Bem foda o primeiro show da temporada 2012 do Prata da Casa. A casa cheia combinou com a lua cheia e Ogi aproveitou a oportunidade para apresentar o trabalho de dos compadres MCs que subiram ao palco com ele (Henrick Fuentes e sua “Chave de Cadeia” e James Ventura com sua “O Rap É Fato”), além de, claro, desfilar suas Crônicas da Cidade Cinza. Filmei uns trechos do show: o video logo abaixo resume o final da noite e os que vêm logo depois têm trechos do começo.
E lembra que semana que vem tem o Cícero, hein!
Ogi – “Noite Fria” / “Talarico” / “A Vaga” / “Profissão Perigo”
Hoje começa a minha curadoria do Prata da Casa, no Sesc Pompéia – e o primeiro nome que escolhi foi o Rodrigo Ogi. Abaixo, o texto de apresentação que fiz para o show de hoje.
Os anos 10 têm sido promissores para o rap nacional, principalmente por consolidar carreiras de artistas que há anos “no corre”. Ogi (nascido Rodrigo Hayashi) é desses: lançou-se no grupo Contra Fluxo e já pichava anos antes de começar a rimar – os grafiteiros Osgêmeos fizeram a capa de seu primeiro disco solo justamente por serem conhecidos desde os tempos do pixo -, mas só lançou seu primeiro trabalho solo agora. Crônicas da Cidade Cinza foi festejado desde seu lançamento no primeiro semestre, terminando o ano entre os melhores discos nacionais de 2010. De título auto-explicativo, o disco tece sua narrativa a partir de diferentes pontos de vista sobre São Paulo em faixas curtas e dirigidas como pequenos filmes, de ambiência estudada e rimas que fogem do óbvio. Em Crônicas vivem o nordestino exilado (“Eu Tive um Sonho”), a vítima de violência policial (“Noite Fria”), o motorista da madrugada (“180 por Hora”), o operário (“Corrida de Ratos”), o motoboy (“Profissão Perigo”) e outros personagens comuns ao cotidiano de São Paulo, todos encarnados por Ogi, sempre em primeira pessoa.
Lembrando que o show começa pontualmente às 21h e os ingressos começam a ser distribuídos (é de graça!) às 20h. A chuva passou, vambora! E na semana que vem tem o Cícero.
A primeira novidade de 2012 foi o Vintedoze e a segunda é que o Sesc Pompéia me chamou pra cuidar do Prata da Casa, tradicional noite dedicada a novos artistas brasileiros – que tenham apenas um disco lançado ou menos. A confluência de fatores foi muito feliz: além de eu mesmo já ser público do Prata faz tempo (show de banda nova de graça na Choperia numa terça? Tem coisas que só acontecem em São Paulo…), o palco é um dos meus favoritos, assim como o Sesc Pompéia, que completa 30 anos esse ano, o meu Sesc favorito – que, pra completar, fica exatamente entre o caminho da minha casa pro meu trabalho. Sem contar o fato de que 2012 marca a décima terceira edição do Prata – e 13 é um dos meus números da sorte.
Pra começar bem, em fevereiro, chamei artistas que ainda estão em seu primeiro disco: o rapper paulistano Ogi, o indie-MPB carioca Cícero e o instrumental dA Banda de Joseph Tourton, do Recife. E se você é artista, só tem um disco lançado e quer participar do Prata, não adianta me abordar com o CD ou mandar o link pro meu email: manda seu material pro Sesc que eles me repassam tudo. Terça que vem dou mais detalhes sobre o primeiro show.
O primeiro grande momento de 2012
Sesc Pompéia @ São Paulo
5 de janeiro de 2012
Showzaço do Criolo com o Emicida no Sesc Pompéia nesse fim de semana, com a banda do Criolo – regida pelo Ganjaman – servindo de base para o encontro dos dois principais nomes do rap nacional atualmente. Velhos de guerra, os dois dominaram os dois últimos anos desbravando novas fronteiras para o velho gênero – que, por mais que já tenha seu quarto de século de vida, ainda está preso ao estigma da periferia e no estereótipo paulistano do gênero. Embora tanto Criolo quanto Emicida não neguem suas origens (não é este o ponto), eles impulsionam o diálogo da cultura hip hop para frente, para o alto e além, puxando novos ouvintes para a cena e fazendo questão de ter assento no conselho de segurança da música brasileira, exigência que já deveria ter sido feita há pelo menos dez anos.
