Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Sim ou não?

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Supra-sumo

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2007, o ensaio

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The 50 loudest websites in 2006 and what made them successful

Before looking into who will make headlines next year let’s see what made websites successful in 2006. In short: Marketing, Content, Usability, Design and Behavior are the main factors that make a website work.

1. Internet Marketing is a combination of Presence (how well is it pushed? How known is it?) and Self Dynamic (how well does it market itself as a product?).
2. Interactive Content is a combination of Constructivity (is the content/service productively usable? Are the texts authentic? Do they incite to write? Are they leading to positive action?) and Uniqueness (are they genuine? Are they special?)
3. Usability is a combination of Structure/IA (Are the contents organized in an understandable way? Where am I? Where can I go?) and the organisation of the User Interface (Do I understand where is what and why? Do I understand how it works? Does it do what I expect it to do?)
4. Web Design is a combination of Typography (Is the text easy to read? Is the typography web adequate?) and Attention to detail (does the website care about the little things? Is it characteristic and delicate or just bold?)
5. Online Behavior is a combination of Interactive Ethics (do the authors/owners have a positive open-minded attitude? Do they follow the basic rules of good manners?) and Democracy (Are they working towards a democratic open web or do they work only for their own pocket?)

Internet 2007 Predictions

After looking closer at what made the web in 2006, it is time for some bold predictions:

1. Apple keeps its iPod monopoly and increases its OS 5% market share to 5.1%
2. Google scores against Microsoft and Yahoo due to its massive marketing data advantage
3. Blogs bloom, and prepare for the 2008 election
4. Social networks become a place where members make money
5. Newspapers open up
6. Big ad investments start streaming in
7. New Internet focused ad agencies open up
8. Viruses and spam become an even bigger hassle
9. Yet Digital ID initiates a major change that makes the web more reliable, user and investor friendly
10. All in all 2007 is a preparation for the big infolution in 2008

Tirei daqui.

Look Mom, No Ads!

Imagine se o YouTube fosse um arquivo dos seus desenhos, filmes, seriados e outros programas de TV. De graça, sem intervalos comerciais. Agora pare de imaginar e siga o link.

Trance quem puder

Outra materinha pra Bizz, que saiu na edição do mês passado, sobre trance…

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Comunidade planetária

O trance é um dos gêneros mais populares do mundo e do Brasil, mesmo que você não saiba o que seja, não conheça seus principais nomes e finja que não está cercado por ele

Se você, como eu e um número cada vez maior de pessoas (discotecar é o passo mais recente do DIY, não sei se você já se ligou), já se arriscou a botar som em uma festa que não seja exclusivamente freqüentada por amigos e conhecidos, provavelmente já se foi interpelado pela versão DJ do pedido “Toca Raul” que até hoje assola – mesmo que ironicamente – shows de bandas de rock Brasil afora.

“Toca psy!”, pede, cada vez mais, uma multidão formada por dezenas de milhares de brasileiros siderados por um dos gêneros mais populares do país. Caracterizado pela repetição de ciclos sintetizados derivada de uma fusão improvável entre um ambient mais experimental e uma house menos afetada e mais acelerada, o trance e sua versão mais populista, o psy-trance, movimentam cada vez mais gente não só no Brasil, mas no mundo todo.

O trance talvez seja um dos primeiros gêneros de música eletrônica pós-acid house a pisar em solo nacional. “As primeiras festas rolaram na Bahia e eram feitas por gringos que vinham passar o verão aqui em 93, 94”, conta Rafael Dahan, DJ residente e um dos organizadores de uma das maiores raves do Brasil, a Tribe. “Eu ainda destaco as atividades da Daime Tribe, como o festival Celebra Brasil no ano 2000, os festivais Trancendance em Alto Paraíso (Goiás) e os festivais Solaris de 2003 e 2005. Eles foram divisores de águas na cena e marcaram momentos de profissionalização e de desenvolvimento do gênero no Brasil”.

