “Só não tocamos em dois estados do Brasil, até agora”, comemora o guitarrista e cantor Gabriel Thomaz, pouco antes de subir no palco e se apresentar em mais um dia de trabalho. Com a mesma energia, garra e eficácia de qualquer show da banda, veneno escorrendo pelo canto da boca como tempero de rock feito pra dançar.

Mas a grande apresentação do festival foi o reencontro de Wado com seu público quase-conterrâneo (Wado, de sobrenome Schlickmann, é catarinense adotado por Maceió). Há dois anos sem se apresentar nas Alagoas, depois de uma temporada carioca que transformou-se num exílio, ele fez uma apresentação nos braços do público, que cantava todas as músicas de seus três discos, deixando o vocal de “Ontem Eu Sambei” para a massa, em transe de felicidade, como toda a banda. Uma pequena e poderosa amostra do poder da música como catalisadora de sentimentos em si mesma, canções como cápsulas de emoção. Semelhantes às do show do Living in the Shit, datado nos anos 90, que trouxeram aos sobreviventes nascido na cidade lembranças de um tempo em que um festival como o FMI não exisitiria nem em sonho na cidade.

O festival chegou ao fim com a certeza de ter entrado para a história de Maceió – nunca havia acontecido um evento desta natureza na cidade, grande ou pequeno. Mapeando a própria cena ao mesmo tempo em que se projeta timidamente, mas sem modéstia, no cenário independente brasileiro, o FMI já é.