Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Natasha Felix + DJ Glau Tavares: Lamber as Feridas

Enorme satisfação receber a poeta e performer Natasha Felix para uma apresentação musical que idealizou ao lado do DJ Glau Tavares batizada de ‘Lamber as Feridas, em que ela cria no palco o poema O Primeiro Segredo Dito a Lázaro, em que conta a história de alguém que se vê forçado a voltar à vida depois da morte. A obra é o fio condutor da apresentação que também traz outros poemas da autora, além de textos de Nicanor Parra, Sylvia Plath, Stella do Patrocínio e Saidiya Hartman. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Evandro Teixeira (1935-2024)

Morreu nesta segunda um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro. O baiano Evandro Teixeira entrou para a história logo que começou a fotografar no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, dez anos depois de ter começado a fotografar e seis anos depois de entrar no jornalismo quando, no 1° de abril de 1964, infiltrou-se no Forte de Copacabana, quando os militares golpistas da vez se reuniram para saudar o novo presidente, o marechal Humberto Castello Branco, e registrou a primeira foto do primeiro ditador militar do nefasto período, publicando-a na capa do jornal no mesmo dia. Cobriu a repressão da ditadura militar e os protestos contra esta, incluindo sua clássica foto tirada na Passeata dos Cem Mil, que aconteceu na antiga capital brasileira, em 1968. Em 1973 foi para o Chile onde, além de ser o único fotógrafo a registrar o golpe contra o presidente Salvador Allende, a morte do poeta Pablo Neruda, também testemunhou o assassinato em massa que a ditadura daquele país praticava no principal estádio de futebol local. Era um jornalista ferrenho de sensibilidade ímpar, registrando, quase sempre em preto e branco, acontecimentos históricos, reportagens épicas e detalhes do cotidiano. Morreu aos 88 anos, no Rio de Janeiro, após complicações devido a uma pneumonia. Seu acervo é mantido pelo Instituto Moreira Salles, em cujo site há uma vasta coleção de suas obras. Veja algumas abaixo:  

Bacuri, o disco novo dos Boogarins, já tem data de lançamento!

Agora vai! Depois de algum suspense o grupo goiano Boogarins acaba de confirmar a data de lançamento de seu quinto disco, chamado Bacuri, que chega ao público no dia 26 deste mês. O anúncio veio com a primeira canção que o grupo mostra do novo disco e “Corpo Asa” dá uma boa medida do que vem por aí: um disco psicodélico e cheio de guitarras como lhes é característico, mas com canções coesas e redondinhas, puxando a tônica para sensações íntimas e sentimentos plenos, como se a loucura desse tempo para desencantar o bem estar do grupo consigo mesmo. Não é exagero dizer que ele estão prestes a lançar seu melhor disco e um dos melhores discos de 2024.

Ouça abaixo:  

Vida Fodona #829: Quincy Jones (1933-2024)

O rei está morto, viva o rei!

Ouça abaixo:  

Uma outra intensidade

“Na minha vida eu tive muitas ideias questionáveis, mas Ludovic acústico é top 3, com certeza”, brincou Jair Naves logo do início da primeira apresentação de sua temporada no Centro da Terra, batizada de O Significado se Desfaz no Som. E o título se materializou quando trouxe dois integrantes do grupo que lançou sua carreira artística para visitar suas canções num formato completamente inusitado – que funcionou. Para quem estava acostumado à catarse noise e emotiva que caracteriza as apresentações do grupo, que voltou apresentar-se ao vivo este ano por conta do aniversário de vinte anos do primeiro álbum, Servil, encontrou um momento íntimo e delicado em que as canções ganharam outro sentido, quando a voz de Jair não berra e as melodias encontravam-se entre a guitarra de Eduardo Praça e o violão de Zeke Underwood, por vezes acompanhados do próprio Jair ao violão, mostrando uma outra intensidade, mais sentimental, das canções do grupo. Foi a oportunidade também de mostrar ao vivo duas músicas que nunca haviam sido tocadas ao vivo, as acústicas “Sob o Tapete Vermelho” e “Unha e Carne”, do disco Idioma Morto, de 2006, e Naves levou-se pela emoção ao reencontrar-se com versos e frases expostos de forma tão aberta e nua, para além do escudo de ruído criado pelo barulho da banda, culminando com uma versão belíssima para “Qorpo-Santo de Saias”. E se a primeira noite já teve esse misto de frescor e sensibilidade, imagine as próximas…

Assista abaixo:  

Jair Naves: O Significado se Desfaz no Som

É com imensa satisfação que começamos nesta segunda-feira a última tempprada de música no Centro da Terra em 2024 e seu protagonista é o grande Jair Naves, que apresenta formações musicais variaddas a cada semana para mostrar as diferentes facetas de sua autoria. Na primeira noite da temporada baitzada O Significado se Desfaz no Som, que acontece no dia 4, ele reúne sua clássica banda Ludovic para uma apresentação acústica – a primeira (e talvez única) na história do grupo. Depois, dia 11, ele convida seu parceiro musical mais antigo, Renato Ribeiro, para passear pelo repertório de seus quatro discos e mostrar algumas músicas que estarão no disco que está começando a trabalhar. Na terceira segunda-feira, dia 18, ele reúne sua banda completa para tocar outras músicas de seu repertório, mostrando canções que com mais urgência e ruído. E a temporada termina no dia 25, quando recebe o trio paraense Molho Negro num encontro inédito em que tocarão músicas de ambos repertórios. Sempre lembrando que os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Agnaldo Rayol (1938-2024)

