Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

The Bug

Grampeado

Mas se você não vai sair de casa (tem o Guizado e o Da Lua, já falei), a dica é, dez da noite, Telecine Cult – nada menos que “A Conversação”, o filme que o Coppola fez entre os dois primeiros Poderoso Chefão e o Apocalypse Now (quer mais? Não dá, né…). Filmão sobre espionagem e grampos analógicos, a melhor atuação do Gene Hackman (melhor que o Operação França 2, inclusive) e que faz muito sentido pra essa época de nóia que estamos atravessando.

Mas se você for sair, grava. Não te arrependerás.

Curumin deu a dica…

Guizado

Cruzei com o Curumin e ele me avisou que ia rolar show do Guizado (não conhece? Dá mole…) hoje, na baladinha Frankáfrika que os broders do Radiola Urbana fazem com o Tahira ali no Sarajevo. Ó o serviço:

O Sarajevo fica na rua Augusta, 1385, tel. 3253-4292. A festa rola a partir das 23h e mulher não paga até meia-noite.
Show: Guizado
Discotecagem pista 1: Radiola Urbana (afrobeat, funk, hip hop, ska,
latinidades, brasilidades)
Discotecagem pista 2: Chars “Dub Vibes”

Lunático

Essa também saiu na Folha de hoje, mas pelo jeito, só na edição paulistana, porque não tá online. Enfim, segue…

Marcelinho Da Lua mostra seu set hoje no Studio SP

“É quase o final do ciclo”, explica o DJ carioca Marcelinho Da Lua, que discoteca hoje no noite Coleta Seletiva, do coletivo Instituto, no Studio SP. “Só não é o final ainda porque tem essa etapa que começa hoje”, continua. Ele fala do lançamento do terceiro clipe extraído de seu disco de estréia, “Tranqüilo”, lançado em 2004, e de seu próprio site oficial, o www.marcelinhodalua.net. Na verdade, mais uma desculpa para tocar na cidade com seu trabalho solo do que motivos para reaparecer com um show.

“Mesmo porque não é um show, é um set de DJ com um MC”, explica Da Lua, chamando a atenção para a presença do MC Ângelo, único integrante de sua banda a o acompanhar nesta vinda a São Paulo. “A idéia desta noite de quarta é fazer o meu set tradicional, com um pouco de jungle, um pouco de reggae, umas coisas latinas e outras brasileiras”.

Set que é responsável por manter o nome de Da Lua como um dos principais DJs do gênero na atividade: há quase oito anos, ele comanda, ao lado do DJ Yanay e do jornalista Calbuque, a noite Febre, dedicada ao jungle e drum’n’bass e que hoje acontece todas as quintas-feiras na Casa da Matriz, em Botafogo.

Da Lua também é integrante do trio Bossacucanova, que tempera a bossa nova clássica com pitadas digeríveis de música eletrônica, o que tem garantido mais apresentações no exterior do que no Brasil. “Estamos conseguindo equilibrar isso melhor”, continua o DJ, “porque realmente estávamos fazendo mais shows lá fora do que aqui. No ano passado, talvez um pouco antes, conseguimos chegar mais perto do nosso público daqui”.

Foi a conexão Bossacucanova que o aproximou do cantor e compositor Marcos Valle, ícone da MPB for export, com quem toca na quinta e na sexta-feira, em apresentações no Bourbon Street e no Tom Brasil. O show de quinta é apenas para convidados, mas o de sexta é aberto ao público, com ingressos que vão de R$ 30 a R$ 200.

“Conheço o Marcos desde 94 e ele é parceiro do Bossacucanova”, lembra o DJ, “chegamos até a compor juntos, na faixa ‘Queria’ do nosso último disco, além de tocarmos músicas dele”. Além de Da Lua, os shows de Marcos Valle contam com a participação da cantora Roberta Sá, do músico e compositor João Donato, do cantor Ed Motta e do músico Celso Fonseca. A curadoria deste show foi de Nelson Motta.

Mas voltando para a carreira solo de Da Lua, ele já fala em um segundo disco. “Mas comecei agora, vou lançar, se tudo der certo, depois do carnaval do ano que vem”, conta, explicando que já está pensando em parceiros para o CD, a exemplo do primeiro. “Vou repetir um pessoal, como a Mart’nália e o Black Alien, mas quero incluir o BNegão, o Fred Zeroquatro, os caras do Ultramen, o João Donato…”, enumera, “na verdade, o disco ainda tá muito no começo, por isso só pensei em duas coisas: ter mais brasileiros do que gringos como convidados e ter uma atmosfera setentona, aquela sonoridade entre 70 e 74, que é a época que eu mais curto em termos de som. Claro que há excessões, mas aquele som é demais”.

DJ Marcelinho Da Lua na noite “Seleta Coletiva” – Hoje, a partir das 23h, no Studio SP (R. Inácio Pereira da Rocha, 170, Vila Madalena, São Paulo. Tel: (11) 3817 5425). Ingressos: R$ 15,00 (com nome na lista, R$ 10,00 – lista@studiosp.org)

O Homem Duplo

Essa saiu na Folha de hoje

De volta para o futuro

The two hemisphere in my brain... are competing?

Dirigido por Richard Linklater e com Keanu Reeves, “A Scanner Darkly” é baseado em um insólito conto de Philip K. Dick

Filme estreou no mês passado nos EUA; projeto de uma cinebiografia do escritor americano está em andamento, diz sua filha

O maior atentado terrorista que não aconteceu, uma facção criminosa seqüestra um jornalista para que se veicule em rede nacional um comunicado sobre direitos dos presidiários ou o lento genocídio no Líbano tratado como um assunto corriqueiro em capas de jornal. A realidade atual parece assombrada pelas projeções fatalistas dos livros de Philip K. Dick (1928-1982), cuja influência permanece cada vez mais presente.

E – tudo bem, exagero –também o fato de um filme do diretor de “A Escola do Rock” estrelado por Keanu Reeves, Wynona Ryder, Woody Harrison e Robert Downey Jr. ainda não ter previsão de estreiar nos cinemas brasileiros, cogitado até mesmo para partir direto para o DVD, sem projeções na tela grande.

Este parece ser o triste fim do inacreditável “A Scanner Darkly”, dirigido por Richard Linklater, que estreou no mês passado nos EUA, sem mover ponteiros consideráveis nas bilheterias mas ganhando altas notas da crítica. Baseado num dos livros mais insólitos do autor – “O Homem Duplo”, que só tem versão em português em Portugal – o filme é inteiramente feito usando a técnica da rotoscopia, em que atores são filmados e transformados em animação a partir de seus movimentos originais. Linklater já tinha usado esta técnica em seu pequeno clássico “Waking Life”, uma animação cabeçuda em que ponderava sobre o sentido da vida a partir de diálogos de pessoas diferentes em lugares diferentes.

“Nós nos envolvemos muito para trazer essa história para a tela”, explica Laura Leslie, 36, filha mais velha do escritor. “Eu e minha irmã Isa tivemos acesso ao roteiro original de Ric, mas antes de concordarmos em confiar a história para ele, sentimos que precisávamos conhecê-lo pessoalmente. Como o livro é muito autobiográfico, tínhamos que saber se a sua visão era fiel ao texto”.

“Ficamos muito satisfeitas com o filme”, continua Laura, responsável pelo espólio do escritor. “Isa expressa isso ainda melhor quando ela diz que o livro foi escrito como uma carta de amor do nosso pai aos seus amigos que se perderam com o uso de drogas. Ric o adaptou lindamente. Ele também captou o humor maravilhoso entre os personagens principais no começo do livro”. Este humor é valorizado pelos diálogos entre os personagens de Robert e Woody, que se empolgam em diálogos chapados sobre assuntos diferentes, atores que têm seu próprio envolvimento com drogas – o primeiro foi para a cadeia graças a drogas pesadas, o segundo é um conhecido ativista pró-maconha.

“Scanner Darkly” se passa num futuro bem próximo (daqui a sete anos), quando o governo monitora as ações de todos os cidadãos e usa a dependência em drogas pesadas – em especial, a “substância D”, droga futurista em cápsulas que permeia todo o filme. No meio de tudo isso, temos o personagem de Keanu Reeves – um policial viciado que é posto para vigiar seus próprios amigos – revivendo seu Neo de “Matrix”, trilogia que, apesar de não citar, vinha coberta de referências à obra de Philip K. Dick.

Mas o Neo de K. Dick não sabe se ele é Neo ou Thomas Anderson, não tem certeza de qual realidade em que ele realmente vive (é um amoroso pai de família, um drogado ou um policial?) e mantém uma constante guerra entre os hemisférios direito e esquerdo de seu cérebro.

Pelo filme, alguns dos temas favoritos do escritor, como a fragilidade ao determinarmos o que é real, o estado-policial que controla tudo, o tráfico de drogas como justificativa para a paranóia generalizada, tanto individual quanto institucional. Itens de ficção científica que K. Dick usava para divagar sobre a natureza da existência e da realidade, o propósito da vida, o sentido de tudo. Filosofava fingindo escrever histórias futuristas.

“Certamente há muitos aspectos da vida atual que ele já estava preocupado e escreveu sobre isso no começo dos anos 50”, continua Laura. “O que ele pensou que era paranóia naquela época infelizmente se tornou rotineiro hoje em dia. Eu poderia listar dez coisas que apareceram em seus livros que agora são comuns, como homens-bomba, no conto “Impostor”; a internet, num livro inédito chamado “The Acts of Paul”; espionagem doméstica, que era um tema comum em vários livros, entre outros…”

Além de “A Scanner Darkly”, que deve sair em DVD nos EUA no final deste ano, outros projetos retomam cada vez mais o nome de K. Dick. Além de dois livros saindo no Brasil (“O Homem do Castelo Alto” e “Valis”, veja ao lado), ainda está sendo produzido o filme “Next”, baseado no conto “Golden Man”, com Nicholas Cage, Jessica Biel e Julianne Moore. Adaptado para o cinema pela primeira vez no ano de sua morte (“Blade Runner”), a obra de K. Dick cada vez rende mais adaptações para o cinema, como as recentes “Minority Report” e “O Pagamento”.

“Minha esperança é que estas adaptações façam com que as pessoas descubram o trabalho do meu pai e venham conhecê-lo em livro”, continua Laura; “Encontrei muitas pessoas que falaram para mim que foram apresentadas à obra de Philip K. Dick graças a ‘Blade Runner’”. Ela e a irmã Isa acabaram de constituir a empresa Electric Shepherd (Rebanho Elétrico, em referência ao título original do livro que originou o filme “Blade Runner” que, em inglês, perguntava se os andróides sonham com ovelhas elétricas), dedicada a supervisionar adaptações dos livros de PKD – mas elas não adiantam os títulos com os quais estão trabalhando.

Mas Laura comenta a anunciada cinebio sobre seu pai, com Bill Pullman vivendo o escritor. “Não estamos envolvidas com este projeto, nem ninguém que conheceu ou escreveu sobre o meu pai. Tememos que esta biografia possa focalizar apenas nos componentes sensacionalistas da sua vida”, lamenta.

“Isso fez com que concluíssemos que nós devemos ser a força-motriz por trás de um filme mais compreensivo sobre o nosso pai. Desde o ano passado, estamos trabalhando em uma cinebiografia de nosso pai com cuidade e de forma seletiva, trabalhando com pessoas em Hollywood que reconhecem o trabalho dele e em quem podemos confiar para lidar com as complexidades de sua vida. Acreditamos termos encontrado parceiros sensíveis e cuidadosos em Paul Giamatti (de “Anti-Herói Americano” e “Sideways”) e a na Anonymous Content (produtora de filmes como “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” e “Quero Ser John Malkovitch”)”, revela.