Além da Tribe, que recebe mais de 60 mil pessoas por ano em suas festas (em São Paulo, os eventos chegam até a 12 mil pagantes), outra festa tradicional é a XXXperience, liderada por um dos pioneiros do gênero no Brasil, o DJ Rica Amaral, que a fundou há dez anos, e que deve fechar 2006 com um público geral de 150 mil pessoas, que pagam entre 30 e 70 reais para passar horas e horas dançando sem parar. Isso sem que seja preciso trazer nomes conhecidos do público leigo ou fazer publicidade nos meios tradicionais, como guias de programação noturna, revistas ou cartazes pela cidade. Suas principais ferramentas de promoção são flyers, a internet e o boca-a-boca.

Mas ao contrário do que pode parecer, o trance não é um gênero esnobe e cultista onde termos em inglês como “cool”, “hype” e “fashion” pululam como onomatopéias do velho seriado do Batman. Aliás, o estilo musical está distante das colunas sociais dos (de)formadores de opinião noturna do país, onde é visto como um universo completamente à parte, às vezes cafona, às vezes ripongo. Altamente populista, o trance musical não é elitista e prega a tolerância e o espírito gregário, o que fez os cenários de suas festas aos poucos abandonarem galpões e clubinhos para ganhar parques, praias e serras Brasil afora – e seu público ser rotulado, rasteiramente, em uma personalidade eqüidistante entre as caricaturas do hippie e do playboy. O “trancêro” é visto de forma generalizada como um filhinho-de-papai que gosta de se embrenhar no mato, um maconheiro elite branca. Mas isso é tão correto quanto relativizar que quem gosta de rap é maloqueiro, que só dá pra ouvir música eletrônica tomando ecstasy ou quem gosta de Smiths é, no fundo, gay. Em uma palavra: burrice.

O trance está tão presente na sua vida quanto a axé music ou o hip hop – você pode até não gostar e fingir que isso não faz parte da sua rotina, mas com certeza conhece alguns bons amigos, parentes ou colegas de trabalho adeptos desta tribo enorme, que, além de migrar em massa para a Chapada dos Veadeiros (onde acontece a megarave Trancendance) ou para o sul da Bahia (onde Trancoso, há anos, já ganhou o apelido de “Trançoso” e raves como a Universo Paralello, que acontece na praia de Pratigi, em Ituberá, dão a tônica da região), ainda atrai estrangeiros da cena mundial para o Brasil.

Outro motivo para o trance parecer ausente do dia-a-dia dos que estão fora da comunidade é a inexistência de nomes de apelo popular e a dificuldade em se trabalhar comercialmente, para o grande público, um gênero musical que quase não tem vocais e cuja sonoridade é agressiva e repetitiva. Mas o gênero, que é musicalmente tão complexo, rudimentar e ruidoso quanto vertentes extremas do hardcore ou do heavy metal, aos poucos começa a ganhar os holofotes e DJs diretamente ligados ao gênero, como Tiesto, Infected Mushroom e Skazi freqüentam a lista de melhores do mundo da revista DJ Mag, a mais respeitada e celebrada votação eletrônica entre as publicações impressas.

“As pessoas geralmente nao entendem a construção da música, dizem que é muito barulhenta”, explica o DJ Feio, parceiro de Rica na XXXperience, “eu concordo, mas elas não sabem que dá um trabalho pra fazer um bom barulho”. “Pra mim, quem fala mal de trance é porque não conhece a fundo”, emenda Du Serena, também da Tribe, concluindo no espírito tolerante da nova tribo, “porém, gosto é gosto”.

Do Pink Floyd ao new trance

Embora seja possível traçar a origem do gênero em algum lugar entre “On the Run” do disco Dark Side of the Moon do Pink Floyd e o experimentalista alemão Klaus Schulze (trilheiro de filmes como “Síndrome de Andrômeda” e “Duna”, que, nos anos 80, lançou discos chamados Trancefer, de 1981, e En=Trance, de 1988), o trance começa como uma variante da acid house que, após um período de popularidade no final dos anos 80 (graças a hits da dupla de gênios-picaretas KLF, que juntou os elementos básicos do gênero), migrou para Frankfurt, na Alemanha, onde realmente nasceu como o conhecemos hoje.

