Escrevi o texto da capa do Link (sobre o Kony 2012, que ainda teve o vídeo dissecado pela Tati e uma extensa matéria feita a quatro mãos pelo Camilo e pelo Murilo) dessa semana junto com a Helô.
Vilão viral
A campanha Kony 2012 transformou-se no maior viral da história e leva política e informação para outro patamar
No dia 5 de março, entrou no ar, no canal da ONG Invisible Children, no YouTube, o vídeo Kony 2012. Em seis dias, ele já tinha sido visto 100 milhões de vezes. É o maior viral da história.
Com meia hora de duração (uma eternidade, se comparado à duração de outros virais), o curta apresenta uma campanha cujo objetivo é capturar e levar ao Tribunal Penal Internacional o criminoso de guerra ugandense Joseph Kony , líder do Exército de Resistência do Senhor, que há mais de vinte anos, sequestra crianças, transformando-as em escravas sexuais ou soldados.
O objetivo da campanha é fazer que o maior número de pessoas saiba quem é Joseph Kony e, a partir disso, cobre das autoridades medidas para capturá-lo e levá-lo a julgamento. Para tanto, propõe que o espectador peça a celebridades e autoridades que apoiem a causa, sugere a doação de “uns dólares” e a compra de um kit de mobilização, com pôsteres, adesivos e braceletes. Mas acima de tudo, pede a quem vê o filme que o mostre ao maior número de pessoas. Basta “compartilhar” no Facebook.
Além dos 100 milhões de visualizações em seis dias, esgotaram-se kits vendidos pela ONG a US$ 30 cada um. E, na mesma velocidade que se tornava popular, o vídeo recebia críticas.
Críticas de todos os lados: de questionamentos sobre os reais interesses da ONG a acusações de desinformação. E a cada nova crítica publicada, surgia uma nova defesa. A própria ONG, em seu canal no Vimeo, começou a responder aos questionamentos em vídeos conduzidos pelo CEO da organização, Ben Keesey, que termina o vídeo pedindo “pergunte qualquer coisa”. Basta twittar a pergunta, em inglês, com a hashtag #askICanything.
Além de artigos e ensaios escritos por jornalistas e intelectuais ocidentais, houve também forte reação vinda de Uganda, país escolhido pela ONG como área de atuação, embora Joseph Kony não esteja mais lá – o seu exército hoje encontra-se espalhado pelo Sudão do Sul e pela República Centro-Africana. Um vídeo da blogueira Rosebell Kagumire, postado no dia 7, foi visto mais de 500 mil vezes até sexta, 16 – mesma quantidade de views que a versão legendada em português do vídeo Kony 2012 teve.
Uma projeção ao ar livre em Lira, cidade na região norte de Uganda, gerou revolta entre as vítimas das atrocidades do Exército da Resistência do Senhor. “Se as pessoas lá fora realmente se preocupam com a gente, elas não deveriam usar camisetas do Joseph Kony em nenhuma hipótese. Isso é celebrar nosso sofrimento”, diz um homem que foi raptado pelas forças de Kony. A reportagem pode ser vista no canal da Al-Jazira no YouTube.
Pró. Em quase todas as críticas à campanha, no entanto, é feita uma ressalva: apesar de todos os problemas, uma coisa é fato, o vídeo trouxe à pauta global um assunto que é sempre deixado de lado. Em uma semana, o mundo tomou conhecimento da existência de Joseph Kony, que, enfraquecido ou não, em Uganda ou no Sudão do Sul, é acusado pelo Tribunal Penal Internacional de 12 crimes contra a humanidade e 21 crimes de guerra.
Contra. Por outro lado, é muito fácil confundir as pessoas online. Principalmente quando a forma usada para divulgar a causa simplifica questões sérias para ter maior alcance. Ainda não estão claros quais são os interesses da ONG, além de transformar Kony em celebridade. E tudo fica mais confuso depois da prisão do narrador do vídeo, Jason Russell na quinta-feira, durante um surto. É preciso ter calma e não se deixar levar pela emoção, que é o alvo deste tipo de campanha.
Se você não entendeu o 4:20 anterior, eis a explicação: o cidadão exposto é o tal Jason Russell, narrador e autor do vídeo Kony 2012, que sucumbiu à pressão e, aparentemente, pirou e foi preso. Se liga:
Acha pouco? Além dessa “ginástica” ao ar livre, Russell ainda teria se masturbado em público e destruído alguns carros. A ONG que representa, a Invisible Children, avisou que ele já foi hospitalizado.