“O Homem do Castelo Alto” e “Valis” chegam às livrarias até o final do ano

Se o filme não chega ao Brasil, o mesmo não pode se dizer sobre os livros. A editora Aleph, responsável pelo relançamento no Brasil de clássicos da ficção científica como “Neuromancer” de William Gibson e “Laranja Mecânica” de Anthony Burguess, lança dois livros de K. Dick ainda este semestre.

O primeiro deles chega às livrarias no começo de setembro e é uma de suas obras-primas. “O Homem do Castelo Alto”, publicado em 1962, se passa no começo dos anos 60 em um mundo em que o Eixo ganhou a Segunda Guerra Mundial e dividiu os Estados Unidos em duas metades: a Costa Leste ficou com a Alemanha e a Costa Oeste com o Japão. Outras conseqüências da vitória nazista garantem o extermínio dos povos africanos, a transformação do Mediterrâneo em lavoura e a colonização espacial.

Mas a maior parte da ação acontece na Los Angeles orientalizada, em que um oficial do exército japonês e um judeu fugitivo têm seus caminhos estranhamente cruzados à medida em que um é fascinado pela memorabilia americana da primeira metade do século e o outro é um falsificador destes itens. Acrescente à história um misterioso escritor – o personagem do título – que lançou um livro clandestino em que fala de um mundo em que os Aliados venceram a Guerra e um matador de aluguel posto em seu encalço, discussões sobre autenticidade e cópia e personagens guiados pelo I-Ching (como era o próprio autor durante a escrita do livro) e, voilá, um clássico.

“Valis”, o segundo livro de K. Dick a chegar nas livrarias este ano, não é propriamente ficção. O livro foi escrito após um surto esquizofrênico (ou uma revelação divina, ele mesmo nunca soube responder) que aconteceu com o escritor no meio dos anos 70, quando ele passou dois meses achando que habitava duas épocas diferentes ao mesmo tempo e parecia ter descoberto o sentido da vida.

Escritor da geração seguinte à época de ouro da ficção científica (de nomes como Arthur C. Clarke e Isaac Asimov), K. Dick escrevia constantemente e fazia livros para pagar as contas, se submetendo a sessões de escrita que duravam dias e eram abastecidas com comprimidos e bolas para não dormir. Aliado ao fato de ter perdido a irmã gêmea no parto e a casos de esquizofrenia na família, o consumo de drogas o isolou e o tornou paranóico, levando, em última instância, à visão que teve na década de 70.

“Valis” (1978) é um calhamaço que funciona, ao mesmo tempo, como tentativa de explicar o que aconteceu naquele período e de exorcizar fantasmas que o acompanhavam desde então. O livro nunca foi publicado no Brasil, ao contrário de “Castelo Alto”, que foi publicado nos anos 60, mas está fora de catálogo.

Philip K. Dick no cinema
Cinco filmes baseados na obra do autor

“Blade Runner” (1982), de Riddley Scott, com Harrison Ford e Rutger Hauer.
Um exercício de estilo fantasiado de divagação sobre a existência, “Blade Runner” não apenas extinguiu o futuro clean de “2001” como inventou o cyberpunk, como estética.

“O Vingador do Futuro” (1990), de Paul Verhoeven, com Arnold Schwarzegger e Sharon Stone.
Douglas Quaid é um pai de família que sonha em ser um agente secreto salvando Marte da destruição ou é um agente secreto que apagou a própria memória para ser apenas um pai de família?

“Minority Report” (2002), de Steven Spielberg, com Tom Cruise e Max Von Sydow.
E se um policial, cuja missão é prender antecipamente assassinos antes de eles cometerem um crime, cometer um crime? Quem o prende?

“O Pagamento” (2003), de John Woo, com Ben Affleck e Uma Thurman.
Michael Jennings é um engenheiro que desmonta lançamentos da concorrência e os remonta para seu chefe – mas para isso, ele sempre deleta o que fez, para não vender para ninguém. Até que um dia, ele começa a ser perseguido – sem saber porquê.

“A Scanner Darkly” (2006), de Richard Linklater, com Keanu Reeves e Wynona Ryder.
Uma fantasia que se camufla com partes de 4 mil pessoas diferentes (só assistindo!), insetos imaginários, realidades paralelas, drogas sintéticas e um final lindamente phildickeano, com monólogo mea culpa e a poesia da resistência. Espetacular – e isso sem contar o visual.

Cinco Perguntas Simples: Claudia Assef

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Você diz o CD? Este tá gagá, coitado, acho que é questão de 10, 15 anos pra ele ir desta pra melhor. Porque não vai fazer mais sentido você manter músicas num formato que suporta tão pouca informação quando comparado, por exemplo, um DVD ou mesmo a um pen drive… E pra ouvir, pra transpotar, que ainda é o grande valor dele, aí é que a indústria vai ter que suar a camisa e criar um produto atraente o bastante – o que eu acho difícil, porque competir com a comodidade que é comprar as faixas que quiser, com capinha e tudo, pelo internet, sem tirar a bunda da cadeira… Tá ruim pro CD, viu…
Em compensação, realmente acredito que o vinil passa por mais esta com uma certa tranquilidade. Não é romantismo, não, tô dizendo porque cada vez mais artistas fazem questão de lançar seus trabalhos também em vinil. Em Londres e Berlim, lojas de departamento têm umas puta seções de vinil… E não é só pra DJ, não, tem muita gente que ainda curte ter uma capa legal – e vamos combinar que só aí o CD, coitado, já perde de 10 a 0 -, gostam de manusear o vinil… Outro dado que não me deixa mentir é que nunca quanto nestes anos 00 fabricantes como Numark e Technics investiram tanto em pesquisas pra criar novos features pra velha e boa pick-up…

2) Como a musica sera consumida no futuro? Quem paga a conta?
Se eu soubesse, já tinha vendido a fórmula pra alguma major e tava agora comendo mangabá embaixo de uma sombra lá em Moreré, hehehe. Mas, sério, acho que não nada muito de ficção científica aqui. O que temos hoje é uma evolução muito rápida do que uns dois, três anos atrás parecia coisa de idiota: se dá pra baixar músicas de graça na internet, pra que alguém vai pagar por este serviço, né? Só que o que vemos hoje é que as pessoas querem sim pagar pela 1) comodidade, você não precisa passar três dias e três noites atrás de uma música difícil 2) qualidade inquestionávelmente melhor dos arquivos comprados, muitas vezes até em flac, que é um formato que permite perda de qualidade 3) confiabilidade, vc não quer ouvir uma faixa sem ter certeza que as informações daquele MP3s estão corretas, né…
Eu mesma já baixei uma porrada de discos errados – com nomes trocados ou mal grafados… A venda pela internet é interessante pra quem compra por todas essas razões, é interessante pro artista, porque ele chega mais rapidamdente ainda no seu alvo final, que é o consumidor…
Só não é tão interessante pras gravadoras, né, porque num dá mais pra cobrar o olho da cara que custava um CD, já que não dá pra justificar gastos como distribuição, prensagem, arte final… Mas, olha, acho que até os tubarões mais famintos já se ligaram que é o jeito, é o caminho. Claro que eles terão que se acostumar a andar de Astra e não mais de Mercedez, mas é a vida…
Por outro lado, as gravadoras têm tido cada vez menos que arcar com custos de gravação, já que a tecnologia barata viabilizou a vários artistas entregar seus produtos prontos ou semi-prontos. Portanto, noves fora, as gravadoras ainda saem ganhando sim. Não mais rios de dinheiro, não dá mais pra ter departamento de imprensa com 17 pessoas trabalhando, não dá mais pra pagar pra Sula Miranda morar no Maksoud Plaza… Mas ninguém vai passar fome!!!!

3) Qual a principal vantagem desta epoca em q estamos vivendo?
Eu acho que é baixar a bola das gravadoras, sabe, quem precisa de Rolls Royce é a rainha da Inglaterra… Em segundo lugar, é igualar todo mundo. Tipo, quando eu era adolescente, até conseguia ter o que a molecada ouvia na Inglaterra, porque tinha um pouco de grana e sabia onde ir buscar – afinal morava em SP, então dava pra descolar coisas importadas nas galerias, na 7 de abril… Quando eu viajava pro interior, onde vivia a família do meu pai, a garotada me olhava como se eu fosse um ET: como, afinal, eu podia ter discos tão doidões, um visual que parecia que eu vinha de “Londres”, nossssssa, como eles me achavam moderna, e olha que eu comprava tudo aqui em SP mesmo… Imagina um adolescente do Acre nos anos 80???
Porra, a internet deu uma banana pra tudo isso. Hoje, não importa da onde você é, importa a tua essência e a tua vontade de ser. A localidade ficou restrita a coisas menores, como sotaque e alguns traços comuns, mas não mais por falta de acesso a “produtos” culturais.

4) Que artista voce soh conheceu devido aas facilidades da epoca em que estamos vivendo?
Ouvi Cansei de Ser Sexy pela Trama Virtual assim que elas colocaram as músicas lá, já faz um bom tempo. Atualmente, adoro as músicas do Caxabaxa, que eu também só ouvi pela internet. Fora um monte de coisa esquisita das milhares de net labels que tão por aí. Netlabel é tudo de bom! Os caras são mini-selos que realmente não visam nada além de divulgar músicas e artistas que eles adoram. E tudo com a maior qualidade – vai em qualquer netlabel, cê vai que as músicas todas têm mais de 10megas!!! São gigantes, pra manter a qualidade…

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra epoca?
Um HD com 32 gigas de música no meu laptop, fora uns HD externo que já tá chegando em quase 100 gigas, hehehehehe. Me sinto a própria “Hi-Fi” da r. Augusta ambulante.

Claudia Assef é editora da revista Beatz

“Even I never know where I go when my eyes are closed…”

Psicodelia cítrica

Terça-feira é dia falar de discos que merecem ir pra prateleira. Pode baixar e ouvir à vontade, mas nada como ter o pedaço de plástico original nas mãos. Simbora.

***

Resumindo a carreira do XTC até o meio dos anos 80: uma banda punk transformada na marra em new wave que deixou de ter um baterista fixo, cujo principal compositor passou a sofrer de crise do pânico no palco e cujo disco mais recente, Skylarking (outra jóia, de 1986), foi friamente manipulado pelo guru pop Todd Rudgren, que viu a banda como ferramente para suas incursões em estúdio – como é de praxe na carreira do sujeito.

Com apenas um hit em toda sua discografia (“Making Plans for Nigel”, de 1979) e sem fazer shows, restava ao XTC acontecer ou acabar. Já tinham saído do rol das bandas independentes, mas ainda não estavam entre os grandes. Com a gravadora cobrando ao menos um hit, os três – o vocalista e guitarrista Andy Patridge, o baixista e vocalista Colin Moulding e o tecladista e guitarrista David Gregory – se enfiaram no estúdio em Los Angeles com o produtor novato Paul Fox.

Sentiu o drama? Banda new wave inglesa com um produtor de primeira viagem em Hollywood prontos para gravar um disco que teria que ter, pelo menos, um hit pra gravadora estar satisfeita. Estamos em 88, as rádios começam a ficar perdidas com o ocaso do megapopstar e ascensão da acid house e do hip hop. Patridge estava sendo cobrado para, depois de dez anos de, sem querer, encostar no inconsciente coletivo dos compradores de disco, repetir a dose para uma safra de ouvintes bem diferente da que ouviu seu primeiro sucesso – gente que havia comprado “True Blue” e agora estava comprando “Fight the Power”. Foi quando ele teve a idéia de fazer um álbum duplo psicodélico.

Orange and Lemons é um senhor álbum psicodélico – que, pra tornar tudo mais difícil, não soa sessentista em momento algum, talvez apenas no excesso de referências aos Beatles (do desenho da capa a trechos de músicas e inspiração para temas das canções). O resto é tudo aquilo que os Tears for Fears achavam que conseguiriam fazer no disco Seeds of Love, daquele mesmo ano, mas não conseguiriam: arranjos detalhistas, instrumentos em profusão, amostras de som aprisionadas entre ruídos escondidos, solos de trás pra frente, pop barroco e fulgor adolescente disfarçado de maturidade elegante.

