2021 consolida que a música pop é feminina

, por Alexandre Matias

Em mais uma colaboração para o site da CNN Brasil, contei como as mulheres dominaram a música pop nas últimas décadas, culminando num 2021 completamente feminino, dominado por Adele, Billie Eilish, Lorde, Lana Del Rey, Taylor Swift, Olivia Rodrigo, entre outras.

2021: o ano em que as mulheres dominaram a música pop
Adele, Billie Eilish, Lorde, Lana Del Rey, Taylor Swift e Olivia Rodrigo são apenas algumas artistas que mostraram que elas reinaram na produção musical deste ano

Mulheres sempre tiveram um papel proeminente na música pop, mas desde o início do século 21 a produção musical feminina vem ganhando uma dominância para além de poucas vocalistas que conseguiam se destacar entre bandas de rock e MCs de rap.

A última década consolidou a criação feminina como crucial para o atual cenário e, mesmo com vocalistas ainda dominando o cenário – e com muito mais presença que artistas homens -, é cada vez maior o número de produtoras e instrumentistas que conseguem se estabelecer sem precisar de chancela ou tutela masculina.

No topo desta cadeia, nomes como Adele, Billie Eilish, Lorde, Lana Del Rey, Taylor Swift e Olivia Rodrigo surgem como as grandes artistas de 2021, mas este novo momento vai muito além das campeãs de público e crítica, que ainda seguem como bons termômetros.

Taylor Swift não deixou barato. Além de seguir vendendo bem os dois discos que lançou em 2020 (os introspectivos “Folklore” e “Evermore”), Taylor começou uma ousada operação depois que não conseguiu retomar as fitas masters, portanto, a propriedade, de seus seis primeiros discos, lançados pela gravadora norte-americana Big Machine.

Ela resolveu peitar os donos de seus discos originais de frente e começou um processo de regravação de seus seis primeiros álbuns, lançando, em 2021, as novas versões para “Fearless” (originalmente lançado em 2008) e “Red”, o disco que lhe transformou, em 2012, em uma popstar para além da country music, seu território musical de nascença. Só este último disco vendeu mais de um milhão de cópias em uma semana – um feito impressionante para um trabalho que já havia sido lançado.

A inglesa Adele, que lançou seu aguardado “30”, veio logo em seguida, fazendo seu arrebatador quarto álbum vender quase um milhão de discos no mundo todo apenas na primeira semana de lançamento – incluindo discos físicos e versões digitais.

No lado da crítica, dois dos principais veículos norte-americanos, a decana revista “Rolling Stone” e o respeitado site “Pitchfork” elegeram mulheres como autoras de seus discos do ano. A revista escolheu o disco de estreia da cantora teen Olivia Rodrigo, “Sour” (que ultrapassou os dois milhões de discos vendidos em todo o ano), enquanto o site escolheu o quarto disco da cantora Jazmine Sullivan, o impressionante “Heaux Tales”.

Billie Eilish, de apenas 19 anos, foi outra que esteve presente em listas de melhores do ano em todo o mundo, com seu impressionante segundo álbum “Happier than Ever”. Composto e produzido ao lado de seu irmão Finneas, o disco livrou a cantora de estereótipos que a tratavam como uma novidade passageira, dizendo que ela mal sabia cantar.

Billie não só expandiu seu escopo para além do rap, soltando a voz em canções compostas ao piano ou ao violão, como fechou contrato com dois dos maiores serviços de streaming do mundo, lançando dois registros audiovisuais de peso: o documentário “The World’s a Little Blurry”, que saiu no Apple+, dirigido por R. J. Cutler, e o show “Happier Than Ever: A Love Letter to Los Angeles”, gravado no lendário Hollywood Bowl sem público presente, com direção de Robert Rodriguez. Além de ter puxado uma das mais bem sucedidas turnês de um ano que começou sem apresentações ao vivo.

A controversa Lana Del Rey, que cada vez mais vem se estabelecendo como uma das principais compositoras de sua geração, lançou não apenas um, mas dois álbuns no ano em que sua carreira completava dez anos: “Chemtrails over the Country Club”, com ênfase na country music, em que convidou outras artistas, como Nikki Lane, Weyes Blood e Zella Day, além de regravar uma música de Joni Mitchell, “For Free”; e o introspectivo “Blue Banisters”, em que flerta com o folk e o jazz.

Ambos discos mantiveram sua reputação comercial e artística, presentes também nas listas de melhores do ano. Ela ainda prepara a trilha sonora para uma adaptação moderna do clássico “Alice no País das Maravilhas”

A neozelandesa Lorde não foi tão festejada pela crítica com seu terceiro álbum, “Solar Power”, mas seguiu encantando fãs em todo o mundo.

E na seara do indie rock norte-americano, toda uma nova safra de artistas surgida na década passada estabeleceu-se lançando discos celebrados pela crítica: Clairo lançou o ótimo “Sling”; Lindsey Jordan, que assina como Snail Mail, também causou sensação com seu segundo álbum, “Valentine”; Lucy Dacus foi celebrada como o ótimo “Home Video”, seu terceiro disco, bem como “I Know I’m Funny Haha”, de Faye Webster, seu quarto álbum, e o segundo disco de Cassandra Jenkins, o belíssimo “An Overview on Phenomenal Nature”. Correndo na paralela, a australiana Courtney Barnett atingiu a maturidade musical com seu excelente terceiro álbum, “Things Take Time, Take Time”.

Outras artistas que lançaram discos que desequilibraram 2021 estão o ótimo terceiro disco da rapper Doja Cat, que mostrou em “Planet Her”, que pode ir muito além do hit sensação “Say So”, com participações de outras divas do pop atual, como SZA e Ariana Grande.

Michelle Zauner, de ascendência coreana, lançou outro disco de 2021 com seu pseudônimo “Japanese Breakfast”, o irresistível “Jubilee”.

Tão cativante quanto este foi o “Collapsed in Sunbeams”, disco de estreia da cantora inglesa de 21 anos Arlo Parks. “Let Me Do One More”, terceiro disco da produtora Sarah Tudzin, que assina como Illuminati Hotties e que já trabalhou com nomes tão diferentes quanto Slowdive, Weyes Blood e Tim Heidecker, é um dos melhores discos de rock do ano, apesar de bem diferente do que se espera do gênero. E a inglesa Little Simz lançou um dos melhores discos de rap do ano com seu quarto álbum, “Sometimes I Might Be Introvert”.

São apenas alguns nomes que mostram que as paradas de sucesso e a crítica musical cada vez mais abraçam as mulheres como principal força da música pop deste século. Além delas, 2021 ainda teve discos novos de St. Vincent, Halsey, Jenny Hval e das veteranas Chrissie Hynde, vocalista dos Pretenders, que lançou um tributo a Bob Dylan (“Standing in the Doorway”) e Marianne Faithfull, que gravou “She Walks In Beauty” ao lado de Warren Ellis, conhecido parceiro de Nick Cave. Não precisa dar espaço: o pop atual já é delas.

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