As irmãs Haim iriam lançar seu terceiro disco neste mês, mas acabaram de deixar Women in Music Pt. III para o dia 26 de junho. Antes disso lançam outro single – “I Know Alone” é o quinto desde que começaram a mostrar músicas novas no ano passado (depois de “Summer Girl”, “Hallelujah”, “Now I’m In It” e “The Steps”) e, mesmo que tenha sido composta antes do período da quarentena, acabou ressoando com o período, como explicou a vocalista Danielle Haim num tweet nesta terça:
“A primeira letra que escrevemos foi ‘eu sei estar só como ninguém mais conhece’ e isso veio do sentimento de que eu estava no mais profundo espírito de estar sozinha e de sentir a solidão mais profunda do que qualquer um possa ter sentido… Agora, com tudo o que está acontecendo, ‘sozinho’ parece um ritual. Só eu conheço minha própria rotina secreta nesses dias em que estou só e quase me sinto confortável nela. Espero que tudo isso faça sentido – tentar descrever uma música é sempre um pouco assustador para mim – mas sempre quero que vocês saibam de onde venho. Esperamos que essa música possa trazer um pouco de conforto neste momento louco … “
Já o clipe acima foi gravado durante a quarentena, mesmo tendo sido dirigido e coreografado à distância. E a música é ótima.
O cantor e compositor paulistano Dr. Morris abandona o prenome ao anunciar seu segundo disco solo. “O apelido vem de uma forma carinhosa como era chamado por músicos pernambucanos em meados dos anos 90”, ele me explica por email. “Até o final do ano passado assinava assim, agora, nessa nova fase, somente Morris” e assim ele começa a mostrar seu Homem Mulher Cavalo Cobra, produzido por Romulo Froes, a partir do clipe de “OnÇa-Çá”, que apresenta em primeira mão no Trabalho Sujo.
“O disco originalmente era para ser inspirado na exposição do artista chinês Ai Wei Wei, mas o Romulo achava que devíamos deixar que o processo de criação determinasse o que seria, dizendo para trabalhar com canções vira-latas, sem raça definida”, ele continua, explicando que o repertório é dividido em quatro blocos: Morte, Identidade, Pessoas e Mitologia. O single que abre os trabalhos faz parte do último bloco: “A escolha foi pela sua variedade estilística e de significados que sintetizam o álbum, como as questões dos direitos dos povos originários, da destruição do meio ambiente e seus resultados, vide a pandemia, e da relação animista, em que o homem enxerga a natureza e os animais horizontalmente, do homem que é onça e vice e versa. Uma forma mais fraterna de se relacionar com o planeta e, consequentemente, com as pessoas.”
Ele ressalta a participação de Anderson Karibáya, representante indígena que leu um poema em seu idioma. “Ele nos impressionou muito com a forma como contava as histórias de cada instrumento e do fazer musical, sobre a música que vira divindade no fazer”. A música ainda conta com a participação do guitarrista Allen Alencar, do baixista Marcelo Cabral, de Rodrigo Campos no cavaquinho, de Igor Caracas na bateria e do percussionista Felipe Roseno. O disco ainda conta com outras tantas participações, como Juçara Marçal, Mauricio Pereira, Romulo Fróes, Juliana Perdigão Benjamim Taubkin, entre outros.
Ele lembra quando entrou em contato com esta turma pela primeira vez: “Em 2009 notei que se reunia uma geração paulista de músicos incríveis, entre eles, Romulo, Rodrigo Campos – que já tinha sido meu parceiro – , Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Juçara Marçal, que estavam explorando algo diferente, para além do virtuosismo ou da tradição, mas apoiado em ambos. Percebi neles mais a arte do que a música.” A parceria com Romulo surgiu daí, a partir de uma composição conjunta, mas foi retomada para o novo álbum no ano passado. “Sempre convivendo com esse desejo primal de compor e cantar com o violão, fiz uma melodia, e toda vez que eu voltava nela ouvia voz do Romulo. Mandei para ele e no dia seguinte ele devolvia uma letra maravilhosa, ‘Doía’. Algum tempo depois, chamei ele para ouvir as canções que estava compondo inspirado pela retrospectiva de Ai Wei Wei. Nessa tarde já estávamos trabalhando no disco.” O álbum completo deve ser lançado em junho.
Nick Cave abriu os trabalhos. Sua deslumbrante versão para “Cosmic Dancer” é o primeiro single single do tributo a Marc Bolan e seu T-Rex AngelHeaded Hipster, que vinha sendo idealizado há anos pelo produtor Hal Willner, que trabalhava no programa Saturday Night Live e que morreu no início deste mês, vítima do coronavírus. Willner, que produziu discos de nomes como Marianne Faithfull, Lou Reed, Lucinda Williams e Laurie Anderson, entre outros. Para o disco, que sai em setembro e já está em pré-venda, reúne nomes tão distintos quanto Joan Jett, Beth Orton, Devendra Banhart, Father John Misty, U2, Todd Rundgren, Sean Lennon, Perry Farrell, Marc Almond, entre outros.
A capa e a lista de quem toca quaç música vêm a seguir.
Kesha – “Children Of The Revolution”
Nick Cave – “Cosmic Dancer”
Joan Jett – “Jeepster”
Devendra Banhart – “Scenescof”
Lucinda Williams – “Life’s A Gas”
Peaches – “Solid Gold, Easy Action”
BØRNS – “Dawn Storm”
Beth Orton – “Hippy Gumbo”
King Khan – “I Love To Boogie”
Gaby Moreno – “Beltane Walk”
U2 – “Bang A Gong (Get It On)” (Feat. Elton John)
John Cameron Mitchell – “Diamond Meadows”
Emily Haines – “Ballrooms Of Mars”
Father John Misty – “Main Man”
Perry Farrell – “Rock On”
Elysian Fields – “The Street And Babe Shadow”
Gavin Friday – “The Leopards”
Nena – “Metal Guru”
Marc Almond – “Teenage Dream”
Helga Davis – “Organ Blues”
Todd Rundgren – “Planet Queen”
Jessie Harris – “Great Horse”
Sean Lennon & Charlotte Kemp Muhl – “Mambo Son”
Victoria Willians & Julian Lennon – “Pilgrim’s Tail”
David Johansen – “Bang A Gong (Get It On) – Reprise”
Maria McKee – “She Was Born To Be My Unicorn / Ride A White Swan”
A cantora cearense Soledad mostra em primeira mão no Trabalho Sujo o segundo clipe de seu disco Revoada, lançado no ano passado, mais uma parceria com a diretora Patrícia Araujo. O clipe é da ótima versão que ela fez para a tocante “Pássaros, Mulheres e Peixe”, de Alessandra Leão. “O que está visível hoje?”, pergunta-me de volta quando a pergunto a relação entre o novo clipe e a situação que atravessamos por conta do coronavírus. “O isolamento pandêmico destaca e fortalece as diferenças sociais, políticas e culturais nas quais as mulheres são inseridas. Ficamos ainda mais expostas ao desamparo e às violências do machismo, o aumento do feminicídio em alguns países desde que a quarentena começou comprova isso, por exemplo.”
O clipe foi gravado antes do período de confinamento, à exceção das imagens de Soledad, feitas por ela mesma com inspiração em técnica de stop-motion da cineasta Agnès Varda “Eu e Pati conversamos há algum tempo sobre como a arte e os valores feministas podem, e devem, refletir a nossa responsabilidade cidadã e humana, e também a de personagens da natureza. Como artistas, precisamos estabelecer alguma conversa com o mundo e sua realidade, vislumbrando transformações. Desde o nascimento do Revoada, nós ficamos muito atraídas pela ideia de criarmos juntas um vídeo-arte para essa canção, pelo que ela conta e nos une afetivamente e politicamente na nossa condição de mulher, esse momento se deu agora. É impressionante o que uma música, uma dança, um texto, ou um filme podem comunicar, atravessar e construir.”
“Há quarenta dias tento deixar a respiração pacífica para que seja possível imaginar o mar e desenhar uma linha do horizonte para a vida futura”, responde quando pergunto a ela sobre os dias de isolamento social. “Mergulho em leituras e filmes que me dão possibilidades de criar uma paisagem melhor para essa vida, a desejada por mim e pelas pessoas que se colocam perto e distante. Também tenho me dedicado ao pequeno livro que pretendo lançar em breve e a tentar entender se o que produzo contribui para a transformação social que manterá o planeta e as pessoas vivas ou não. Difícil falar sobre a pós pandemia agora, por enquanto penso o quão é importante nos posicionarmos politicamente e enxergarmos nossas responsabilidade sócio-afetivas.” Ela planeja lançar mais um clipe deste mesmo disco (a música escolhida ainda é segredo), mas já começa a compor novamente…
O caso Milton Nascimento e Criolo está ficando sério: depois de duetos ao vivo, os dois ícones da música brasileira anunciam o lançamento de um disco em conjunto, o EP Existe Amor, que será lançado no mês que vem e antecipam o que vem por aí ao mostrar regravação da faixa “Não Existe Amor em SP”, com produção de Daniel Ganjaman e arranjos do pianista Amaro Freitas, que acompanha os dois na gravação. E como se não bastasse, o EP também conta com arranjos de outro mestre, Arthur Verocai.
