Trabalho Sujo - Home

Clipe

Futuro insípido

idoru-grimes

Se Art Angels havia levado o pop futurista da canadense Grimes para um mundo distópico e claramente artificial, em seu novo álbum, Miss Anthropocene, ela conclui esta transição abandonando completamente a graça e a leveza que ainda restavam no disco anterior. Agora ela prende-se apenas na estranheza e num futuro abstrato e descartável, que embora agradável e correto, torna-se esquecível a cada canção. Ao aliar o lançamento do álbum a dois clipes da música “Idoru” – quase idênticos, diga-se de passagem -, ela parece abandonar a paisagem do pop contemporâneo para fechar-se em uma biosfera própria, como outras artistas de sua categoria, como Björk e Billie Eilish. Mas ao distanciar-se do elemento mais incomum de seu ecossistema – as doces melodias e letras precisas, justamente o elemento pop -, ela parece concluir sua transição rumo à irrelevância. Uma pena.

arca2020

A produtora venezuelana Arca, queridinha de titãs do pop atual como Björk, Kanye West, Frank Ocean e FKA Twigs, deu um xeque ao lançar seu novo single. Batizado com o incomum nome de “@@@@@”, sua nova obra de sessenta e dois minutos que enfileira diferentes climas e atmosferas sonoras cujo fluxo musical caminha entre um DJ set autoral, uma mixtape ou até mesmo um álbum sem as pausas entre as faixas. Mas ele preferiu chamar o novo material de single e com isso propõe subliminarmente uma discussão sobre formatos no pop atual.

Em um tempo em que artistas discutem o fim do formato álbum, a aposta em singles, a obrigatoriedade do clipe ou a ascensão dos EPs e mixtapes, “@@@@@” expande esta questão para todos os horizontes possíveis, mostrando como a retenção de atenção do ouvinte (e telespectador) por parcos minutos é uma briga apenas mercadológica e propõe uma canção enorme dividida em trinta partes – que ela chama de “quantum” -, cada uma dela com seu título específico, nomes como “Diva”, “Construct”, “Travesti”, “Amputee”, “Avasallada”, “Pacifier”, “Chipilina”, “X”, “Murciélaga” e “Bebé”. O próprio fato de ter sido lançado como um vídeo, traz a imagem pós-apocalíptica com a produtora nua e plugada sobre um carro em um ferro-velho em chamas, com sua própria imagem dançando em uma tela holográfica ao fundo, uma imagem única, em constante movimento e repetição, mas que se estende por toda a duração do clipe, como uma capa de disco em uma outra dimensão.

E é claro que não se trata apenas de formatos – e o som de Arca é um sobrevôo por paisagens que transcedem a imagem distópica do clipe. Ela passeia por horizontes alienígenas de todas as matizes possíveis, da intensidade noise industrial a um ricochete pós-techno de beats eletrônico, passando por planícies ambient, samples de risadas e acidentes de carro, enxames de breakcore, fogs de ruído elétrico, drill’n’bass, reggaton picotado e padrões repetitivos de glitches eletrônicos às vezes sobrepondo duas – ou mais – destas realidades musicais ao mesmo tempo. A sensação é de desprendimento da realidade, como se estivéssemos sonhando um sonho de outra pessoa – o da própria artista. Que, por sua vez, canta nas próprias faixas pela primeira vez.

O single estrou na semana passada na rádio NTS e logo depois a própria Arca explicou a temática deste trabalho: “‘@@@@@’ é uma transmissão enviada para este mundo a partir de um universo ficcional especulativo em que a forma fundamentalmente analógica da rádio FN pirata continua uma das poucas formas de se escapar da vigilância autoritária alimentada por uma consciência refém gerada por uma inteligência artificial pós-singularidade. A apresentadora do programa, conhecida como DIVA EXPERIMENTAL vive em múltiplos corpos no espaço devido à sua perseguição – e para matá-la, é preciso primeiro encontrar todos seus corpos. Os corpos que hospedam seus fetiches malucos por paralinguística quebram a quarta parede e nutrem uma fé mutante no amor em frente ao medo.”

Pesado. E como ela quis deixar claro: é um single.

stephen-malkmus-shadowbanned

Revelando mais uma faixa de seu novo álbum, Traditional Techniques, o mestre Stephen Malkmus agora olha para este mundo digital que coabitamos com um leve e bem-vindo estranhamento, seja apagando-se pixeladamente de velhos vídeos do Pavement ou transformando-se em uma máscara eletrônica tipo um filtro para vídeo selfies no Instagram – cujo tema é ele mesmo! A letra de “Shadowbanned” segue o tom macabro apocalíptico do clipe, falando em karma reddit, rios de Red Bull, paródias de TED Talks e momentos de picos de interação, numa letra meio beat, meio dada, sobre um country lento que parece rogar uma praga irônica: “Que a palavra se espalhe como um emoji quebrado”, canta, enquanto chapas de Malkmus utilizam o tal filtro e revelam seus rostos em microssegundos – pisque e perca Sharon Van Etten, Mac DeMarco, Kim Gordon, Jason Schwartzman, Kurt Vile, Conor Oberst, entre outros).

