Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Mupp Fiction

Meu Chappa

Os caras do Chappa Quentefizeram videozinhos compilando o que rolou nos debates do evento. O meu tá aí em cima, mas têm outros aqui. Abaixo, a resenhinha que saiu no site sobre a mesa que eu fiz parte.

NOVAS PLATAFORMAS, NOVAS OPORTUNIDADES, NOVOS COMPORTAMENTOS
22 DE MARÇO DE 2007

MÚSICA CHAPPA QUENTE – YOUTUBE, MYSPACE, NAPSTER, iTUNES, etc: as novas plataformas on-line

A quarta discussão do MCQ veio selar uma impressão latente desde o primeiro debate: os temas discutidos sempre espalham seus tentáculos pelas mesas futuras, não se acomodando à compartimentação imposta pelo formato. Isso significa que muito se falou sobre as novas plataformas, mas que essas plataformas constantemente puxavam outras inquietações, deixando claro que a nova música pede, também nos debates, uma nova abordagem. Passava longe, porém, a idéia de crise: a professora Gisela Castro (ESPM) e os tecnólogos Jarbas Jácome (do grupo pernambucano de incentivo à tecnologia C.E.S.A.R.) e André Valle (FGV) compartilhavam otimismo com os jornalistas Alexandre Matias (do blog Trabalho Sujo) e Marcelo Ferla (Rádio Ipanema). Tudo por conta de uma revolução de costumes iniciada no quarto de um universitário norte-americano, que respondia por um hoje famoso apelido: Napster.

“Quando o Napster saiu, eu estava dando um curso para executivos da indústria fonográfica”, contou André Valle. “Tragam ele para o seu lado, eu disse, porque as pessoas vão se acostumar a não comprar mais música”. A indústria, porém, perdeu tempo tentando frear o avanço tecnológico. Resultado: provocou queda de credibilidade junto ao público jovem, e com isso, segundo André Valle, comprou a sua lápide. “Só falta colocar a data”, completou. A professora Gisela Castro conversou com jovens consumidores de música para sua pesquisa acadêmica sobre esses novos costumes. “Muitos disseram se sentir contentes por lesar a indústria, pois ela merece ser lesada mesmo”, afirmou. “Para eles, pirata é quem cobra por aquilo que não é dele. Trocar música na internet faz parte do espírito fundador da rede”. Jarbas Jácome estava em pleno acordo:

“A cultura é o que determina o que é certo e o que é errado. A troca de arquivos já se tornou cultura. É um processo sem volta”.

Esse tipo de relação, porém, é só a ponta de um gigantesco iceberg. As gravadoras processaram o Napster e conseguiram proibir suas atividades (ao menos da maneira que elas se davam). Mas não eliminou, com isso, a nova filosofia de interatividade e compartilhamento iniciada pelo programa, e que daria rosto àquilo que hoje conhecemos como internet 2.0. Google, YouTube, MySpace, iTunes, Last.fm, Pandora e até mesmo o sistema de dicas da Amazon tiraram, todos, proveito das principais características de compartilhamento pioneiras da criação de Shawn Fanning. Aquele ato de quase-vandalismo inicial tornou-se um mercado multimilionário. “O mundo todo busca informações no Google. Então o Google tem o registro das intenções do mundo. E informação é poder”, raciocinou André Valle. “A internet é um mostro da democracia da informação”, completou o representante do grupo recifense de incentivo a novas tecnologias C.E.S.A.R. “O Google é um fenômeno de pré-burguesia”, interpretou o jornalista Marcelo Ferla. “Aparentemente não tem dinheiro envolvido, mas há a troca de serviços. E todo mundo sai ganhando”.

Curioso, portanto, que as novas tendências tecnológicas tragam de volta, ao menos na aparência, práticas tão arcaicas como a troca, o compartilhamento, o escambo, e problematiza a noção de propriedade. O que não significa, porém, que o capitalismo está ameaçado. “Cada vez mais pessoas estão descobrindo como ganhar dinheiro em cima da rede”, disse Alexandre Matias. “A internet tem um cara subversiva muito grande”, completou Ferla. “É o momento de deixar de percebe-la como subversão, e aprender a trabalhar com ela”. E se a indústria fonográfica como hoje conhecemos estiver com os dias contados, o mesmo pode ser dito sobre a tecnologia vigente. Embora hoje o mp3 substitua os discos físicos, a prática de baixar arquivos está muito associada às condições de conexão atuais. Com os avanços das redes de internet wi-fi, e o surgimento de novidades como o Slacker, a tendência é que a rede se torne um disco rígido comunitário infinito, e as pessoas não precisem mais sequer armazenar dados e músicas em suas máquinas particulares. Uma vez que o mundo decida não mais pagar por música, os artistas precisarão aprender a ganhar dinheiro de outras formas.