Isso dá margem para todo tipo de paranóia. Não bastassem as provas deixadas em vídeos anteriores da Invisible Children darem a entender que toda a campanha Kony 2012 é só uma forma de juntar missionários para uma causa cristã conservadora na África ou que a campanha visa conseguir apoio popular para a invasão norte-americana de um dos países com mais petróleo naquele continente usando de artifícios de propaganda política reversa (além de conter o avanço da China na África), a reação biruta de Russell abre ainda suspeitas contrárias, de que ele teria sido dopado por estar mexendo com os tais “powers that be”.
E parece que essa história ainda vai dar muito pano pra manga…
Só fui porque minha mulher havia comprado ingresso, mas lá pelo meio do show ela me olhou com uma cara de “vamos embora” que encontrou meu sorriso aliviado. Já tinha visto o Morrissey ao vivo no ano 2000 e não tinha achado nada demais – pelo contrário, a impressão que fiquei do show do ex-vocalista dos Smiths foi tão ruim que quando começou o auê sobre sua segunda vinda ao país, nem pensei em consultar o calendário para ver que dia o show cairia. Doze anos depois, restava-me exercitar expectativa – cogitei a possibilidade de curtir um show que, talvez por má vontade, cogitaria que fosse chato.
Mas há de ter muita boa vontade. O show foi tedioso e sem graça, a maior parte das músicas de sua carreira solo são chatíssimas e as músicas dos Smiths foram tocadas com preguiça. “There is a Light That Never Goes Out” – a deixa perfeita para ir embora (veja o vídeo abaixo) – parecia ser o momento “Yellow Submarine” do show de Ringo Starr no ano passado, caso Ringo tivesse algum remorso de um dia ter sido um beatle. Nem as brincadeiras com o público (“gracias?”, para com isso…) fizeram jus à reputação do ídolo dos anos 80. De que adianta alertar o público que o príncipe Harry está no Brasil querendo nosso dinheiro em um show em que os ingressos chegavam a 400 reais?
Além disso, o Espaço das Américas devia ser interditado para shows de médio porte para cima – aquele lugar insalubre só deveria funcionar para eventos de fim de ano de empresa ou festas de formatura. Pobre do público que vai assistir aos Los Hermanos ali.
Morrissey – “There Is A Light That Never Goes Out”
Fiz mais vídeos, se alguém tiver alguma curiosidade…
Na minha coluna do Link desta segunda, falei sobre como smartphone e tablets são só o começo de uma mudança drástica.
Tablet e smartphone são só o início da era pós-PC
Nova era se consolida com fim destes aparelhos
Os dois principais nomes da Microsoft e da Apple no século 21 concordam: estamos na era pós-PC. Tim Cook, o número 2 da Apple quando Steve Jobs ainda era vivo, usou a frase do ex-patrão para coroar o lançamento da nova versão do iPad. E Ray Ozzie que, mesmo tendo saído da MS em 2010, ainda é o principal nome de tecnologia da empresa após a saída de Bill Gates, usou a mesma expressão para definir a segunda década deste século (leia mais na pág. 3).
As duas empresas são os principais nomes na ascensão e consolidação do computador pessoal – o aparelho cuja onipresença destronou a imbatível televisão como principal ferramenta humana na virada do século 20 para o 21. Monitor, mouse, teclado, torre e alguns cabos entraram em nossa rotina a partir do início da década de 1980 para, a partir da metade da década seguinte (graças à invenção da web), começarem a se proliferar por todos os ambientes – casa, trabalho, lazer, negócios… Para onde você olhar, vai encontrar o PC.
E pouco daquele pacote básico inventado na virada dos anos 70 para os 80 mudou: foram-se os disquetes e as fitas cassete (que eram usadas, sim, para gravar bytes), os drives de CD e diferentes portas de entrada para cabos e assessórios. Seja o monitor de fósforo verde, venha acoplado a uma impressora ou um kit multimídia (lembra? Leitor de CD-ROM, caixas de som, microfone…), tenha entradas USB ou não – se tiver monitor, compartimento para processador e disco rígido, mouse (ou trackpad) e teclado, esse dispositivo é um computador pessoal. Um aparelho que, aos poucos, está saindo da nossa rotina – e na mesma velocidade que entrou.