O trance utiliza da repetição de oscilações musicais na mesma levada do techno ou da house, só que com uma velocidade de batidas por minuto muito mais alta. Aos poucos, e com a entrada do psy como sua vertente ainda mais popular, o gênero assume o posto que um dia foi do breakcore, do grime, do gabba e do jungle – música eletrônica para dançar extremamente barulhenta, usando os ruídos sintéticos no limite da tolerância auditiva repetidamente, criando o tal estado de transe que o batiza. A diferença básica entre os gêneros anteriores e o trance vem do fato deste não ser fruto de uma cultura de rua com referências de música negra, como os rótulos citados anteriormente. Sem batidas quebradas e com suíngue marcial, o trance é fruto específico do senso rítmico germânico. E a Love Parade em Berlim, evento que reúne um milhão de pessoas, cuja trilha sonora regula principalmente ao redor do trance, é o mais próximo de um carnaval brasileiro que pode acontecer em terras alemãs.

Mas o trance ainda é um gênero em formação e seus pioneiros estão atingindo a maturidade musical agora, justamente no momento em que os adeptos se reproduzem aos milhares. Junto com esta boa maré, surge mais uma “renovação” genérica do estilo que, diferente de suas vertentes populares, desperta o interesse cult que movimenta parte da música eletrônica para dançar. O new trance usa características e timbres do trance, mas sua cadência é mais lenta e sua estética, minimal, sem os excessos da cena mais roots. “É o antigo eurotrance repaginado e mais popularizado”, explica o DJ Feio, citando nomes do novo braço da comunidade planetária: Air Hustlers, Perry O’Neil, Cosmix One, Super 8 & DJ Tab e Hiver & Hammer.

Conhece? Nem eu. Ainda.

Rage fake

Outra resenha pruma Bizz do ano passado…

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Revelations – Audioslave

Lembro quando voltei de Cuba no começo deste ano, uma das notícias que se transmitia no circuito interno de TV do avião era sobre o show do Audioslave em Havana, na Plaza de La Revolución, que eu acabara de deixar para trás. Automaticamente me senti como se estivesse visitado o castelo medieval que pertencera a Jimmy Page e, antes dele, ao mago Alleister Crowley, imaginando quem poderia ser o substituto de Robert Plant caso Bonham tivesse sobrevivido às quarenta vódegas e o power trio quisesse continuar mais uma década, de novo vocalista.

Porque o Rage Against the Machine foi o Led Zeppelin de parte da minha adolescência (o da parte anterior foi, er, o próprio Led Zeppelin) – uma usina de força e de sonoridade angulosa, riffs que soavam como machadadas de ritmo no córtex, evocando os tribalismos primitivo, metaleiro, rapper e punk ao mesmo tempo. O fato de o vocalista ser um rapper em vez de um vocal “olímpico” (como o Tomate lembra de vozes à Dio, por exemplo) funcionava perfeitamente para aquele começo dos anos 90, pós-Beastie Boys e Public Enemy.

Mas com Chris Cornell nos vocais, algo derrapa – e feio. O som potente e agressivo da banda é jogado a um pântano grunge de soluções pop fáceis e toda modernidade irresistível do instrumental fica presa a uma espécie de tentativa de Dave Grohl via metal, um evil Peter Frampton que mal convence adoradores de bandas de casal (Jota Quest, Dave Matthews Band, Gram, Coldplay, Pearl Jam, Ludov e afins).

Revelations repete os mesmos erros (ou “acertos”, dependendo da sua definição de “bom gosto”) dos discos anteriores e mantêm-se na mesmice achatada dos vocais de Cornell – pretensamente ousados. A cada frase elétrica explicada pelo instrumental da banda espera-se a aparição gritalhona e funk metal de Zack de La Rocha. Mas em vez disso, vem o cantor da propaganda de cigarro, com aquele vocal emocionado e rasgado, aquele tipo de metaleiro poseur que pensávamos que Seattle havia ridicularizado de vez. Imagina o que o espírito do Crowley pensaria de um Led com, sei lá, Jon Bon Jovi nos vocais. Não é à toa que o Fidel até bambeou esse ano…

Mashup power

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Coluneta na Trip deste mês

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1 + 1 = 1!