O disco não apenas tem algumas das melhores composições de Patridge (“The Loving”, “Merely a Man”, “Poor Skeleton Steps Out”, “Chalkhills and Children”, “Garden of Earthly Delights”, “Here Comes President Kill Again”) e de Moulding (“King for a Day”, “One of the Millions”) como libertou o trio da pecha de new wave que o permite até hoje lançar discos de pura sofisticação pop (e tem gente que acha que o Flaming Lips é isso – no máximo, no Soft Bulletin), como pérolas do século 21 que os ouvidos da massa não deram atenção (Apple Venus de 1999, Wasp Star de 2000). Além disso, eles ainda conseguiram o hit que a gravadora queria, “Mayor of Simpleton”, que fez o álbum chegar ao Top 40 americano.

Vai fundo, que não tem erro.

Ecoturismo mental

Traduzi esse texto – que tá livre, online – pro livro Futuro Proibido, da Conrad, que saiu tem uns três ou quatro anos. Vou botar esse capítulo aqui mais como um tira-gosto – já que o livro ainda conta com contos do Sterling, Burroughs, do Ballard, do Rucker, do Peter Lamborn Wilson (o Hakim Bey). Aliás, dizem que foi ele quem escreveu esse Visite Port Watson também, mas oficialmente, este texto é de um anônimo. Saca só.

Visite Port Watson!
Anônimo

1- Geografia e Descrição Física

A Ilha de Sonsorol, no Pacífico, um vulcão extinto cercado por recifes de coral, situa-se a 5º acima do Equador e a 132º de longitude, cerca de 650 km ao leste do extremo sudeste das Filipinas e 480 km ao norte do Estreito de Dampier na Nova Guiné. Ela possui aproximadamente 16 quilômetros de diâmetro e uma área de cerca de 145 km².

O clima é típico da região: temperaturas balsâmicas e constantes (28º a 33º o ano todo), eventuais tufões violentos, monções de setembro a fevereiro, brisa do mar ao longo da costa, floresta tropical úmida e abafada nas encostas mais baixas do Monte Sorosol (especialmente densa na parte norte da ilha, exposta aos ventos alísios) – próximo ao cume, o tempo é quase permanentemente nublado, fresco e nebuloso, e a selva se estreita em uma “floresta de nuvem”—musgo, pequenas árvores envoltas por musgos, hepáticas e orquídeas epífitos. Sonsorol possui água fresca em abundância, incluindo cachoeiras nos morros, e até mesmo um pequeno rio, o Garuda.

Vegetação: fartura e variedade típicas das regiões tropicais, incluindo muitas espécies de orquídeas e uma pletora de outras flores e frutas tropicais. Antigamente, copra, taro e cana-de-açúcar e abacaxi eram plantados na região de savana do sudoeste. Agora as plantações foram abandonadas e nunca mais forma cultivadas, com a exceção de alguns pomares de coco reservados para o consumo local (todas as partes da planta são usadas, em culinária, construções, etc.). A fauna nativa é escassa, na sua maior parte limitada a pássaros e insetos (que podem vir a ser irritantes). Porcos, galinhas, cabras e outras espécies européias foram importadas no século XVII. A pesca é espetacular, e oferece tanto a dieta básica, quanto uma boa porção de esporte; os três pequenos atóis de corais que pertencem a Sonsorol proporcionam mergulhos magníficos e são ricos em tipos raros de peixes tropicais (ver Excursões).

De forma quase circular, e sem nenhuma baía ou braço de mar decente, Sonsorol pareceria a princípio estrategicamente inadequada para a sua antiga função de encravamento pirata; contudo, os recifes de coral que cercam a ilha formam uma espécie de lagoa, na qual os navios podem ficar ancorados com bastante segurança, mesmo com mau tempo.

2- Como Chegar Lá

Viajar no Pacífico normalmente consume muito tempo ou muito dinheiro. Sonsorol continua sendo uma das ilhas menos acessíveis em toda a área. Nenhuma linha aérea comercial pousa lá. Navios cargueiros levam cargas para Sonsorol, de Mindanao, Java, Taiwan, Hong Kong e outros portos, mas o único navio que faz escala ali com alguma regularidade é o The Queen of Yap, um navio a vapor enferrujado e sem rota, que navega entre Zamboanga e as Ilhas Caroline aproximadamente uma vez por mês. (Informações e reservas podem ser obtidas com a Ngulu Maritime Co. Ltda, Kalabat, Yap, U.S. Trust Territory do Pacífico.)

Port Watson é hoje o único porto de entrada para Sonsorol, e não existe ali nenhuma Autoridade de Alfândega & Imigração. No entanto, ninguém deve esperar passar despercebido em uma cidade tão pequena. Qualquer um que fique mais de um mês provavelmente será solicitado com educação a requerer residência ou então ir embora (ver Como se Tornar um Morador).

Visitantes na República de Sonsorol (do lado de fora do Encravamento Port Watson) são incentivados a carimbar seu passaporte na Agência dos Correios na Sede do Governo na cidade de Sonsorol (ver) — o carimbo de visto é muito bonito— mas ninguém irá insistir nisso. Nem Port Watson, nem a República possuem polícia, portanto os moradores tendem a ficar atentos para problemas e se responsabilizam a solucioná-los. Visitantes hostis, insultuosos ou estrepitosos costumam apanhar de membros do comitê de vigilância ou da Milícia do Povo, e são banidos no próximo navio de partida. Geralmente, no entanto, os visitantes são bem vindos (“não turistas, mas visitantes”, disse uma vez o Sultão), e os habitantes são amigáveis, até em excesso.

3- História Antes da Independência

Os habitantes “aboriginais”, de ancestrais malaios e polinésios miscigenados, podem não ter chegado antes do século XIV; se eles encontraram e absorveram algum grupo mais antigo, não se sabe. Presume-se que esses povos eram “pagãos” de algum tipo; indícios de sua língua sobrevivem em nomes de lugares, terminologia das artes e ofícios, etc., ainda que o atual dialeto consista em uma mistura perturbadora de linguagem indonésia, sulauês, espanhol, holandês e inglês. (Aparentemente, teatro e poesia interessantes estão hoje sendo compostos no “idioma” sonsoroleano). Tudo o que resta do período “pré-histórico” ou pré-Moro é uma enigmática ruína perto do topo de uma cachoeira na subida do Monte Sonsorol (ver Excursões).

Em meados do século XVII, Sonsorol foi invadida por piratas de Sulu, que se auto denominavam Moros (“Mouros”, isto é, muçulmanos) apesar de suas tripulações incluírem diaques (N. do T.: Povos do interior da ilha de Bornéu, na Malásia) do mar, bugis (N. do T.: Povo marinheiro e comerciante, forma a maior parte da população da ilha de Célebes, na Malásia) das ilhas Célebes, javaneses e outras figuras do leste asiático. Seu almirante semilendário, o sultão Ilanun Moro, estabeleceu-se com alguns de seus seguidores — os quais formaram assim uma “aristocracia” insulana medíocre.

O islamismo foi adaptado de forma bastante branda pelos Moros de Sonsorol: eles ignoravam a rigidez da Lei Divina eles ignoravam e o analfabetismo os mantinha na ignorantes sobre o Alcorão. Como beduínos do mar, a religião servia a eles como uma nova identidade étnica e um pretexto para pilhar suas vítimas “infiéis”.

Tendo Sonsorol como base, eles continuaram sua predação e ficaram razoavelmente ricos — e finalmente adquiriram uma pitada de cultura. No final do século XVIII e começo do XIX o critério dos javaneses prevaleceu e sufis indonésios visitaram a ilha.

Infelizmente nenhum vestígio arquitetural desta “Época de Ouro” sobreviveu à invasão e à conquista pela forças espanholas sob o comando do governador das Filipinas, Narciso Clavería y Zaldua, em 1850. Os sultãos de Sonsorol foram praticamente os últimos dos piratas Moros a serem dominados e os conquistadores impuseram-lhes um regime colonial destrutivo e predatório, incluindo conversão religiosa forçada e completa escravidão.

Em 1867, porém, os espanhóis já haviam perdido o interesse pela ilha , o que não produzia nada além de copra e desgosto. Os governadores holandeses da Indonésia anexaram Sonsorol ao seu império após uma única batalha superficial. Os nativos consideravam os holandeses um avanço em relação os odiados espanhóis, e a princípio apresentaram poucas objeções — na verdade, muitos se converteram para a Igreja Reformada Holandesa.

A influência holandesa ainda é forte em Sonsorol. Quase não há famílias na ilha que não tenham sangue europeu. Palavras holandesas sobrevivem no dialeto. O Antigo Bairro da cidade de Sonsorol (ver) se orgulham das diversas casas modestas, porém agradáveis no estilo “batavo”, com fachadas levantadas e telhados vermelhos. Uma visita à “Catedral” Calvinista e a pequena Sede do Governo também valem a visita.

Neste período a “aristocracia” Moro (aqueles que seguiam sua descendência dos piratas) retrocedeu a seu tipo de islamismo brando. Aos sultões foram conferidos “títulos de cortesia”, mas eles permaneceram sem poder e sem dinheiro. A cultura javanesa moldava as suas atitudes, especialmente as artes da música gamelan (N. do T.: Música folclórica da ilha de Java, essencialmente percussiva, graças à imensa quantidade de instrumentos de percussão, tanto de pele (o tambor que lidera a música, chamado kendang, além do bedug e bonang) quanto de metal (conjuntos de sinos e gongos, como kenong, kempul, gambag e sletem), mas também harmônica, devido à presença de instrumentos de corda (rebab, clempung) e flautas (suling). O gongo, instrumento hoje incorporado à música popular e erudita mundiais, tem sua origem (etmológica, inclusive) na cultura musical gamelan) e da dança, os ensinamentos esotéricos das seitas kebatinans (incluindo artes marciais e bruxaria), e o conceito milenar do “Rei Justo”. Fora desta efervescência —uma estranha mistura de proto-nacionalismo revolucionário e fervor místico —o ressentimento para com os holandeses começou a se inflamar.

Em 1907 (o mesmo ano em que os Países Baixos finalmente conquistaram o norte de Sumatra), o sultão de Sonsorol, Pak Harjanto Abdul Rahman Moro I, encenou um trágico e fútil levante contra as forças coloniais. Diz-se que seus seguidores acreditavam ser magicamente invulneráveis a balas. O sultão e outros conspiradores foram executados, o título abolido, e a ilha afundou em depressão, sonolência, indiferença e obscuridade.

No início da Segunda Guerra Mundial, a população de Sonsorol havia caído para cerca de 2000 pessoas, com administração e guarnições militares holandesas que não passavam de cinqüenta pessoas. Em 1942, os japoneses fizeram uma conquista fácil da ilha, mamdando europeus para campos de prisão em Java, construindo algumas casamatas (ainda existentes), deixaram para trás uma força simbólica e partiram para a invasão da Malásia.

Os novos chefes supremos japoneses comportavam-se de maneira severa, quase sádica — se é que se pode dar crédito às histórias ainda contadas em Sonsorol — e um sentimento antinipônico sobrevive até hoje. Em 1945, um único navio tripulado por forças navais neozelandesas e australianas chegou para liberar a ilha. Os japoneses panejaram uma resistência suicida, e a população nativa, liderada pelo sultão Pak Harjanto III (neto do mártir de 1907) — juntou-se a batalha pela liberdade no dia 20 de julho.

O período pós-guerra encontrou Sonsorol com novos mestres coloniais: um Protetorado Misto sob o comando da Austrália e da Nova Zelândia. Uma queda no preço da copra arruinou os últimos resquícios de economia. A emigração aumentou, e em 1952 a população havia caído para menos de mil. O Protetorado, sobrecarregado pela administração de outras ilhas do Pacífico, ignorou Sonsorol, exceto como uma fonte de mão-de-obra barata.