A Apple quer por tudo na conta do tablet. Como conseguiu transformar a prancheta digital em um objeto rotineiro (não foi a primeira empresa a tentar emplacar o formato, que vem sendo tentado desde os anos 1980), a empresa aponta para seu iPad como substituto infalível do desktop ou do notebook. Faz esse alarde todo sem lembrar da liderança de seu iPhone porque não quer desviar o foco da mudança para o smartphone – mas o fato é que a era pós-PC começa nos primeiros Blackberry. Coube à Apple reinventar o conceito de supertelefone em 2007 ao lançar seu brinquedo mágico – que espera sua quinta versão para este ano – ao mesmo tempo em que reinventou o software para o século 21 como um ambiente autossustentável, a economia dos aplicativos. Quando Tim Cook frisou que estamos na era pós-PC durante o anúncio do novo iPad, ele não lembrou da importância do iPhone porque o celular da Apple tem muitos concorrentes, ao contrário do tablet, que segue líder.
A Microsoft, por sua vez, não comenta oficialmente a nova era pois ainda é líder absoluta no ambiente desktop. Por mais que o sistema operacional da Apple tenha crescido e que o Google possa tornar seu Chrome OS viável em algum tempo, é muito pouco provável que alguém tire o cetro da empresa de Bill Gates. A era do PC também é a era do Windows. Por isso que quando Ozzie diz que estamos na era pós-PC, o mundo entende que o reinado do Windows está chegando ao fim. E por mais que a Microsoft consiga estender seu legado por alguns anos ao dar o salto mais radical em seu sistema operacional desde que apresentou o botão Iniciar no Windows 95, o novo Windows 8, com cara de sistema operacional móvel, pode selar o reinado MS para sempre.
Porque a era pós-PC não é necessariamente a era do smartphone. É o tempo em que os computadores vão sumir de vista – eles se integrarão ao carro, à casa, ao dia-a-dia, sem que a gente perceba que está usando um computador. O movimento do controle remoto é mais natural que o do mouse, a tela sensível ao toque é mais amigável que o teclado. Tablets e smartphones são o início da nova era, que se consolidará com o desaparecimento deles. Há a paranoia de que um dia teremos chips no cérebro. Mas não é preciso que o aparelho fisgue a carne para que o implante aconteça. Basta que o avanço seja suficiente para que a gente não se dê conta de que estamos usando ferramentas. Isso está próximo, chega em pouco mais de dez anos.
Minha coluna na edição do Link desta semana foi sobre o excesso de formas de nos comunicarmos.
Existem mil maneiras de falar com alguém. Quero só uma
Todo mundo mesmo vai ter celular em dez anos
Alguém liga para você e pergunta se você viu o e-mail que mandaram. Ou um amigo escreve via SMS para saber se você está online. Ou alguém manda uma mensagem pelo Facebook para avisar que procurou você no MSN e não encontrou. Uma mensagem chega via Gtalk perguntando se “você está aí?”.
Houve um tempo em que havia poucas formas de entrar em contato com algum conhecido. Além da possibilidade de encontrá-lo pessoalmente, você poderia mandar uma carta ou tentar contactá-lo por telefone – que estava em um único lugar. Dá até para pensar que, no futuro, nossos filhos ficarão espantados com esse passado – hoje quase remoto – em que, para encontrar alguém era preciso ligar para o lugar em que ele poderia estar, em vez de ligar diretamente para a pessoa.
Mas surgiu a internet e ela trouxe outros canais: primeiro o e-mail (que você ganhava ao assinar um provedor de acesso à rede), depois o webmail (que mostrava que você poderia ter mais de um e-mail), os chats e, pouco depois, os programas de comunicação instantânea, que funcionavam como bate-papo, mas que permitiam identificar quem estava do outro lado. Mais tarde veio a web 2.0 primeiro com os blogs, depois com os sites de publicação de vídeo e fotos e, finalmente, (inúmeras) redes sociais. Cada um destes novos canais criou uma nova forma de entrar em contato.
Não bastasse tudo isso, veio o celular. E, com ele, tivemos de decorar mais um número, além do telefone de casa e do trabalho (para depois, com o tempo e a agenda de contatos no celular, esquecer quase todos eles). E além de falar ao telefone, também mandamos mensagens de texto. Logo depois, o aparelho se conectou à internet e não bastassem as ligações e SMS, todos os outros canais que antes só habitavam a tela do computador vieram para o telefone. Então checamos mensagens no Facebook, DMs no Twitter, e-mail e todos os outros tipos de contatos via web possíveis no celular. Isso sem contar um infindável universo de aplicativos que ajudam a estar em contato com quem quisermos – e até com quem não queremos.
