Retrospectiva OEsquema 2012: Televisão às tijoladas

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Com terças e sextas comprometidas com saídas de casa semanais, 2012 acabou, por outro lado, sendo um ano bem indoor, em que além de organizar as coisas em casa, consegui dar cabo em várias pendências televisivas que não consegui acompanhar em tempo real. Matei séries inteiras que acabaram faz tempo (My Name is Earl, Arrested Development, Freaks & Geeks, o longo débito com The Wire) e consegui acompanhar hits atuais para acompanhar em tempo real (Sherlock, Parks & Recreation, Homeland, Modern Family, Mad Men, Louie, Ancient Aliens, Breaking Bad, Dexter, Newsroom) – que passaram a acompanhar a única série atual que sigo desde o início, Fringe. Com esse intensivão, comecei a encarar as séries como encaro sagas em quadrinhos – e em vez de acompanhá-las semanalmente, prefiro digeri-las às temporadas (no caso dos quadrinhos, aos volumes dos TPBs). Já havia feito isso em anos passados, assistindo Sopranos, A Sete Palmos e Battlestar Galactica às tijoladas enquanto criava um ranking interior, mas 2012 me ensinou que esteve talvez seja o melhor jeito de consumir estes seriados, que devem estar entre as principais obras de arte pop da atualidade (mesmo que eu não tenha nem conseguido começar a acompanhar coisas como Games of Thrones ou Walking Dead). O que também dá uma sensação ímpar ao final de qualquer série – o ar de dever cumprido e o astral de ser uma pessoa melhor, como Earl ao final de cada episódio em que riscava um item de sua lista.

Retrospectiva OEsquema 2012: OEsquema

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Começou pelo simples fato de que o Gardenal já tinha passado da conta. O antigo condomínio digital gerido pelo Pablo Miyazawa foi pioneiro em hospedar perdidos pelos Blogspot e Geocities da vida, mas em 2007 começou a desandar e, pilhados pelo Bruno, que eu havia levado junto com o Arnaldo do Blogspot para o Gardenal, começamos a pensar num outro portal de blogs, anos depois do termo ter saído de moda. A princípio apenas nos reunimos ao Mini, que tinha seu Conector também preso no publicador de blogs do Google, e no dia 8 de agosto de 2008, inauguramos OEsquema. Só há pouco mais de um ano, deixamos de ser “o portal do Matias, do Bruno, do Mini e do Arnaldo” para começar um processo de expansão que reuniu bambas amigos de todos os fundadores dOEsquema. Foram mais de vinte novos blogs, quase trinta publicações centralizadas em torno de indivíduos, todos brasileiros e falando em português, que não se prendem a gêneros ou a classificações de áreas de trabalho. Uns puxam mais pra música, outros pendem pro design, mais uns pra cinema ou quadrinhos e todos falam da rua, da vida, de si mesmos – mesmo que às vezes não em primeira pessoal. É a idéia original do blog enquanto diário pessoal, mas filtrado pelo fato de que hoje temos mil redes sociais para nos expressarmos de formas diferentes com grupos diferentes. O blog nOEsquema é uma voz que fala para o resto do mundo, cada um de nós editando sua própria realidade para a posteridade e para um público que é menos leitor e mais comentarista. E a expansão não para em 2012 – alguns dos novos nomes já podem ser vistos em nossa grade… 2013 promete mesmo!

Retrospectiva OEsquema 2012: Noites Trabalho Sujo

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Por muito tempo eu gostei de música a sério – de discorrer sobre discos, dar a maior importância do mundo para listas e critérios de avaliação musicais, a busca do equilíbrio entre o jornalismo e a crítica, do peso de uma resenha -, mas desde que comecei a discotecar de verdade, com o surgimento da Gente Bonita, em 2006, que deixei essa preocupação em segundo plano e passei a me dedicar aos ímpetos mais primitivos da canção, ao aspecto mais passional e primevo da música – a celebração, o êxtase, a dança, a transcendência coletiva. E sempre agradeço por isso – a copiosa tarefa de enumerar argumentos para justificar a ênfase em artista tal ou no disco xis é quase mesquinha, se comparada ao transe grupal atingido durante uma sexta-feira à noite. E se 2011 já tinha se destacado com o surgimento das nababescas ANALÓGICODIGITAL (em que, ao lado do Veneno Soundsystem, promovemos nosso primeiro baile de carnaval e uma festa com a presença do ícone Don Letts nas picapes), este ano foi a vez das Noites Trabalho Sujo me ajudar a enfiar o pé na jaca da história da noite paulistana com uma sexta-feira inacreditável, que pintou de um convite descompromissado do grande Ivan Finotti para se tornar uma festa célebre pela vibe de acabação feliz. O formato de long set ao lado de um amigo convidado surgiu quase sem querer e ajudou a dar o tom dessas noites incríveis – afinal, quem discoteca vai entrando em alfa junto com o público. E ao lado de amigos e comadres consegui expandir a noite de São Paulo para além do espaço-tempo, misturando hits de todas as épocas, de todos os países e de todos os gêneros em momentos de puro delírio na pistinha do Alberta 3. Até os limites da tolerância do próprio Ivan eram testados, quando ele via a pista de sua casa noturna – batizada como uma música do Dylan, com fotos do Mick Jagger e os Ramones espalhados pela casa – se acabando ao som de alguma axé music tocada pelas Awe Mariah, ou quando a Carol Morena tocou A Cor do Som, ou quando Pattoli ou Danilo tocavam “Gangnam Style” ou quando eu desenterrava “I Saw You Saying” dos Raimundos. Mas a infâmia é apenas um dos ingredientes destas noitadas, que ainda contaram com altas doses de 2012 (“Flutes” do Hot Chip tocou desde que apareceu online, além de novas da Cat Power, Nicki Minaj, Frank Ocean, Poolside, remixes da Lana Del Rey, Grimes e Chromatics) e outras tantas da história do rock (quando Rage Against the Machine, Strokes, Cure, Led Zeppelin ou Queen tomavam o controle), equilibrando hits de todas as épocas com clássicos da música brasileira (ah, “Sereia” do Lulu Santos…) – e sempre com o dedo no volume pronto pra abaixa-lo e deixar a galera cantar tudo sozinha. Tudo em prol de uma noite em que a dança, os sorrisos, o xaveco e a catarse tornam-se uma coisa só (basta ver as fotos). Quem conhece, sabe – e pode ir esperando que 2013 promete!

