Damn, Girl

, por Alexandre Matias

Resenhinha do disco novo do Justin que saiu na Bizz de novembro

FutureSex/LoveSounds – Justin Timberlake
Ele vem sem muita conversa, sem muito explicar: “Faço o ‘sexy’ voltar/ Esses putos vêem como ataco/ Se a mina é a sua, melhor se cuidar/ Porque ela me quer e isso é fato”. O andar é robótico, o vocal assexuado, a letra ambígua – passiva e ativa, agressiva e submissa. Entra o produtor Timbaland na rima “Vem aqui/ Aqui atrás/ VIP” e Justin repete apenas “Go ahead, be gone with it”, ao acelerar a intensidade do encontro furtivo sobre um entrançado sintético de vozes, beats e timbres oitentistas que despe toda vulgaridade do R&B pós-Britney e veste-se impecável, na medida. “SexyBack” peita “Crazy” e “Steady as She Goes” pelo posto de single do ano com a marra conjunta do star-system dos anos 80: ombros de George Michael, falsete de Prince, língua de Madonna, pés de Michael Jackson. FutureSex/LoveSounds segue exatamente a mesma medida e separa a sensualidade da nudez, o sexo da cópula. Como os grandes registros sonoros deste 2006, o segundo de Justin não é pertence ao hip hop, à eletrônica ou ao R&B, e sim ao Pop com pê maiúsculo. Como a produção da dupla Neptunes do disco anterior antevia, o ex-N Sync é um artista do quilate de Eminem, só que troca a ironia e o humor cáustico pela classe e observações “maduras” e a putaria e a escrotidão pelo estilo e a finesse. Sem medo de dar certo, Justin reinventa-se melhor que Robbie Williams, Beyoncé, Ron Howard, Victoria Beckham, Ricky Martin, Macaulay Culkin ou qualquer outro astro juvenil que quis ser levado a sério depois da adolescência – seu único rival, ainda imbatível, é ninguém menos do Michael Jackson fase Quincy Jones. Sério candidato a disco do ano.