Essa vida hiperconectada é rotina para um número cada vez maior de pessoas. E tende a piorar – ou a melhorar, dependendo do ponto de vista – com o tempo. Isso porque a tal inclusão digital, que parecia que iria acontecer quando todos tivéssemos um computador em casa, está acontecendo muito mais rápido do que imaginávamos, graças à popularização do celular e a convergência do aparelho com a internet. E por mais que já existam mais celulares do que habitantes no planeta, esse número tende a aumentar ainda mais.
“Fazendo as contas, telefones que custam US$ 400 vão custar US$ 20 daqui a 12 anos, e se o Google fizer tudo certo, haverá um Android em cada bolso”, disse Eric Schmidt, eminência parda da empresa no Mobile World Congress, maior evento de tecnologia móvel do mundo que aconteceu na semana passada, em Barcelona, na Espanha. Desconte-se a megalomania típica do Google (de que todo mundo terá um celular Android em pouco mais de uma década) e sua profecia não é nada descabida. E se lembrarmos que todas as grandes empresas de telefonia celular trabalham com objetivos semelhantes, não é exagero achar que todos os habitantes do planeta terão um smartphone em dez anos.
Para vender seu peixe, Schmidt frisou que, uma vez que todo mundo estiver conectado, o mundo será mais justo, os pobres serão menos pobres, todo mundo terá mais consciência política e as castas econômicas se aproximarão. Há um tanto de fantasia – e marketing – nesse discurso. E vai saber se daqui a alguns poucos anos alguém inventa algo que possa tornar o celular obsoleto…
O segredo para isso acontecer talvez esteja na possibilidade de integrar todos nossos contatos. Mensagens de redes sociais, e-mails, telefones… Tudo poderia convergir para uma só caixa de entrada. Que poderia ser acessada a qualquer minuto, de qualquer aparelho. Se alguém juntar esses pontos – num aparelho ou serviço – pode estar começando a redesenhar o futuro. De novo.
Vintage 80s
A história do filme é ridiculamente simples – galã-durão trabalha como dublê em filmes de ação (capotando carros) e faz bicos como motorista em assaltos conhece vizinha gatinha que tem um filho com um sujeito que está preso. O que vem a seguir é aquela velha história de amor e vingança que habita todos os telefilmes que passam no Super Cine, aquele sábado à noite sem graça e dublado, “um crime que abalou a opinião pública norte-americana”, gangsters, carros e reviravoltas dignas de um filme de Steven Segal.
A diferença é que Drive não é um filme com Steven Segal – mas com Ryan Gosling, queridinho da cinefilia indie há uns cinco anos por um algum motivo inexplicável. E em vez do herói ter um rabo de cavalo e usar uma jaqueta de couro com franjas, ele traja uma jaqueta prateada fuleiraça com um escorpião estampado nas costas, uma versão 1983 de James Dean (canastrice inclusa no upgrade). E que a história pouco importa num filme essencialmente preocupado com estilo – estilo específico e perigoso de ser manuseado: o vintage 80s, a versão que não vê graça nenhuma no deboche trash dos anos 80. Assim que o filme começa, com sua tipologia pink cursiva-cool, sabemos que estamos no mesmo universo paralelo fundado pelo cinema cyberpunk daquela década, o futuro mundano e presente de filmes como Mad Max, Robocop, Blade Runner, Fuga de Nova York e Warriors. Tire o futurismo megalomaníaco e apocalíptico e perceba que já estamos em 2012. Não há carros voadores, nem andróides indistinguíveis de seres humanos nem ciborgues conversando com ETs. Mas as metrópoles estão implodindo, a violência está nas ruas e o máximo de tecnologia que realmente entrou nesse submundo é o fato de usarmos telefones portáteis minúsculos.
