Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Um Dia Um Show Salvou Minha Vida, com Marcelo Costa

E o convidado desta semana do podcast que faço com o Levino sobre a importância dos shows em nossas vidas é o grande Marcelo Costa, do eterno Scream & Yell, que viaja no tempo para lembrar de apresentações ao vivo que o emocionaram, destacando seu encontro com o grande Leonard Cohen.

Ouça abaixo:  

Sem embaraço

Desembaraçou! Sempre é bom ver um artista desabrochar e nesta terça-feira tivemos mais uma oportunidade no Centro da Terra de ver outra carreira musical tomando corpo naquele palco pela primeira vez. Quando Leon Gurfein me falou que queria soltar seu canto profissionalmente no palco, minha intuição disse que seu senso estético espalharia-se facilmente para a música. Há uma década convivendo com artistas de diferentes portes pelos bastidores (Leon faz cabelo, maquiagem e produção visual para nomes como Ava Rocha, Liniker, Tulipa Ruiz e Johnny Hooker, entre outros), ele mostrou sua familiaridade com o palco a partir de sua paixão pela música, que começou pela coleção de discos do pai nas proximidades daquele mesmo teatro, como fez questão de contar nos vários momentos em que conversou com o público e transformava o palco em seu salão e num divã ao mesmo tempo. A apresentação começou com uma cama ambient proposta por sua banda, que Leon batizou de Las Gatas Embarazadas, e Helena Cruz (guitarra, baixo e synthbass), Lauiz (teclas e MPC) e M7i9 (sintetizador, flauta, guitarra e saxofone) emudeceram a plateia por longos minutos, deixando a expectativa palpável para que a estrela da noite entrasse e cantasse suas próprias músicas – parte delas em espanhol – e versões, duas delas divididas com Manu Julian, que subiu ao palco para cantar duetos com Leon em versões em castelhano para “Little Trouble Girl” do Sonic Youth e em português para a clássica “Sea of Love”. Leon encerrou a noite misturando músicas de Ava Rocha, d’O Terno, Portishead e Luiza Lian a “Lágrimas Negras” e “Jorge da Capadócia”, como se invocasse proteção de seus orixãs pessoais da música para aquele momento, antes de cantar mais uma canção própria para fechar a noite. Ele nem esperou sair do palco para anunciar o bis, quando voltou à primeira música da noite acompanhado de um coral estelar formado por Manu, Lorena Pipa, Thiago Pethit, Laura Lavieri, Luiza Lian e Ana Frango Elétrico, espalhando a catarse que claramente sentia para o resto do teatro. Agora já está no mundo!

Assista abaixo:  

Leon Gurfein: Leon y Las Gatas Embarazadas

Que satisfação poder não apenas anunciar que o primeiro show da carreira musical de Leon Gurfein acontece no Centro da Terra, como também comemorar que a sessão de estreia já está esgotada. Depois de anos fazendo cabelo, maquiagem e produção visual de artistas como Luiza Lian, Liniker, Tulipa Ruiz e Johnny Hooker, ele agora solta sua voz e sua produção audiovisual no espetáculo Leon y Las Gatas Embarazadas, quando, ao lado de uma banda composta por Helena Cruz (baixo), Lauiz (teclas e MPC) e M7i9 (sintetizadores e saxofone), passeia por um prólogo visual seguido de momentos autorais e versões inusitadas para músicas alheias. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão esgotados.