Mais justaposições que habitavam apenas nosso subconsciente

“Don’t Fight It, Feel It” (Gameover’s Don’t Fight It Steal It Mix) – Primal Scream
Disco dominado por mashupeiros – tá lá o Team9, Fakeid, Go Home –, este Primalscreamremixed.com não existem nem mais no site que o batiza, mas anda flanando pelas redes de P2P do planeta. Consiste um retrabalho (por vezes noisy, outras cyberpunk) faixa-a-faixa no disco mais célebre do Primal Scream e, pra mim, o melhor disco dos anos 90, o Screamadelica. E nessa, Gameover funde uma das melhores faixas do disco com “Deeper Underground”, do Jamiroquai, e não só fica legal, como faz sentido! Neguinho sempre olha pros Warp e big beatters da vida e esquece de ver que até o pop mais tradicional foi diretamente influenciado pelo Primal Scream fase reive.

“Velvet Sugar” – Go Home Productions
Mark Vidler pega o piano martelado com batera e guitarra na introdução de “Waiting for My Man” do Velvet, deixa a voz de John Cale em “The Gift” narrar o comecinho da faixa, antes de deixar os Archies assumirem o vocal com “Sugar, Sugar” (“Aaahnn, honey-honey”, é, aquela da abertura daquela novela das seis que tinha um sujeito apelidado de Papagaio), o assovio de “Where’s Your Head At?” do Basement Jaxx e uns “yeah” tirado de algum disco de soul (ou de hard rock farofa?). Heresia? Total. Mas parece Jesus & Mary Chain, hahahaha…

“Hurts Like Teen Spirit” – DJ Dangerous Orange
A parte lenta do hit maior do Nirvana repetido ad eternum, enquanto entra Johnny Cash, grave, fúnebre, para abrir espaço, no refrão, para os vocais centrais de “Don’t Fear the Reaper”, do Blue Oÿster Cult, e algum beat de “Blue Monday”, do New Order. Uma salada daquelas improváveis, mas que aguçam o paladar auditivo ao colidir universos distintos – e ao mesmo tempo criando uma ambientação que faça sentido para os três grupos, country, hard rock, rock alternativo. Uma pérola.

Damn, Girl

Resenhinha do disco novo do Justin que saiu na Bizz de novembro

FutureSex/LoveSounds – Justin Timberlake
Ele vem sem muita conversa, sem muito explicar: “Faço o ‘sexy’ voltar/ Esses putos vêem como ataco/ Se a mina é a sua, melhor se cuidar/ Porque ela me quer e isso é fato”. O andar é robótico, o vocal assexuado, a letra ambígua – passiva e ativa, agressiva e submissa. Entra o produtor Timbaland na rima “Vem aqui/ Aqui atrás/ VIP” e Justin repete apenas “Go ahead, be gone with it”, ao acelerar a intensidade do encontro furtivo sobre um entrançado sintético de vozes, beats e timbres oitentistas que despe toda vulgaridade do R&B pós-Britney e veste-se impecável, na medida. “SexyBack” peita “Crazy” e “Steady as She Goes” pelo posto de single do ano com a marra conjunta do star-system dos anos 80: ombros de George Michael, falsete de Prince, língua de Madonna, pés de Michael Jackson. FutureSex/LoveSounds segue exatamente a mesma medida e separa a sensualidade da nudez, o sexo da cópula. Como os grandes registros sonoros deste 2006, o segundo de Justin não é pertence ao hip hop, à eletrônica ou ao R&B, e sim ao Pop com pê maiúsculo. Como a produção da dupla Neptunes do disco anterior antevia, o ex-N Sync é um artista do quilate de Eminem, só que troca a ironia e o humor cáustico pela classe e observações “maduras” e a putaria e a escrotidão pelo estilo e a finesse. Sem medo de dar certo, Justin reinventa-se melhor que Robbie Williams, Beyoncé, Ron Howard, Victoria Beckham, Ricky Martin, Macaulay Culkin ou qualquer outro astro juvenil que quis ser levado a sério depois da adolescência – seu único rival, ainda imbatível, é ninguém menos do Michael Jackson fase Quincy Jones. Sério candidato a disco do ano.