Pois o celular é um dos poucos elementos que nos lembra que Drive se passa depois de 1989. Todo o resto do filme é um exercício de estilo anos 80 – o neon superposto ao reflexo da poça d’água sobre o asfalto no escuro sobreposto à câmera lenta exageradamente lenta por sobre alguns litros de gel e outros tantos de vodca barata. O dinamarquês Nicolas Winding Refn faz jus ao prêmio de melhor direção que ganhou em Cannes no ano passado e faz um filme todo baseado numa estética que começa a ser reconsiderada (Drive é o Chromeo do cinema) – e não é por ter um coração de plástico que Drive não tem alma. A caricatura do “strong silent type” que Tony Soprano sentia falta torna o personagem de Gosling robótico como Clint Eastwood nos anos 70, mas o verniz fluorescente da direção torna a história trivial essencialmente secundária – o que é bom para a estética do filme. Um bom roteiro tornaria todo o estilo coadjuvante.
Drive é mais que trunfo da forma sobre o conteúdo, é pós-moderno na medula e cheira a mochila da Company. “2011 foi um grande ano para o cinema, vimos que dá para fazer um filme sem nenhum diálogo e ainda torná-lo divertido…”, Seth Rogen parecia se referir a filme mudo O Artista em seu discurso de abertura do Spirits Awards, mas falava de Drive. E, realmente, é um dos melhores filmes desse 2011 com cara de 1981.
O poster que abre o post não é oficial, e sim feito pelo designer canadense James White.
Aproveitei o mote do Pinterest na capa do Link para falar da novidade que todos esperam na minha coluna.
Qual será a grande rede social de 2012?
Será o Pinterest? Creio que não…
Começou com o Orkut, aí veio o MySpace, depois o Twitter, Facebook, Tumblr, Google Plus e, em poucos anos, nos acostumamos à ideia de que periodicamente seremos apresentados a mais uma rede social que teremos de conhecer e habitar. A consequência natural desta lógica deixou de se materializar na forma de palpites ou achismos de analistas de mídia e consultores digitais para virar uma grande questão online, discutida por todos: “Qual é a próxima?”. Ou, mais especificamente, qual vai ser a grande rede social de 2012?
Daí o interesse no Pinterest, assunto da capa do Link desta edição, que, devido a seu veloz crescimento na virada do ano, vem liderando a bolsa de apostas como a principal resposta para a pergunta acima. Mas é bem pouco provável que as pessoas passem a usar o Pinterest em vez do Facebook, ameaçando o reinado digital de Mark Zuckerberg. Mesmo porque o Pinterest não é propriamente uma rede social.
É uma rede social de nicho – a maior delas hoje, em fevereiro de 2012, mas não a única. Compare com o Canv.as, que o criador do 4chan, Christopher “Moot” Poole, lançou no ano passado. Os sites são bem parecidos, inclusive estruturalmente – com o agravante do Canv.as ainda contar com um software online embutido que permite que as pessoas remixem as imagens ali postadas. O Chill.com também segue a mesma lógica, mas é voltado apenas para vídeos. Como os três, há inúmeras outras, que dão a impressão de ser redes sociais porque pressupõem a criação de um perfil online e a interação entre os usuários.
A ascensão do Pinterest tem mais a ver com outro assunto recorrente e que é paralelo ao crescimento das redes sociais: a “morte dos blogs”. Ponho entre aspas porque é um tema que volta à pauta sempre que uma nova plataforma permite a publicação de uma espécie de diário, seja em texto, vídeo ou fotos. Foi assim quando, por exemplo, o Facebook permitiu que as pessoas usassem suas “Notes” como área para blogar.
O próprio Twitter ainda é constantemente referido como “microblog”, mesmo que já tenhamos entendido que ele não funciona como um blog – e que ninguém abandonou seu próprio blog para dedicar-se apenas ao Twitter.
Outros termos ajudaram a criar essa expectativa, como o “life streaming” – de sites como Posterous e FriendFeed –, o “reblog” – popularizado pelo RT do Twitter e pelo Tumblr – e o “social bookmarking” – de sites como Digg, Reddit, Delicious e StumbleUpon.
Todos estes serviços têm, em comum, o fato de facilitar ainda mais a vida de quem quer postar algo online. Como aconteceu com o próprio conceito de blog, que, quando surgiu, vendia a possibilidade que qualquer um poderia publicar na web sem saber nada de programação ou de linguagem HTML.
Daí o Pinterest e outros integrantes desta tendência de rede social de nicho serem apenas mais um passo rumo à autopublicação para completos leigos digitais. E a notícia de que seu crescimento espetacular vem do fato de que seus primeiros usuários não pertencerem ao perfil tradicional dos early adopters (donas de casa do Meio-Oeste americano impulsionaram a ascensão do site) só comprova isso.