O vôo do Four Tet

baby-fourtet

Kieran Hebden reforça a chegada do novo novo álbum de seu projeto Four Tet, Sixteen Oceans, que chega agora em março, om um simples, belo e épico clipe para “Baby”, colaboração com Ellie Goulding, que lançou no início deste ano.

sza-justin-timberlake

A última vez que Justin Timberlake emplacou um hit foi quando fez a música-tema para o filme Trolls, “Can’t Stop the Feeling“, em 2016, que lhe valeu até um Grammy. Então talvez seja uma boa notícia que ele volta à pista de dança com outra música-tema para a mesma franquia infantil, que ganha continuação com o título de Trolls World Tour. E para ajudá-lo a voltar com estilo, Justin chamou SZA, que ajudou a temperar a ótima “The Other Side”, produzida pelo sueco Max Martin, o mago por trás de hits como “…Baby One More Time” de Britney Spears, “I Kissed a Girl”, “Roar” e “Dark Horse” de Katy Perry, “Shake It Off”, “Blank Space” e “Bad Blood” de Taylor Swift e “Can’t Feel My Face” do Weeknd – além de ter produzido a música de Justin no filme anterior.

Bem-vindo de volta à pista de dança, sentimos sua falta.

metronomy-2020

O grupo eletrônico inglês Metronomy, liderado por Joseph Mount, lança mais um clipe para uma das músicas de seu ótimo Metronomy Forever, um dos melhores discos de 2019: “Whitsand Bay” traduz o casamento do clima plácido de suas canções à atmosfera de dance music característica do grupo ao colocar uma luminária de pista de dança no amanhecer de uma cidade de médio porte. Bem bonito.

jessylanza2020

A produtora canadense Jessy Lanza começa a mostrar trabalho depois do ótimo Oh No, de 2016, ao lançar o irresistível single “Lick in Heaven”, apontando para o R&B do final do século passado. Deixa cair…

avalanches20

O antigo sexteto e atual duo australiano Avalanches não vai levar mais de uma década para mostrar seu terceiro álbum. Nesta quarta-feira, o grupo bipou o título do novo single em código-morse a partir da antena do prédio da gravadora Capitol, em Los Angeles, nos EUA, tornando pública sua terceira vinda. Autores de um dos discos mais importantes do século, o excelente Since I’ve Left You, o grupo levou 16 anos para vir com seu sucessor, o bem recebido Wildflower, embora tenha se desfacelado neste processo. Reduzido à dupla de produtores Robbie Chater e Tony Di Blasi, os Avalanches misturaram “I’ll Take You Anywhere That You Come” do grupo Smokey Robinson & the Miracles com “Hammond Song” do trio Roches e os vocais de Dev Hynes, nosso amigo Blood Orange, e criaram “We Will Always Love You”, um belo lamento gospel que funciona apenas como aperitivo de um novo disco, que ainda não tem nome, nem data de lançamento, mas já anunciaram que terão colaborações de nomes como from Dhani Harrison, Cornelius, JPEGMAFIA, Naeem Juwan (sem usar seu nome de guerra Spank Rock), Jennifer Herrema do grupo Royal Trux, entre outros.

A ver.

badedesciions

Será que os Strokes vão fazer as pazes com o passado? “Bad Decisions”, segundo single do grupo este ano, faz o que eles deviam ter feito há mais de uma década: seguir trilhando a sonoridade que clonaram do pós-punk no início do século para ao menor reter a atenção dos fãs.

Pelas minhas contas, na década passada, o grupo só conseguiu manter-se à tona graças às incursões solo de Julian Casablancas (a new wave “11th Dimension” e ao participar do disco do Daft Punk) e com um hit menor, “Welcome to Japan“, tornando-se cada vez menos relevante. A volta do grupo esse ano começou animada com o apoio ao pré-candidato à presidência dos EUA Bernie Sanders, mas logo veio a xoxa “At the Door” mostrar que o grupo continuava sem sal. É bem pouco provável que o disco que o grupo promete para abril (The New Abnormal, produzido por Rick Rubin, capa de Jean-Michel Basquiat e nome das músicas logo abaixo) siga o rumo do single mais recente – e este funcione mais como uma irônica saudação ao passado do que uma volta aos velhos tempos. Infelizmente.

“The Adults Are Talking”
“Selfless”
“Brooklyn Bridge To Chorus”
“Bad Decisions”
“Eternal Summer”
“At The Door”
“Why Are Sundays So Depressing”
“Not The Same Anymore”
“Ode To The Mets”

rjd2

O DJ norte-americano RJD2 anuncia disco novo para 2020: The Fun Ones é focado em instrumentais de funk, mas ele preferiu começar os trabalhos com uma das poucas faixas com vocais no disco. “Pull Up On Love” é uma groovezeira pesada e traz os MCs STS e Khari Mateen como convidados.

Pesado! A capa do disco e o nome das músicas vem a seguir – e o disco, que sai em abril, já está em pré-venda.

rjs2-2020

“No Helmet Up Indianola”
“Indoor S’mores”
“20 Grand Palace”
“One of a Kind”
“High Street Will Never Die”
“Pull Up On Love”
“All I’m After”
“Flocking To The Nearest Machine”
“And It Sold For 45k”
“The Freshmen Lettered”
“A Genuine Gentleman”
“Itch Ditch Mission”
“My Very Own Burglar Neighbor”
“A Salute To Blood Bowl Legends”