Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Planet Hemp ♥ Mercenárias

O show de 30 anos que o Planet Hemp fez no antigo Espaço das Américas em julho deste ano, em São Paulo, acaba de ser lançado como um disco ao vivo e entre as participações que lotam Baseado em Fatos Reais: 30 Anos de Fumaça (que enfileira um quem-é=quem da música pop brasileira das últimas décadas: Seu Jorge, Emicida, Pitty, Criolo, Black Alien, BaianaSystem, Rodrigo Lima do Dead Fish, Kamau e até o vocalista do Suicidal Tendencies, Mike Muir, entre outros) uma das mais quentes é a dobradinha entre o grupo e o pilar do punk brasileiro chamado As Mercenárias, que cantam juntos a urgente “Me Perco Nesse Tempo” com um pézinho no reggae, mostrando com as duas bandas, aparentemente distintas, caminham na mesma frequência e reforçam uma genealogia de música de protesto que vai muito além das entrelinhas da MPB durante a ditadura militar. E vale assistir à apresentação na íntegra, certamente um dos melhores shows do ano (que, infelizmente, perdi). Veja abaixo:  

E o Billy Zane de Marlon Brandon, hein?

Quando algum cineasta pensa em levar a vida de alguma personalidade famosa para as telas de cinema, há sempre o temor sobre quem seria o melhor ator para interpretar o personagem – e é tão comum o que parece ser uma boa escolha funcionar mal quanto justo o oposto acontecer. Pois Waltzing with Brando, filme que o diretor Bill Fishman estreará no ano que vem cai improvavelmente na segunda categoria, mesmo que seu personagem retratado seja um dos maiores atores de todos os tempos. Mas ao lançar o trailer do filme que estreia no ano que vem, Fishman nos mostra um Brando vivido por um nome que nunca apostaria na possibilidade de dar certo – até vermos Billy Zane, cujos papéis mais memoráveis são o de antagonista de Leonardo di Caprio em Titanic e o da quase caricata versão para o cinema do personagem dos quadrinhos Fantasma, fazendo Brando a caráter tanto como o Capitão Kurtz de Apocalypse Now, o Dom Corleone de O Poderoso Chefão e o próprio ator em sua versão mais excêntrica, disposto a criar seu próprio resort no Taiti (espinha dorsal da história principal do filme) no auge de sua fama. Zane está tão convincente que em algumas cenas a gente tem que esfregar os olhos para ter certeza que não estamos vendo o próprio Marlon. Dá uma sacada abaixo:  

Um Dia Um Show Salvou Minha Vida, com Piky Candeias

Desta vez eu e Levino chamamos a querida Piky para falar sobre os shows de sua vida em mais um episódio de nosso podcast e ela escolhe um mestre da música brasileira que pode presenciar ao vivo como ponto de partida, ao falar sobre o show de Tom Jobim que assistiu no começo dos anos 90, em São Paulo, com participação de Milton Nascimento e Chico Buarque.

Ouça abaixo:  

De dentro pra fora, como um pesadelo

“Existir como a silhueta de uma faca roubada passada de mão em mão sempre entre os dedos certos”, repetia Natasha Felix durante a apresentação que fez no Centro da Terra ao lado do DJ Glau Tavares, evocando diferentes autores para tornar o corpo redivivo por seu poema O Primeiro Segredo Dito a Lázaro ainda mais incomodado com o fato de não ter morrido – “não levanta da tumba, morto, recalcula a rota!”. E enfileirando Sylvia Plath, um poema sobre um poema de Nicanor Parra, o único par de versos de Emily Dickinson que leu, a viagem de volta à África feita por Saidiya Hartman e como Stella do Patrocínio via a fuga (“o negro não se esquiva, escapa, desaparece”), ela foi criando um clima tenso e hipnótico ao enumerar sensações diferentes com seu mesmo timbre doce, monotônico e implacável enquanto loopava a própria voz eletronicamente pela primeira vez num palco. Enquanto Natasha experimentava a musicalidade de seus versos envolvendo-se com os versos alheios, a outra metade criadora do espetáculo Lamber as Feridas, o DJ Glau Tavares, criava um clima de opressivo que ecoava música eletrônica dos anos 80, uma versão industrial de um hip hop instrumental com toques de funk, house music e EBM – e o encontro daquelas duas narrativas ainda era temperada pela luz da dupla Retrato (Ana Zumpano e Beeau Gomez estão desenvolvendo uma senhora carreira paralela como iluminadores de show – e desta vez Ana interferiu inclusive na cenografia), que tratava claros e escuros com a distinção do ritmo dos beats e da tensão das palavras, crescendo forte, como ela mesma disse, “sempre de dentro pra fora, como um pesadelo”. Bravo!