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Acariciando traumas

“Músicas são como tatuagens”, Jair Naves comentou no meio do seu segundo show da temporada que está fazendo às segundas-feiras no Centro da Terra, ao subir no palco do teatro ao lado de seu velho comparsa Renato Ribeiro para burilar velhas canções como quem acaricia uma cicatriz para lembrar da dor original ou mergulha no próprio inconsciente para encarar um trauma adormecido. “Quando a gente foi passando por esse repertório eu me lembro exatamente quem eu era quando fiz essas músicas, o que eu tava vivendo, o que tava me afligindo, por quem eu estava apaixonado e obviamente se você tem muitas tatuagens, você gosta mais de umas do que de outras, mas hoje escolhi minhas melhores”, comentou enquanto tocava mais violão que na primeira noite, quando preferiu cantar sem tocar nenhum instrumento, e acompanhado apenas pela guitarra delicada de Renato, passeando por canções de seu repertório ou que nunca tinha tocado ao vivo ou que há muito não encarava nos palcos. Nisso, pinçou pérolas como “Silenciosa” (de seu disco de estreia, Araguari, de 2010), a faixa-título de seu disco de 2011, Um Passo por Vez, várias de seu E Você Se Sente numa Cela Escura, Planejando a Sua Fuga, Cavando o Chão Com as Próprias Unhas de 2012 (“Poucas Palavras Bastam”, “Vida Com V Maiúsculo, Vida Com V Minúsculo”, “Guilhotinesco”, “No Fim da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas” e “Eu Sonho Acordado”, que conectou com o filme Ainda Estou Aqui para falar sobre a ditadura militar brasileira), uma de Trovões a Me Atingir de 2015 (“Um Trem Descarrilhado”), duas do Rente de 2019 (“Veementemente” e “Gira” esta tocada com Renato ao metalofone) e uma de Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo de 2022 (“A Luz Que Só Você Irradia”), além de cantar só no gogó a novíssima “Névoas”, de onde tirou o verso que batiza a temporada (“O Significado se Desfaz no Som”) e em que fez um comentário sobre um comentário que leu na internet sobre a música. Apesar da delicadeza da apresentação ter sido ainda mais intensa que a da primeira, ele conseguiu convencer o público a cantar junto e deixou emoções desaguar enquanto cutucava as próprias feridas. Uma noite especial.

Assista abaixo:  

Festival consolidado

Quando o Dinosaur Jr deixou o palco do Tokio Marine Hall neste domingo deixando quase todos surdos num dos shows mais altos que ouvi em tempos, também coroava um ano de ouro para a Balaclava. O selo, que vi começando quase como um projeto paralelo de dois integrantes da banda indie Single Parents, conseguiu feitos consideráveis neste 2024 que chega ao fim: desde lotar um lugar enorme e desconhecido no raio que o parta para assistir a uma banda literalmente desconhecida de quem não frequenta a cena indie (num show histórico do King Krule no Terra SP) a fazer a principal banda do selo, o Terno Rei, atingir alturas que uma banda indie brasileira raramente atingiu a trazer os Smashing Pumpkins para um Espaço das Américas lotado, atingindo um patamar inédito de público em sua história. O já tradicional festival que aconteceu neste domingo foi só a cereja do ano que termina, para o selo.

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Pé na Porta

Mais um Inferninho Trabalho Sujo neste sábado, num lugar em que já tínhamos realizado uma apresentação – mas agora no novo endereço. A nova Porta, que saiu da Vila Madalena rumo à divisa do antigo bairro com o bairro de Pinheiros, em frente ao cemitério, está num espaço mais amplo, com direito inclusive a um mezanino, o que torna o ambiente, que antes era aconchegante, em um salão espaçoso e ao mesmo tempo acolhedor. E quem começou os trabalhos neste sábado foi a Schlop da cantora e compositora Isabella Pontes, que agora fechou uma nova formação, com sua líder na guitarra e vocais sendo acompanhada de Lucia Esteves na guitarra, Alexandre Lopes no baixo e Antônio Valoto na bateria. E assim passaram pelas composições dos dois discos já lançados (Canções de Amor para o Fim do Mundo, do ano passado, e Senhoras e Senhores, Cachorros e Madames, deste ano), além de tocar o recém-lançado single “Julia Butterfly” e uma versão para “Gold Soundz”, do Pavement, esta tocada como gorros de Papai Noel (como no clipe da banda) e com a participação da entourage da banda Miragem, com Camilla Loreiro na guitarra e Mariana Nogueira e Thais Neres nos vocais, com Bella apresentando-as como as minas que fizeram um moshpit durante “Grounded”, do show que a banda norte-americana fez no Brasil esse ano. Orgulho indie!

Depois foi a vez da banda Miragem subir ao palco da Porta e encarar um desafio: tocar seu disco de estréia Muitos Caminhos Prum Lindo Delírio, lançado no mês passado, na íntegra e com as músicas na mesma ordem de apresentação do álbum, incluindo músicas que nunca tocaram ao vivo. O quarteto é liderado pela multitarefa Camilla Loureira – que reveza-se entre o teclado e a guitarra, além de fazer os vocais, assinar as composições, as artes e a animação do clipe da banda -, ainda conta com a segunda guitarra de Gustavo Esparça, o baixo de Rafael Biondo e a bateria de Lucas Soares e está quase incluindo a videomaker Mariana Nogueira como tecladista efetiva e tem esse som indefinível por misturar música pop com rock progressivo e guitarras pós-punk, como se cada integrante puxasse a sonoridade para um lado diferente, causando um impacto ao mesmo tempo estranho e familiar. Depois da Miragem segui discotecando até o fim da festa, que foi ótima – tanto que já estamos cogitando outra… pra essa semana?! Aguarde e confie.