Morreu nesta segunda-feira um ícone do rádio brasileiro – e de uma forma estúpida (caiu no banheiro, bateu a cabeça e não chegou ao hospital a tempo). Dono de um forte timbre barítono que logo seria ultrapassado pela forma de cantar lançada primeiro por João Gilberto, depois Roberto Carlos e finalmente os principais nomes da MPB, ele seguiu sua carreira mantendo sempre aquele padrão, o que fez aproximar-se, com o tempo, de outros ícones do período, como Cauby Peixoto e Agnaldo Timótheo. Sua linda voz encaixava-se perfeitamente como seu ar de galã, que o tornou um verdadeiro astro da música no Brasil durante décadas a fio, fazendo-o circular pelo cinema e pela TV. Um registro que acaba resumindo seu talento está no dueto que fez com Hebe Camargo no filme Zé do Periquito, filme do estúdio Vera Cruz lançado em 1960, escrito, dirigido e estrelado por Mazzaropi. Os dois cantam “Passe a Viver”, de Heitor Carillo, numa cena que funciona como uma cápsula de tempo de um Brasil que ainda não havia se modernizado mas também naõ havia caído na ditadura militar, período que o próprio Rayol talvez seja seu melhor garoto-propaganda.

Assista abaixo:  

Quincy Jones (1933-2024)

Morreu nesta segunda-feira o último representante de uma espécie. Quincy Jones equilibrou música e mercado como poucos na história do século 20 e com sua morte um ciclo se fecha. Possivelmente o nome mais importante da história da indústria fonográfica dos Estados Unidos – e só isso resume o peso de sua biografia, como se isso fosse possível. Obrigado!

Quando Billy Corgan está bem humorado…

A única expectativa que tinha pro show dos Smashing Pumpkins que aconteceu em São Paulo neste domingo no Espaço Unimed era que confirmasse a boa fase de seu líder Billy Corgan e que isso pudesse proporcionar um show em que as canções clássicas do grupo não se misturassem à cacofonia metal industrial que tomou conta de seu imaginário musical desde o início do século. O disco lançado este ano, Aghori Mhori Mei, já dava uma boa pista que Billy conseguira exorcizar a paranoia que tinha que sua banda soasse nostálgica e abraçou a psicodelia noise que forjou no início dos anos 90, trazendo inclusive de volta para o grupo dois integrantes fundadores, James Iha e Jimmy Chamberlin. O começo do show não ajudou nessa impressão, com uma introdução brega, músicas menores e o som embolado característico daquela casa de shows, que praticamente descaracterizou o que poderia ter sido uma ótima versão para “Zoo Station” dO clássico eletrônico do U2 Achtung Baby. Mas à medida em que o show foi passando, o som foi se acertando e estava nítido o bom humor de Billy Corgan, que inclusive improvisou e saiu do script, ao incluir duas versões acústicas que tocou sozinho no violão: “Landslide”, do grupo Fleetwood Mac e “Shine On, Harvest Moon” da esquecida cantora Ruth Etting, que já foi um dos grandes nomes do showbusiness dos Estados Unidos. O clima ia melhorando à medida em que o show passava e, salvo alguns porcos momentos em que a banda parecia um subgrupo de new metal ou uma paródia da pior fase do Iron Maiden, a precisão aparentemente solta dos hits dos clássicos Gish e Siamese Dream e a grandiosidade opulenta das canções de Mellon Collie & The Infinite Sadness vieram com força e gosto, para deleite dos fãs, em sua maioria contemporâneos da banda. E entre “Today”, “Tonight, Tonight”, “Mayonaise”, “Bullet with Butterfly Wings” e “1979”, encerraram o show com chave de ouro e astral tão alto (nunca vi Corgan sorrir tanto!) que às vezes parecia contradizer a melancolia das canções originais, o grupo terminou a noite celebrando clássicos do rock, ´primeiro citando Black Sabbath, AC/DC e Led Zeppelin na hora que a banda foi apresentada, depois misturando o riff de “Are You Gonna Go My Way” do Lenny Kravitz com o de “Zero”, logo depois de uma versão excelente de “Cherub Rock”. A banda ainda pegou todo mundo de surpresa ao voltar com um inesperado bis, em que tocaram nada menos que “Ziggy Stardust” de David Bowie, com Iha nos vocais. Um final épico para um show que, apesar de começar mal, acertou exatamente na expectativa que tinha.

Assista aqui:  

Estreia de tirar o fôlego

Soberba a apresentação de estreia que Nina Maia fez de seu recém-lançado disco Inteira no Sesc Avenida Paulista, quando trouxe uma versão de gala do formato que vem mostrando desde o início do ano: além de seu teclado teve um piano de cauda, além da viola de Thales Hashiguti, contou com a voz e o violoncelo da amiga e parceira Francisca Barreto e aproveitou ter a cozinha do grupo Os Fonsecas – Valentim Frateschi no baixo e Thalin na bateria – para trazer uma das canções deste último para o palco. Ela foi mostrando o disco lentamente, primeiro sozinha em primeiro plano acompanhada apenas de efeitos sonoros, depois tocando o teclado no centro do palco enquanto os outros músicos faziam suas entradas, deixando suas canções, que soam clássicas e modernas ao mesmo tempo, com um peso físico que no disco é filtrado por timbres eletrônicos. Com vídeos em P&B em alto contraste no telão pilotado por Danilo Sansão e com as luzes finas tocadas pela dupla Retrato (Ana Zumpano e Beeau Gomez), o show teve seu ponto alto quando Nina emendou sua épica “Salto de Fé” com “Todo Tempo do Mundo” do disco Maria Esmeralda, quando o baterusta autor da canção original soltou sua voz na frente do palco para cantar uma versão inacreditável do hit. Uma estreia de tirar o fôlego.

Assista abaixo: