Pokémon Go é o primeiro contato sério da Nintendo com a internet e seu impacto pode mudar o mundo digital – escrevi sobre isso no Aliás do Estadão:
Sociedade da diversão
Pokemón Go vai transformar o mundo em uma enorme rede socialO jogo que leva multidões às ruas populariza a realidade aumentada e chega para fazer do planeta uma enorme rede social em movimento
Quando os primeiros Pokémons apareceram, há duas décadas, vivíamos em uma sociedade bem diferente da atual. A internet ainda se movia por fios telefônicos, seus primeiros usuários eram programadores, curiosos e jornalistas e ela só podia ser acessada por PCs, que ocupavam mesas. Celulares ainda eram só telefones móveis que nem mandavam mensagens de texto entre si. Videogames não eram jogados em rede. GPS era uma rede de satélites de uso militar começando a ser usada por exploradores. O conceito de realidade aumentada ainda estava no laboratório. Fotografias iam do filme para o papel. Não havia redes sociais.
E foi neste mundo do final dos anos 1990 que se espalhou a sanha para capturar monstros de bolso (Pokémon é uma contração de “pocket monster” em inglês). Era mais um ícone da cultura pop japonesa que invadia o Ocidente e mais uma febre infantojuvenil que se manteve firme nos seus dias de ouro, quando todo tipo de subproduto vinha com a cara dos 150 primeiros monstrinhos, sintetizado no amarelo radiante do apaixonante personagem Pikachu, um perfeito ícone pop.
A chegada da internet de banda larga na virada do milênio aconteceu simultaneamente à corrida do ouro pela música gratuita, aberta pelo pioneiro software Napster. Surgiam também os primeiros blogs – e qualquer um podia publicar na web sem pagar servidor ou entender de programação. A essa altura, a Nintendo, casa dos Pokémon, perdeu o fio da meada do mundo dos videogames, sem nunca apostar na internet.
Enquanto isso, o Google reinventava a rede com sua página de abertura minimalista e começava a crescer rapidamente. Em pouco tempo, compraria um site chamado YouTube, que nos ensinou a publicar vídeos caseiros e a consumir conteúdo em streaming (fluxo contínuo de dados pela internet). Outros tipos de sites abriam a possibilidade de publicar conteúdo e conectar-se com outras pessoas, naquilo que começou a ser chamado de “redes sociais”. Cada país tinha sua principal rede social, que foram fagocitadas no decorrer da primeira década do século pelo que se tornou a maior delas, o Facebook.
Câmeras analógicas foram sendo trocadas pelas digitais, que logo se transformariam em um dos principais acessórios dos celulares. Estes, antes artefatos caros e elitizados, aos poucos se popularizavam ao incluir outras características, até mesmo acessar a internet. Até que a Apple completou sua ressurreição apresentando seu iPhone e o conceito de smartphone. Foi o último suspiro dos computadores de mesa (que já estavam sendo substituídos pelos notebooks) e o início da era da internet móvel.
A violenta transformação pela qual o mundo vem passando graças a esses inventos dos últimos vinte anos não foi acompanhada pela Nintendo. Por muito tempo, cogitou-se a possibilidade de o encanador Super Mario ter suas aventuras transferidas para smartphone ou para aplicativos via redes sociais. O sucesso da franquia Angry Birds, por exemplo, é claramente devido à lacuna deixada pela empresa japonesa nestas plataformas.
Até que os monstrinhos saíram do estado de hibernação, há menos de um mês. Em parceria com uma empresa subsidiária do Google, a Nintendo soltou os Pokémon na rede exatamente no momento em que a internet parece ter consolidado seu ciclo de dominação e não haver mais fronteiras entre o virtual e o offline. Se antes a internet parecia ser “um lugar” para onde “íamos”, hoje ela está em toda a parte.
O bote final parece estar sendo dado com a captura desses monstros, que podem estar em qualquer lugar. Aponte a câmera do seu celular ao redor para descobrir simpáticos monstros imaginários à solta, esperando serem caçados. Monstros que não existem podem ser colocados em lugares de verdade. É uma forma de tornar a realidade mais divertida, a continuação de um movimento que surgiu no final da década passada chamado de “gameficação”. Originalmente, a gameficação da realidade tem motivos nobres: comparar a evolução de seu desempenho durante a realização de uma atividade física, fazer que a criança encontre motivação para escovar os dentes todo dia, incentivar o motorista a avisar quando ele está num engarrafamento para melhorar um mapa colaborativo de trânsito.
Essa transformação da vida em jogo é uma tendência natural do ser humano, vide o clássico Homo Ludens (1938), de Johan Huizinga, que falava na “alegria” de jogar, em busca de uma “consciência de ser diferente da ‘vida cotidiana’”. Sem perceber, transformamos tudo em jogo, e isso vale para os programas que assistimos no Netflix, a forma como batizamos os grupos no WhatsApp ou nossas redes domésticas de Wi-Fi, a forma como escolhemos as fotos a expor nas redes sociais ou o nome que colocaremos em nossos e-mails. A vida digital nos coloca para jogar continuamente.