Assista abaixo:  

Natasha Felix + DJ Glau Tavares: Lamber as Feridas

Enorme satisfação receber a poeta e performer Natasha Felix para uma apresentação musical que idealizou ao lado do DJ Glau Tavares batizada de ‘Lamber as Feridas, em que ela cria no palco o poema O Primeiro Segredo Dito a Lázaro, em que conta a história de alguém que se vê forçado a voltar à vida depois da morte. A obra é o fio condutor da apresentação que também traz outros poemas da autora, além de textos de Nicanor Parra, Sylvia Plath, Stella do Patrocínio e Saidiya Hartman. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Evandro Teixeira (1935-2024)

Morreu nesta segunda um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro. O baiano Evandro Teixeira entrou para a história logo que começou a fotografar no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, dez anos depois de ter começado a fotografar e seis anos depois de entrar no jornalismo quando, no 1° de abril de 1964, infiltrou-se no Forte de Copacabana, quando os militares golpistas da vez se reuniram para saudar o novo presidente, o marechal Humberto Castello Branco, e registrou a primeira foto do primeiro ditador militar do nefasto período, publicando-a na capa do jornal no mesmo dia. Cobriu a repressão da ditadura militar e os protestos contra esta, incluindo sua clássica foto tirada na Passeata dos Cem Mil, que aconteceu na antiga capital brasileira, em 1968. Em 1973 foi para o Chile onde, além de ser o único fotógrafo a registrar o golpe contra o presidente Salvador Allende, a morte do poeta Pablo Neruda, também testemunhou o assassinato em massa que a ditadura daquele país praticava no principal estádio de futebol local. Era um jornalista ferrenho de sensibilidade ímpar, registrando, quase sempre em preto e branco, acontecimentos históricos, reportagens épicas e detalhes do cotidiano. Morreu aos 88 anos, no Rio de Janeiro, após complicações devido a uma pneumonia. Seu acervo é mantido pelo Instituto Moreira Salles, em cujo site há uma vasta coleção de suas obras. Veja algumas abaixo:  

Bacuri, o disco novo dos Boogarins, já tem data de lançamento!

Agora vai! Depois de algum suspense o grupo goiano Boogarins acaba de confirmar a data de lançamento de seu quinto disco, chamado Bacuri, que chega ao público no dia 26 deste mês. O anúncio veio com a primeira canção que o grupo mostra do novo disco e “Corpo Asa” dá uma boa medida do que vem por aí: um disco psicodélico e cheio de guitarras como lhes é característico, mas com canções coesas e redondinhas, puxando a tônica para sensações íntimas e sentimentos plenos, como se a loucura desse tempo para desencantar o bem estar do grupo consigo mesmo. Não é exagero dizer que ele estão prestes a lançar seu melhor disco e um dos melhores discos de 2024.

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #829: Quincy Jones (1933-2024)

O rei está morto, viva o rei!

Ouça abaixo:  

Uma outra intensidade

“Na minha vida eu tive muitas ideias questionáveis, mas Ludovic acústico é top 3, com certeza”, brincou Jair Naves logo do início da primeira apresentação de sua temporada no Centro da Terra, batizada de O Significado se Desfaz no Som. E o título se materializou quando trouxe dois integrantes do grupo que lançou sua carreira artística para visitar suas canções num formato completamente inusitado – que funcionou. Para quem estava acostumado à catarse noise e emotiva que caracteriza as apresentações do grupo, que voltou apresentar-se ao vivo este ano por conta do aniversário de vinte anos do primeiro álbum, Servil, encontrou um momento íntimo e delicado em que as canções ganharam outro sentido, quando a voz de Jair não berra e as melodias encontravam-se entre a guitarra de Eduardo Praça e o violão de Zeke Underwood, por vezes acompanhados do próprio Jair ao violão, mostrando uma outra intensidade, mais sentimental, das canções do grupo. Foi a oportunidade também de mostrar ao vivo duas músicas que nunca haviam sido tocadas ao vivo, as acústicas “Sob o Tapete Vermelho” e “Unha e Carne”, do disco Idioma Morto, de 2006, e Naves levou-se pela emoção ao reencontrar-se com versos e frases expostos de forma tão aberta e nua, para além do escudo de ruído criado pelo barulho da banda, culminando com uma versão belíssima para “Qorpo-Santo de Saias”. E se a primeira noite já teve esse misto de frescor e sensibilidade, imagine as próximas…

Assista abaixo:  

Jair Naves: O Significado se Desfaz no Som

É com imensa satisfação que começamos nesta segunda-feira a última tempprada de música no Centro da Terra em 2024 e seu protagonista é o grande Jair Naves, que apresenta formações musicais variaddas a cada semana para mostrar as diferentes facetas de sua autoria. Na primeira noite da temporada baitzada O Significado se Desfaz no Som, que acontece no dia 4, ele reúne sua clássica banda Ludovic para uma apresentação acústica – a primeira (e talvez única) na história do grupo. Depois, dia 11, ele convida seu parceiro musical mais antigo, Renato Ribeiro, para passear pelo repertório de seus quatro discos e mostrar algumas músicas que estarão no disco que está começando a trabalhar. Na terceira segunda-feira, dia 18, ele reúne sua banda completa para tocar outras músicas de seu repertório, mostrando canções que com mais urgência e ruído. E a temporada termina no dia 25, quando recebe o trio paraense Molho Negro num encontro inédito em que tocarão músicas de ambos repertórios. Sempre lembrando que os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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