Assista abaixo:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Miragem e Schlop

No próximo sábado, dia 9 de novembro, o @inferninhotrabalhosujo estreia no Porta, quando recebemos as bandas Miragem, está lançando seu primeiro disco, Muitos Caminhos Prum Lindo Delírio, e a banda Schlop, além de discotecagens minha e da Lina Andreosi. A Porta está em novo endereço, na rua Horácio Lane 95, entre os bairros Pinheiros e Vila Madalena, do lado do Ó do Borogodó, os ingressos já estão à venda neste link e a festa também faz parte das comemorações dos 29 anos do Trabalho Sujo. Vamos?

Alexandre Matias por Pérola Mathias

Minha conterrânea de cerrado e quase-parente Pérola Mathias foi uma das que esbaldou-se na festa em que comeemorei os 29 anos do Trabalho Sujo na Casinha e ela aproveitou a deixa para me entrevistar sobre as quase três décadas desta minha obra contínua. E foi assim que ela me apresentou na introdução do papo:

No último sábado, o jornalista Alexandre Matias comemorou os 29 anos do Trabalho Sujo — “jornalismo arte desde 1995”. O site e o trabalho do Matias na cobertura musical, curadoria, discotecagem e produção é referência para todo mundo que gosta de música, de música brasileira, de música brasileira independente. O Matias é muito mais do que o cara que você vê nos shows (para quem está em São Paulo) filmando o palco e que te apresenta bandas novas. Ele é pioneiro num modelo de fazer jornalismo cultural. Não é que ele estava aqui quando a internet ainda era mato, o Trabalho Sujo já existia antes mesmo dela adentrar nas casas brasileiras.

Por ocasião do aniversário do projeto e da grande comemoração que aconteceu no último Sábado (01) com uma festa que reuniu vários DJs amigos, aproveitei para entrevistar o jornalista no estilo: tudo que você sempre quis saber sobre o Trabalho Sujo e nunca teve coragem de perguntar. Já ouvi muitas pessoas perguntarem “como você dá conta de fazer tudo?”, “por que você foi escolher escrever logo sobre música?”, “vai ter um festival pra comemorar os 30 anos?”, “de onde você tirou esse nome?”.

Agradeço imensamente a deferência, os adjetivos e, mais do que tudo, a companhia nesses anos todos – e em breve eu e ela lançamos mais uma. Leia a íntegra da entrevista lá no site dela, o Poro Aberto.

E o LCD Soundsystem tocando Bauhaus?

E o LCD Soundsystem está fazendo mais uma de suas residências musicais, desta vez do outro lado dos Estados Unidos, quando apresenta-se oito vezes em Los Angeles, quatro shows em uma casa específica – na semana passada tocaram no Shrine Exposition Hall e neste fim de semana estão tocando no Hollywood Palladium. O show traz poucas novidades apesar do grupo ter anunciado que está preparando um novo disco e uma das novas é justamente a primeira vez que inclui a recém-lançada “X-Ray Eyes” em seu repertório. Mas o grupo liderado por James Murphy começou a série de shows no dia das bruxas, puxando nada menos que uma versão inacreditável para “Bela Lugosi is Dead”, do clássico grupo dark Bauhaus. Felizmente alguém na plateia registrou esse momento épico, assista abaixo:  

The Cult no Brasil!

Mais show? Mais show! A banda de rock clássico mais importante dos anos 80 vem ao Brasil no ano que vem: o Cult, liderado pelo vocalista an Astbury e pelo guitarrista Billy Duffy baixam no país em fevereiro de 2025 para três apresentações em que repassam hits de discos emblemáticos como Love (1985), Electric (1987) e Sonic Temple no Rio de Janeiro (dia 22 no Viva Rio), em São Paulo (dia 23 no Vibra SP) e Curitiba (dia 25, no Live Curitiba). Os ingressos estão à venda neste e neste link.