Não acho que o Pinterest será a grande rede social de 2012, pois creio que o site que cumprirá esta expectativa não será desenvolvido para desktop. Acredito que a próxima rede social realmente importante – aquela em que todos precisamos conhecer e habitar – será feita para funcionar a partir do celular.
E já há vários lutando por esse posto. Entre eles o californiano Path.com, fundada pelo criador do Napster Shawn Fenning e por um dos fundadores do Facebook, Dave Morin, mas que já enfrenta problemas graças a críticas sobre o uso que o serviço faz dos dados de seus usuários.
A próxima grande rede social deve funcionar mais ou menos como o Instagram do brasileiro Mike Krieger, senão for o próprio. Atualmente ele ainda é restrito a usuários de iPhone, mas há rumores sobre o lançamento de um aplicativo para Android em breve.
Vamos aguardar.
Minha coluna no Link de segunda foi sobre a falta de educação das pessoas ao falar no celular.
Nossa falta de educação ao usar o celular
Estamos cercados por pessoas falando sozinhas
Uma amiga minha me contou que dois amigos dela chegaram com uma novidade do exterior. Um vinha da Califórnia; o outro, da Europa. E os dois lhe explicaram uma espécie de brincadeira que aos poucos estava tornando-se popular longe do Brasil. Ela apelidou de “roleta russa da conta”, que funciona assim: ao encontrar-se com amigos em um bar ou restaurante, todos fecham um trato que começa ao deixar o telefone celular exposto à mesa. Todos numa mesma pilha, num canto específico, eles não precisam nem estar desligados. Mas é melhor desligar. Porque aquele que atender o telefone no meio do encontro assume a conta da noite. É um teste para os nervos, ainda mais quando o celular é deixado ligado. Ele pode tocar. O problema não é esse. É resistir à chamada. Atendeu, pagou.
Nem faz muito tempo que o celular entrou em nossas vidas – um pouco menos que o Google, um pouco mais que o Facebook –, mas ele se tornou um acessório tão onipresente, que as pessoas perderam até a noção da própria presença quando começam a falar no telefone.
A tal “roleta russa” é uma brincadeira, mas revela que o uso do celular em ambientes sociais já está sendo visto como um problema até mesmo para quem não consegue deixar o aparelho de lado. Há um quê de vício, mas o hábito está mais próximo da ansiedade do que propriamente de uma adição.
Um dos motivos que me fez parar de frequentar boteco – um deles, não o único – é aquela mesa lotada com várias pessoas falando com outras que não estão ali. Você já deve ter visto tal cena: quatro pessoas ao redor de uma mesa, as quatro no celular, em conversas que poderiam muito bem ficar para depois daquele encontro.
Mas a frequência em bares e restaurantes é só um dos muitos aspectos da nossa má educação no uso do telefone móvel. Há inúmeros outros exemplos. Como andar na rua sem olhar para frente, checando SMS ou acessando a internet. Ou conversar com alguém olhando sempre para baixo, para ver se alguém está ligando ou mandando mensagem. Ou falar ao telefone no carro, usando apenas uma das mãos para dirigir. Ou usar o celular no cinema! Isso sem contar o pior de todos os pecados celulares: ouvir música sem fones de ouvido, discotecando sua trilha sonora para quem estiver por perto – e nunca, NUNCA, alguém que escuta música assim ouve algo que presta.
Quando o telefone ainda era fixo, o hábito de usá-lo era quase um sacramento. Havia um canto da casa dedicado ao aparelho – havia até móveis feitos para apoiar o telefone e ficar sentado ao mesmo tempo. Se uma ligação fosse interurbana ou fosse demorar mais tempo, era melhor fazer à noite, pois as taxas eram mais baixas. Ligar para alguém era uma atividade que requeria preparo e tempo. Era bem pouco comum ligar para alguém só para dizer que estava saindo de casa ou apenas para perguntar um ingrediente de uma receita, como fazemos hoje (isso sem contar que era preciso discar o número, em vez de simplesmente pressionar botões ou achar o nome da pessoa numa lista de contatos).
Veio o celular e estes hábitos mudaram completamente, com a exceção do fato de que ainda transformamos a ligação em um momento individual. E é aí que começa nossa falta de educação ao telefone. Basta reconhecer quem está ligando para ser teletransportado para uma esfera íntima que é habitada por apenas duas vozes.
