Morreu o último integrante do MC5. O baterista Dennis Thompson, apelidado de “Machine Gun” (metralhadora), não se recuperou de um ataque cardíaco e faleceu nesta quinta-feira. Era o último integrante vivo do clássico grupo protopunk e morreu meses após a passagem de seu integrante mais emblemático, o mestre Wayne Kramer, em fevereiro deste ano. Morreu novo, com apenas 75 anos.
Que porrada essa notícia da morte do Steve Albini. Um dos sujeitos que definiu a ética sobre produção independente e um dos principais faróis na luta contra a comercialização industrial da música, ele também ajudou a talhar o conceito de produtor musical moderno e os timbres de pelo menos três décadas de rock nos Estados Unidos – e no resto do mundo, seja à frente de suas bandas, primeiro o Big Black, Rapeman e depois o Shellac, seja forjando discos que estão no subconsciente de três gerações – Surfer Rosa, In Utero, Rid of Me, Things We Lost in the Fire, No Pocky For Kitty, Pod e discos menos clássicos mas igualmente fortes, como o Life Metal do Sunn O))), Ys da Joanna Newsom, Attack on Memory do Cloud Nothings, o Further Complications do Jarvis Cocker, o Magnolia Electric Co. do Songs:Ohia, o Ocean Songs do Dirty Three, entre outros. Além de entrevistas didáticas e detalhistas, fica também na lembrança os verdadeiros shows de stand-up que fazia entre as músicas nos shows do Shellac. Um herói. Morreu de infarto aos meros 61 anos, em seu próprio estúdio, o Electrical Audio, em Chicago, nos EUA.
O primeiro instrumentista da geração original do rock’n’roll a tornar-se sem precisar cantar uma sílaba nos deixou neste sábado. Duanne Eddy popularizou um estilo de tocar guitarra conhecido até hoje como o som “twang”, que inspirou artistas tão diferentes quanto os Ventures, George Harrison e Bruce Springsteen, eternizado em músicas instrumentais como “Rebel Rouser”, “Cannonball”, “Because They’re Young” e o tema do seriado Peter Gunn, talvez seu número mais lembrado. Morreu em casa, cercado da família, após passar por um longo período com câncer.
O New York Times chamou o escritor Paul Auster, que morreu nesta terça-feira com apenas 77 anos, de “Santo Padroeiro do Brooklyn Literário” e esse é um de seus trunfos, mas ele é mais que isso. Um cronista ensaísta, um literato em busca do corriqueiro, o escritor norte-americano trouxe de volta a literatura que sua geração levou para o jornalismo, contando histórias inacreditáveis que começavam em lances triviais, buscando filosofia e revelações em momentos sem nexo, padrões inverossímeis e rotinas sem graça. Como escreveu em seu romance autobiográfico Diário de Inverno, publicado há meros doze anos: “Você acha que nunca acontecerá contigo, que não poderá acontecer contigo, que você é a única pessoa no mundo para quem essas coisas não irão acontecer e então, uma a uma, cada uma dessas coisas começarão a acontecer contigo, da mesma forma como acontecem com todo mundo”. Além de um dos grandes nomes da literatura do século passado, ele sempre foi um mestre pessoal. Agradeço cada página e o altar de papel na minha estante é uma parte importante da minha formação. Vale ler a entrevista que a Paris Review fez com ele em 2002 e que, após sua morte, está liberado para não-assinantes.
Morreu, nesta quinta-feira, aos 80 anos, um dos fundadores do grupo Allman Brothers Band. Dickey Betts é responsável pelo estilo que misturava rock pesado, country e blues que caracteriza o som da banda e assumiu o papel de principal guitarrista da banda depois que um dos irmãos que batiza a banda, Duanne Allman, morreu num acidente de moto em 1971. Ele é autor do solo da clássica “Ramblin’ Man” e de instrumentais imortais como “Jessica” e “In Memory of Elizabeth Reed”.