O sultão, herói da libertação, começou a agitar para a independência. Sincero admirador da democracia ocidental, ele acreditava que a liberdade política iria, de alguma forma, resolver os problemas da ilha. Em 1962 o Protetorado permitiu um plebiscito e a maioria expressiva escolheu independência sob uma Monarquia Constitucional. No dia 17 de agosto daquele ano, o Protetorado Misto retirou-se.

4- História Desde a Independência

Os benefícios esperados da liberdade fracassaram em materializar-se. A emigração foi interrompida. Apenas um auxílio escasso e relutante dos governos do antigo Protetorado evitava que a população ficasse completamente à míngua. Em 1967, o sultão enviou o seu jovem filho e herdeiro, Pak Harjanto Abdul-Rahman IV, para a faculdade nos Estados Unidos, com a vaga esperança de que isso resultasse de alguma forma em uma infusão de ajuda norte-americana. O Príncipe Herdeiro obteve uma bolsa de estudos na Universidade de Berkeley, e se formou em economia.

Na California, o Príncipe se sentiu atraído pelo “Movimento”— direitos civis, anti-guerra, liberdade de expressão, consciência ecológica, Haight-Ashbury (N. do T.: Famosa esquina em San Francisco que tornou-se epicentro da cultura hippie desde 1966), etc. — e logo se viu convencido pela filosofia anarquista libertária. Na faculdade, conheceu Travis B. O’Conner, descendente e herdeiro de uma família do ramo do petróleo de Oklahoma/Texas (não eram super-ricos, mas definitivamente milionários). Eles trancaram a matrícula por um ano e aproveitaram/apreciaram juntos um Wanderjahr (N. do T.: Ano de viagens, em alemão) americano. O Príncipe nunca perdeu o senso de responsabilidade em relação à sua terra-natal: todo o seu pensamento e estudo visavam a salvação do seu povo, ou pelo menos o alívio. O’Conner ficou fascinado com as histórias de Sonsorol, e juntos os jovens amigos maquinavam e sonhavam.

Eles raciocinavam da seguinte forma: quase todas as utopias clássicas — da República de Platão à Fazenda Brook (N. do T.: Fundada nos Estados Unidos pelo casal transcendentalista George e Sophia Ripley, a Fazenda Brook é a comunidade experimental e utópica mais conhecida na história norte-americana. Batizado The Brook Farm Institute of Agriculture and Education, a comunidade existiu entre 1841 e 1847, em West Roxbury, Massachussets) — envolvem um alto grau de abstração. A implementação de idéias abstratas na sociedade requer um correspondente alto nível de controle autoritário. Como resultado, a maioria das utopias em prática se revelaram opressivas e paralisantes — “planejamento social” pareceria uma ofensa por definição contra o “espírito humano”. O’Conner e o sultão desejavam uma utopia anarquista, sem autoridade — e mesmo assim eles perceberam que a utopia é impossível sem a abstração.

A maior e mais opressiva de todas as abstrações modernas é a finança, o negócio bancário, a criação de riqueza a partir do nada, da pura imaginação. Ora, os piratas de antigamente viviam praticamente sem autoridade — até mesmo os seus capitães eram praticamente os primeiros dentro de um grupo de iguais — e eles criaram “utopias” sem lei ou encraves financiados por riquezas roubadas. Os dois jovens amigos decidiram que, uma vez que Sonsorol não poderia nunca produzir nenhuma riqueza de verdade, eles deveriam seguir o procedimento dos piratas — reconhecidamente o caminho dos parasitas e bandidos, e não dos “verdadeiros revolucionários” — e roubar a energia que precisavam para financiar e fundar a sua utopia. O ladrão de banco rouba bancos “porque é ali que está o dinheiro”— mas o banqueiro rouba bancos e até os seus próprios depositantes com total impunidade legal. Os sonhadores da Califórnia decidiram entrar nos negócios bancários.

Em 1979, o velho sultão morreu e o seu filho o sucedeu no trono de uma ilha esquecida e arruinada. De imediato, ele e O’Conner começaram a pôr seu plano em prática. Começaram com a criação de um banco mercantil chamado “A Associação de Poupança e Empréstimos Ilanun Moro” (ironicamente batizado com o nome do pirata fundador da dinastia). O novo sultão então deu andamento a uma série de projetos de lei através da legislação da ilha: ele possibilitou a criação de um encrave de porto livre, Port Watson (a origem do nome nunca foi explicada), que consistia em dez quilômetros quadrados de plantações de copra abandonadas. O Banco, utilizando-se das relações e do capital da família O’Conner, mudou-se para Port Watson e deu início às operações com proteção de regulamentação fiscal: subsidiárias fantasmas, registros livres de impostos, “intermediários” e “gráficos estranhos”, especulação da moeda, atividade secreta intermediária para sociedades chinesas em terra, lavagem de fundos para certos “homens de negócio” chineses transoceânicos , contas numeradas, e assim por diante. Port Watson foi planejado para usufruir de uma liberdade quase total da lei; o banco praticando uma forma nova e invisível de pirataria. Uma vez que, para a sua eficácia, ela depende das comunicações via satélite, ela poderia talvez ser chamada de Pirataria Espacial!

O Banco de Sonsorol possui poucos bens “reais”, poucos que possam ser saqueados — sua riqueza existe em grande parte em memórias de computador. Suas maquinações discretas são toleradas por interesses bancários internacionais; afinal de contas, uma conta “cega” ou algo do tipo mostra-se útil, de tempos em tempos, até mesmo nos círculos financeiros mais respeitáveis. Quase da noite para o dia (1976-1980) Sonsorol se tornou moderadamente próspera.

Todo cidadão de Sonsorol e morador de Port Watson, criança, mulher e homem, tornou-se um acionista eqüitativo no Banco; todos— inclusive o sultão e O’Conner — possuem exatamente uma ação dos lucros. Em 1980, cerca de mil pessoas em Port Watson e 2000 em Sonsorol, recebiam, cada uma, um dividendo anual de cerca de US$ 4.000. Em 1985, a população total chegou a 9000 e o dividendo um pouco mais de US$ 5000 — praticamente uma renda garantida.

Além da criação de Port Watson e do Banco, muito poucas mudanças foram feitas na estrutura legal de Sonsorol, a qual continua sendo (ao menos no papel) uma república de estilo anglo-americano com legislação, exército, polícia, educação compulsória, impostos e assim por diante. Nenhum poder estrangeiro pode acusar a ilha de “anarquia”— e em todo caso, o Governo Trabalhista da Nova Zelândia assinou recentemente um tratado de defesa que oferece proteção e reconhecimento internacional para a república. Na superfície, tudo está normal. A Constituição foi reformada para separar a Igreja Reformada Holandesa do Estado e permitir a liberdade de credo (1976), e em 1979 o sultão abdicou de todas as funções executivas e se reduziu a uma figura cerimonial. Como ele colocou, “eu alcancei o estado do Rei-Sábio taoísta descrito no Chuang Tzu: Eu me sento em meu trono voltado para uma direção propícia — e não faço absolutamente nada!”

Na prática, no entanto, as funções da República caíram quase totalmente em desuso. Nenhum exército ou polícia existe porque ninguém se alista neles. Em vez disso, uma Milícia do Povo voluntária trabalha em emergências (extremamente raras até hoje). Impostos não são coletados, leis morais não são executadas. A legislação não aprova mais nenhuma lei nova (embora se reuna de tempos em tempos para debater projetos e questões filosóficas). As escolas existem, mas a freqüência é voluntária. Ninguém precisa trabalhar, e muitos consideram a sua cota de ação suficiente para sustentar vidas de polinésio dolce far niente. Qualquer pessoa que tenha objeções quanto à “monarquia minarquista” da República pode se mudar para Port Watson, onde não existe absolutamente nenhuma lei.

O “verdadeiro trabalho” de Sonsorol, negócios bancários, pode ser conduzido por um punhado de hackers de computadores e negociantes astutos (apelidados de “Sindonistas”). Contudo, o sultão e O’Conner queriam ver Port Watson se tornar uma comunidade libertária genuína, e estimularam a imigração oferecendo empréstimos sem juros e até mesmo subvenções integrais a pessoas prestativas e solidárias. Diversas organizações coletivistas importantes foram fundadas: o Centro de Energia (ver), uma cooperativa para energia alternativa, tecnologia apropriada e agricultura experimental; e as Academias (ver), voltadas para educação e pesquisa — escolas para crianças, e filosofia “natural” de todos os tipos para estudantes avançados.

Pequenos empresários, a maioria chineses, também foram convidados a abrirem lojas. Enérgicos e econômicos, eles expandiram as suas ações em pequenos negócios e hoje dominam diversos aspectos da vida comercial de Port Watson. Centenas de libertários e anarquistas da Europa e das Américas afluíram para Sonsorol, cada um com algum experimento de vida, culto da Nova Era, comunidade utópica, artesanato, arte ou projeto de estimação. Alguns Sonsorolanos que haviam migrado para a Nova Zelândia nas décadas de 1940 e 1950 voltaram para reivindicar as suas Ações de Cidadãos. A ilha ficou viva — mais uma vez — graças à “pirataria”!

Em Port Watson, todos os negócios e, de fato, todas as relações humanas são executados através de contratos. Não existem órgão de regulamentação para interferir em acordos feitos entre “parceiros em consenso”, seja na cama ou em um negócio bancário. Os contratos podem ser testemunhados por uma empresa de arbitragem independente. Reclamações contra grupos ou indivíduos são julgados por um “Sínodo Aleatório” — um comitê de Acionistas ad hoc escolhido por computador. Este Sínodo não possui nenhum poder de coerção. Na teoria, um “réu” que recusasse as recomendações do Conselho ficaria livre e o queixoso não teria nenhum recurso senão o duelo ou a vingança. Na prática, porém, isso só ocorreu uma ou duas vezes. Pede-se aos novos colonizadores em Port Watson apenas para concordar em viver de acordo com este anti-sistema, para doarem um dia por mês para projetos comunitários (conhecidos como “trabalho de merda”) e para absterem-se de comportamentos coercivos ou opressivos. Este acordo é chamado de “assinar os Artigos”, de acordo com o velho costume entre os bucaneiros e corsários. De fato, a forma de “governo” de Port Watson poderia ser chamada de Pacto de Piratas — ou talvez comunismo laissez-faire — ou anarco-monarquia (uma vez que cada ser humano é considerado um “senhor livre” ou agente soberano).

A terra só é “possuída” quando é ocupada e usada. Uma comunidade típica pode consistir de uma única construção, sem terreno, com três ou quatro membros (talvez até um “núcleo familiar”!); ou uma cooperativa do tamanho de uma fazenda com 12 a 25 membros e várias casas. A independência econômica torna a vida solitária praticável, mas um grupo pode juntar recursos, permitir-se uma moradia melhor e dividir luxos. Quase todas as pessoas pertencem a alguma forma de cooperativa, associação ou irmandade, desde um clube de jantar informal, até comunidades de utopias ideológicas rigorosas (a maioria nas montanhas ou fora da cidade). “Falanstérios” ou grupos de afinidade erótica são bastante comuns, assim como corporações de artesanato e cultos esotéricos (ver Atividades Culturais/Espirituais).

5- Dinheiro (Um Lembrete para o Viajante)

“Sem pilhagem não há pagamento!” e “A cada um de acordo com a recompensa, de cada um de acordo com o seu capricho!” — esses poderiam ser os lemas de Port Watson. Até mesmo a República de Sonsorol não possui moeda própria (embora venda adoráveis selos postais). Para pequenas transações, como pagar uma refeição ou jornal, qualquer moeda serve em teoria, ainda que na prática a libra neozelandesa ou o dólar norte americano sejam preferidos. Transações maiores geralmente são executadas por computador, uma vez que todos os Acionistas têm uma “conta” que pode ser usada. Os visitantes podem achar conveniente depositar parte de seus fundos no Banco, em uma conta “fixa ”ou “móvel”. A primeira é simplesmente um cofre eletrônico. Uma conta “móvel” constitui um investimento real no Banco. Em fevereiro de 1985, tais contas pagavam 7,5% de juros, e em março 12%. Viajantes moderados podem na verdade sair de Sonsorol mais ricos do que quando chegaram!

Os moradores da ilha elaboraram um escambo bem organizado entre eles. Uma organização de artesanato que produz batique (N. do T.: Método indonésio de estamparia de tecidos em que a cera é aplicada no tecido para evitar que algumas partes sejam tingidas, popular no Ocidente nos anos 60 e 70), por exemplo, irá transferir a sua mercadoria para a Cooperativa de Port Watson (chamada “As 5 & 10” por brincalhões locais) em troca de um determinado crédito, medido em uma quantidade quanta abstrata. Os membros da organização podem então usar o seu crédito em relação a qualquer produto da Cooperativa. Tanto a Cooperativa quanto diversos mercadores chineses independentes atuam como agentes de importação e exportação, preenchendo pedidos de mercadorias estrangeiras e artigos de luxo em troca de crédito do Banco ou da Cooperativa. Não há controle de preços e o valor dos produtos locais é determinado por computador, mas importações e mercadorias vendidas fora do sistema da Cooperativa estão sujeitos a intensa negociação, característico das compras em bazares orientais. Visitantes ingênuos foram algumas vezes enganados por watsonianos espertos. Caveat emptor (N. do T.: Do latim “Cuidado, comprador”).

Muitos grupos dentro do encrave do porto são ávidos para estabelecer trocas e comunicações com canais alternativos em outros lugares do mundo. Sempre que possível, Sonsorol procura evitar o comércio oficial internacional com todas as suas tarifas, impostos e regulamentações, e, em vez disso, contar com os contatos com comunidades, cooperativas, bolos, grupos e indivíduos artesãos não-comerciais e não-governamentais ao redor do mundo — especialmente aqueles que compartilham a perspectiva libertária-anarquista. Visitantes em Sonsorol são particularmente bem vindos quando oferecem algum contato com o “mundo externo”, tais como “potlatch (N. do T.: Troca de presentes, costume típico dos índios nativos da costa oeste norte-americana)”, escambo, contato cultural, troca de hospitalidade, etc.

Os Acionistas são livres para fazerem o que quer que queiram com os seus dividendos, e para entregarem-se qualquer tipo de negócio que os agrade e que não envolva nenhuma coerção, escravidão de salário ou ganância voraz. No entanto, fora da comunidade da ilha (e da rede crescente de contatos “alternativos” mundiais) essas restrições desaparecem. Como os seus predecessores piratas, os Sonsoroleanos estão “em guerra com o mundo todo” no que diz respeito a aproveitar algumas vantagens comerciais e fiscais. Por causa disso, muitos watsonianos enriqueceram consideravelmente — especialmente os Banqueiros e os comerciantes chineses. Qualquer exibição de riqueza excessiva é considerada de mau gosto, até mesmo “opressiva” — o espicurismo gastronômico e a indulgência estética têm aprovação social, mas diz-se que o “watsoniano típico” é um milionário que vive como um vagabundo de praia, um ermitão taoísta ou um artista, e faz grandes doações a várias causas beneficentes e revolucionárias radicais pelo mundo afora. Os moradores da ilha gostam de citar o dito espirituoso de Emma Goldman sobre a “revolução champanhe” e o comentário de Nietzsche sobre o “aristocracismo radical”. O dinheiro, no final das contas, significa muito pouco aqui (exceto como um jogo). A verdadeira balança de valores é baseada no prazer, na auto-realização e na intensificação da vida.

6- Fazendo Turismo em Port Watson

Port Watson surgiu rápido e tem o ar de uma cidade da corrida para o ouro, apesar de seu langor tropical. Sua arquitetura parece excêntrica, e “planejamento urbano” é considerado palavrão. Todos constróem onde e o que querem, de cabanas de palha a um ferro velho, cúpulas geodésicas ou um quonset, pré-fabricado ou tradicional, de estética personalizada ou funcionalidade feia. A maioria das ruas não é asfaltada, e carros são raros — embora algumas centenas de “bicicletas de graça” (pintadas de branco) (N. do T.: As bicicletas gratuitas pintadas de branco são referência ao grupo anarquista holandês Provos) fiquem paradas para qualquer um que necessite delas.

Diz-se que a população do encrave é de cerca de 2000 pessoas, embora nenhum censo tenha sido feito. Talvez a metade seja de sonsorolanos nativos. A outra metade consiste em pessoas de muitas nacionalidades, a maior porcentagem provavelmente de norte-americanos — e então chineses, australianos e neozelandeses, europeus (britânicos, franceses, alemães, etc.), escandinavos, sul-americanos, alguns filipinos, javaneses e outros do sudeste asiático dispersos; e indivíduos de lugares tão improváveis como Irã, Egito e África do Sul. A maioria dos “colonizadores” vieram trabalhar no Banco ou um dos outros negócios de Port Watson, ainda que um número significativo tenha apenas “passado por acaso e decidido ficar”. Estilos de vida variam da vagabundagem praiana Gaugin ao jet-set internacional (os representantes nômades do Banco), mas a maioria fica em algum lugar entre esses dois extremos.

Importante: o viajante deve ter sempre em mente que Port Watson se diferencia do resto do mundo em um aspecto principal: a falta de qualquer lei. Alguns watsonianos gostam de descrever sua cidade como um cruzamento entre O Coração das Trevas (N. do T.: Clássico de Joseph Conrad, O Coração das Trevas descreve a jornada de um oficial inglês à procura do desertor Comandante Kurtz, que transformara um entreposto comercial no Congo em uma assustadora colônia particular; o livro é a base para o filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola) e a cidade de Tombstone (N. do T.: Cidade do Arizona, nos EUA, que nos anos 1880 se tornou ponto de convergência de mineiros, aventureiros e foras-da-lei, devido a uma rica mina de prata. Conhecida como “a cidade dura demais para morrer”, foi personagens do velho oeste americano, como Wyatt Earp, Doc Holiday e John Ringo) — existem especulações sobre duelos e feudos, histórias sobre “pequenas guerras” entre comunidades, etc. — mas na verdade esses incidentes são muito raros, possivelmente até falsos. No entanto, os recém chegados devem ter consciência de que não existe nenhuma autoridade para safar ninguém do perigo ou de dificuldades. Até mesmo os watsonianos assumem a responsabilidade total por ações pessoais. O visitante deve por bem ou por mal seguir o exemplo.

A teoria libertária prediz que tal sistema — ou falta de sistema! — leva a mais paz e harmonia do que a violência e desordem, desde que todos os indivíduos tenham bem-estar e concordem em não coagir ou oprimir outro ser humano. Na prática a teoria parece funcionar — afinal de contas, Port Watson é realmente uma cidade pequena em uma ilha pequena, uma “ecologia social” que reforça a cooperação e até mesmo a conformidade. Por todo o seu ruído anarquista, a maioria dos watsonianos está muito contente para querer causar problemas — mas se um visitante deixa de compreender o “código não escrito” ou a correta educação sossegada, bem poderá sofrer conseqüências desagradáveis.

O cais fervilha de atividades: barcaças retirando a carga de algum navio a vapor sem rota ancorado na lagoa, barcos de pesca chegando e saindo, suas tripulações pechinchando com os representantes da Cooperativa sobre seu presa furta-cor, crianças brincando e nadando, os preguiçosos bebendo café no famoso Cannibal Café. Atrás do cais passa a rua Godown, com esse nome devido à sua fileira de armazéns feios ou “godowns” (N. do T.: Alteração em inglês para a palavra malaia godong, que significa galpão portuário). Aqui também se encontram vários postos marítimos, vendedores e construtores de barcos (paraus, juncos e canoas de regato) — e diversas boates e bares que abrem quando o sol se põe (ver Vida Noturna).

Do outro lado da rua Godown fica a rua China, o lar da comunidade chinesa de Port Watson. Lojas térreas velhas com fachadas de ferro onduladas e placas brilhantes escritas à mão. A única hospedaria da ilha, o Hotel White Flower, e vários restaurantes chineses excelentes (ver Onde Ficar e Comer). Pequenos templos chineses do tipo que são vistos por toda parte no sudeste da Ásia, pilares barrocos de concreto, dragões e fênix pré-fabricados e pintados de forma espalhfatosa retorcendo-se sobre um telhado inclinado, com fumaça de incenso subindo de um altar dourado e carmesim…: O Templo Taoísta da Estrela Polar do Sul. A maioria dos chineses watsonianos são taoístas ou budistas Chán, e o tai chi virou moda por toda a ilha.

Ao longo da praia a oeste da rua China uma área chamada de “A Favela” se expande sobre a areia ensolarada —gêmea dos guetos pós-hippies de “viajantes econômicos” de Goa e Bali. Choupanas de palha e pequenos bangalôs improvisados, algumas lojas de artesanato, casas de chá e restaurantes, uma população de ratos de praia e comedores de lótus (N. do T.: A expressão “comedor de lótus” vem de um conto homônimo (The Lotus Eater) do inglês W. Sommerset Maugham (“o escritor mais bem pago dos anos 1930”, como era conhecido), em que seu protagonista, o bancário inglês Thomas Wilson abandona toda sua vida após conhecer Capri, no sul da Itália, dedicado a viver apenas a excitação da natureza do lugar): os pobres por vontade própria de Port Watson. Aqui também se encontra a famosa “Drogaria” da cidade, cuja explicação detalhada seria imprudente, mas você entendeu.

A leste do cais, cerca de quinhentos metros pela estrada que leva à cidade de Sonsorol, fica o fabuloso Centro de Energia, sem dúvida o complexo mais feio da ilha. Seu trabalho pode ser benéfico para o meio ambiente, mas ele parece um trecho da rodovia expressa de Nova Jersey transportado em pedaços para os trópicos e remontado por um louco. Barreiras de torres desajeitadas e moinhos de vento experimentais (como algo saído da Guerra dos Mundos!), barreiras coletoras de luz solar pretas e sinistras, geradores enormes e desajeitados produzindo energia a partir da maré, das ondas e do vento. Fileiras de estufas hidropônicas de plástico montadas às pressas, ateliês e oficinas, ferraria, Garagem & Centro de Bricolagem — tudo planejado como um Conjunto Eretor construído sob o efeito de ácido. Os simpáticos técnicos Nova-Alquimia-da-Terra-Sadia do Coletivo Energético adoram toda essa maquinaria, sujeira, ruído e inventividade. Dizem que o Banco pode pagar as contas, mas talvez não para sempre. Enquanto isso, o Centro de Energia é o coração vivo de Port Watson.

Mas o Banco tem que levar o prêmio da arquitetura mais absurda da ilha. Construído por uma equipe de designers neo-futuristas italianos, ele já está caindo aos pedaços. Mas todos apreciam a sua extravagância e ousadia, então os banqueiros resmungam, mas gastam para mantê-lo de pé e funcionando. Com um formato que parece o cruzamento entre uma pirâmide egípcia e maia, meio amassada, sete andares, todo de vidro refletor preto e aço inoxidável (agora parecendo bastante enferrujado, depois de quatro temporadas de tufão) — o conceito total é tão ultra-pós-moderno que se assemelha à Ópera Cômica (ou Ópera Espacial!)… e ainda assim, suas formas refletem o vulcão extinto que forma a massa da ilha, suas cores refletem a areia preta e a sua ferrugem se harmoniza com o calor tropical… e depois do primeiro choque e da gargalhada, fica-se um pouco sob o seu fascínio! Um BANCO! Caído no meio desta ilha, com o formato do símbolo do Illuminatus numa nota de dólar (só que sem o olho) — pesado, denso e tão luminoso como vítreo.