Daí a importância do encontro que não foi propriamente um encontro, mas uma seqüência alternada de músicas de cada um dos dois, com o outro por vezes dando o ar de sua graça, quando não ficava, em geral, na posição de backing vocal. Meu excesso de expectativa talvez esperasse Emicida rimando sobre “Não Existe Amor em SP” ou Criolo cantando o refrão de “A Cada Vento”, mas a primeira parte do show foi basicamente um revezamento dos talentos de ambos, passando por seus principais hits. Confesso minha empatia maior por Emicida – seu flow é equivalente à sua presença de palco e ele não parece ser muito diferente dentro e fora de cena. Já Criolo parece assumir um personagem, que dança esquisito e faz poses e caretas. Há quem diga que aí reside parte de seu carisma (a outra vem inegavelmente quando ele canta e conversa com o público), mas, comigo, não bateu.
Emicida + Criolo – “Fogo na Bomba” / “Tik Tak” / “Sr. Tempo Bom” / “Os Mano e As Mina” / “Capítulo 4 Versículo 3” / “UBC” / “Pule ou Empurre” / “Sou Negrão” / “Rap é Compromisso”
Num show surpreendetemente longo, o groove foi comendo lentamente, com todos os músicos trabalhando para não se superporem ao vocalista. Mas as coisas desequilibraram mesmo a partir da segunda parte do show, quando os dois passaram ao centro do palco continuamente, chamando outros vocalistas convidados (os dobras de Criolo e Emicida, Dandã e Rael da Rima, respectivamente, além de Juçara Marçal) para o meio da roda e, finalmente, emendar uma seqüência inacreditável de clássicos do rap brasileiro, recapitulando a história do gênero dos Doctors MC’s ao Sabotage, passando pelos Racionais, RPW, Thaíde & DJ Hum, SNJ, Xis e Rappin Hood, no primeiro grande momento musical de 2012. Showzaço.
Tem mais vídeos que eu fiz do show aí embaixo:
Vídeo que a Nina, o Pedro e o Eugênio fizeram no show da Karina, no Sesc Pompéia.
E a lista dos melhores discos do ano vem aí…
O fim de semana teve shows do Cut Copy e do João Donato (depois falo mais deles), mas nenhum superou o encontro do Cidadão Instigado com o Fagner, que aconteceu em dose dupla no fim de semana. Fui no sábado e encontrei a choperia do Sesc Pompéia tomada por um público bem mais velho que o do Cidadão – era o público do Fagner, que veio assisti-lo sem mesmo se dar conta que teria uma outra banda. O show marcou a conexão cearense dos dois artistas mais como uma celebração à obra de Fagner, mesmo ele tendo cantado duas músicas do Cidadão – “Deus é uma Viagem” e “Lá Fora Tem”, do que propriamente uma passagem de bastão.
Fagner + Cidadão Instigado – “Deslizes” / “Quem Me Levará Sou Eu” / “Borbulhas de Amor” / “Noturno” / “Canteiros”
E nem era o caso, afinal, por mais estabelecido que o Cidadão Instigado já esteja, ele ainda não atingiu a altura de vôo conseguida por Fagner em seus primeiros dez anos de carreira (que é menos que a idade do Cidadão, que vi ao vivo pela primeira vez no Abril Pro Rock de 1998, em Recife), embora caminhe para isso. A diferença crucial entre os dois, claro, está na abordagem: enquanto o Cidadão nitidamente caminhe em paragens pinkfloydianas, Fagner é um bardo sensível, um Johnny Cash que prefere lamentar o pé-na-bunda a fazer juras de vingança. E quando pega o violão sozinho para desfilar seu rosário de canções é que ele mostra que é um dos principais cantores da tristeza na música brasileira recente, puxando um coro de contemporâneos que choraram tantas fossas com suas músicas.
Junte as músicas tristes e conformadas de Fagner ao transe instrumental do Cidadão e temos, mais do que um grande show, uma promissora parceria no futuro. Para, aí sim, Fagner coroar a nova geração do pop do Ceará.
Mais vídeos do show aí embaixo.
Alguém anima? Boraê!
Marcelo Frota lança, em São Paulo, o novo disco do Momo, Serenade of a Sailor, nesse sábado, no Sesc Pompéia. Vamo aí?
Sesc Pompéia @ São Paulo
28 de abril de 2011
Marcelo Camelo – “Tudo Passa”
Depois do debate de ontem (que foi bem legal, depois comento aqui), corri para o Sesc Pompéia pegar o primeiro show de Marcelo Camelo desde… (ele mesmo demorou pra lembrar antes de falar “setembro de”) 2009.
