O “1964” de Allen Alencar
O período da quarentena é inevitavelmente fértil para quem trabalha com criação – e quem está prestes a lançar mais um disco registrado no período é o músico sergipano Allen Alencar, que aproveitou a solidão para preparar um EP colaborativo com alguns amigos, sempre à distância. Rastro será lançado nesta sexta-feira e o músico antecipa uma das faixas, a melancólica e delicada “1964”, poema de seu amigo Felipe Bier, que assina como Lobo Guará, em primeira mão para o Trabalho Sujo, com direito até a clipe.
“Bati o olho um dia no poema, já à noite, e foi saindo a música, como uma coisa só”, lembra Allen. “Foi bem rápido, o que não é muito comum pra mim nesses casos. O poema tem o ano do golpe militar e fala um pouco sobre essa sensação de deslocamento, de um estado da mente que se está meio dormindo, meio acordado, como num vôo de avião, depois de um Dramin. Acho que de alguma forma ele se conecta com esse momento maluco que estamos vivendo, tanto nessa reedição de um autoritarismo aqui no Brasil e de se sentir ao mesmo estrangeiro e familiarizado com seu país, quanto no sentido fantástico e quase onírico de viver uma pandemia e todo esse momento, quase parecido com um sonho ruim, ou algo do tipo.”
“O disco foi realizado todo a distância”, continua o músico. “Gravei as coisas aqui em casa, o que era possível de fazer sozinho eu fiz, e outras coisas mandei pros amigos, músicos que eu confio e admiro. Dudu Prudente, produtor e baterista, amigo de longa data de Aracaju, gravou a bateria de uma delas, Daniel Doctors, parceiro em vários projetos gravou baixo, e Zé Ruivo, parceiro costumeiro, gravou alguns teclados. Me meti a mixar, eu mesmo, foi uma aventura.”
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