Pokémon Go vai além desses conceitos ao trazer o jogo para a atividade online e offline simultaneamente. Além de micos coletivos e situações perigosas, o jogo – que já é um dos maiores fenômenos de popularidade da década – também nos ensinará a utilizar a realidade aumentada que vem sendo prevista há alguns anos. Em algum momento – seja com o celular, óculos hi-tech ou algum outro dispositivo (uma lente de contato?) –, começaremos a ver dados online se superporem às imagens e aos sons do mundo “real”, transformando a sociedade numa enorme rede social em movimento, privacidades vasculhadas para vender anúncios de produtos. E esse momento parece estar começando agora, com a febre Pokémon Go. Que, pelo visto, está ainda em seus primeiros dias – sem mesmo ter chegado ao Brasil, país tradicionalmente voraz consumidor de novidades online. Imagina quando ele chegar no meio dos Jogos Olímpicos…
Quando isso começar, toda a transformação a que assistimos de 20 anos para cá parecerá pequena. Prepare-se.
Como o diretor revolucionou a TV, a música e o jornalismo ao sair de cena e como esta estratégia o torna vivo para sempre – escrevi sobre este incrível legado em minha coluna de maio da revista Caros Amigos.
Ele era mesmo baixo e chamava a todos por este seu apelido – ou por variações dele. “Baixo, baixa, baixinha, baixinho” – não importava a estatura de seu interlocutor. Este quase sempre o via de cima, pois Fernando Faro, que morreu no final do mês de abril, sempre se sentava próximo ao chão quando ia entrevistar seus convidados.
Era um esperto macete de cena que quebrava completamente o gelo das apresentações de seu programa Ensaio, que fazia na TV Cultura desde o início dos anos 1970, depois de lançar o programa na falecida TV Tupi na década anterior. Ao sentar-se um nível abaixo de seus entrevistados, Faro – ou Baixo, como todos o conheciam – quebrava a defensiva típica erguida por quem faz música quando chamado para falar sobre sua vocação. Aquilo tirava a solenidade do estúdio, fazia músicos se esquecerem das câmeras, deixava a atmosfera mais casual, branda, leve – e a música fluía melhor, mais emotiva, mais próxima e mais quente.
E este nem era seu grande truque. Seu Ensaio entrou para a história quando ele mesmo se colocou fora das câmeras. E até dos microfones. Criador e apresentador do programa, Faro não aparecia. Nem sequer sua voz. Muito menos quando perguntava. As perguntas – que ele entendia como redundantes e achava que causavam certo ruído no fluxo da fala de seus convidados – não eram ouvidas durante o programa. Víamos os músicos assentindo com a cabeça, calados ouvindo as colocações do mestre de cerimônias, mas em momento algum víamos quem perguntava ou ouvíamos o que era perguntado. A questão vinha embutida na resposta, por vezes literalmente, mas em muitos casos só entendíamos a pergunta com o desenrolar da explicação dada pelo artista.
A ausência das perguntas em um programa de entrevistas era a marca registrada de seu Ensaio, mas não era a única. A ambientação meio escura, quase sempre com sombras carregadas, mesmo com as cores da TV colorida, davam um clima preto e branco que conversava tanto com o cinema europeu do final dos anos 1960 quanto com o cinema da Boca do Lixo paulistana. As imagens ganhavam profundidade ao revelar as minúcias de seus entrevistados. Músicos olhando para o lado, quase nunca olhando para a câmera, cobertos por uma escuridão acolhedora, que, como a posição de Faro, também tornava o clima do estúdio menos hostil e mais familiar. Os closes nas mãos dos instrumentistas, na textura da pele de seus entrevistados, nas rugas e recôncavos faciais, nas rachaduras dos lábios dos cantores. Havia uma proximidade intensa entre a câmera e seu foco que aproximava o telespectador do entrevistado. Não era um show, não havia maquiagem, figurino nem efeito especial – eram pessoas tocando em sua própria casa.
Havia ainda a amplitude do leque musical de Faro, um rígido crítico musical que não precisava de adjetivos ou notas para mensurar o trabalho alheio. Bastava ser chamado para o Ensaio para entrar num enorme panteão que recebia sambistas, chorões, sertanejos, roqueiros, bossanovistas, virtuosos, rappers, intérpretes e instrumentistas sem a menor distinção de hierarquia ou degraus de importância. Só o fato de estar lá já significava fazer parte de um grupo específico designado pela escolha do dono da festa. Tanto faz se fosse Cartola, Elis Regina, Los Hermanos, Racionais MCs e inúmeros artistas quase anônimos que o tempo esqueceu – Baixo tratava-os todos da mesma forma.
E também havia a longevidade do programa. Foram quase cinco décadas ininterruptas de shows semanais, ladeando artistas em ascensão que se tornaram os mestres de hoje em dia com novatos que despontaram para o anonimato, músicos de imenso apelo popular ou queridinhos da crítica musical, veteranos que não foram celebrados em seu auge e conjuntos instrumentais. A estética, o estilo, a mensagem que o meio passava, tudo se mantinha quase idêntico por todos esses anos. Essa longevidade na TV brasileira necessariamente depende de um apresentador carismático para esticar-se por décadas (como Fausto Silva, Sérgio Groissman ou Inezita Barroso) e são raros os programas que se esticaram por tanto tempo sem depender de um rosto conhecido ou mesmo mantendo a própria assinatura.