Do lado de dentro, o Banco é dividido exatamente na metade. Uma metade permanece aberta, um “espaço catedral” sem divisões, uma enorme estufa, palácio de cristal botânico ou arboreto, rouco com pássaros soltos e plantas tropicais — escadarias e rampas levam a galerias e jardins suspensos — tubos de vidro com escadas rolantes dentro (como o aeroporto de Gaulle em Paris) riscam o espaço vasto, dando ao “saguão” uma atmosfera meio Montes Pirineus, meio Buck Rogers (N. do T.: Série de TV de ficção científica dos anos 50) — fontes esguicham no nível do solo ou caem em cascatas — e os watsonianos vêm aqui para piqueniques ou para foderem nas folhagens.

A outra metade do Banco é o Banco Sultão Ilanun Moro propriamente dito, um labirinto de escritórios, salas de computadores, cofres (onde dizem não haver quase nada de valor), alojamento para os banqueiros (que geralmente são hackers libertários e visionários anarco-capitalistas), todo ultra-moderno e com ar condicionado, futurologista e austero. O Banco mantém uma antena parabólica próxima ao pico do Monte Sonsorol, e os computadores têm equipes 24 horas por dia para receber notícias financeiras e políticas. Alguns moradores da ilha que não são membros da Cooperativa do Banco aproveitam, no entanto, para fazerem apostas em jogos financeiros internacionais: especulação e jogatina são esportes populares.

O Banco também funciona como um centro comunitário: uma gráfica, uma clínica médica (chamada, por algum motivo, de “Imortalidade Inc.), um refeitório popular, uma biblioteca de fitas e discos e outras instalações estão abertas ao público.

Entre a rua China e o Banco fica o Bazar, um centro comercial amplo e aberto (quente e empoeirado) cercado de mais lojas de ferro ondulado e lojas-choupanas de palha, além de um grande prédio, não muito diferente de um supermercado ou shopping. Tudo isso junto constitui o grande Centro Cooperativo dos Povos de Port Watson, o mercado de trocas, a butique de importação e exportação, empório de alimentos e bolsa de valores do Encrave. Terças e quintas são “Dias de Feira”, ainda que algumas partes da Cooperativa estejam sempre abertas. Mercadorias de luxo surpreendentes de todos os lugares do mundo (isentas de impostos, é claro) fazem do bazar um desconhecido Paraíso do Comprador; produtos eletrônicos, por exemplo, são mais baratos aqui do que em Hong Kong ou Singapura. A arquitetura do bazar é mal digna de nota, mas no meio do terreno há uma pequena mesquita pré-fabricada com adornos importada em partes do Paquistão via Brunei e montada aqui como O Centro de Estudos Esotéricos Sultão Pak Harjanto I (assim nomeado em homenagem ao mártir de 1907 que trouxe a magia javanesa para Sonsorol). Com todos os minaretes cor-de-rosa, barras verdes, branca e dourada como um bolo de aniversário de criança, com cobertura em alcaçuz de caligrafia árabe, a “Mesquita” é usada como um espaço para performances e salão para meditação pública. Cercada por um pequeno jardim de flores e árvores que dão sombra, é um agradável refúgio do calor e da poeira do bazar.

Outra característica divertida do bazar é O Muro do Grande Caractere (ou “Grande Muralha”), onde avisos, panfletos, poemas, xingamentos, pichações e “slogans com caracteres grandes” são pendurados e pintados — uma espécie de jornal gigante e imóvel. Uma feira de livros (venda, troca e compra) é realizada aqui às terças.

Por um quilômetro ao longo da praia a oeste das Favelas ficam As Academias, um agrupamento de comunidades e cooperativas dedicadas à educação e ao conhecimento, ocupando uma área de plantações de copra abandonadas. Parte da arquitetura é colonial restaurada (não muito interessante). O resto representa uma tentativa de criar um novo “vernáculo” sonsorolano fazendo uso de materiais tradicionais (palmeira, palha, coral) e os confortos da “tecnologia alternativa” proporcionados pelo Centro de Energia. Os prédios aqui têm os nomes de Ferrer (N. do T.: O espanhol Francisco Ferrer (1861-1909) foi uma das primeiras pessoas a questionar o monopólio da educação pela igreja ou pelo estado. Concebeu o conceito das Escolas Livres, a Escola Moderna e a Universidade Popular, que levaram ao sucesso das idéias anarquistas frente aos trabalhadores durante a Semana Trágica, em 11 de julho de 1909 (quando a classe operária se revoltou contra o governo que declarava guerra ao Marrocos). Ferrer foi executado como um dos líderes do levante), Goodman (N. do T.: O norte-americano Paul Goodman (1911-1972) era poeta, escritor e comentarista até que a crise da meia-idade o abalou em plena época de vacas magras, levando-o a explorar outros temas para sobreviver. Foi assim que encontrou o judeu alemão Fritz Perls, com quem escreveu Gestalt Therapy, passando a dedicar-se à crítica social. Assim, publicou seu mais famoso livro, Growing Up Absurd (1960), que questionava a autoridade das instituições e foi mais tarde usado como manifesto contra a Guerra do Vietnã), Freire (N. do T.: O brasileiro Paulo Freire (1921-1997) é um dos grandes pedagogos da história contemporânea e obras como Pedagogia do Oprimido, Vivendo e Aprendendo e A Importância do Ato de Ler são referências internacionais), Neill (N. do T.: O inglês Alexander Sutherland Neill (1883-1973) foi um dos principais críticos do sistema britânico de educação e fundador da escola livre Summerhill School, onde as crianças escolhiam os critérios que queriam ser avaliadas), Illich (N. do T.: O austríaco Ivan Illich (1926-2002) é considerado o pioneiro da Teologia da Libertação e seus grandes feitos incluem o clássico Sociedade Sem Escolas e seu trabalho junto às comunidades latinas nos anos 60 e 70. Fundador do Centro de Documentação mexicano (tido como refúgio para guerrilheiros clandestinos), formulou o conceito da Aliança para o Progresso, através da qual postulava que o nível de desenvolvimento de um país poderia ser medido de acordo com o grau de escolaridade de seu povo), Reich (N. do T.: O austríaco Wilhelm Reich (1897-1957) era sócio de Freud Policlínica Psicoanalítica de Viena, mas logo rompeu com seu professor e com o movimento da psicoanálise. O nazismo o obrigou a deixar a Europa e, instalado em Nova York, passou a desenvolver sua teoria da energia orgone, que, segundo Reich, é um fenômeno universal e é liberado através da atividade sexual. Ele advogava que o acúmulo desta energia era responsável pelas neuroses individuais, movimentos sociais irracionais e desordem neurótica coletiva. Criou um dispositivo chamado Caixa Orgone, para aliviar tal energia, que foi declarado fraude pelo governo americano. Ao continuar suas pesquisas com o aparelho, foi intimado e sentenciado à prisão, onde morreu)… e as teorias educacionais praticadas derivam de seus ensinamentos. A pesquisa científica avançada é limitada, é claro, mas o acesso a computadores e financiamentos mais do que suficientes para certos projetos resultaram em um espírito de descoberta em — por exemplo — estudos de percepção extra-sensorial, matemática e física teóricas, genética e biologia (especialmente o campo de pesquisa morfogenética) e até mesmo um modesto observatório (que recebeu o nome do Príncipe Kropotkin (N. do T.: De ascendência nobre, o russo Peter Alexeyevich Kropotkin (1842-1912) passou a freqüentar a corte do czar Nicolau I ainda menino, quando foi escolhido pelo próprio para ingressar no Corpo dos Panges, se interessando por ciência. Depois de estudar a Sibéria, abraçou a geografia e deixou a corte e a vida militar para tornar-se um dos principais nomes da história anarquista. Fundou o jornal Le Révolté na França e escreveu seus principais livros (A Conquista do Pão, Ajuda Mútua, Memórias de um Revolucionário e Campos, Fábricas e Oficinas) na Inglaterra. Voltou à Rússia com a revolução de 1917, mas desiludido com a ditadura bolchevique, dedicou os últimos anos de sua vida à obra Ética, que ficou inacabada. A essência da pesquisa científica está presente em seus principais textos)).

As crianças ocupam uma posição única em Port Watson. Acionistas desde o nascimento, elas são financeiramente independentes e nenhuma força moral ou legal as prende à sua “família” se elas quiserem viver sozinhas. Tanto nas Academias como em outros lugares do Encrave, comunidades de crianças de estilo polinésio são bem sucedidas sem a “supervisão de adultos”. Elas escolhem os próprios cursos e pagam pelos conhecimentos especializados que desejem — ou então se empregam como aprendizes em algum ofício — ou então não fazem absolutamente nada senão brincar e se divertir. A liberdade sexual entre duas ou mais pessoas quaisquer que a consintam é normal em Port Watson. A infância sofreu uma mutação entre Maioridade em Samoa (N. do T.: Maioridade em Samoa (Coming of Age in Samoa), publicado em 1928, é um dos polêmicos livros da antropóloga norte-americana Margareth Mead e trata das relações entre sexualidade, adolescência e sociedade) e um jogo de utopia computadorizado. Felizes, saudáveis e desinibidos, mais sérios e mais selvagens que os suas equivalentes americanos ou europeus, eles às vezes parecem ter vindo de outro planeta… ainda que, ao mesmo tempo, seja óbvios que sejam os verdadeiros watsonianos.

7- Onde Ficar e Comer

Port Watson se orgulha apenas de uma hospedaria comercial, o White Flower Motel, na rua China, um prédio de dois andares com um pátio dirigido pelo próprio dono, um velho “adepto” do taoísmo, decano do corpo diplomático chinês da comunidade chinesa, o senhor Chang. Quarto simples custa 15 dólares a noite, duplo, 25. Visitantes “econômicos” encontrarão cabanas ou quartos para alugar nas favelas por apenas dois dólares por dia. E se tudo o mais falhar, o Banco mantém diversos quartos de hóspedes disponíveis (para financistas visitantes apenas, na teoria).

A rua China é o lugar para se comer, e Port Watson se qualifica como uma verdadeira “viagem gastronômica”, como dizem os viajantes econômicos. O Yellow Turban Society
(N. do T.: A sociedade dos turbantes amarelos era um grupo de revoltosos sanguinários chineses que, no final da Dinastia Han (150 d.C.), se posicionou como vanguarda da história, disposta a aniquilar o poder vigente de forma violenta e iniciar uma nova era) é especializado na culinária de Pequim e da Mongólia. O Manchu Pretender (N. do T.: Depois de invadir a Manchúria, em 1931, o Japão transforma-a em um estado-fantoche, Manchukuô, e coloca o último imperador chinês, Pu Yi, como líder e testa-de-ferro) na de Cantão e de Hong Kong (o proprietário afirma ser o “príncipe herdeiro perdido” da China!) e o Cinnabar Immortal serve a culinária vegetariana taoísta/budista da mais alta qualidade.

Pequenos bares e restaurantes aparecem e desaparecem na Favela. Dois dos que mais duram são The Crowbar Club, cuja especialidade é frutos do mar, e uma barraca de hambúrguer chamada McBakunin’s! A Drogaria serve café e doces, entre outras coisas.

O Banco mantém uma lanchonete de estilo americano, que é barata e popular, apelidada de The Willie Sultan Bar & Grill (N. do T.: Famoso ladrão de bancos norte-americano, Willie Sultan (1901-1980) fez fama nos anos 30 como assaltante gentleman e mestre dos disfarces. Sua famosa explicação sobre porque assaltava bancos (“porque é ali que está o dinheiro”) foi citada neste mesmo texto pouco antes de Pak Harjanto Abdul-Rahman IV e Travis B. O’Conner decidirem-se pelo ramo banqueiro). Os dias de feira no bazar também são dias de banquete, com inúmeros comerciantes vendendo tudo, de bolo de coco caseiro a trufas importadas.

