Rage fake

, por Alexandre Matias

Outra resenha pruma Bizz do ano passado…

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Revelations – Audioslave

Lembro quando voltei de Cuba no começo deste ano, uma das notícias que se transmitia no circuito interno de TV do avião era sobre o show do Audioslave em Havana, na Plaza de La Revolución, que eu acabara de deixar para trás. Automaticamente me senti como se estivesse visitado o castelo medieval que pertencera a Jimmy Page e, antes dele, ao mago Alleister Crowley, imaginando quem poderia ser o substituto de Robert Plant caso Bonham tivesse sobrevivido às quarenta vódegas e o power trio quisesse continuar mais uma década, de novo vocalista.

Porque o Rage Against the Machine foi o Led Zeppelin de parte da minha adolescência (o da parte anterior foi, er, o próprio Led Zeppelin) – uma usina de força e de sonoridade angulosa, riffs que soavam como machadadas de ritmo no córtex, evocando os tribalismos primitivo, metaleiro, rapper e punk ao mesmo tempo. O fato de o vocalista ser um rapper em vez de um vocal “olímpico” (como o Tomate lembra de vozes à Dio, por exemplo) funcionava perfeitamente para aquele começo dos anos 90, pós-Beastie Boys e Public Enemy.

Mas com Chris Cornell nos vocais, algo derrapa – e feio. O som potente e agressivo da banda é jogado a um pântano grunge de soluções pop fáceis e toda modernidade irresistível do instrumental fica presa a uma espécie de tentativa de Dave Grohl via metal, um evil Peter Frampton que mal convence adoradores de bandas de casal (Jota Quest, Dave Matthews Band, Gram, Coldplay, Pearl Jam, Ludov e afins).

Revelations repete os mesmos erros (ou “acertos”, dependendo da sua definição de “bom gosto”) dos discos anteriores e mantêm-se na mesmice achatada dos vocais de Cornell – pretensamente ousados. A cada frase elétrica explicada pelo instrumental da banda espera-se a aparição gritalhona e funk metal de Zack de La Rocha. Mas em vez disso, vem o cantor da propaganda de cigarro, com aquele vocal emocionado e rasgado, aquele tipo de metaleiro poseur que pensávamos que Seattle havia ridicularizado de vez. Imagina o que o espírito do Crowley pensaria de um Led com, sei lá, Jon Bon Jovi nos vocais. Não é à toa que o Fidel até bambeou esse ano…