A casa de shows Áudio estava lotada neste sábado quando Marcelo D2 veio com seu grupo Um Punhado de Bambas para a festa de lançamento do Toca UOL, nova editoria de música brasileiro do portal citado, transformando sua apresentação numa roda gigante de samba, em que ele era o único músico de pé na maior parte do show, enquanto todos os músicos o cercavam sentados em roda. Usando seu disco mais recente, Iboru, como base da apresentação, ele também visitou seus sambas de discos anteriores (como “1967” de seu disco de estreia e “Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá)”, parceria com Seu Jorge no disco A Arte do Barulho) e passeou por clássicos do gênero, cantando Zeca Pagodinho (“Maneiras” e “Cabô Meu Pai”, que usou para encerrar o show), Fundo de Quintal (“Lucidez”), Beth Carvalho (“Água de Chuva no Mar”, que dividiu os vocais com sua companheira Luiza Machado, que também é vocalista na banda) e Leci Brandão (numa versão da pesada de “Zé do Caroço”). fazendo todo mundo cantar junto. Sempre falando pacas entre as músicas – afinal, é o D2 – ele estava abalado pela morte de duas pessoas próximas à banda e ainda deu sua alfinetada no atual prefeito de São Paulo para deixar claro sua posição política na véspera da eleição paulistana, mas nem isso tiro o gás da apresentação, que só pecou por ser curta e não ter um bis. Showzaço.
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Thom Yorke começou sua tão aguardada turnê solo essa semana, fazendo três apresentações na Nova Zelândia em que trouxe algumas inacreditáveis pérolas, como canções que toca pela primeira vez sozinho no palco (como “Kid A”, “Packt Like Sardines in a Crushd Tin Box” e “The Daily Mail” do Radiohead e “Bodies Laughing” do The Smile), outras que não tocava há anos (como “How to Disappear Completely”, “Karma Police”, “Street Spirit (Fade Out)”, “Videotape”, “Let Down” e “Lucky” – esta última ele que não tocava solo há mais de duas décadas!), músicas de seu primeiro disco solo, da trilha de Suspiria e dos grupos U.N.K.L.E. e Atoms for Peace. E como sempre tem um fã salvador filmando as músicas, separei algumas delas aí embaixo, mostrando a versatilidade de Thom entre violões, guitarras, synths, piano, vocais e teclados, sempre esmerilhando, com aquela emoção. Uma maravilha, quem dera assistir a isso.
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Quando Dua Lipa lançou seu clássico instantâneo das pistas, em 2020, foi atropelada, como todos nós, pela pandemia e o que poderia ser um colosso dançante para entrar no imaginário coletivo tornou-se um disco escapista para aquele ano pesadelo em que mergulhamos a partir daquele fatídico março. Sem a possibilidade de fazer shows, ela em vez de optar por lives, propôs uma versão remota do programa Tiny Desk, da emissora pública norte-americana NPR, como um clipe em movimento do que poderiam ser suas apresentações ao vivo, transformando sua edição do programa em um acontecimento online que fez parte do planeta se acabar de dançar mesmo recluso socialmente. A expectativa para o sucessor de Future Nostalgia aumentou quando o homem Tame Impala logo Kevin Parker apareceu na ficha técnica, mas infelizmente Radical Optimism, lançado no início do ano, soa como assistir pela rede de segurança uma trapezista que achávamos que estava voando, com boas músicas mas nada nem remotamente parecido com o assombro dance que foi o disco de quatro anos atrás, quase como uma versão de si mesma gerada por inteligência artificial – funciona, mas parece que não tem alma. E isso foi endossado quando ela voltou ao programa que bateu recorde de audiência em sua aparição em 2020: a nova edição do programa traz versões que parecem soar chochas comparadas às músicas originais, que no entanto só revelam sua fragilidade musical, tornando o programa tão esquecível quanto o anterior fora memorável. Uma pena.