“Se por um lado as vendas de cd diminuíram, por outro as pessoas pagam mais caro pelos shows, por exemplo”, explicou André Valle. “Tudo indica que novos hábitos de consumo estão se consolidando”, concordou Gisela Castro. “Parte desta prática que a indústria chama de pirataria, nós podemos chamar de novas práticas de consumo”, completou. “O importante é descobrir novas maneiras de se ganhar dinheiro em uma atividade que estava acostumada com um modelo consolidado há muito tempo”, disse Marcelo Ferla. “O que eu acho que é a grande diferença, é que agora existem várias possibilidades de trabalho”, completou. “Acho que com a internet, não vai haver mais uma tendência predominante”, disse Matias. “É o fim do mainstream. É a pulverização do underground”.

E se nessa nova configuração musical não houver espaço para a indústria fonográfica, ela também terá que migrar para outras atividades. “A Sony tem um dilema interessante”, diz Alexandre Matias, “porque ela é uma empresa que distribui conteúdo, mas que também produz tecnologia”. Para André Valle, o amante de música tem crédito suficiente com a indústria para não deixar os downloads ilegais pesarem em sua consciência:

“Quando compramos o vinil, por exemplo, pagamos não só pelo suporte físico, mas pelo direito de ouvir aquelas músicas. Quando saiu o CD, compramos o mesmo direito novamente. Já pagamos várias vezes por um mesmo produto”.

O que realmente está mudando é a maneira das pessoas se relacionarem. A democratização exaltada por Jarbas Jácome acontece não só com a informação, mas também dentro do próprio sujeito. Se por um lado criações como o Second Life oferecem, em tese, a oportunidade de se ter uma vida diferente, Alexandre Matias acredita que a rede também permite que essa segunda vida não seja mais necessária:

“A separação das vidas real e virtual vai acabar. O grande barato da internet é a possibilidade se expressar, e quanto mais transparente você for, maiores as chances de você ser bem sucedido na rede. Em vez de o cara ser advogado durante o dia, e gótico à noite, a internet nos ensina que você pode ser advogado e gótico ao mesmo tempo. Ela nos ensina sobre tolerância”.

(por Fábio Andrade)