E aí não importa se você está na rua, no ônibus, na sala de aula, no bar… As pessoas começam a conversar sem pensar nas outras que estão ao redor, conhecidas ou não. Assim, acompanhamos conversas alheias sem querer e, em poucos minutos, estamos cercados por pessoas falando sozinhas, sem parar.
A tal “roleta russa da conta” é o início de reação a tal hábito. Não deverá ser o único. Não duvido que, em pouco tempo, aparecerão restaurantes finos que pedem que os clientes deixem o celular à porta como restaurantes japoneses pedem para que se deixe os sapatos ao entrar. O problema é menos falta de educação e mais falta de noção. Vamos torcer para aprendermos a superar isso.
Minha coluna nessa edição do Link foi sobre a ressaca da web 2.0.
Quem disse que todo mundo precisa ter opinião sobre tudo?
Nas redes sociais, opinar é exibicionismo
Wando morreu. E eis que, no dia de sua morte, na quarta-feira, em meio ao luto súbito e homenagens póstumas de toda ordem (desde versões ilustradas para o hit “Fogo e Paixão” até piadas sobre um dos temas favoritos do cantor, as calcinhas), o blog Não-Salvo – um dos maiores blogs de humor do Brasil – postou uma foto de Sidney Magal em sua página do Facebook. Sobre a foto, um texto anunciava “Wando (1945-2012)” e citava um trecho da música “Borbulhas de Amor”, do Fagner.
Não era um erro. Foi de propósito, afinal o motivo era brincar com o fato de que as pessoas acabam confundindo determinadas informações e, no calor da hora, misturam lé com cré.
Os leitores do blog não só entenderam a piada como a passaram para frente, compartilhando a imagem em seus perfis na rede social. Mas como nem todo mundo conhece o site ou foi avisado de que aquela imagem veio de um site de humor, não faltaram comentários que não apenas corrigiam a imagem (“esse não é o Wando!”) como agrediam rispidamente a “ignorância” de quem postou a informação “errada”.
(Cabe um parêntese rápido sobre essa agressividade típica da internet. Uma vez que não há o contato próximo, é muito comum que se aproveitem desta frieza e distância da comunicação online para a exibição de uma fúria ameaçadora. Antes do Facebook, reclamações, acusações e ameaças ficavam escondidas sob o fato de que não era preciso se identificar para fazer comentários em sites ou blogs. Depois do Facebook, em que a identificação é capital, essa raivinha foi transformada em exibicionismo de opinião, com pessoas debatendo interminavelmente – e apaixonadamente – sobre qualquer assunto que vier à pauta. Seja um animal morto, uma declaração de um político, o resultado de um jogo ou um programa de TV – todo mundo tem opinião formada sobre qualquer assunto. Depois dos trending topics do Twitter, agora temos a polêmica do dia, no Facebook).
Mas é tudo uma questão de contexto. Como observa o fundador do site BuzzFeed, Jonah Peretti, (protagonista do Vida Digital desta edição do Link), o Facebook e as redes sociais em geral misturam notícias sérias e fúteis no mesmo ambiente – afinal, tais notícias interessam a qualquer um. Mas uma coisa é reclamar que a foto exposta não é do Wando e sim do Sidney Magal. Outra coisa é sair compartilhando qualquer tipo de informação sem checar de onde ela vem. É um exercício natural à prática do jornalismo que, aos poucos, está sendo repassado para todo o público não-jornalista.
É fácil acabar com a reputação de uma pessoa em alguns posts no Facebook. O que aconteceu com a Luíza, aquela, do Canadá, poderia não ser engraçadinho e curioso – e, sim, trágico, caso o tema fosse diferente de um pitoresco comercial de TV. Misture isso ao fato de que muitos passam para frente notícias sem nem mesmo checar de quando elas são e que há proliferação de sites de humor que fingem ser publicações jornalísticas e temos um trem saindo dos trilhos em nosso inconsciente.
Talvez seja a avalanche de informação, talvez seja algo que eu chamo de “a ressaca da web 2.0” (que permitiu a qualquer um dizer o que pensa online – e agora estamos vendo todo mundo dizer o que pensa só pelo simples fato que é possível dizer o que se pensa o tempo todo). Há a clássica frase de Gilbert Chesterton que, no começo do século 20, disse que “não foi o mundo que piorou, as coberturas jornalísticas é que melhoraram muito”.