8- Atividades Culturais e Espirituais

Não se passa uma noite em Sonsorol sem uma performance em algum lugar — música (clássica, gamelan e rock fazem sucesso), dança, teatro, poesia, etc. Fique atento ao Muro do Grande Caractere para ver os anúncios. Escultores e artistas exibem seus trabalhos em público, e por toda a ilha se tropeça em surpresas estéticas, obras de artes combinadas com a paisagem ou paisagem enquanto arte, objets trouvés(N. do T.: Objets Trouvés (objetos encontrados, em francês) é o nome de um ramo do surrealismo e do dadaísmo que lida com, obviamente, objetos encontrados como matéria-prima para, principalmente, escultura. Marcel Duchamp e Man Ray são alguns dos principais nomes desta escola) (achado não é roubado) e (em um caso específico) um Godzilla verde de plástico gigante de pé e sozinho na floresta. O Banco faz apresentações de filmes antigos à noite e de programas de TV “pirateados” de satélites. Poucos watsonianos têm televisores (muitos abstêm-se da eletricidade de forma geral), mas gostam de assistir de vez em quando no Banco, rindo nos comerciais. Alguns artistas trabalham em filmes e vídeos, e usam as instalações do Banco — que são de ponta.

Nesta sociedade em que as pessoas sempre têm tempo livre, os livros são considerados uma necessidade, e as publicações locais fazem um sucesso fora de proporção com a população. Esta cidade se orgulha de ter dois jornais semanais (um deles chamado Os Protocolos dos Idosos de Port Watson!), uma publicação mensal sobre arte, uma pletora de panfletos e uma produção pequena, porém estável, de livros (incluindo alguns no dialeto sonsoroleano) publicados por editoras com nomes imaginativos — Chthulu Press (N. do T.: Chthulu é o protagonista (um monstro verde, gigantesco, com cabeça de lula, garras e asas de morcego) do universo de horror do autor H.P. Lovecraft), New Rocking Horse Books, Fourth Eye Books, End of the World News & Stationary — e, é claro, uma Editora Pirata.

A espiritualidade pós-new age prospera no encrave. Cooperativas e comunidades com freqüência são organizadas com base em alguma Rumo ou terapia de vida. Uma lista parcial de tais organizações inclui: Wicca e outras formas de neo-paganismo (inclusive um renascimento tanto artificial do politeísmo sonsoroleano baseado em Castañeda, Lovecraft e Margaret Mead!), várias formas de taoísmo (tradicional e mágico, filosófico e alquímico e anarco-caótico), zen chinês, Igreja dos SubGênios, Templo de Eris, o Illuminati, “Anarquismo Místico”, tantra e ioga, artes marciais chinesas e javanesas, especialmente tai chi e silat, vários círculos e ordens de Cerimonial Magick, inclusive um “Nova Aurora Dourada” e um “O.T.O. (N. do T.: A Ordo Templi Orientis reúne tradições dos Cavaleiros Templários, Iluministas, Rosa-cruzes, Maçons, e os medievais Cristianismo Gnóstico e Escola de Mistério Pagão. A base da ordem é O Livro da Lei, de Aleister Crowley) Reformado”, Igreja do Satã, a Escola Sabbatai Sevi de Judaísmo Mágico, o Si Fan (“uma conspiração devotada à subversão mundial e ao terror poético”), a Igreja Católica Gnóstica, o Templo do Ateísmo Materialista, Igreja do Príapo (N. do T.: Na mitologia greco-romana, Príapo era filho de Afrodite (deusa do amor) e de Dionísio (deus do vinho) e foi deformado ao nascer por Hera, que tinha ciúmes de sua mãe; sendo representado como um indivíduo grotesco e com um pênis gigante), e assim por diante. Uma das linhas espirituais mais populares em Sonsorol, incluindo Port Watson, é a chamada “Caminho Moro”, uma combinação de esoterismo puro enraizado no kebatian javanês, no sufismo, xamanismo, mitologia hindu e islamismo heterodoxo. A “Mesquita” no bazar serve como um centro para grupos como Sumarah, a Escola da Invulnerabilidade, a “Igreja Moura Ortodoxa”, a Academia de Meditação Moura, etc. (ver cidade de Sonsorol pra mais detalhes.) Reuniões, sessões, aulas, etc. são divulgadas na “Grande Muralha”.

9- Vida Noturna & Recreação

Assim como os watsonianos criaram a sua própria “Favela”, eles também têm o seu “bairro da luz vermelha” — não por nenhuma necessidade econômica, mas simplesmente porque apreciam a indolência e a imoralidade. Quando escurece, a rua Godown se transforma em um antro de perversidade e não fecha até o amanhecer. Os viajantes noturnos começam com uma refeição na rua China, seguem para o Cannibal Café para um café, de lá para Euphoria (um cassino), The Johann Most Memorial Dance Hall (N. do T.: “Não é mais a aristocracia e a realeza que o povo pretende destruir… Não; no ataque próximo o objetivo é entregar toda a classe média à aniquilação… Exterminar toda a espécie desprezível! A ciência agora coloca em nossas mãos meios que tornam possível a destruição completa dos brutos de uma maneira perfeitamente quieta e metódica”, dizia o anarquista alemão Johann Most (1846-1906), um dos principais teóricos do assunto nos EUA. Lá, ele escreveu o panfleto The Science of Revolutionary Warfare: a manual of instruction in the use and preparation of Nitro-Glycerine, Dynamite, Gun Cotton, Fulminating Mercury, Bombs, Fuses, Poisons, etc, etc. em que saudava o terrorismo) (uma casa de rock), Bishop Sin’s Massage Parlor (a coisa mais parecida com um bordel em Sonsorol), The Unrepentant Faggot (um bar gay), Café Voltairine (um clube lésbico), Eat the Rich! (uma lanchonete noturna) e outras espeluncas de nomes criativos e vida curta. Esses clubes geralmente consistem em nada mais que uma área coberta caindo aos pedaços em um beco entre dois armazéns pintados com cores escuras e talvez ostentando uma placa de neon dadaísta? Visitantes, anotem: você não está exatamente arriscando a vida na rua Godown, mas nunca se sabe (digamos assim) o que há no ponche. Os watsonianos nunca precisam ansiar pela insanidade da vida nas grandes cidades: ela está toda concentrada aqui — sem um único policial para conter a loucura. Como diz uma pichação no banheiro (unissex) do Cannibal Café: “Após a meia-noite o Contrato Social está cancelado! (assinado) O Senhor da Desordem”.

10- Excursão à cidade de Sonsorol

Um velho ônibus escolar, completamente reconstruído em bronze e cromo reluzentes, faz o mesmo percurso de ida e volta pela única estrada asfaltada de Sonsorol, do Bazar em Port Watson à capital da república, a cidade de Sonsorol. (Isto é, ele o faz quando se encontra alguém para dirigi-lo.) A estrada passa pela savana, a área rural mais povoada e cultivada da ilha, especialmente por famílias cristãs sonsoroleanas nativas, que apegam-se às “virtudes” do trabalho pesado.

A vida na república flui em um ritmo mis lento e mais conservador do que no livre encrave. Os nativos mais velhos se apegam as atitudes da Igreja Holandesa Reformada ou então seguem o Caminho Moro com toda a sua sutileza, boas maneiras, elitismo estético e “superstição mágica”. A república não possui uma força policial, mas as pessoas tendem a se adaptar a certos costumes, pelo menos em público, e dentro de um contexto de uma integridade geral, descontraída e ao estilo polinésio. O visitante deve se lembrar de não ofender nenhum sentimento por um comportamento abertamente watsoniano (como foder em público).

A cidade de Sonsorol é até menor e mais sossegada do que Port Watson. O ônibus os deixa em uma rua empoeirada com lojas feias de fachadas de ferro ondulado ao longo da margem do rio. Em um extremo da Rua do Mercado fica o Hospital pequeno, porém ultra-moderno, o único prédio novo da cidade. No outro extremo fica a “Catedral Calvinista”, na verdade uma igreja pequena e de estilo holandês um pouco indistinto construída em 1910 (o pároco é holandês e liberal. Ele prega “Tolstói, Thoreau e Gandhi”!)

A oeste da catedral fica o “Bairro Cristão”, uma área de pequenos bangalôs tropicais/coloniais concentrados ao redor da Sede do Governo, o prédio da antiga administração colonial no estilo batavo “holandês-indonésio”, com uma fachada levantada no estilo de Amsterdã, cor rosa-coral com teto de telhas vermelhas, onde se pode assistir a uma eventual sessão do Legislativo, e ouvir discursos delirantes e prolixos de todos os pontos de vista, do fundamentalismo protestante ao anarco-monarquismo místico. A Agência de Correio, um centro de computadores público e uma velha máquina de impressão manual constituem os únicos Órgãos do Estado, mas a praça em frente à Sede do Governo é sombreada de forma agradável e bastante freqüentada por aqueles que gostam de passear à noite e colocar as fofocas em dia.

Entre a Sede do Governo e o rio fica o Bairro Moro, onde as antigas villas batavas valem um passeio a pé. Os “aristocratas” moros são menos de duzentos, e não usufruem de mais nenhum privilégio fiscal em relação aos outros cidadãos — na verdade, a maioria deles se nega a trabalhar, e vive às custas de seus dividendos do Banco, modestos e avaros. Sua vida se concentra nos arredores do “Palácio” do Sultão, (na verdade, uma villa de doze cômodos), e a Mesquita do Sultão, um kraton (N. do T.: Kraton, o “Palácio do Onipotente, é o famoso e tradicional palácio do sultão de Jacarta, na Indonésia) grande, mas simples de estilo javanês com um pátio coberto, cercada por villas adjacentes, oficinas e jardins.

O Sultão Pak Harjanto Abdul-Rahman Moro IV (nascido em 1945) pode ter renunciado todo poder, mas não todas as atividades. Sua fascinação tanto pela filosofia libertária, como pelo misticismo sonsoroleano tradicional o inspirou a criar diversas instituições culturais e educacionais estreitamente relacionadas, que se concentram ao redor da mesquita. A Corte Gamelan (uma orquestra javanesa de percussão importada no fim do século XIX e extremamente preciosa) encontra os seus músicos na Academia do Palácio das Artes e Ofícios Tradicionais. Ligadas a essas há duas escolas para crianças, uma para meninos e uma para meninas, cada uma com aulas de música, dança, arte e confecção de batique, mas em geral ignoram todo o resto. As crianças sonsoroleanas que queiram uma educação moderna podem freqüentar a “Escola do Governo”, que é mista, ou uma das Academias de Port Watson. Mas aqui, tudo é antiquado, refinado, rebuscado, até um pouco decadente e perverso. Os alunos não se submetem a nenhuma disciplina tradicional, porém: eles são livres para ir e vir como quiserem, contanto que cumpram o seu “contrato” de estudar e realizar todos os concertos públicos semanais (todas as sextas-feiras, começando quando o sol se põe e durando às vezes até o amanhecer), que constituem o ritual central do Caminho Moro.

Junto com a Academia do Palácio e as duas escolas para crianças, a Mesquita também mantém uma oficina de batique, aulas de teatro e dança para amadores e aficionados, uma biblioteca de trabalhos sobre a cultura e a história sonsoroleanas, e sessões regulares de meditação em grupo. Também há aulas de artes marciais. O único jornal de Sonsorol, o mensal Court Gazette, também é publicado aqui e impresso na velha máquina da Sede do Governo.