O foco no entrevistado, o clima intimista, a estética como assinatura, a amplitude de gêneros e a firmeza em manter o próprio trabalho eram as qualidades intrínsecas ao Ensaio, que é o grande legado que Faro nos deixa. Agora interrompido por questões biológicas, todo o acervo do programa – que já começou a ser lançado em DVD, tem um próprio canal no YouTube, mas não está inteiro disponível on-line – surge como uma imensa obra única, uma herança monumental sobre uma das principais contribuições da cultura brasileira para o mundo, a música.
A sacada de Faro para entrar para a história da TV, do jornalismo e da música brasileira foi sair de cena. Décadas antes de Quincy Jones colocar uma plaquinha na porta do estúdio de gravação do encontro de popstars dos anos 1980 USA for Africa, em que pedia para os intérpretes da música “We Are the World” (figurões do quilate de Michael Jackson, Bob Dylan, Stevie Wonder e Bruce Springsteen) deixarem seus egos do lado de fora do estúdio, Faro deixou o próprio ego fora da história que queria contar para que seus personagens brilhassem mais que ele.
É claro que sua ausência será sentida, mas não vista – como era em sua vida. Seu legado é um olhar lúdico sobre a diversidade e profundidade emocional e viva da música brasileira e seus autores e intérpretes, deixando que estes falassem por si. Mesmo morto Faro continuará fazendo as perguntas que ninguém ouve – e seu Ensaio continua mesmo que não seja mais gravado.
A pedidos da redação, escrevi um artigo para o Aliás do Estadão sobre como a inaptidão da classe política brasileira com os meios digitais pode nos levar a um estado de vigilância típico de ditaduras.
Enterrados no passado
Proibir o WhatsApp ou tentar limitar a navegação na rede pode até render piadas. Mas mostra como políticos brasileiros ainda não entendem a internet
Nas últimas semanas, a internet voltou ao noticiário quando se começou a falar sobre o limite de consumo de acesso à rede em pontos fixos e devido à proibição do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. Duas questões aparentemente distintas, mas que têm uma base comum apoiada sobre dois preceitos atrasados: a distância etária de nossos representantes eleitos do funcionamento prático das novas tecnologias e como essas mesmas tecnologias podem ser fortes ferramentas de controle da sociedade.
O desnível etário entre as autoridades políticas e a realidade digital do século 21 é rotineiramente noticiado quando legisladores são flagrados visitando sites pornôs ou trocando imagens por WhatsApp nas assembleias. Até o áudio do discurso de posse do hoje presidente em exercício Michel Temer (dono de ótimo 4G, para vazar 14 minutos de áudio “sem querer”) ou o vídeo em que a deputada Jandira Feghalli flagrou o ex-presidente Lula exaltando-se ao celular são exemplos de que não importa o espectro ideológico, os representantes políticos ainda estão aprendendo a lidar com a tecnologia. Qualquer adolescente sabe da importância de observar o que se fotografa, mesmo num simples selfie, de reler algo antes de enviar e da existência da navegação anônima.
Claro que não é um problema só das lideranças brasileiras. O presidente americano Barack Obama, num jantar mês passado em Washington, comparou Hillary Clinton, de seu próprio partido, com um parente velho que acabou de entrar no Facebook. “Cara América, você recebeu meu cutucão?”, disse Obama, fazendo voz de senhora de idade. “Está aparecendo na sua timeline? Não sei se estou usando isso direito. Com amor, tia Hillary.”
Só agora a geração que dava as cartas no mundo até metade dos anos 90 começa a entender a internet. E não apenas políticos. Empresários, acadêmicos, artistas, agentes do terceiro setor (e, triste dizer, jornalistas) que nasceram entre o fim da Segunda Guerra e o início da Guerra Fria até há alguns anos tratavam a rede como moda passageira, novidade adolescente, bobagem descartável como o bambolê ou o chá-chá-chá. A geração que viu a TV engolir o rádio recusava-se a crer que nos computadores havia algo tão revolucionário.
Até que a geração seguinte, que cresceu ciente do potencial dos novos meios, começou a dar certo. E empresas como Google e Facebook passaram a dominar a rede de forma avassaladora. A transposição da internet dos PCs para os celulares acelerou exponencialmente a inclusão digital, e até os pais desses políticos e empresários já trocavam memes e vídeos dos anos 90 em grupos de WhatsApp – mesmo assim, eles ainda achavam que não passava de moda passageira.
Não é. E a tão festejada disrupção proporcionada pela internet já reinventou mercados, negócios e políticas. Da mesma forma que algumas das maiores empresas do mundo hoje não têm nem vinte anos de idade, há pequenos grupos de jovens empresários desconstruindo impérios inteiros a partir de aplicativos para celulares ou serviços online. Não é só o Netflix matando as locadoras, o Spotify substituindo o rádio ou o Uber deixando os táxis no passado. É um novo sistema de funcionamento da sociedade a partir da concentração da população mundial em cidades (um fenômeno recente) e das novas tecnologias. O NuBank e o Bitcoin podem reinventar as finanças, enquanto o fundador do PirateBay quer virar a publicidade do avesso como fez com o mercado de entretenimento, desta vez associando seu sistema de micropagamentos Flattr com o sistema de bloqueio de anúncios Adblock Plus. Bloqueio de anúncios? Sim: esses dispositivos estão cada vez mais populares e podem até matar a fonte de renda de Google e Facebook, detentores de imensa parte da publicidade digital.
