Paranoia

Cada uma

Dica do Rafa.

Aproveitando a deixa, aproveito para falar rapidamente de Lynch, um diretor que me desperta sentimentos dúbios. Nem chego perto de questionar seu valor cinematográfico – tanto técnica quanto esteticamente o cara é um mestre, isso sem contar a forma como ele está abraçando o cinema digital, que talvez seja o principal movimento de um bastião do cinema atual em abraçar o novo formato. Nem George Lucas – que, cinematograficamente falando, é uma nulidade – é tão empolgado com a mídia e o formato digital quanto David Lynch.

O que me incomoda é que toda sua mitologia, seu universo de estranheza e desconforto, sempre me pareceu uma tremenda ironia com todo o chamado cinema de arte. Uma ironia grosseira, beirando o ridículo, uma grande picaretagem em que, à medida em que ele vai deixando as coisas mais confusas, apenas vai conduzindo o espectador a uma espécie de estado de sonho que não deve ser racionalizado – mas que boa parte dos fãs de Lynch insiste em racionalizar. Não há explicação, não tente entender – mas tentam. E tentam.

Percebo David Lynch como um artista completo, além de apenas um diretor. Um sujeito que transformou-se em sua própria obra de arte – e nisso o sentido de sua filmografia é quase uma paródia do conceito de autoria cinematográfica. Tirando Eraserhead, um trunfo inicial que poucos diretores podem chegar perto, seu início de carreira é um jogo de tentativa e erro que só chega a um consenso no final dos anos 80, quando inventa seu noir-bizarro americano, entre Veludo Azul e Twin Peaks, e começa a curtir uma tensão surrealista misturada com uns Estados Unidos idealizados, à Norman Rockwell, pelos anos 50 imortalizados em áudio e vídeo em comerciais de eletrodomésticos, filmes de Billy Wilder e Alfred Hitchcock e comédias de Cary Grant e Doris Day. É quase uma caricatura, um quadro do Monty Python ou do Saturday Night Live sobre um diretor de cinema americano que acha que pode criar um senso de cinema europeu com as matizes dos EUA.

Mas como personagem de si mesmo, Lynch é impecável. E que cabelo.

O lado picaretagem enquanto arte de David Lynch (um personagem de Entourage, melhor dizendo) fica mais evidente quando analisamos os comerciais que ele dirigiu para todo tipo de produto durante os anos 90. Vai dizer que não parece paródia. Olha esses da Calvin Klein:

Aí tem esse feito para a prefeitura de Nova York, sobre não sujar as ruas da cidade. Podia ser do Funny or Die ou do College Humor.

Tem esse feito para um perfume de Giorgio Armani, cujo convite veio do próprio. TV Pirata?

Outro comercial de perfume, dá-lhe clichê:

Lynch até dirigiu comercial pra disco do Michael Jackson:

E esse pras massas Barilla, com o Depardieu? Muito ridículo.

Mais comercial de perfume, desta vez com a Daryl Hannah:

E tem esses quatro que ele dirigiu pra série de comerciais Ever Wonder?, do Scifi Channel. Um chama-se Nuclear Winter:

Outro chama-se Rocket (e os outros dois – Aunt Droid e Dead Leaves – eu não achei no YouTube):

O cara fez até anúncio para teste de gravidez. Supercine feelings:

E essa série inacreditável pro PlayStation 2:

E, pra finalizar, tem esse de carro:

E vai dizer que ele não é consciente da própria picaretagem? Mas o melhor de todos não é dirigido por ele – ele só atua:

Demais.

4:20

E essa versão de In the Aeroplane Over the Sea que a Madeline Ava gravou no ukulelê? Só podia ser dica da Babee.


Madeline Ava – “Oh Comely

Não, você não está alucinando: é “Get Ready“, dos Temptations, mesmo!

Why So Srny?

Do @vincevader, via Bruna.

Vai um break no gelo aí?