Apocalypse Now

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Apocalypse Now (Apocalypse Now, 1979, EUA). Diretor: Francis Ford Coppola. Elenco: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall, Dennis Hopper. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e dos Globos de Ouro de melhor diretor, melhor ator coadjuvante (Duvall) e trilha sonora. 153 min. (versão original)/ 202 min (Redux). Por que ver: Antes de ouvirmos as primeiras palavras ditas em voz alta pelo protagonista, assistimos à mistura de imagens, sons e idéias que, em pouco mais de um minuto, sintoniza nossa consciência ao trauma da guerra dos Estados Unidos no Vietnã: uma floresta de palmeiras, rasantes de helicópteros, uma névoa amarela que cresce junto com o instrumental dos Doors – Jim Morrison saúda as bombas sobre as árvores com seu “This is the end” clássico, enquanto vemos o enorme rosto de Martin Sheen de cabeça para baixo. “Saigon. Merda…”, diz o Capitão Willard, ao olhar a cidade pela veneziana, “ainda estou em Saigon”. Coppola adapta o Coração das Trevas de Joseph Conrad para o cinema transpondo a África e seus entrepostos comerciais do século dezenove para um contemporâneo Sudeste Asiático em guerra, mas preserva sua essência: a viagem a um inferno verde que também é uma viagem ao centro da sanidade mental. A missão de Willard é encontrar um certo Coronel Kurtz, um dos melhores militares do exército americano, que, após ser transferido para o meio da selva do Vietnã, aparentemente pirou e criou sua própria base militar autônoma. Na jornada, Willard é acompanhado de um time de jovens soldados que são uma boa amostra do tipo de jovens americanos que morreram nesta guerra (um moleque do Bronx nova-iorquino – Laurence Fishburne, então com 17 anos – , um ex-campeão de surfe, um chef de cozinha…) e passam por situações tão surreais quanto tétricas. O horror da guerra é transformado em uma ópera de cenas inacreditáveis, com toda a teatralidade do sangue italiano do diretor surgindo em imagens grotescas e hilárias, às vezes, ao mesmo tempo. E com um elenco impecável – a melhor atuação de Sheen, Hopper interpretando a si mesmo, Brando improvisando, Duvall épico –, Coppola supera a saga da família Corleone em um único filme, fazendo sua obra-prima. Mas Apocalypse Now é um filme maior do que sua duração: foi bancado todo com a grana que Coppola faturou com os dois primeiros filmes da série O Poderoso Chefão, levou três anos para ser concluído, teve o set destruído por um furacão, mudou de protagonista duas vezes (Roy Scheider e Harvey Keitel abandonaram o papel), teve problemas com Brando (que se negava a seguir o roteiro), enfartou o ator principal (durante as filmagens da primeira cena) e levou sexo, drogas e rock’n’roll para as Filipinas, onde foi filmado, em escala hollywoodiana. Tanto foi filmado que o diretor lançou sua versão autoral, chamada “Redux”, em 2001, acrescentando 49 minutos de cenas inéditas. Fique atento: Outro show de cenas fantásticas e texto preciso, é difícil sublinhar um só momento ou aspecto: da respiração tensa de Willard ao batalhão de caubóis em helicópteros liderados pelo personagem de Duvall, passando pelo tribalismo psicótico das cenas finais e a atuação plena de Brando – que só aparece no finzinho, mas com menos de vinte minutos de filme já toma o inconsciente de assalto, apenas com a voz, tudo é uma aula de cinema.

2001 – Uma Odisséia no Espaço

Vou começar a desovar alguns textinhos meus presentes no livrinho 300 Filmes para Ver Antes de Morrer (que eu editei junto com o Maron, via Globo) aqui no Sujo, mas o volume impresso tem um monte de minibios, listinhas e outras curiosidades, além de outras tantas resenhas, com o crivo moral de Fred Leal (forçaê, compadre!), Arnaldo Branco, Vladimir Cunha, Dafne Sampaio e outros bambas. Dá uma sacada nele depois, quando tiver na banca, e veja se não vale a leitura. Aqui, um primeiro aperitivo.

E, claro, 2001.

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2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001 – A Space Odissey, 1968. EUA). Diretor: Stanley Kubrick. Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, Douglas Rain. 141 min. Por que ver: Se você ainda está procurando um sentido para entender 2001, você não entendeu a principal lição do cinema. Deixe-se levar, conduzir pela harmonia proposta pelo diretor à visão e audição do espectador, entregar-se à imaginação alheia, conduzida a uma outra dimensão, um mundo literalmente feito de luz e som – como o nosso. 2001 é a Mona Lisa em movimento, seu sorriso cético e cínico e olhar onipresente transformados em uma parábola sobre a existência humana, que, em uma fração de segundo, reduz a História com agá maiúsculo a uma simples troca de ferramentas, o osso pela espaçonave. 2001 é uma sucessão interminável de cenas perfeitas – com o círculo usado como régua de precisão (o olho-rosto de HAL 9000, o formato da nave, o alinhamento dos planetas) e toda a paleta da música erudita (o clichê instantâneo de Zarathustra, o manjado Danúbio Azul e o fantasmagórico Réquiem do húngaro Ligeti assumem novas formas quando projetados ao espaço) à disposição da megalomania de Kubrick. Baseado no conto O Sentinela, do escritor de ficção científica (e roteirista do filme) Arthur C. Clarke, o filme lida com níveis de inteligência sobre-humanos que incitam o macaco à evolução até o ser humano, para, daí, partir para uma nova etapa de consciência. O ritmo lento e a placidez estéril do computador HAL – ironicamente, o personagem mais carismatico do filme – contribuem para o crescendo de ópera do filme, que pode parecer sonolento para olhos mais distraídos, mas são cinema lapidado em plena perfeição. Fique atento: Não pisque. Mais de duas horas de puro espetáculo cinematográfico: a dança dos planetas, as aparições do monolito, a hipnose e o despertar da consciência de HAL (pense bem, um robô que diz “Espere um minuto…”?), o espetáculo de cores do final, a conclusão inconclusiva. Como o maior road movie de todos os tempos (e talvez o maior filme de todos os tempos), ele atesta que o que importa é a viagem, não o destino.