E qual a reação dos CEOs e políticos do planeta a esse novo funcionamento das coisas? A proibição. A censura. O controle. Embora as suspensões do WhatsApp gerem piadas engraçadinhas sobre não ter que responder mensagens o tempo todo, muita gente, que usa o aplicativo para seus negócios, perdeu dinheiro com isso. E as piadas perdem a graça quando não é o WhatsApp suspenso por uns dias, mas o Facebook fora do ar.
Rimos quando soubemos, há dez anos, da vontade da modelo Daniela Cicarelli de tirar o YouTube do ar por causa de um vídeo comprometedor que havia caído na rede. Hoje não dá mais pra rir – isso é uma possibilidade. Basta uma decisão judicial feita em qualquer uma das comarcas coloniais que tomam conta do País para que nosso acesso à internet seja cortado. Imagine você suspender a transmissão da televisão por causa de um programa de uma emissora? Ou cortar a linha telefônica de alguém cujo filho passou um trote? É uma decisão tão arbitrária quanto essa, que não é percebida assim justamente por causa dessa descompensação de entendimento entre quem regula as leis digitais e quem as utiliza. Os primeiros rascunhos de legislação digital brasileira exigiam que se digitasse o CPF toda vez que a internet fosse acessada, e que o histórico de navegação fosse guardado por meses. Imagine o dinossauro burocrático que estaria nascendo…
Associe isso a um Congresso Nacional e a assembleias legislativas comprometidas com empresas interessadas só no lucro e você tem um país dando um cavalo de pau de volta ao início do século 20. Época em que uma providência desse tipo também foi tomada de forma abrupta. O rádio era tão universal quanto a internet, qualquer um com transmissor falava de casa com o mundo inteiro. O Estado percebeu o poder mobilizador desse meio e determinou que só o governo poderia dizer quem podia utilizá-lo. Emissoras de rádio foram concedidas a grupos políticos ou familiares que o usaram também como curral eleitoral, transformando celebridades radiofônicas em políticos e distorcendo notícias. Não por acaso grande parte de nossos legisladores são descendentes dos primeiros donos de rádios, pouco interessados em compartilhar seu poder.
E isso é muito perigoso. Não bastasse a crise institucional na política do País, ainda começamos a conviver com um fantasma que pode tirar nossa capacidade de mobilização, formas de interação digital, velocidades de conexão. A suspensão de serviços digitais fere diretamente a base da teia mundial de dados, a chamada neutralidade de rede, e transforma a internet não em canal de comunicação, mas em central de vigilância. Não é exagero comparar essas decisões com a natureza de ditaduras herméticas e descoladas da realidade mundial. Quem protestar pode ficar sem acesso à internet, o que funciona hoje como exílio forçado. Dormimos no Brasil e acordamos na Coreia do Norte.
Isso não é brincadeira. Não é motivo de piada. É uma das situações mais sérias que um País pode passar, um controle sofisticado das comunicações tocado por pessoas com a cabeça enterrada no século passado. E isso não mudou com saída de um presidente e a entrada de outro, interino. Então, quem não quiser fazer parte disso, muda de país? Forja a própria morte e deleta-se da internet? Entra no modo “radio silence” para fugir do controle?
A Céu me chamou pra escrever o release do disco novo dela, o inacreditável Tropix, disco que tenho ouvido sem parar há mais de um mês e que cada vez tenho mais certeza de que é seu melhor trabalho. Tropix é um desvio inusitado via pista de dança, um disco noturno e digital, gravado com um “power trio de teclado”, formado por Lucas Martins, Pupillo e Hervé Salters (do General Eletriks), estes dois últimos produtores do álbum. Ele ainda conta com cover de Fellini (“Chico Buarque Song”, que timing!), participações de Tulipa Ruiz e Pedro Sá, timbres sintéticos, harpeggiator e tamba, além de cordas inacreditáveis em sua reta final, três músicas incríveis. “Perfume do Invisível” é só um gostinho. Um dos grandes discos do ano, maior satisfação fazer essa apresentação que vem a seguir. O disco chega ao Spotify na sexta-feira.
Céu brinca com beats. Debruçada sobre a luz do monitor, ela move o cursor de lá para cá, clicando e arrastando frases musicais traduzidas em gráficos horizontais. E por mais fluidos e quentes que sejam os sons que ela manipula, eles se traduzem em uma linguagem dura, reta, quadrada e fria. Graves encorpados, vocais sussurrados, ritmos malemolentes – todo calor humano desaparece quando visualizado por gráficos de programas de edição de áudio. Foi quando ela percebeu a constância do ritmo na sequência de picos de uma determinada onda sonora e um clique soou – dentro dela.