Morreu, dormindo na tarde deste sábado, um dos maiores. Ziraldo era mais do que o pai do Menino Maluquinho, best-seller que lançou depois de sua fase áurea como cartunista e quadrinista e selou sua reputação como um dos maiores nomes do traço no Brasil, mas foi um dos principais artistas da contracultura brasileira e incansável defensor das causas sociais. Além de fundador e diretor do Pasquim, jornal de oposição à ditadura militar em plenos anos 70 (o que o levou à prisão por três vezes), o mineiro também foi autor da primeira história em quadrinhos feita por um único autor no Brasil, a eterna Turma do Pererê, lançada em 1960, que foi proibida de circular com o golpe de 64, devido à reputação de seu autor, declaradamente comunista. Seu traço personalíssimo e sua assinatura emblemática eram a tradução gráfica de uma personalidade intensa e implacável, de gênio esquentado e frases fortes, que moldou parte da personalidade brasileira em seus cartuns, nas histórias de seus personagens como a Supermãe, o Mineirinho e Jeremias O Bom e livros infantis imortais como Flicts, O Planeta Lilás, O Bichinho da Maçã, O Menino Marrom, A Fábula das Três Cores, além do já citado Maluquinho, que deu origem a outros livros, filmes e séries, sendo um dos livros brasileiros de maior número de reedições na história. Também é autor dos cartazes clássicos de dois filmes de Ruy Guerra, Os Cafajestes e Os Fuzis, e fez mascotes para os principais times de futebol brasileiros, além de ter incentivado a busca pela identidade nacional brasileira quando foi diretor da Funarte, nos anos 80 (fazendo-o ser rotulado como defensor da “cultura da broa de milho”). Sua influência mexeu até em nosso idioma ao livrar palavrões proibidos pela censura militar, mesmo como interjeições, em expressões reduzidas usadas até hoje (“pô” em vez de “porra”, “ih cacilda” em vez de “ih caralho”, “duca” em vez de “do caralho”, “é ford” em vez de “é foda”) e até pariu uma palavra ao reduzir o termo indicação para apenas “dica”. A importância de sua obra para nossa cultura é gigantesca. Só nos resta louvá-lo.
Morreu nesta terça-feira o poeta e ativista John Sinclair, que além de promover o antirracismo e a legalização da maconha no auge dos anos 60, também foi empresário do grupo MC5 e homenageado por John Lennon numa música batizada com seu nome.
Que barra essa notícia, ainda difusa, sobre a passagem de Liana Padilha. Mais conhecida como a metade do duo eletrônico No Porn, era uma artista com A maiúsculo, transitando entre diferentes disciplinas (artes plásticas, música, audiovisual, poesia) e questionando os limites impostos pela hipocrisia da sociedade em projetos que eram protestos, transformando cada pequeno gesto seu em um minimanifesto, vivendo plenamente o artivismo. A conheci dos tempos que a internet (outra seara que ajudou a desbravar, ainda nos anos 90) era mato e pude realizar uma apresentação de seu Tintapreta na mítica sala Adoniran Barbosa, quando fui curador de música do Centro Cultural São Paulo. Ainda não há notícias sobre a causa de sua passagem, mas sua ausência é sentida desde já. Muito triste, muito nova.
Quem nos deixa agora foi Eric Carmen, um dos heróis do power pop à frente de sua banda os Raspberries, que, entre 1970 e 1975, forjou pérolas como “Go All The Way”, “I Wanna Be With You”, “Tonight”, “On The Beach”, “Don’t Want To Say Goodbye”, “Overnight Sensation (Hit Record)”, “I Don’t Know What I Want” e “Let’s Pretend”. Sua carreira solo foi deixando esse frescor de lado com os anos, aproximando-o daquele tenebroso terreno em que o soft rock se encontra com o hard rock, gerando as famigeradas power ballads, não sem antes emplacar dois hits imortais nessa seara, ambos inspirados em obras do compositor russo Sergei Rachmaninoff: a inesquecível “All By Myself” e “Never Gonna Fall in Love Again”. Ainda emplacou “Hungry Eyes” na trilha sonora de Dirty Dancing, gravando mais espaçadamente a partir dos anos 80, além de tocar na banda de Ringo Starr. Sua morte aconteceu no fim de semana e a sua esposa Amy Carmen acaba de anunciá-la no site oficial de Carmen.
Mais um que se vai cedo: Karl Wallinger, tecladista do grupo irlandês Waterboys e ele mesmo dono do grupo de um homem só World Party, despediu-se deste plano no domingo. De origem galesa, ele foi um dos primeiros diretores musicais da versão em palco da peça de glamour decadente Rocky Horror Picture Show antes que ela virasse um filme. Entrou para os Waterboys em 1983, depois da formação da banda, mas é um dos autores de seu maior hit, a irresistível “The Whole of the Moon”. Montou seu projeto paralelo World Party em 1986 e com ele emplacou mais um hit, a ótima “Ship of Fools”, e seguiu com o grupo mesmo após o fim dos Waterboys, no início dos anos 80. Colaborou com o primeiro disco de Sinéad O’Connor, que por sua vez participou dos dois primeiros discos de sua banda, e fez a trilha sonora do clássico indie Caindo na Real, que revelou uma nova geração de atores norte-americanos, como Winona Ryder, Ethan Hawke, Janeane Garofalo, Steve Zahn, Ben Stiller, Renée Zellweger e Andy Dick. Também envolveu-se com a produção do filme Patricinhas de Beverly Hills, também cuidando da trilha sonora. Sofreu um derrame em 2001, o que fez com que o World Party não lançasse mais discos, embora continuasse fazendo shows. A causa de sua morte não foi revelada.