Marcelo Camelo – “Vermelho”
Foi um bom show, com Marcelo bem à vontade para, inclusive, cantar suas músicas dos Los Hermanos com tanta naturalidade e tranquilidade quanto as do disco novo. Não é propriamente um show envolvente – há uma distância de olhar na preguiça de sua performance que sorri para o público em vez de se jogar na emoção, nada que comprometa a apresentação, no entanto. Essa separação entre o artista e seu público diminui claramente nos momentos em que Marcelo surge sozinho no palco, sem o Hurtmold, e pede para o público cantar sozinho enquanto ele apenas toca.
Marcelo Camelo – “A Outra”
Nada relacionado ao Hurtmold, que deixa seu transe jazzístico em segundo plano para se portar perfeitamente como banda de apoio, funcionando como se pudessem traduzir Jack Johnson para o paulistanês ou como se o instrumental de Lulu Santos fosse orgânico como os Novos Baianos. Em momento algum nenhum músico se destaca, todos trabalhando para deixar Camelo bem à vontade – tanto musicalmente quanto no holofote.
Marcelo Camelo – “Vida Doce”
Do meu lado, enquanto filmava, Mallu assistia ao show no canto do palco. Mas seu olhar não era de idolatria, mas de orgulho. Estou esperando tanto esse terceiro disco dela…
Marcelo Camelo e Vanessa da Mata – “Samba a Dois”
O grande momento do show veio ao final, quando Camelo intimou Vanessa da Mata para o palco, quando os dois cantaram a música que abre o Bloco do Eu Sozinho Ventura. Foi um dueto informal, íntimo e familiar, mas me bateu uma estranha sensação de que talvez possamos rever essa cena (com essa mesma música, talvez) nos próximos 10, 20 anos…
Marcelo Camelo – “Acostumar”
E adorei o comportamento do público. Pensei que iria assistir à mais um espetáculo de idolatria típico dos shows dos Hermanos, mas, bem próximo do ídolo (regalias do palco da choperia do Sesc), os fãs de Camelo não se exaltavam… demais. Claro que todo mundo cantou todas as músicas juntos, que o silêncio reinava quando Camelo tocava pianinho e as palmas e os gritos explodiam quando ele as autorizava, mas nada de meninas chorando, um ou outro grito de “lindo!” soltado mais com ironia do que por fanatismo, mas havia uma sensação de familiaridade e reencontro que desce alguns degraus da esfera mega que os Hermanos habitava – um nível de intimidade que Amarante conseguiu logo que começou os ensaios do Little Joy e que, só agora, Marcelo consegue habitar. Talvez também seja culpa da maturidade dos fas que, dez anos depois de “Anna Júlia”, já estão mais comedidos e menos adolescentes…
“Meu Mundo Numa Quadra” / “Ziriguidum”
“Corrente de Água Doce” / “Mais Tarde”
Esqueci de postar aqui os vídeos que fiz do show que ela fez em fevereiro deste ano, ali na choperia do Sesc Pompéia. É impressionante ver como Lurdez conseguiu crescer – e bem – ao assumir uma inesperada carreira solo. Seu disco do ano passado é um dos grandes lançamentos do Brasil e no show que filmei deu para perceber que ela está cada vez mais à vontade com a personalidade livre, explorando tanto seu lado marrento quanto uma bem-vinda doçura e delicadeza feminina que, mesmo quando agressiva, não tinha tanto espaço no Mamelo Soundsystem. Enquanto isso, Brandão brinca de jazz com o Maurício Takara, o que me deixa bastante curioso em relação a um próximo disco do Mamelo. Serious shit.
No mesmo show que o da Lulina, assisti à apresentação dos soteropolitanos do Baiana System, uma banda prontinha, cozida na medida, mas cuja sonoridade já foi assimilada há uns cinco anos – pertencem ao mesmo universo de groove que os Seletores de Freqüência, o Instituto e a Nação Zumbi, trazendo um elemento crucial para sua personalidade musica: a guitarra baiana. Mas é questão de tempo para que descubrram um diferencial que afete todo a sonoridade do grupo, que não seja personalizado em um instrumento só. Mas isso também é questão de tempo e o grau de maturidade do grupo no palco prova que, em pouco tempo, sua assinatura musical poderá independer de um determinado timbre.
“Oxe Como Era Doce”
“Systema Fobica (Ubaranamaralina)”