2001 – Uma Odisséia no Espaço

, por Alexandre Matias

Vou começar a desovar alguns textinhos meus presentes no livrinho 300 Filmes para Ver Antes de Morrer (que eu editei junto com o Maron, via Globo) aqui no Sujo, mas o volume impresso tem um monte de minibios, listinhas e outras curiosidades, além de outras tantas resenhas, com o crivo moral de Fred Leal (forçaê, compadre!), Arnaldo Branco, Vladimir Cunha, Dafne Sampaio e outros bambas. Dá uma sacada nele depois, quando tiver na banca, e veja se não vale a leitura. Aqui, um primeiro aperitivo.

E, claro, 2001.

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2001 – Uma Odisséia no Espaço (2001 – A Space Odissey, 1968. EUA). Diretor: Stanley Kubrick. Elenco: Keir Dullea, Gary Lockwood, Douglas Rain. 141 min. Por que ver: Se você ainda está procurando um sentido para entender 2001, você não entendeu a principal lição do cinema. Deixe-se levar, conduzir pela harmonia proposta pelo diretor à visão e audição do espectador, entregar-se à imaginação alheia, conduzida a uma outra dimensão, um mundo literalmente feito de luz e som – como o nosso. 2001 é a Mona Lisa em movimento, seu sorriso cético e cínico e olhar onipresente transformados em uma parábola sobre a existência humana, que, em uma fração de segundo, reduz a História com agá maiúsculo a uma simples troca de ferramentas, o osso pela espaçonave. 2001 é uma sucessão interminável de cenas perfeitas – com o círculo usado como régua de precisão (o olho-rosto de HAL 9000, o formato da nave, o alinhamento dos planetas) e toda a paleta da música erudita (o clichê instantâneo de Zarathustra, o manjado Danúbio Azul e o fantasmagórico Réquiem do húngaro Ligeti assumem novas formas quando projetados ao espaço) à disposição da megalomania de Kubrick. Baseado no conto O Sentinela, do escritor de ficção científica (e roteirista do filme) Arthur C. Clarke, o filme lida com níveis de inteligência sobre-humanos que incitam o macaco à evolução até o ser humano, para, daí, partir para uma nova etapa de consciência. O ritmo lento e a placidez estéril do computador HAL – ironicamente, o personagem mais carismatico do filme – contribuem para o crescendo de ópera do filme, que pode parecer sonolento para olhos mais distraídos, mas são cinema lapidado em plena perfeição. Fique atento: Não pisque. Mais de duas horas de puro espetáculo cinematográfico: a dança dos planetas, as aparições do monolito, a hipnose e o despertar da consciência de HAL (pense bem, um robô que diz “Espere um minuto…”?), o espetáculo de cores do final, a conclusão inconclusiva. Como o maior road movie de todos os tempos (e talvez o maior filme de todos os tempos), ele atesta que o que importa é a viagem, não o destino.