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E a primeira edição do Inferninho Trabalho Sujo na Porta Maldita seguiu exatamente a premissa que cogitei quando bolei a festa há pouco mais de um ano, reunindo três bandas novíssimas que não se conheciam e que trouxeram seus pequenos públicos para assistir inclusive aos shows das outras bandas, criando aos poucos a sensação de que aquilo que está acontecendo ao redor de cada grupo é mais extenso do que a amplitude pontual de cada um deles. A noite começou com o show cru e entrosado do trio Los Otros, fazendo sua sexta apresentação em público. A simbiose do casal vocalista, o guitarrista Tom Motta e a baixista Isabella Menin, dá a tônica da banda e a sua dinâmica entre vozes e instrumentos – e com o público – é acompanhada com empenho pelo baterista Vinicius Czaplinski, que também faz alguns vocais de apoio. Além de suas primeiras composições, o grupo ainda tocou uma música do Elvis Costello (“Pump It Up”), uma da Rita Lee (“Papai me Empresta o Carro”), outra do Charly Garcia (“La Sal No Sala”) e T-Rex (“20th Century Boy”), esta tocada num bis improvisado.
Depois deles foi a vez da banda Florextra, também em um de seus primeiros shows ao vivo, fazer sua primeira apresentação no Porta Maldita, puxando mais a linha para a MPB, principalmente devido à presença de sua vocalista, a sempre sorridente Giu Sampaio. Mas a dinâmica entre os outros músicos (Gabriel Luckmann, guitarrista que também faz vocais de apoio, o baixista e flautista Ma Vettore, o tecladista Alê London e o baterista Pepito – que trocou de instrumentos com Gabriel na última música) caminha entre uma MPB que equilibra-se entre a bossa nova e a Jovem Guarda e um indie rock dócil, cativando o público presente.
A terceira atração da noite foi o grupo de mais estrada naquele palco, embora também seja uma banda em seus primeiros dias. O trio Jovita orbita entre o rock psicodélico nitidamente influenciado por Boogarins e viagens instrumentais que conversam com fortes ecos de Clube da Esquina (principalmente a partir dos vocalizes em falsete do guitarrista João Faria), música brasileira tradicional e eletrônica (esses cortesias do synth e das percussões do baixista Nicolas “Bigode” Farias) e grooves instrumentais nascidos entre as décadas de 60 e 70. A bateria de Guilherme Ramalho aterra com vontade os devaneios do guitarrista e do baixista e juntos os três propõem voos quase instrumentais que mostram que a banda tem um futuro próximo promissor – ainda mais agora prestes a gravar seu primeiro disco. Um Inferninho didático, que ainda contou com o ar familiar e underground característicos do Porta Maldita, um lugar com pouco tempo de vida mas muita história pra contar… E quando eu tava discotecando madrugada adentro, temperado por algumas doses de Amaral, eis que surgem vários conhecidos perdidos na noite em busca de uma saideira, o que transformou a pisa do Porta Maldita numa boa viagem ao passado, com direito a Television, Smiths e Elvis Costello – e há quanto tempo eu não tocava “A Forest” na pista…?
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Chegando no fim de outubro e já está na hora de anunciar as atrações de novembro da curadoria de música do Centro da Terra. Quem segura as segundas-feiras do mês é o inigualável Jair Naves, que aproveitou o convite para passear por diferentes facetas da sua musicalidade dentro da temporada que batizou de O Significado Se Desfaz no Som, quando faz quatro apresentações distintas, começando com um show acústico de sua eterna banda Ludovic (dia 4), passando por uma apresentação ao lado de seu parceiro musical mais longevo, Renato Ribeiro (dia 11), um show ímpar com a banda que o acompanha atualmente (dia 18) e encerrando o mês tocando ao lado do trio paraense Molho Negro (dia 25). Os shows de terça-feira começam no dia 5, quando a poeta Natasha Felix convida o DJ Glau Tavares para uma versão de seu texto O Primeiro Segredo Dito a Lázaro, que mistura com obras de Nicanor Parra, Sylvia Plath, Stella do Patrocínio e Saidiya Hartman, além de outros poemas de sua lavra no espetáculo Lamber as Feridas. Na semana seguinte, dia 12, assistiremos à estreia nos palcos de Leon Gurfein, que montou uma banda para essa primeira apresentação ao lado de Helena Cruz, Lauiz e M7i9, que batizou de Leon y Las Gatas Embarazadas. Na terceira terça-feira do mês, dia 19, a curitibana Bruna Lucchesi faz a transição entre seu disco atual, que celebra a obra de Paulo Leminsky, e seu próximo trabalho, em que navega por poemas musicais de Patti Smith e Bob Dylan num espetáculo batizado de Quem Faz Amor Faz de Tudo. As atrações musicais de novembro no teatro terminam na última terça do mês, dia 26, quando a vocalista Stephanie Borgani se reúne à cantora Marina Marchi e aos músicos Marlon Cordeiro (saxofone tenor) e Feldeman Oliveira (trombone) para mostrar suas composições numa apresentação chamada de “Mímica” e Outras Peças. Atrações inéditas e exclusivas que também fazem parte das comemorações do 29° aniversário do Trabalho Sujo, que acontece em novembro. Os espetáculos no teatro começam sempre pontualmente às 20h e os ingressos já podem ser comprados na bilheteria e no site do Centro da Terra.