Foi a partir deste insight que ela começou a mais ousada reinvenção de sua carreira. Tropix é um disco sintético, noturno, reluzente. “Perfume do Invisível”, a faixa de abertura, começa com a cadência mole e vocais de apoio que remetem diretamente à faixa-título de seu segundo disco, Vagarosa. Mas logo em seguida entra a guitarra disco music e o beat de pista de dança. De repente ela se desvencilha das diferentes camadas orgânicas que compunham seu universo musical para entrar num mundo de timbres frios, linhas de baixos pontiagudas, viço robótico, ciclos repetitivos, eletrônica vintage.
Tropix é um mergulho neste universo de texturas artificiais que atravessa diferentes experimentos sônicos da segunda metade do século passado: o trip hop dos anos 90, a discoteca do final dos anos 70, o R&B dos anos 80, o casamento do hip hop com a música eletrônica. No entanto, não é uma viagem no tempo. O novo disco de Céu é um olhar do século 21 e traça uma genealogia pessoal de um mundo musical específico, um processo semelhante à viagem jamaicana feita em seu disco-irmão Vagarosa. Mas este era um disco que habitava o vasto e imponente cânone do reggae, e sua conexão com o sotaque brasileiro da musicalidade de Céu fazia um sentido sentimental lógico, devido à conexão entre as tradições musicais dos dois países.
Já este disco de 2016 é uma incógnita. Mais um desafio autoproposto como todos seus discos, Tropix é um salto num escuro que Céu sequer havia flertado anteriormente. E em vez de cercar-se diferentes músicos e produtores para lhe auxiliar nessa jornada, ela preferiu liderar trabalhar com a banda enxuta como a que vinha excursionando após o lançamento de seu DVD ao vivo, em 2014, com apenas três músicos. A cozinha deste grupo era a mesma que a acompanhou neste período, com Pupillo, o maestro do ritmo da Nação Zumbi, e o seu fiel escudeiro, o baixista Lucas Martins. Mas em vez da guitarra, Céu queria um power trio com teclado – e chamou o francês Hervé Salters, com quem já haviam tocado em outras oportunidades, para assumir esse papel.
Líder do grupo de funk eletrônico General Eletriks, Hervé tocou com Femi Kuti, Mayer Hawthorne e DJ Mehdi e passou por São Francisco na virada do século, quando começou a trabalhar com a cena de hip hop local (com nomes como Lyrics Born, Blackalicious e outros integrantes do coletivo Quannum). Sua sensibilidade sintética – e notória compulsão por colecionar teclados e instrumentos eletrônicos antigos – já lhe rendeu o rótulo de “o Ennio Morricone do século 21” e encaixou-se perfeitamente como na nau vislumbrada por ela. Os dois começaram a falar em trabalhar juntos depois que ela o convidou para tocar teclados em “Rainha” num show que fez em Berlim (onde Hervé mora atualmente) em novembro de 2014.
Porque por mais que Céu tenha Lucas, Pupilo e Hervé (os dois últimos produzindo o disco) como integrantes de seu time, é ela quem pilota essa nave. A cantora e compositora se estabeleceu como uma das principais vozes da atual música brasileira ao quebrar uma série de paradigmas relacionados ao papel da mulher neste cenário. Ela não é a musa inspiradora, nem intérprete à mercê de produtores e compositores nem sequer uma cantora cuja escola foi a bossa nova. Ela mesma compõe suas músicas, ela mesma escolhe seus rumos musicais e as fronteiras por onde pode desbravar e sua formação musical vai do jazz ao hip hop, passando pelo samba, reggae, música caribenha, africana e nordestina.
E a cada novo disco ela ampliava o território de abrangência. No homônimo disco de estreia, cozinhou suas influências musicais num peculiar e suave caldo sonoro, temperado principalmente com samba, reggae e música africana. No disco seguinte, Vagarosa, fez a nuvem da influência jamaicana dominar o ambiente e assim aumentar sua área de atuação. No cinematográfico Caravana Sereia Bloom – uma espécie de “road movie” de som -, fez os horizontes da estrada ampliarem ainda mais seus domínios sonoros. Mas por mais que sejam universos diferentes – e concêntricos -, os três primeiros discos têm um calor sonoro que se mistura com uma textura musical de leve aspereza, que alinha o sussurro aos estalos do vinil e amplificadores valvulados.
Daí a ousadia de Tropix. Nele Céu despede-se por completo daquela estética que funcionou como porto seguro em seus primeiros passos como artista. Ao fechar esse ciclo com o lançamento do DVD ao vivo, ela viu-se pronta para explorar os universos musicais que quisesse. E escolheu a noite néon, dos beats e timbres eletrônicos antigos, da pista de dança e do pulsar de ciclos repetitivos do harpeggiator.