As matrículas nessas instituições têm o mesmo número de “colonizadores” e “nativos”. Alguns watsonianos se tornaram cidadãos da república para poderem morar e estudar na cidade de Sonsorol. As artes tradicionais e especialmente música são bastante apreciadas, particularmente pela nova geração de filhos de nativos que são descendentes de colonizadores. Talvez elas estejam se rebelando contra o anarquismo de seus pais através dessa paixão pelo gamelan e Ramayana (N. do T.: Um dos mais belos poemas épicos da humanidade, o Ramayana foi escrito pelo sábio Valmiki há dois mil anos e é um dos principais textos do Sul da Ásia. Conta a história do príncipe herdeiro Rama e é cheio de reflexões sobre os aspectos da cultura indiana, sendo influência decisiva na política, religião e arte da Índia moderna), do uso de sarongues, batique e flores no cabelo, da imitação de gestos moros conservadores, e de um culto a pirataria e bruxaria.

Os ocidentais na cidade de Sonsorol ou moram perto da Sede e da Mesquita, ou ao longo da costa no antigo bairro holandês. Na ponta da Praia do Holandês encontra-se o Old Colonial Club, agora ocupado pelos dois únicos restaurantes de verdade de cidade: um dedicado à culinária nativa (The Corsair’s Cave) e outro à elegância da cozinha francesa (Chez Ravachol
(N. do T.: O anarquista francês François Ravachol (1859-1892) era outro que advogava o terrorismo e é conhecido por sua famosa frase, “ninguém é inocente”)) — ambos são caros. O Clube também oferece uma sala de jogos com “os únicos fliperamas de toda a Oceania”. Ao longo da praia pra o oeste ficam as antigas villas holandesas, algumas em ruínas, outras habitadas por comunidades de colonizadores artistas, músicos e outros estetas que apreciam a vida tranqüila ou beber com os amigos na Corte.

Além da vida cultural da Sede e da Mesquita, nada mais acontece. Aqueles que querem “agito” vivem em Port Watson — aqueles que preferem a “falta de agito” em Sonsorol — e aqueles que gostam dos dois vão e voltam de um lugar ao outro, de acordo com o humor.

11- Outras Excursões

Do outro lado da Ponte do Garuda, vindo da cidade de Sonsorol, ficam as ruínas do Forte Espanhol, e uma aldeia de pescadores um tanto pitoresca que leva o mesmo nome.

Os três atóis de coral que ficam a alguns quilômetros de Sonsorol podem ser visitados com um barco ou canoa alugados tanto de Port Watson como da cidade de Sonsorol. Ngemelan é habitada apenas em temporadas, mas Ngesaba e Garap têm pequenas comunidades anarquistas (inclusive uma “tribo” de caçadores-coletores e uma colônia de nudismo!). Mergulhar, nadar, pescar e outros prazeres tropicais estão sempre presentes, e muitas pessoas preferem as praias de coral branco à areia vulcânica preta de Sonsorol.

Nos lados norte e noroeste da ilha, algumas aldeias agrícolas e comunidades rurais suportam calor e chuvas muito mais fortes para obterem uma privacidade quase total. O único modo de chegar até lá é de jipe ou a pé. Uma aldeia, New Canaan
(N. do T.: Canaã é a Terra Prometida, na Bíblia), é formada por calvinistas reacionários que odeiam tanto o anarquismo quanto o Caminho Moro, mas nunca recusaram os seus dividendos (não é recomendável ao visitante). Outra, Nyarlathatep, é a sede de um culto de magia negra (também não recomendável).

Na encosta do monte Sonsorol, a norte de Port Watson e dentro da fronteira do encrave ficam as enigmáticas ruínas monolíticas chamadas Nbusala, que calcula-se datar de antes da vinda dos piratas Moros. O mito popular a chama de “O Templo das Nuvens” e a associa com arcaicos mitos e lendas perdidos. Perto dali, a cachoeira mais alta da ilha dá mais encanto à área. A subida pela floresta úmida é exaustiva, mas o local é apreciado pelos artistas, iogues e neo-pagãos, que o consideram um “lugar de força”, o coração vivo da ilha.

12. Como se tornar um morador

Sonsorol não tem turistas e tem alguns visitantes, e alguns destes últimos não conseguem ir embora. Os computadores do Banco estimam que a ilha poderia dobrar a sua população em cinco anos sem diminuir o dividendo médio e sem causar nenhuma superlotação, mas na verdade a taxa de crescimento é muito menor. Como um visitante pode se tornar um morador permanente?

Aqueles que possuem independência financeira podem simplesmente se estabelecer em Port Watson e fazer o que quiserem —desde que concordem em “assinar os Artigos”. Para se tornar um acionista, no entanto, é necessário ser acolhido por uma comunidade ou sociedade já existente, ou então convencer um Sínodo Aleatório de que se pode oferecer habilidades ou serviços valiosos à comunidade. Propostas recentes bem sucedidas partiram de um oceanógrafo de Boston, uma italiana que estudou a arte das marionetes na Indonésia, um jovem extremamente belo de vinte anos de Belize, a tripulação de uma pequena chalupa que chegou com um equipamento de aparelhos eletrônicos vindo da Califórnia, alguns marinheiros malaios que decidiram abandonar os navios e cultivar abacaxi, um poeta irlandês que impressionou o Conselho ao improvisar em terza rima sobre os temas sugeridos por uma platéia, e um menino norte-americano de quatorze anos que fugiu da família em Guam e disse que queria estudar feitiçaria.

Para morar do lado de fora do livre encrave, é necessário, em teoria, tornar-se um cidadão da República de Sonsorol (embora esta “lei” não seja executada de forma muito rigorosa). Todos os cidadãos se tornam Acionistas automaticamente. Documentos são concedidos sem questionamentos a qualquer um que seja aceito em algum clã ou comunidade sonsoroleana, ou que seja contratado de forma específica para trabalhar para o governo (médicos, professores, etc.), ou ainda que seja aceito como aluno pelas Academias na Mesquita do Sultão. Caso contrário, deve-se fazer um requerimento ao Legislativo em vez do Sínodo Aleatório, e nem todos os pedidos são aceitos. Os documentos às vezes são concedidos em troca de um discurso divertido ou eloqüente, mas há rumores de que ligações na Corte podem contar mais do que uma personalidade interessante.

Com a exceção de alguns cristãos antiquados, os sonsoroleanos e os watsonianos vivem no que parece ser uma harmonia perfeita. O casamento entre pessoas dos dois lugares se tornou comum (com freqüência sem benefício de clero ou estado), e a geração mais jovem tem toda a beleza e vitalidade de uma raça nova.

O Caminho de Sonsorol pode ser possível apenas em uma ilha tropical, e alguns argumentam que esta qualidade de utopia libertária não pode ser transplantada para o mundo exterior. Porém, outros acreditam no contrário. Em um editorial (na Court Gazette de 10 de maio de 1985) o próprio Sultão escreveu: “Ninguém que ame a liberdade pode ouvir falar de Sonsorol sem saudades, inveja ou nostalgia de alguma coisa desconhecida, mas profundamente desejada… Sonsorol poderia ser criada em qualquer lugar — nada cria empecilhos a não ser a consciência e o poder inflexível daqueles governantes que se alimentam de consciências falsas como vampiros. Nós convocamos uma rede de Port Watsons a envolverem a Terra: um, dois, muitos, um número infinito de Port Watsons! Deixe que aqueles que nos invejam transmutem a sua frustração em raiva e insurreição, em uma determinação para usufruir da utopia agora, e não em alguma terra do nunca depois da morte ou da Revolução. Nós alcançamos aqueles que têm saudades de nós no “terceiro mundo” dominado pela pobreza, no “segundo mundo” asfixiado pela ideologia e no “ocidente” despedaçado pelas ilusões. E nós sussurramos a milhares de quilômetros de distância para dizermos a eles: ‘Não percam a esperança: Port Watson existe dentro de vocês, e vocês podem torná-lo real’.”

Stevie-O

Wondersoul

Segunda-feira é dia de surfar no YouTube – e pra começar bem, vamos de Stevie Wonder… Se alguém quiser sugerir alguma, feel free.

— Ainda Little, mandando ver em “Fingertips
— Clipe de “Overjoyed“, bregueira classe dos anos 80
— Música-tema da Vila Sésamo
Superstition“, também na Vila Sésamo
— “As“, coisa fina…
— Stevie novaço, mandando ver no “For Once in My Life
— “Sir Duke” e “I Wish“, clássicos setenta em versões mais recentes, num canal francês
— Ponta no show da Chaka Khan, “Tell Me Something Good
— “Ribbon in the Sky“, outro momento bregão (ah, se todo bregão fosse nesse naipe…) – fala sério, ó os oclão…
— “Master Blaster“, reggaeira istaile
— “Don’t Worry About a Thing
— “You Are the Sunshine of My Life” em Londres
— “That’s What Friends Are For“, dessa você lembra…
— “Ebony and Ivory” com o Paul
— “Living for the City
— “Superstition” no programa alemão MuzikLaden
— Mais uma balada, setentona, “You & I
Cantando no funeral do Luther Vandross, ano passado. Vê se ele não é um dos caras…
— “Love’s in Need of Love Today” também no ano passado, com entrevista, para uma TV do Japão.

Vida Fodona #046: 1975, o melhor ano da história

Não, o programa não é sobre um só ano, quem sabe um dia eu faço isso. Por hora, mashups, groovezinhos molengas, pop 80tista, Fausto Fawcett revisited, eletro de leve, Temptations com Lennon, o pós-punk Brasil, nerdices e coisas desse naipe…

– “Chamaleon” – Herbie Hancock
– “Presidential Suite” – Super Furry Animals
– “Oahu Strum” – Soul-Junk
– “Head Over Heels” – Tears for Fears
– “By Your Side (Neptunes Remix)” – Sade
– “Am I High?” – N.E.R.D.
– “Eye Water (feat. Pharrell)” – Cassius
– “Funziona Senza Vapore” – Fellini
– “Kátia Flávia, a Godiva do Irajá” – Fernanda Abreu
– “Beethoven’s Gold” – A+D
– “2 Songs Crashed” – Blur vs. Gwen Stefani
– “Paris Four Hundred” – Mylo
– “Easy Love” – MSTRKRFT
– “Confused Imagination” – Team9

Vamo?

“Instant Karma” – John Lennon

[A]Instant Karma’s gonna get [F#m]you, [A]gonna knock you right on the [F#m]head
[A]You better get yourself to[F#m]gether, [F]pretty soon you’re [G]gonna be [A]dead
[D]What in the world you thinking [Bm]of, [D]laughing in the face of [Bm]love
[C]What on earth you tryin’ to [Am7]do, it’s [D]up to you, yeah [E9]you

[A]Instant Karma’s gonna get [F#m]you, [A]gonna look you right in the [F#m]face
[A]You better get yourself to[F#m]gether darling, [F]join the [G]human [A]race
[D]How in the world you gonna [Bm]see, [D]laughing at fools like [Bm]me
[C]Who on earth d’you think you [Am7]are? A [D]superstar? Well al[E7]right you are

Refrão
Well we [G]all [Bm]shine [Em]on like the [G]moon and the [Bm]stars and the [Em]sun
Well we [G]all [Bm]shine [Em]on [D]every one, [E9]come on

[A]Instant Karma’s gonna get [F#m]you, [A]gonna knock you of your [F#m]feet
[A]Better recognize your [F#m]brothers, [F]every [G]one you [A]meet
[D]Why in the world are we [Bm]here? [D]Surely not to live in pain and [Bm]fear[Bm7]
[C]Why on earth are you [Am]there? When you’re [D]everywhere, come and [Em7]get your share

Refrão
Well we [G]all [Bm]shine [Em]on like the [G]moon and the [Bm]stars and the [Em]sun
Well we [G]all [Bm]shine [Em]on [D]every one, [E9]come on

[A]Yeah yeah[F#m] al[A]righ[F#m]t [A]Ah [F#m]haa [C]Aaa[G]ah[A]h

Refrão
Well we [G]all [Bm]shine [Em]on like the [G]moon and the [Bm]stars and the [Em]sun
Well we [G]all [Bm]shine [Em]on [D]every one, [E9]come on