A sua vida, saca?

ou Como o desemprego é uma ilusão

Prepare-se para ser demitido. Nah, não tô te rogando praga nem exercendo futurologia trabalhista rastaqüera a esta hora da madrugada. Tudo bem que o tom é imperativo e soa dramático, mas meu ponto de vista é mais zen que apocalíptco.

Aceite isto como uma realidade: você vai ser demitido. Quando você menos esperar, por um motivo indefensável, alguém vai lhe dizer que não precisa mais dos seus préstimos e que você pode trazer a carteira de trabalho e passar amanhã no RH. Não, não adianta falar “mas eu…”. É fato, você está no olho da rua.

E agora?

Eis você, sem emprego. Cheio de contas para pagar. Durango. Puto. Nervoso. Impaciente. Tenso. E, pior, sem perspectiva do que fazer daqui pra frente.

Esse é o grande segredo das corporações: te pegar de surpresa, te tirar o emprego como se tirasse o chão, o rumo, o sentido da vida. De certa forma, elas têm razão, afinal de contas, o jeito com que conduzimos nossas próprias vidas em relação ao assunto “trabalho” faz com que pareçamos apenas escravos, que trocam chibatadas pela satisfação insatisfeita de fingir que tudo vai bem no teatro que é a sociedade.

E isso porque simplesmente deixamos de viver sem perspectivas, como se o emprego fosse duradouro, eterno. É este o sentido por trás de tudo: você continuar, para sempre, fazendo exatamente a mesma coisa que sempre fez desde o começo, peça mecânica sem ambição profissional ou vontade de viver, pronta para ser substituída.

E tudo isso em troca de um abono mensal que, por pior que seja, sustenta uma vida mediana e paga aquilo que precisamos comprar para que nos sintamos vivos – discos, cinema, drogas, TV a cabo, praia, viagem pra gringa, noitadas, acesso à internet, telefone, roupa, leituras, carros e sexo, basicamente. Chamamos isto de “entretenimento”.

E vivemos nos “entretendo”, achando que esta forma rasteira de diversão (afinal, entretenimento sequer é diversão, e sim apenas uma forma de distrair, passar o tempo) é onde devemos gastar nossa energia orgônica. E passamos 12, 14, 16 horas enfiados em salas com pessoas que aprendemos a aturar na marra, almoçando com alguns com “quem tenhamos afinidade” (eufemismo para aqueles que temos menos atrito), destilando veneno no café e criando, sem saber, pedras nos rins, feridas no fígado e no estômago, tumores.

Comece calcular quantas horas semanais você dedica ao tema “trabalho”, incluindo aquelas quatro horas diárias morgadas em frente à TV que você finge que são dedicadas a “esvaziar o cérebro”. Não, ele não está esvaziando, está apenas fazendo com que você quique conceitos na cabeça sem se dar conta disto.

Ao mesmo tempo, a TV te bombardeia com símbolos de sucesso, sinônimos de felicidade e notícias de pessoas que desistiram da regra. Os telejornais vão em uníssono com os comerciais: empregado, bom; desempregado, ruim. E lá está você, derretendo nos raios catódicos, assimilando informações que, sem que você perceba, digam claramente o quão vegetal você é e merece ser. Entra o comercial com a gostosa magrinha e o galã de queixo e peitoral largo. Você não é um, nem outro. Sinal vermelho, volte pro fim da fila.

E sequer pense que você pode ficar desempregado. Afinal, isto nunca vai acontecer. Ao menos que, hm, aconteça.

A imprevisibilidade do desemprego é algo encarado nas repartições de trabalho como uma catástrofe natural, um raio, uma chuva de granizo. Mas qualquer um que decida olhar a situação com um pouco de distância sabe que os movimentos são estratégicos como o xadrez e, para usar um termo em voga (e à mercê), vão direto na auto-estima do cidadão.

Por isso, prepare-se para ser demitido. Assim, quando a verdade chegar para você em forma de um bilhete azul, você não vai se sentir um marido traído. Aceite os fatos, você está fora. E agora?

