As 75 melhores músicas de 2012: 2) Chromatics – “Lady”

2012-75-lady

Uma canção irrepreensível, que começa feito luz passando por frestas no escuro para, depois da entrada do vocal gelado de Ruth Radelet, estourar em uma explosão de disco music em câmera lenta que se metamorfoseia lentamente em uma paisagem pastoril eletrônica, de baixos marcados e guitarras distantes. O universo musical de Johnny Jewel traduz-se melhor entre os ecos e sussurros de “Lady” e torna-se parte da textura sonora de 2012.

As 75 melhores músicas de 2012: 1) Hot Chip – “Flutes”

2012-75-hotchip

A melhor música de 2012 é a mesma que o Hot Chip escolheu para nos apresentar a seu disco de 2012, In Our Heads – e esta longa apresentação (quase oito minutos) começava a nos mostrar um disco sólido que só veio confirmar ainda mais que a presença do Hot Chip no imaginário musical do planeta vai muito além da banda que conquistou o mundo com o hit de pista “Over and Over” no fim da década passada. Desde então, o grupo inglês vem construindo sua reputação com um olho na pista e outro na perspectiva histórica e depois que o LCD Soundsystem pendurou as chuteiras, talvez sejam eles a banda mais importante nascida neste século. “Flutes” é um daqueles motivos em que este “talvez” deixa de existir. Uma pequena obra-prima, um colosso em forma de canção.

As 75 melhores músicas de 2012: 17) Sinkane – “Jeeper Creeper”

2012-75-sinkane

A faixa que apresentou o trabalho solo deste hipster sudanês (guitarrista no Brooklyn nova-iorquino, já tocou com Of Montreal, Caribou, Yeasayer e Born Ruffians) ainda é seu principal trunfo – um delírio sossegado e groovy, com molhos afro, funk 70, indie e chillwave, esperando o Toro y Moi na ponta de lá da ponte que ele iniciou no EP Freaking Out.

(E nesta versão ao vivo abaixo, então…)

As 75 melhores músicas de 2012: 3) Curumin – “Passarinho”

2012-75-curumin

Fazia tempo que a música brasileira não soava doce e natural ao mesmo tempo, principalmente numa voz de homem. O falsete de Curumin passeia bonito por uma melodia simples, mas arranjada com um cuidado específico que permite que vocal, teclados, bateria e violão mantenham o mesmo pulso tanto nos momentos mais cândidos quanto no breque que não faz média para colocar o dedo na cara do ouvinte. Não é o momento central do melhor disco nacional do ano (que fica entre “Afoxoque” e a sutileza de “Paris Vila Matilde”) e talvez por isso soe tão… livre.

As 75 melhores músicas de 2012: 16) Tame Impala – “Apocalypse Dreams”

2012-75-tameimpala

Há uma corrente da crítica musical que associa a psicodelia com saída da infância, em que as mudanças da puberdade podem ser encaradas como delírios extáticos ou… sonhos apocalípticos. Essa é a expectativa criada pelo Tame Impala ao anunciar seu segundo disco, numa música de estrada que se pergunta, entre solos de guitarras e timbres de teclado antigo, se estamos chegando, se um dia iremos chegar e se isso tudo importa. Na veia.

As 75 melhores músicas de 2012: 15) Grimes – “Oblivion”

2012-75-grimes

Timbres jurássicos de um passado sintético colidem com a fragilidade de um vocal quase indie, quase tímido, quase oriental, que se desfaz zen por sobre uma base insistente e caricata, um mashup de realidades que poderia ser criado por algum autor cyberpunk ainda nos anos 80. Grimes se comporta como a irmã caçula do LCD Soundsystem, mas ao mesmo tempo, parece sempre ter existido como um holograma no computador. Uma das artistas que melhor resumiram o hipsterismo catastrofista de 2012, em “Oblivion” ela soa otimista e pronta para recomeçar.

As 75 melhores músicas de 2012: 14) Frank Ocean – “Lost”

2012-75-frankocean

Perdida no meio do melhor disco do ano, “Lost” escorrega na pista de dança à medida em que Frank Ocean passeia e perde-se por emoções, cidades, países, meios de transporte, marcas – numa canção sobre a ausência do glamour no tráfico de cocaína. Algo como se o Prince fosse frágil feito Michael Jackson, mas cascudo feito Timbaland. Que música!

As 75 melhores músicas de 2012: 13) Spiritualized – “Hey Jane”

2012-75-spiritualized

Jason Pierce apresentou seu Spiritualized a 2012 com um longo noise de dois acordes que, graças a uma insistência hipnótica e uma graça bruta, eleva esta incursão ao submundo Velvet Underground a um nível épico que chega a resvalar no sublime. O clipe, cru, pessimista e poético, só ajuda a traduzir em imagens os sentimentos deste gospel elétrico que usa o rock’n’roll para sair da sarjeta rumo ao céu.

As 75 melhores músicas de 2012: 12) Lindstrøm – “Eg-ged-osis (Todd Terje Extended Mix)”

2012-75-lindstrom

Dono de dois dos melhores discos de eletrônica do ano (Six Cups of Rebel e o excelente Smalhans), o norueguês Hans-Peter Lindstrøm vem aos poucos se estabelecendo como um dos principais produtores de música do planeta. Seu conterrâneo Todd Terje – um dos grandes remixadores do novo século – sabe bem disso e quando se dispõe a lidar com o trabalho do amigo, tem a plena consciência de estar fazendo história. “Eg-ged-osis”, progressiva, cíclica e não-linear, retoma uma linha evolutiva do techno como se a música eletrônica nunca tivesse tido um momento mainstream – e ainda fosse aquele segredo bem guardado que a caracterizava como tribo. E seu remix a trata como um registro deste momento – apenas para quem é de verdade.

As 75 melhores músicas de 2012: 11) Major Lazer + Amber Coffman – “Get Free”

2012-75-major-lazer

É bom quando o Diplo acerta. Imerso na Jamaica durante a maioria de 2012, o produtor convocou a vocalista dos Dirty Projectors para passear sobre um reggae desconfiado e niilista, que, se cantado por uma voz masculina, talvez causasse apreensão e insegurança. Mas o vocal de Amber Coffman, às vezes superposto sobre si mesmo, causa uma sensação simultânea de desespero e esperança, tornando “Get Free” uma canção de protesto tensa e calma ao mesmo tempo, como um reggae clássico.