Isso promete…
O período da quarentena é inevitavelmente fértil para quem trabalha com criação – e quem está prestes a lançar mais um disco registrado no período é o músico sergipano Allen Alencar, que aproveitou a solidão para preparar um EP colaborativo com alguns amigos, sempre à distância. Rastro será lançado nesta sexta-feira e o músico antecipa uma das faixas, a melancólica e delicada “1964”, poema de seu amigo Felipe Bier, que assina como Lobo Guará, em primeira mão para o Trabalho Sujo, com direito até a clipe.
“Bati o olho um dia no poema, já à noite, e foi saindo a música, como uma coisa só”, lembra Allen. “Foi bem rápido, o que não é muito comum pra mim nesses casos. O poema tem o ano do golpe militar e fala um pouco sobre essa sensação de deslocamento, de um estado da mente que se está meio dormindo, meio acordado, como num vôo de avião, depois de um Dramin. Acho que de alguma forma ele se conecta com esse momento maluco que estamos vivendo, tanto nessa reedição de um autoritarismo aqui no Brasil e de se sentir ao mesmo estrangeiro e familiarizado com seu país, quanto no sentido fantástico e quase onírico de viver uma pandemia e todo esse momento, quase parecido com um sonho ruim, ou algo do tipo.”
“O disco foi realizado todo a distância”, continua o músico. “Gravei as coisas aqui em casa, o que era possível de fazer sozinho eu fiz, e outras coisas mandei pros amigos, músicos que eu confio e admiro. Dudu Prudente, produtor e baterista, amigo de longa data de Aracaju, gravou a bateria de uma delas, Daniel Doctors, parceiro em vários projetos gravou baixo, e Zé Ruivo, parceiro costumeiro, gravou alguns teclados. Me meti a mixar, eu mesmo, foi uma aventura.”
O decano grupo Rolling Stones lança sua primeira música inédita em oito anos; “Living in a Ghost Town”, gravada remotamente por seus integrantes, comenta esses dias de isolamento e, mesmo que seja um single bem previsível, mostra que a banda ainda tem o que dizer.
“Sede”, colaboração entre Luedji Luna e Maurício Tagliari, começou bem despretensiosa. “Foi um poema hai-kai que eu postei no meu Facebook e virou meu primeiro samba”, lembra a cantora e compositora baiana. Maurício Tagliari, que estava caçando material para o que viria a ser seu futuro disco Maô: Contraponto e Fuga da Realidade, lançado no ano passado, viu o post na madrugada de uma sexta, logo depois que Luedji publicou, e comentou: “Isso dá samba”, propondo, para ser respondido quase em tempo real: “Faça”, disse a cantora do outro lado. No dia seguinte, ele apresentou a versão, vertida em samba, e Luedji perguntou se não queria mais letra e o produtor e guitarrista disse que não precisava, brincando que queria bater o recorde do Dorival Caymmi e do Rodrigo Campos e fazer o samba mais curto da história.
“São dezessete sílabas!”, comemora Maurício, lembrando que ela, que ainda conta com as participações de Maurício Pereira no sax, Igor Caracas, Ariane Molina e Victoria dos Santos na percussão e Guilherme Kafé no baixo e é a música mais ouvida de seu disco, a partir dos números nas plataformas digitais. Uma amiga de Maurício, a diretora Milena Correia, que está morando em Portugal, ofereceu-se para gravar o clipe, que fez com a performer Izabel Nejur, no início deste ano. Coincidiu de lançá-lo neste período de quarentena que atravessamos, o que ressaltou a atmosfera solitária da canção, desde sua letra até seu clipe, que estreia em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.
Uma das minhas bandas novas favoritas, o quarteto paulistano Crime Caqui estava planejando terminar seu disco de estreia neste primeiro semestre, mas foi abalroado, como todos nós, pela pandemia e pela quarentena. Mas como já tinham alguns singles na gaveta, resolveram começar por estes – e o primeiro da lista, cujo clipe está sendo lançado em primeira mão aqui no Trabalho Sujo, é a segunda versão de um single que elas já haviam lançado anteriormente, “Somos Demais”.