E agora a sua vida, seu merda. Afinal de contas, o que é isso que você chama de vida? Você só consome, consome, consome e daí? O que você ganha com isso? Qual é o sentido disso tudo? Pilhas de livros, pilhas de discos, pilhas de bookmarks, pilhas de MP3. O que você vai fazer com tudo isso? Além de rótulos íntimos de sua personalidade, que mais eles são?

Pense no que você faz hoje. É o que você quer da vida? Você vai morrer e como vai entrar pra história? Funcionário do mês? Operário padrão? Profissional do ano? É este tipo de herança que você quer? Que seus filhos olhem na parede da Fiesp e descubram que você foi o chapeiro do mês em agosto de 2016? Para entrar na posteridade, basta virar nome de rua?

É para aí que você caminha, empregado. E digo com repulsa, com PENA, de você, que tem um patrão fungando em seu cangote prazos e rejeições às suas idéias despencando em seu dia-a-dia como colheres de açúcar no balde de café que você toma de hora em hora.

Por isso, insisto: o que você quer realmente da vida? O que você gosta de fazer? Você ao menos consegue responder a estas perguntas?

Caso positivo, é bem provável que você trabalhe com o que gosta, e esteja começando a duvidar que realmente goste daquilo. Normal, esta é a tática do patrão. Ou pode ser que você esteja desempregado e, mesmo discordando do conceito que ficar desempregado é legal, tendo concordado com boa parte do que eu já disse. Falamos sobre isso mais adiante.

Mas caso você não consiga responder a estas perguntas, não se desespere.Há milhões de pessoas vivendo uma situação idêntica à sua e sequer cogitaram, como você, sobre a possibilidade de estar fazendo algo que preste.

Se você não sabe o que quer, a culpa não é sua. A culpa é de um sistema autoritário que embute na sua cabeça que você tem que, na flor da adolescência (os vinte), definir o que você quer da vida. Só gênios ou robôs sabem o que realmente querem aos dezoito anos, por isso considere que a sua opção de terceiro grau foi errada. Que você fez um curso que não tinha tanta certeza e que provavelmente trabalha com uma área que não diz muito respeito às suas qualidades. É bem provável que você tenha uma gravadora, uma banda, um site ou ao menos um blog, que é onde você deixa suas verdadeiras intenções virem à tona.

Normal. Seria mais normal se você conseguisse se expor assim com todo mundo. Mas, não, o único lugar que você consegue se abrir é no seu blog. No seu fundo de caderno. Nos resmungos durante uma partida de videogame. Sua vida tornou-se uma eterna reclamação. Você reclama, logo existe.

Você está infectado pelo vírus “trabalho”, que tenta tirar qualquer propósito de suas ações. Você se sente, no fundo, um inútil, mesmo que tenha dobrado o faturamento da empresa em que trabalha ou ganho uma viagem para a Europa depois de um tapinha nas costas e uma piscada de olho do patrão. “Yes!”, você pensou sozinho, mesmo sentindo vergonha de estar se nivelando ao parâmetro de um americano mongol (pobres mongóis, nada contra).

Você vai ser demitido, cara. Comece a pensar nisso e nas possibilidades que vêm a seguir. Se você não tiver planos, metas ou pelo menos uma direção no seu rumo, pode crer que você não é nada além de graxa nas engrenagens da História, uma novelinha besta escrita por esnobes que não vão citar seu nome, nem no rodapé.

Por isso, comece a pensar no que você quer fazer quando você for demitido. Altas festas. Uma viagem. Deixar de lero-lero e botar a mão na massa. Descansar de verdade. Pense nisso e vá economizando um troco, fazendo contatos, pensando em alternativas, cogitando possibilidades. Assim, quando a inevitável demissão acontecer, você sabe o que fazer. Esta é a grande vingança. Nada de tremer: fora do trabalho, bola pra frente.

Pare de pensar no trabalho como um fim. Patrões trabalham com conceitos de terror e medo, e o desemprego crescente é bom para que eles mantenham a paranóia sobre seus empregados.

Mande-os à merda. Olhe ao redor: o patrão é o cara que paga tudo que você vê no escritório, inclusive o salário de todos os seus colegas. Ou seja, você não vale nem o aluguel que ele gasta no local de trabalho – isto quando o mesmo não for próprio. Por isso, chute o balde. Use o xerox e a impressora no limite da cara-de-pau. Mande cartas pessoais usando o correio da empresa, faça interurbanos, dependure-se em sua internet e mande recadinhos para seu patrão via email alheio (ou você acha que ele não lê sua e-correspondência?). Fique doente quantas vezes puder, faça corpo mole e finja desinteresse. Responda “sim senhor” para todas as inquisições, peça desculpas quando tomar um esporro e faça cara de dodói, para tocar no resto de humanidade que seus patrões possam ter. Você estará apenas cumprindo seus direitos de empregado.