Vida Fodona #066: O primeiro de dois mil e sete

Pra começar o ano com os DOIS pés certos.

– “Magnificent Seven” – Clash
– “Pebble Beach” – Vince Guaraldi Trio
– “Verão Carioca” – Tim Maia
– “A Linha QUe Cerca o Mar” – Wado
– “It’s Summertime” – Flaming Lips
– “Higher than the Sun (7″ Mix)” – Primal Scream
– “Cool it Down” – Velvet Underground
– “Vitrine Viva” – Ira!
– “Near Wild Heaven” – R.E.M.
– “Middle of the Road” – Pretenders
– “Get Down Only” – Totom
– “ToxicSong” – Embriaguez de Sucesso
– “Hey Mr. Bichos” – João Brasil
– “Steppin’ Out” – Joe Jackson

Boraê.

Futuro preto

Essa entrou na Tesouros Perdidos daquela Bizz com o Lennon na capa.

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Eu Sou o Rio – Black Future
Entre a “Copacabana” de Dick Farney e a “L.A.P.A.” de Marcelo D2 há um imenso abismo. Afinal, o Rio de Janeiro mutou-se formidavelmente em pouco mais de 40 anos: de Acapulco do Sul à Favelópole pró-Garotinho, há mais do que um amadurecimento cultural ou uma decadência de estilo, como visões rasas poderiam supor. Quando o governo federal fez as malas para o cerrado prometido de JK, deixou a antiga maior cidade do país perdida, em busca de uma Ipanema que existiu mais no saudosismo de atuais sexagenários do que de verdade.

Mas, enquanto a bossa nova e o turismo procuravam novas opções, o Rio foi reinventado pela necessidade da juventude local – é preciso se divertir, afinal. Na década de 80, Zé Carioca reencarnou em Evandro Mesquita, Fausto Fawcett documentava tudo e Hermano Vianna ajudava o DJ Marlboro a inventar o funk carioca. Quando os 90 começaram, o mapa da cidade já havia sido redesenhado – cabia a bandas como Planet Hemp, Funk Fuckers, Second Come, Piu-Piu e Sua Banda, Soutien Xiita, Gangrena Gasosa, Dash, Acabou La Tequila e PELVs divulgá-lo, ainda que via underground, para o resto do Brasil.

Mas antes disso, apareceu um pequeno caroço no pop rock carioca. O rock dos anos 80 começava a se paulistanizar (roupas pretas, penteados pra cima, teclados soturnos, baixo slap, vocal falado) e a sombra desta nuvem negra veio parar do outro lado da Dutra: era o Black Future.

O grupo teve vários formações mas era reduzido à dupla Satanésio e Tantão que, como seus pares paulistas, tentavam entender – em alguns casos, imitar – o que estava acontecendo na Inglaterra depois do punk. Diferente de seus pares paulistas, no entanto, tinham o suingue do samba e o sotaque carioca.

O que não facilitava as coisas – pelo contrário. O som é quase sempre ruidoso, hermético, quadrado, kraut. Doses cavalares de pós-punk (Joy Division e Pere Ubu na veia) com eletrônica naïf, funk torto e baixo pronunciado, berros de pânico e desespero (Artaud no talo), guitarras que grunhem, gemem, guincham. “Não existe mais magia”, urra Satanésio, “os deuses acabaram”. Acompanhando a banda, músicos que ajudam a compor um cânone do experimentalismo pop brasileiro naquela década: o guitarrista Edgard Scandurra, Edu K e Biba do De Falla, o jornalista Alex Antunes, o poeta Chacal, o titã Paulo Miklos e a produção de Thomas Pappon, do Fellini.

Seu único disco lançado – Eu Sou o Rio, de 88 – é um ET na discografia brasileira lançada pelas multinacionais no Brasil. Figuraria mais nobre e plausível no catálogo da Wop Bop, por exemplo, entre o Harry e o Vzyadoq Moe. É quase incrível que uma gravadora que não tivesse apenas interesse estético no disco pudesse ter lançado isso por aqui. Um feito heróico – que só existe em vinil.