Essa sensação de euforia e paixão – que pode ser boa ou ruim – é uma espécie de desdobramento da constatação de Chesterton. Tanta informação faz que a gente queira acompanhar esse ritmo da mesma forma, mas vale o novo ditado “Google before you tweet is the new think before you speak” (“Usar o Google antes de twittar é o novo pense antes de falar”). Sem um mínimo de ponderação, mergulhamos de cabeça no redemoinho de informação que parece nos puxar para baixo. Mas essa força não age sozinho – é preciso que você dê o primeiro passo. Por isso, calma.
E a minha coluna na edição do Link de hoje foi sobre a Campus Party:
Sem popstars, a atração da Campus Party é o público
Evento acerta ao mirar o futuro e não o passado
Acompanho a Campus Party desde sua primeira edição, em 2008, quando o evento chegou ao Brasil e era realizado ainda no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Fui a todas as edições, sempre cobrindo para o Link, além de participar de debates e entrevistar alguns de seus convidados. Mas duas coisas sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha.
Uma delas diz respeito à velocidade de conexão do evento, que, desde a primeira edição, era vendida como um dos grandes trunfos do encontro, permitindo downloads numa velocidade muito além da que tínhamos em casa, há cinco anos – espantosos 5 gigabytes de banda larga! Quem acompanha o mundo digital há um mínimo de tempo sabe que a tendência é que tal velocidade cresça a cada ano. Por isso me perguntava qual seria a grande atração da Campus Party depois que conexões ultrarrápidas virassem algo comum para a maioria das pessoas. Como já acontece hoje.
O segundo ponto era o fato de o evento se preocupar em trazer medalhões para atrair a atenção de um público ainda em construção. Assim, foram chamados nomes que às vezes nem eram tão cruciais para a história do mundo digital – como, especificamente, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore –, mas que garantiam audiência e mídia. Ou nomes importantíssimos, como o criador da world wide web, Tim Berners-Lee, que, na hora de falar, não fez jus à sua importância histórica.
Claro que houve exceções – e boas –, como a vinda do cofundador da Apple Steve Wozniak no ano passado ou a presença do hacker Kevin Mitnick na edição do ano anterior. Mas ia chegar uma hora em que a lista de figurões se aproximaria do fim, pois o mundo digital só agora alcança a maturidade.
Sem contar o fato de a Campus Party sempre pregar a colaboração e a participação como duas de suas principais bandeiras – que perdem força a partir do momento em que as grandes atrações do evento se resumiam ao público assistir a palestras, em que a maior interação com o palestrante seria depois da apresentação, em encontros como a (enorme) fila de autógrafos para o livro de Woz, no ano passado.
Eis que a Campus Party deste ano apresenta sua programação sem nenhum medalhão. Há nomes importantes e de peso, mas todos precisam ser apresentados detalhadamente para quem não é do ramo. Não há nenhum palestrante que mobilize atenções para além da cobertura de tecnologia e um dos principais debates reunirá nomes quase anônimos, mas que representam grupos que se estabeleceram coletivamente, como na mesa formada por integrantes de levantes políticos do ano passado (a Primavera Árabe, os Indignados da Praça do Sol na Espanha e o Occupy Wall Street) que se encontrarão para discutir este tipo de mobilização na tarde da próxima sexta-feira.
Sem nenhum popstar, a principal atração da feira volta a ser o público. E, para este público, o coordenador-geral do evento, Mário Teza, repete com insistência uma palavra-chave: inovação. Dito como uma tag, o termo “inovação” pode confundir, pois é comumente associado à novidade, à mudança. Mas não é tão simples assim.
Em se tratando de tecnologia e cultura digital, inovação é a gasolina do motor. A lógica eletrônica é oposta à industrial, que a antecedeu: importa menos manter as coisas como estão e mais antever as mudanças do futuro. E elas não vão parar. Erra quem cogita que as transformações digitais são passageiras, que, em algum momento, essas mudanças irão cessar e o ritmo da vida irá voltar a ser como era antes.
Esqueça: a mudança é a regra.
Por isso a Campus Party 2012 acerta ao apostar mais no futuro do que no passado da nossa idade eletrônica. Ao trazer nomes de menor calibre, facilitam até mesmo o acesso dos acampados aos palestrantes, que podem conversar com eles sem ter o receio comum do encontro com celebridades. Resta saber se, uma vez no Anhembi, vamos ter menos problemas do que as edições anteriores – mais especificamente nos debates, sem que o áudio de uma mesa redonda se misture ao das vizinhas.