Não é, no entanto, negação de seu passado – muito pelo contrário. Ao trazer essa nova sonoridade para sua paleta, ela consegue equilibrar perfeitamente sua sensibilidade neste cenário plástico e conseguimos perceber cada vez mais forte quem é a autora Céu, onde está esta cabeça musical para além das camadas estéticas que a envolvem. E assim o minimalismo eletrônico que abre “Arrastar-te-ei” enrola-se no contratempo da tamba inventada pelo baterista Helcio Milito (que atravessa outras parte do disco); o lirismo inicial de “Amor Pixelado” engata num groove funk seco e sintético e o tecnopop que abre “Etílica” funde-se à guitarra disco music de Pedro Sá (um dos poucos convidados do disco) para desembocar num caleidoscópio de vocais psicodélicos num dueto cantado e falado ao lado da outra convidada, a cantora e parceira Tulipa Ruiz.
E entre os timbres frios podemos ver cores de outros gêneros, como o xaxado eletrônico de “Minhas Bics”, o bolero futurista “Sangria” e o indie ambient “Chico Buarque’s Song”, versão do obscuro grupo alternativo paulistano Fellini, um universo lo-fi dos anos 80 recém-descoberto pela cantora. Outros momentos são puramente íntimos, como a levada caribenha 8-bit de “Varanda Suspensa” que recria os nostálgicos encontros com seu avô no litoral norte de São Paulo e cujos vocais ao final foram criados por sua filha Rosa Morena. A mesma Rosa serviu de inspiração para a música de ninar “A Menina e o Monstro”, composta quando Céu começou a perceber o susto que a filha levou quando começou a aprender a ler – ao perceber que tudo ao redor dela era texto.
O disco encerra com suas três faixas mais quentes, a sinuosa “Camadas”, o jazz funk “A Nave Vai” (composta por Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi) e a borbulhante “Rapsódia Brasilis”, as três ornadas por cordas tão alheias ao universo musical de Céu quanto os timbres eletrônicos que abrem Tropix, mostrando que ela está disposta a ir muito mais além. Em sua capa, pela primeira vez, Céu encara o mundo de frente, diferente do olhar tímido do primeiro, do perfil absorto do segundo e do retrato distante do terceiro. Em Tropix ela nos olha fixamente, sem ter medo de mostrar que sabe que já está em um novo estágio – e, mais do que nunca, é ela quem decide isso.
O incansável Thiago França queimou a largada e deu a partida no carnaval 2016 ao lançar no primeiro dia do ano o primeiro disco de marchinhas de sua inacreditável Espetacular Charanga do França. O saxofonista assumiu o papel de puxador de bloco de rua e chamou uma turma da pesada para se juntar ao seu coro, incluindo nomes como Rodrigo Campos, Tulipa Ruiz, Clima, Luiz Chagas, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Juliana Perdigão, Douglas Germano, Tika, entre outros. As composições têm títulos como “Marchinha do Pitbull (homo pitbullicus)”, “Gourmetizada”, “Cara do Apetite” e “Ferro na Boneca” e trazem o astral das velhas marchinhas para o século vinte e um: “Eu sou compositor, preciso dar o meu parecer sobre a coisa, senão não faz sentido pra mim”, ele me explica. “O repertório clássico é maravilhoso, realmente é, mas também porque dialoga com a nossa memória. A gente cresceu cantando, mas muitos assuntos precisam ser revistos, atualizados. Não quero ficar o resto da vida cantando “se a cor não pega, mulata quero seu amor”, por mais que seja um sucesso, que cumpra a sua função de fazer o povo cantar, é ofensivo. Aqui em SP estamos inventando nosso carnaval, tá tudo no começo. Os blocos mais tradicionais têm 10 anos, é muito pouco! Por que não criar do nosso jeito, como a gente acredita?”
A preocupação política com o carnaval vem estampada no título do disco, colocado para download no site do músico, que chama-se O Último Carnaval de Nossas Vidas: “Tem dois sentidos: um, no sentido de brincar o carnaval como se não houvesse amanhã, se entregar, se permitir sem julgar, experimentar, se jogar mesmo; todo carnaval tem potencial pra ser histórico. O outro, é que, em se tratando de São Paulo, com essa onda conservadora que vem por aí, o nosso direito de fazer a festa tá sempre ameaçado. se a gente não fizer direito e não cuidar do que é nosso pode ser que seja mesmo o último carnaval de nossas vidas.” A seguir o resto da entrevista que fiz com Thiago:
Conta a história da ideia da Charanga até a realização dela no carnaval do ano passado.
Em 2013, quando a banda surgiu, já fazia uns anos que havia me distanciado de tocar samba no dia a dia, e a vontade era retomar esse repertório, fazer um furdúncio no pré-carnaval. Mas a sonoridade do sopro com a percussão, sem instrumentos harmônicos, me impactou tanto que imediatamente eu comecei a compor pra essa formação, e entendi que seria mais um projeto constante. Mesmo tendo o Pimpa tocando bateria, eu falo “percussão”, porque ele é um grande percussionista, essa linguagem tá impregnada no jeito dele de tocar, é por isso.