Retrospectiva OEsquema 2012: Osso calcificado

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Por mais que profecias maias, furacões, eleições e o show de volta das Spice Girls possam ter marcado o ano que termina, pessoalmente ele vai ser sempre o ano em que consertei meu braço. Quebrado num acidente de trânsito nos idos dos anos 60, meu úmero direito ganhou uma tala de titânio interna para tentar voltar a ser um só, mas por décadas ele resolveu não calcificar, me privando de pegar peso com o braço direito e de dirigir. Depois de anos de procrastinação física, resolvi dar um jeito nisso e, durante dois meses de licença médica, voltei à ativa em uma nova realidade. Aproveitei a cirurgia pra botar a vida nos trilhos (“projeto verão”, riem os amigos – “projeto 80 anos”, falo sério de volta) e esse movimento sincronizou-se tanto na vida diurna – quando, ao comandar o Link remotamente por dois meses, eu consegui provar pro Filipe e pra Tati que eles conseguiriam tocar o caderno como editores (o que acabou acontecendo após a minha ida para a editora Globo, outra prova da conspiração cósmica , convite que recebi na última semana da licença médica – quanto na vida noturna – quando Pattoli, Babee e Danilo me ajudaram a manter a Noite Trabalho Sujo semanal, como seguirão fazendo no ano que vem. Por isso o início do segundo semestre de 2012 não foi apenas crucial para meu entendimento do ano, mas também como marco zero de uma nova fase que começa agora (sem contar a possibilidade de finalmente arrumar as coisas em casa – aquela outra procrastinação que envolvia organizar livros, discos, arquivos digitais, fotos – enfim, o escritório). Meus amigos sabem bem como o fim dessa história era importante pra mim – e agora vamos à mais uma fase desse jogo chamado vida.

Retrospectiva OEsquema 2012: #vaicorinthians

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Eu ia em estádio, lia caderno de esportes, acompanhava escalação, discutia passionalmente em mesa de boteco. Era um corinthiano típico, sofredor, nos anos 90. Vibrei ainda em Brasília com o primeiro Brasileirão em 1990, perdi aposta nos dois campeonatos paulistas que perdemos pro Palmeiras no início da década, finais assistidas quando ainda estudava na Unicamp, estava no estádio em Ribeirão Preto quando Marcelinho Carioca encaixou aquele gol que nos garantiu a Copa do Brasil em 1995 e lamentei não ter estado nas finais de 98 e 99, quando ganhamos outros dois títulos nacionais. Mas mudei-me para São Paulo e o primeiro emprego na nova cidade, como editor-executivo na redação da Conrad (e editor da saudosa revista Play) me drenou completamente o tempo que eu dedicava ao futebol. Dois anos de abstinência que me fizeram descobrir o quanto tempo eu perdia acompanhando o esporte tão de perto – e desde 2002 passei a acompanhar o futebol mais à distância, deixando as birras intratorcidas em segundo plano. Mas a paixão corinthiana seguia intacta e não consigo assistir a nenhum jogo decisivo sem travar os dentes e fechar os pulsos. Não foi diferente em 2012, quando finalmente levamos Libertadores e o Mundial para casa. Um ano de quebra de tabus, em que o estigma de sofredor de décadas passadas – que ainda carrego – finalmente cedeu ao híbrido do “bando de loucos” e “maloqueiros” que hoje paira sobre o time. Bando de loucos e maloqueiros sim, mas sem mais ouvir aquela ladainha de que não tínhamos peso internacional. Aconteceu deste estigma ser quebrado no ano seguinte à morte do maior ícone do Corinthians e o doutor não pode compartilhar a alegria que hoje carregamos, embora sempre soubesse que bando de loucos sim, maloqueiros sim, sofredores sim – mas sem nunca desistir. Lealdade, humildade e procedimento sempre.