Mas isto não importa. O importante é você saber o que fazer quando for alforriado.

Por experiência própria, lhe digo: tire férias. Descanse por uns três, quatro meses ou mais. Zere a sua cabeça, limpe o fígado e durma tranqüilo. Depois, mire sua cabeça onde você quer trabalhar. Não importa o que você quiser fazer, haverá alguém disposto a pagar por isto.

Por isso, o mais importante é sair à procura, mexer-se. Comece a trabalhar para você mesmo, antes que a frustração seja maior que a sua vontade de continuar. Afinal, como disse o Daniel de Pádua sobre o Manifesto Nômade do Tom-B: “somos nós quem definimos o que deve ser e o que é. Acorde para as outras possibilidades. Perceba que existem mil sentidos para uma coisa. Deixe-se evoluir à medida que os mil sentidos fluem pelo seu cérebro. Não os retenha voluntariamente. Apenas aprenda como senti-los. Veja o ser humano como uma coisa só”.

Esse é texto meu velho, pós-Play, do começo de 2003, acho, que foi reativado pela minha memória (um lixo) por um post de hoje do Marcel. Mas que continua atual. E isso me lembrou de resgatar os textos do Geocities, que tão lá parados, até hoje… Não só os Fora de Controle, mas também as resenhas, etc. Ou seja, it’s revival time!

Quem aqui gosta de jazz?

Então aproveita o link…

Uma Noite Perfeita Com DjMulher – Gente Bonita Vol. 04

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DjMulher nossa convidada direto do Canadá, rompe a noite perfeita Gente Bonita com os melhores hits da “night québécoise”.

(01)“The Bomb”New Young Pony Club
(02)“Miss Alissa”Eagles of Death Metal
(03)“New York Girls”Morningwood
(04)“Tribulations”LCD Soundystem
(05)“Discotech”Young Love
(06)“Fancy Footwork”Chromeo
(07)“D.A.N.C.E.”Justice
(08)“Rehab(DED remix)”Amy Winehouse
(09)“Nausea(Pirate’s Bumblebeez remix)”Beck
(10)“Say It Right”Nelly Furtado
(11)“What Goes Around Comes Around(Junk XL Small Room Remix)”Justin Timberlake
(12)“Love Me or Hate Me”Lady Sovereign
(13)“Buchecha Ardendo” – Vanessinha Picachu & Os K-rrascos
(14)“Coozi Mambo”Buraka Som Sistema
(15)“Tony The Beat(Rex The Dog Mix)”The Sounds
(16)“Je Suis French Dont Touch”Pravda
(17)“It’s Alright Baby”Komeda
(18)“For Once In My Life”Stevie Wonder

Download:
Uma Noite Perfeita Com DjMulher – Gente Bonita Vol. 04

Emo…

Cara, até agora eu não consigo botar fé nisso… A realidade é bem mais estranha que a ficção.

Vida Fodona #082: Uma coisa meio freak, não só sinistra

Hypes se materializando, banda brasileira chupa gringos, groove is glam, Simonal standard, hard rock psicodélico, gata soul, bossa nova snupe, o novo George Michael, soul punk, dança do robô, hit farofa 70 e instrumental paulistano. De novo.

– “Fluorescent Adolescent” – Arctic Monkeys
– “Wake Me Up Before You Go Go” – Wham!
– “I’ll Never Fall in Love Again” – Wilson Simonal
– “Go” – Common
– “Meu Primo Zé” – Camisa de Vênus
– “Monolith” – T-Rex
– “Witchcraft” – Wolfmother
– “Blue Charlie Brown” – Vince Guaraldi Trio
– “Could We” – Cat Power
– “Love Will Keep Us Together” – Captain & Tenille
– “Jantar com Kubrick” – Mamma Cadela
– “Blues for Godzilla” – Bellrays
– “Dude, You Feel Electrical” – Shout Out Out Out Out
– “Geremia” – Bonde do Rolê

Remo?

Universo em desencanto

É esse.