Imediatamente, todo mundo começou a pedir um bloco da Charanga. A princípio fui reticente, não imaginava que pudesse rolar tão bem quanto rolou. Queria que fosse tudo acústico, no chão, sem carro, sem equipamento, e não imaginava que teria quorum. Daí numa brincadeira com um grandessíssimo fundo de verdade, no finalzinho de 2014, fiz uma convocação via Facebook pro bloco, e a resposta foi imediata e muito positiva, tanto de músicos afim de tocar quando de gente querendo ajudar a coisa a acontecer. Foi lindo, desfilamos com a rua lotada, quase 2.500 pessoas, com uns 20 sopros e mais uns 30 percussionistas. Cumprimos nosso trajeto debaixo de um dilúvio bíblico e ali, debaixo daquela água toda, o Espetacular Bloco da Charanga virou pra mim um compromisso definitivo.
O que dá pra esperar da saída da Charanga esse ano?
Cara, não sei. Ano passado eu imaginei umas 400 pessoas, deu 2.500. Esse ano, o pessoal tá dizendo que vai ter mais gente. Só vamos saber depois que passar… Mas a idéia é a mesma. não tem patrocínio de cerveja de milho transgênico, não tem carro de som, é a gente no chão, todo mundo junto e misturado. Mas esse ano vai ter corda pra proteger a banda, pra evitar contar demais com a sorte como foi o ano passado.
O carnaval em SP tá melhorando?
Sim. Em comparação com os outros carnavais que conheço, Rio, Salvador e Recife, aqui o pessoal ainda é mais contido, se fantasia pouco. A retomada, aqui, passa muito por um lance político, de ocupar espaços públicos, da demanda por cultura, por eventos gratuitos ao ar livre, pra gente poder sair de casa, tirar o limo do apartamento. Esse lado a gente já aprendeu, mas agora precisa desenvolver mais o lado musical, artístico: compor, se fantasiar, começar um movimento cultural. Ainda tem muito pouco músico/artista envolvido nessa parte de criação, e é um terreno vasto, frutífero, muita coisa boa pode surgir disso.
E a Space Charanga, toca no carnaval?
Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que a gente faça o SpaceFreeBloco no sábado, tocando coisas absurdas, pode ser que não. A Space é um mistério…
E o que mais você tem feito com previsão de lançar esse ano?
Depois do carnaval a gente lança a continuação do disco da Charanga, outro compacto com 4 músicas, como foi o primeiro, com repertório não-carnavalesco. Tem o disco do meu duo de sax barítono e bateria com o Sergio Machado. Deve rolar também pro meio do ano o terceiro do Metá Metá. Pro primeiro semestre é isso, mas ainda tem 2015 rendendo assunto, foram 4, entre eles o Coisas Invisíveis, que assinei como Sambanzo, você viu? E um projeto de rap com o Síntese. Mas certamente a gente vai inventar mais coisa.
Criolo e Ivete, Naldo e Mano Brown, Seu Jorge e Capital Inicial – parcerias improváveis de 2015 são provas de maturidade musical, uma das principais características do mercado brasileiro da música no ano que está chegando ao fim, como escrevi nessa matéria pro UOL.
E na minha coluna na revista Caros Amigos do mês passado eu falei sobre o reencontro de Baby Consuelo e Pepeu Gomes no palco do Rock in Rio deste ano – e deixo abaixo alguns vídeos que fiz durante esse mítico encontro.
Baby do Brasil puxou o ex-marido Pepeu Gomes de um lado e o filho Pedro Baby do outro, ambos com guitarras em punho. Haviam acabado de tocar “Mil e Uma Noites de Amor” no palco Sunset do Rock in Rio e Baby não se cabia em si: “Esse é um momento único na história da música brasileira. Talvez mais cem anos pra acontecer alguma coisa parecida”, disse a cantora, emocionada por estar fazendo música com o pai de seu filho e com o próprio filho. E realmente foi um momento tanto histórico quanto emocionante.
Ainda mais se levado em conta que ele aconteceu no imenso shopping a céu aberto que é o Rock in Rio, um parque temático sobre si mesmo em que os patrocinadores e a históriia do festival parecem ser mais importantes do que qualquer um dos artistas que venha subir em qualquer palco. No meio daquela bolha de plástico movida a dinheiro, um casal de ex-hippies reencontra sua energia vital ao se entregar a versões intermináveis de hits imortais que dominavam o rádio brasileiro e pavimentaram o caminho para o pop dos anos 80.
Porque Baby e Pepeu, mais do que integrantes de uma das principais bandas da história do rock brasileiro (os Novos Baianos), têm, juntos, uma carreira digna das melhores bandas de rock dos anos 80 – só que eles vieram antes. Pertencem a uma geração que começa a romper tanto com os valores da ditadura militar quanto os da resistência civil, brincando com o pop (antes visto como “alienante” ou “imperialista”), com instrumentos elétricos, com sexo, drogas e rock’n’roll de forma que afrontavam o status quo da MPB e o tradicional cancioneiro latino-brasileiro.
