Cinco Perguntas Simples: Claudia Assef

, por Alexandre Matias

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Você diz o CD? Este tá gagá, coitado, acho que é questão de 10, 15 anos pra ele ir desta pra melhor. Porque não vai fazer mais sentido você manter músicas num formato que suporta tão pouca informação quando comparado, por exemplo, um DVD ou mesmo a um pen drive… E pra ouvir, pra transpotar, que ainda é o grande valor dele, aí é que a indústria vai ter que suar a camisa e criar um produto atraente o bastante – o que eu acho difícil, porque competir com a comodidade que é comprar as faixas que quiser, com capinha e tudo, pelo internet, sem tirar a bunda da cadeira… Tá ruim pro CD, viu…
Em compensação, realmente acredito que o vinil passa por mais esta com uma certa tranquilidade. Não é romantismo, não, tô dizendo porque cada vez mais artistas fazem questão de lançar seus trabalhos também em vinil. Em Londres e Berlim, lojas de departamento têm umas puta seções de vinil… E não é só pra DJ, não, tem muita gente que ainda curte ter uma capa legal – e vamos combinar que só aí o CD, coitado, já perde de 10 a 0 -, gostam de manusear o vinil… Outro dado que não me deixa mentir é que nunca quanto nestes anos 00 fabricantes como Numark e Technics investiram tanto em pesquisas pra criar novos features pra velha e boa pick-up…

2) Como a musica sera consumida no futuro? Quem paga a conta?
Se eu soubesse, já tinha vendido a fórmula pra alguma major e tava agora comendo mangabá embaixo de uma sombra lá em Moreré, hehehe. Mas, sério, acho que não nada muito de ficção científica aqui. O que temos hoje é uma evolução muito rápida do que uns dois, três anos atrás parecia coisa de idiota: se dá pra baixar músicas de graça na internet, pra que alguém vai pagar por este serviço, né? Só que o que vemos hoje é que as pessoas querem sim pagar pela 1) comodidade, você não precisa passar três dias e três noites atrás de uma música difícil 2) qualidade inquestionávelmente melhor dos arquivos comprados, muitas vezes até em flac, que é um formato que permite perda de qualidade 3) confiabilidade, vc não quer ouvir uma faixa sem ter certeza que as informações daquele MP3s estão corretas, né…
Eu mesma já baixei uma porrada de discos errados – com nomes trocados ou mal grafados… A venda pela internet é interessante pra quem compra por todas essas razões, é interessante pro artista, porque ele chega mais rapidamdente ainda no seu alvo final, que é o consumidor…
Só não é tão interessante pras gravadoras, né, porque num dá mais pra cobrar o olho da cara que custava um CD, já que não dá pra justificar gastos como distribuição, prensagem, arte final… Mas, olha, acho que até os tubarões mais famintos já se ligaram que é o jeito, é o caminho. Claro que eles terão que se acostumar a andar de Astra e não mais de Mercedez, mas é a vida…
Por outro lado, as gravadoras têm tido cada vez menos que arcar com custos de gravação, já que a tecnologia barata viabilizou a vários artistas entregar seus produtos prontos ou semi-prontos. Portanto, noves fora, as gravadoras ainda saem ganhando sim. Não mais rios de dinheiro, não dá mais pra ter departamento de imprensa com 17 pessoas trabalhando, não dá mais pra pagar pra Sula Miranda morar no Maksoud Plaza… Mas ninguém vai passar fome!!!!

3) Qual a principal vantagem desta epoca em q estamos vivendo?
Eu acho que é baixar a bola das gravadoras, sabe, quem precisa de Rolls Royce é a rainha da Inglaterra… Em segundo lugar, é igualar todo mundo. Tipo, quando eu era adolescente, até conseguia ter o que a molecada ouvia na Inglaterra, porque tinha um pouco de grana e sabia onde ir buscar – afinal morava em SP, então dava pra descolar coisas importadas nas galerias, na 7 de abril… Quando eu viajava pro interior, onde vivia a família do meu pai, a garotada me olhava como se eu fosse um ET: como, afinal, eu podia ter discos tão doidões, um visual que parecia que eu vinha de “Londres”, nossssssa, como eles me achavam moderna, e olha que eu comprava tudo aqui em SP mesmo… Imagina um adolescente do Acre nos anos 80???
Porra, a internet deu uma banana pra tudo isso. Hoje, não importa da onde você é, importa a tua essência e a tua vontade de ser. A localidade ficou restrita a coisas menores, como sotaque e alguns traços comuns, mas não mais por falta de acesso a “produtos” culturais.

4) Que artista voce soh conheceu devido aas facilidades da epoca em que estamos vivendo?
Ouvi Cansei de Ser Sexy pela Trama Virtual assim que elas colocaram as músicas lá, já faz um bom tempo. Atualmente, adoro as músicas do Caxabaxa, que eu também só ouvi pela internet. Fora um monte de coisa esquisita das milhares de net labels que tão por aí. Netlabel é tudo de bom! Os caras são mini-selos que realmente não visam nada além de divulgar músicas e artistas que eles adoram. E tudo com a maior qualidade – vai em qualquer netlabel, cê vai que as músicas todas têm mais de 10megas!!! São gigantes, pra manter a qualidade…

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra epoca?
Um HD com 32 gigas de música no meu laptop, fora uns HD externo que já tá chegando em quase 100 gigas, hehehehehe. Me sinto a própria “Hi-Fi” da r. Augusta ambulante.

Claudia Assef é editora da revista Beatz