#centrodaterra2024
Esse eu realmente não acreditei que ia acontecer, quando a 30e anunciou o festival itinerante encabeçado pelo Offspring para o ano que vem (ao lado de outras bandas como Sublime, Rise Against,The Damned, The Warning e Amyl and The Sniffers, passando por Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, cada praça com um diferente time de bandas abrindo para a atração principal), a única banda que eu realmente queria ver ao vivo era a Amyl and The Sniffers, mas achava muito pouco provável que rolasse fora do festival. E não é que o Cine Joia conseguiu essa proeza e traz os melhores punks do mundo hoje para um show próprio no dia 6 de março do ano que vem. Nada mal, hein? Os ingressos já estão à venda neste link.
Nossa senhora Patti Smith volta ao Brasil para uma única apresentação no recém-inaugurado Teatro Cultura Artística, que aproveita a oportunidade para ampliar sua programação para além da música erudita. Além de Patti, que veio pela última vez ao país em 2019 e apresenta-se no teatro à frente do coletivo Soundwalk Collective no dia 30 de janeiro do ano que vem, o teatro também fará outras apresentações fora de seu escopo tradicional nos meses seguintes, realizando apresentações de Alaíde Costa e José Miguel Wisnik em março, da cantora norte-americana Samara Joy, que esteve no Brasil em 2023, em julho e da dupla Sheku Kanneh-Mason e Isata Kanneh-Mason em outubro. Os ingressos para o show de Patti serão vendidos a partir do próximo mês, assim que estiverem à venda reforço por aqui.
Não é boato e a própria Kylie Minogue acaba de confirmar que passa pela América Latina no ano que vem. Além de shows em Buenos Aires, Montevidéu, Santiago, Bogotá, Cidade do México, Guadalajara e Monterrey (veja as datas abaixo), ela também passa por São Paulo, quando apresenta-se no Ginásio do Ibirapuera no dia 15 de agosto do ano que vem. E os ingressos começam a ser vendidos no dia 28 agora – mais informações neste link. Continue
LCD Soundsystem, Charli XCX, Stereolab, Kim Deal, Haim, Spiritualized, Jesus Lizard, Wet Leg, TV on the Radio, Salif Keita, Floating Points, Magdalena Bay, Jamie Xx, Idles, Chappell Roan, Cat Power, Fontaines D.C., Caribou, Parcels, Clairo, Beach House, FKA Twigs, Sabrina Carpenter, Beabadoobee, John Talabot, Destroyer… OLHA A ESCALAÇÃO DO PRIMAVERA DE BARCELONA DO ANO QUE VEM… Os ingressos começam a ser vendidos na próxima semana através desse link.
Nesta quarta-feira o Sesc Pompeia assistiu à mais um reencontro do mitológico grupo pós-punk paulistano Voluntários da Pátria, com a mesma formação que gravou seu único disco, que completa quatro décadas neste 2024. A apresentação reuniu mais uma vez os guitar heroes Miguel Barella e Giuseppe “Frippi” Lenti, o baixista Ricardo Gaspa, o baterista Thomas Pappon e o vocalista Nasi na primeira vez em que o grupo tocou ao vivo as duas músicas que gravaram, à distância, durante o período pandêmico, “Ainda Estamos Juntos” e “O Voluntário”. Mesmo entrando na sexta década de vida, seus integrantes mantém o pulso firme dos bons tempos, à exceção do vocalista, que parece menos dedicado ao retorno que os outros quatro, mas que fez um show melhor do que o que assistimos em 2019, quando o grupo tocou pela última vez, quando era curador do Centro Cultural São Paulo. E sempre que um evento desse porte acontece é uma oportunidade ótima para cruzar com diferentes ícones da cena paulistana de diversas épocas, todos vindo saudar o legado de uma banda única no rock brasileiro – além de Pappon ter revelado quem é o homenageado na música “O Homem Que Eu Amo” – quem foi, sabe.
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