Retrospectiva OEsquema 2012: Prata da Casa do Sesc Pompéia

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O ano começou com outro convite-surpresa: o Sesc Pompéia me chamou para ser o curador da décima-terceira edição do Prata da Casa. E o convite ecoou como se minha cabeça fosse um sino: sempre fui fã do Sesc Pompéia e o Prata da Casa já havia me proporcionado ótimos shows com sua política de permitir apenas artistas de primeira viagem, sem disco gravado ou ainda no primeiro disco. O fato do convite ser relacionado à edição de número 13 (também sou fã) ainda veio junto de um novo desafio – afinal era a primeira vez que eles convidavam alguém que não era da imprensa especializada e apostavam no fato de eu ser, ao mesmo tempo, dono do Trabalho Sujo e editor de um caderno de tecnologia (os curadores anteriores – Pedro Alexandre Sanches, Carlos Calado, Israel do Vale, Marcus Preto, Patrícia Palumbo – sempre militaram na imprensa musical dos cadernos de cultura). Resolvi aceitar o cargo com algumas provocações – afinal, em tempos digitais, o que significava ter um primeiro disco? Assim, consegui trazer para o palco do Prata nomes como Dona Cila do Côco (85 anos de idade e um único CD), Bonifrate (que lança músicas em MP3 desde 2003 mas só havia lançado o primeiro disco no ano passado) e Max BO (que já pode ser considerado veterano da cena hip hop de São Paulo mas que só tem um disco lançado), mas sem perder a deixa pop deixada pelo curador do ano passado, José Flávio Júnior, que já havia expandido os horizontes do projeto para além da MPB ao trazer novos nomes do rap paulistano e a Banda Uó para o palco da choperia do Sesc. Assim, consegui colocar na programação do evento nomes que ajudaram a moldar a cara da música brasileira em 2012 – Silva, Cícero, Rodrigo Caçapa, Dead Lover’s Twisted Heart, Circo Motel, Rafael Castro, Elo da Corrente, O Terno, A Banda de Joseph Tourton, Mahmundi, Elma, Gang do Eletro, Rosie & Me, Afroeletro, Os Sertões, Dorgas, Pazes (um dos melhores shows do ano, o que menos deu público), Tibério Azul, Madrid, Quarto Negro, Me & the Plant, Kika, Chinese Cookie Poets, Onagra Claudique, Sambanzo e Ogi. Fui a quase todos os shows (só perdi alguns em que estive em licença médica) e filmei todos que fui, com a plena consciência de que estava fazendo um belo recorte do cenário musical atual – e em shows de graça, na inglória terça-feira (o dia mais morto da semana?), com lotação considerável por quase todas as apresentações. Agradeço à oportunidade ao Sesc, que fez valer sua fama de profissionalismo, e especialmente ao produtor Wagner Castro, que toda terça estava lá para acompanhar as atrações escolhidas e a me ajudar a fazer um balanço de como andava a curadoria. Um salve também pro fotógrafo Leonardo Mascaro, que aproveitou as terças de graça como laboratório para suas viagens com a luz, testemunha de boa parte de shows da temporada. Em fevereiro acontece a Mostra Prata da Casa 2012, em que, durante uma semana, duas atrações deste ano tocarão na mesma noite, de terça a domingo. Quando o ano começar eu dou mais detalhes dessa novidade.

Retrospectiva OEsquema 2012: Bloody Mary

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Antes de 2012 eu fazia coro com o Fred e sempre que alguém falava em Bloody Mary, eu já cogitava a carne moída pra agilizar o molho à bolonhesa. Mas foi durante alguma ressaca que o drink bateu – e se havia passado 2011 aprimorando as técnicas do Caju Amigo, entrei em 2012 disposto a descobrir o gótico mundo do Bloody Mary – que de gótico só tem o nome. Descobri um gaspacho alcoólico que pode ser temperado de diferentes formas, mas, principalmente, um drink bom para os sábados pós-Noites Trabalho Sujo e para os fins de tarde nos dias de licença médica. De certa forma, o gosto de 2012, pra mim, é apimentado, salgado e forte – e descendo redondo mesmo assim.

Retrospectiva OEsquema 2012: Vinil

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Nunca abandonei o vinil (nem os CDs, livros ou revistas, guardo-os todos como relíquias pessoais mais do que registros musicais), mas 2012 me fez retomar o velho affair com os discos pretos com mais paixão na medida em que a indústria fonográfica e toda uma geração de artistas se dispunham a voltar ao velho formato. Assim, foi mais fácil ceder aos impulsos do eBay (que vinha evitando há uma década, por saber de seu potencial de caixa de Pandora) como aos encantos da PopMarket (talvez a melhor idéia da velha indústria do disco em tempos digitais para voltar a vender, inclusive CD, ao oferecer “free shipping worldwide”) quanto a reorganizar a velha coleção de discos (o tempo da licença médica ajudou nesse quesito) e até a deixar a velha vitrola portátil em segundo plano para finalmente comprar um tocadiscos profissa. Meus discos sorriem toda manhã, de felicidade. Eu também.