São bandas e músicos que pavimentaram o caminho para o chamado “pop rock” dos anos 80 na marra, forçando limites estéticos e comportamentais como se assumissem uma missão de retirar o Brasil de um atraso cultural imposto pela relação entre o governo militar e a cultura do protesto, questionando valores e criando polêmicas. Gente como Raul Seixas, Rita Lee (primeiro com o Tutti Frutti e depois com Roberto de Carvalho), Guilherme Arantes, Fagner, Ritchie, Secos e Molhados (e a carreira solo de Ney Matogrosso), Zé Ramalho, Eduardo Dusek, A Cor do Som, Marina Lima e até artistas de gosto duvidoso como Sidney Magal, Gretchen, Fabio Júnior, A Turma do Balão Mágico e até Xuxa – donos de hits que desafiaram a mesmice e a elitização da MPB e prepararam o território para as duas gerações de bandas que chamamos comumente de “rock brasileiro dos anos 80”: a carioca (formada por Lulu Santos, Kid Abelha, Blitz, João Penca, Lobão e os brasilienses Paralamas) e a paulista (formada por Ira!, Titãs, RPM, Ultraje a Rigor e os brasiliense Legião Urbana). A história desta geração é contada com minúcia no recente Pavões Misteriosos, que o jornalista André Barcinski lançou no ano passado pela editora Três Estrelas.
Baby e Pepeu, por terem sido um casal e por terem se divorciado, no entanto, não levaram sua carreira adiante ou se entregaram a um fácil revival. Diferente da maioria dos artistas que tiveram seu auge entre anos 70 e 80, a dupla não arriscou nenhum retorno de sua carreira como casal até o reencontro no Rock in Rio. Até voltaram a subir juntos num palco como Novos Baianos, mas aí era uma química de grupo, não apenas de casal. E os dois seguiram seus rumos: Baby mudando o sobrenome de Baby Consuelo para Baby do Brasil e convertendo-se à religião evangélica, exaltando Deus em todas as possibilidades. Pepeu seguiu sua carreira de guitar hero exibindo-se mais como músico instrumental do que como compositor pop.
O elemento-chave para a reconciliação – puramente artística, os dois nunca foram brigados fora do palco – foi a presença do filho Pedro Baby. Um dos inúmeros filhos do casal, coube a ele a tarefa de reunir pai e mãe novamente num mesmo palco, para celebrar uma carreira e uma parceria que permanece intacta no imaginário brasileiro. E parece que o filho apelou para Deus, desafiando a mãe sobre a naturalidade daquele reencontro. Foi o suficiente para que tudo começasse a funcionar. Para algo aquilo tinha de servir.
Não custa lembrar também que o reencontro foi encomendado pelo Rock in Rio justamente pela autocelebração do próprio festival, que completava 30 anos de vida e que usava isso como desculpa para apostar em atrações que lembrassem outras edições do festival. Baby e Pepeu estiveram na edição inaugural, em 1985, dois anos depois de terem sido barrados na Disneylândia acusados de quererem chamar mais atenção que as atrações daquele parque (sério, o que deu origem à música “Barrados na Disneylândia”). Se não fosse a presença dos dois em 1985, talvez não os veríamos juntos em 2015. Para algo aquilo tinha de servir.
Uma vez juntos no palco, a química musical era impressionante. Baby e Pepeu são praticamente a mesma pessoa em corpos diferentes, mesmo décadas sem tocarem juntos. O transe musical que entravam em todas as músicas – esticando hits de três minutos em versões que chegavam quase aos dez minutos – era contagiante e o público que tinha ido assistir aos Paralamas do Sucesso, Rod Stewart e Elton John (que também tocavam no festival no mesmo dia) logo estava sendo carregado pelos refrões e solos de músicas como “Mil e Uma Noites de Amor”, “Menino do Rio”, “Telúrica”, “Todo Dia Era Dia de Índio” e “Masculino e Feminino”, além de dois clássicos dos Novos Baianos, “Tinindo Trincando” e “A Menina Dança”.
Pepeu se emocionou e chorou logo que entrou no palco, deixando o show ainda mais intenso emocionalmente. Baby tinha que seguir sua pregação, citando o nome de seu salvador a cada intervalo entre as músicas, mas mesmo este exagero não diminuía a celebração musical. Entre os dois, Pedro Baby visivelmente emocionado e orgulhoso de ter realizado e participar daquele encontro, escorregava a bordo de sua guitarra em duelos quentes ao lado do pai, enquanto a mãe sacudia-se entre os dois. Foi um dos grandes momentos do Rock in Rio e da música brasileira em 2015. Tomara que eles repitam a dose em mais shows.
Escrevi lá no meu blog no UOL sobre o porque Frank Sinatra – que completaria 100 neste sábado 12 – foi o precursor de Elvis, Beatles, Dylan, Madonna, Michael Jackson, Lana Del Rey, Rihanna e Justin Bieber ao criar a categoria popstar no início do showbusiness do século passado.
Falei de uma teoria pode explicar por que o personagem mais odiado de Guerra nas Estrelas poderia ser seu grande vilão lá no meu blog no UOL. É extensa mas vale a pena.
Minha primeira colaboração com o novo jornal Nexo é um perfil sobre a importância do Instituto, que com o lançamento de seu segundo disco Violar oficializa a saída de Daniel “Ganjaman” Takara e transforma o coletivo na dupla original Rica Amabis e Tejo Damasceno.
Dá pra ler o texto na íntegra lá no Nexo – e aproveita pra fuçar este promissor novo jornal, que tem um monte de gente boa no expediente, dá uma sacada nos créditos da matéria.