Retrospectiva OEsquema 2012: Lana Del Rey

, por Alexandre Matias

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Muitos pegam no meu pé devido ao meu apreço por Lana Del Rey. Não acho-a propriamente gata nem que sua voz seja grande coisa – e nem que esses critérios importem quando o assunto é música pop. A graça de Lana Del Rey começa por sua própria reinvenção – que começa depois que ela desiste de ser batizada de Lizzie Grant, se reinventando como uma cruza de Jessica Rabbit com personagem de David Lynch a partir de vídeos do YouTube. É um processo atravessado por qualquer artista que aspira à grandeza – a constatação de que, sem tomar conta da própria imagem, é muito fácil ser esquecido, na era da arte em escala industrial – e Lana é uma das personagens mais complexas nesse novo cenário em 2012. Se ela é cria de uma gravadora, se seu pai é milionário e comprou seu sucesso, se ela saiu em blogs de moda e de MP3 por causa dos bastidores de sua carreira, se ela está no comando ou é apenas a cria de um mercado que, mesmo decadente, ainda dá as cartas – isso tudo é secundário. E se o fim de 2011 tinha assistido ao início de sua carreira erguida ao redor de “Video Games”, 2012 viu a consagração de um álbum inteiro, Born to Die – até sua versão expandida, Paradise Edition – se espalhar por todo um ano, em clipes épicos, revelando camadas nada agradáveis do tal sonho americano, que Lana resolveu encarnar. Assim, deixou de ser um truque de espelhos e fumaça feito para funcionar na internet para assumir uma escala épica, como se o Grande Gatsby do Baz Luhrmann se encaixasse em uma pessoa; como se o Grande Romance Americano fosse um livro do Hunter Thompson ou do Tom Wolfe sobre como os anos 50 foram parar nos anos 70. Em um ano, Lana deixou de ser uma curiosidade cult para se tornar uma estrela de primeira grandeza – sempre caminhando sobre canções sólidas e graves, cantadas com o tom monocórdico e fúnebre da triste constatação sobre o fim do Império Americano; uma caricatura de Marilyn Monroe que se recusa a se suicidar e morrer linda; um livro de Gore Vidal adaptado para o cinema por Oliver Stone. Lana Del Rey não é o último ícone pop norte-americano, mas parece ser o último a se levar a sério. Se ela fosse o personagem de alguém, não seria tão divertida – e trágica.

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