“A nova versão ganhou uma profundidade maior por conta das camadas de som e realce de timbres”, explica a baixista e vocalista Yolanda Oliveira. “A produção da Desirée Marantes – em conjunto com a mixagem da Flávia Fontolan – se fez mais presente nessa versão, incorporando com maestria camadas de cordas, vozes, elementos eletrônicos e alguns efeitos inusitados, criando nuances e uma ambiência diferente para a canção.” O clipe foi feito antes da quarentena, continua a baterista Fernanda Fontolan: “‘Absorver’, ‘represar’, ‘espelho’, ‘saliva’ são palavras da música que se relacionam com água e formas de retê-la. Escolhemos o copo com água como símbolo forte desse sentimento e palavras, a ideia foi abordar aquilo que transborda ou pode transbordar, como quando absorvemos além do que precisamos ou, num prisma aguçado e inevitavelmente feminino, deixamos abundar tamanha densidade”. A banda cita os clipes do grupo Minor Victories (“Give Up the Ghost” ou “A Hundred Ropes”) e o da banda Stray Dogg (“Time”) como referências.
Sobre lançar uma segunda versão de uma música já conhecida em vez de um novo single, Fernanda e Yolanda explicam juntas: “Havíamos planejado fazer uma nova versão da ‘Somos Demais’ para o lançamento do clipe contando com a produção da Desi Marantes. A ideia era lançar um pouco depois do primeiro lançamento porém os prazos foram totalmente extrapolados. Ainda assim, escolhemos manter essa linearidade, pois o processo todo, ainda que atravancado estava em andamento e o material estava amadurecendo de uma forma muito bonita com a produção e a nova mixagem da Flavia Fontolan. Concluímos que, mesmo que fosse a versão de uma música já lançada ainda assim seria interessante. Curiosamente, o lançamento culminou na pandemia, o que nos fez refletir sobre a demora do processo de criação e produção das nossas músicas e demais materiais – algo que também acontece com muitos artistas, principalmente aqueles que produzem de forma independente como nós – num panorama de fluxo excessivo de conteúdo ao qual nos expomos e a ansiedade que isso gera em contraste com o momento mundial em que tudo e todos tiveram que brecar os processos cotidianos de trabalho, produção, relacionamento, etc. Uma reflexão que aceitamos e foi muito bem-vinda.”
“A ideia é continuar a produção de material novo pra este ano porém estamos nesse processo, junto com todo o mundo, de entender os tempos que estamos passando e encontrar maneiras de produzir mesmo a distância e em isolamento”, continua a baixista. “As gravações e formatos como havíamos planejado não vão acontecer e isso derruba as nossas expectativas de prazo mas as possibilidades ainda são muitas. É interessante lidar com essa nova lógica, como você mesmo disse no seu diário, ‘como se fosse durar pra sempre’, e pensando dessa forma o caminho é continuar produzindo, ainda que não do mesmo jeito ou com a sonoridade que era esperada.”
A guitarrista Larissa Lobo, nova integrante que faz dupla com a outra guitarrista, May Manão, fala sobre esta redefinição de planos: “Antes da quarentena tínhamos planos de celebrar os próximos singles com alguns shows. Pensávamos até em fazer uma festinha em Sorocaba para um dos lançamentos. Em abril começaríamos as gravações do nosso primeiro disco. Agora os planos foram adaptados. Os singles, que já estão prontos, seguirão a agenda e no mais estamos aprendendo a viver essa intensidade virtual e tentando usufruir disso também. Além das lives, temos interagido muito mais pelo nosso perfil do instagram e também pensado em novas maneiras de juntar as quatro – já que cada uma está em um canto – em forma de vídeo. A ideia é que saia um vídeo clipe produzido a partir de registros dessa temporada.”
Sem lançar disco desde 2011, o rapper inglês Mike Skinner, que também atende pelo codinome The Streets, anunciou uma mixtape cheia de convidados, None of Us Are Getting Out of This Life Alive (eis a capa acima), que será lançada no próximo mês de julho. E para iniciar os trabalhos, ele chamou ninguém menos que Kevin Parker, do Tame Impala, para mostrar o tom deste trabalho. “Call My Phone Thinking I’m Doing Nothing Better” abre a mixtape, que ainda conta com participações de nomes como o grupo Idles, Ms Banks, entre outros. A improvável colaboração, que pode ser ouvida abaixo, não chega a empolgar, mas funciona, principalmente levando em conta os extremos reunidos nesta equação.
A mixtape já está em pré-venda.










