Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Alguma coisa está acontecendo

Mais um Inferninho Trabalho Sujo na Porta e comecei a vislumbrar outra transformação da festa a partir do que aconteceu nessa sexta-feira. Reuni dois artistas distintos com propostas diferentes mas que juntos trouxeram uma atmosfera diferente da que venho construindo neste último ano e meio abrindo espaço para artistas iniciantes, criando uma atmosfera mais introspectiva e plácida do que o ritmo intenso e abrasivo característico dos outros inferninhos. Assim, apesar de tecnicamente lidar com duas atrações que davam seus primeiros passos, o clima da noite não era propriamente jovem. Sim, Fernando Catatau e Isa Stevani estão aí há um tempo com seus trabalhos pessoais, mas a junção do trabalho dois, no espetáculo batizado de Outra Dimensão, é novíssimo e estava na terceira apresentação. E Francisca Barreto, apesar de ter acabado de entrar em seus vinte anos, já rodou o planeta tocando com Demian Rice e está desenvolvendo uma maturidade artística própria que vai além do que sua quantidade de shows autorais – aquele era apenas seu segundo, mas não parecia. Tocando mais uma vez com Bianca Godoi e Victor Kroner, ela convidou Valentim Frateschi para o lugar da viola de Thales Hashiguti, que não pode tocar nessa sexta, abrindo uma nova dimensão para além de seu primeiro show, realizado no Centro da Terra há algumas semanas. Com a banda toda de pé, ela criou uma correia para seu próprio violoncelo tocando ela mesma de pé e apresentou-se com mais confiança e dinâmica que na outra ocasião, dando preferência ao próprio repertório – tocando músicas lindas que ainda não têm nome – e deixando as versões para momentos pontuais do show, quando tocou “Habana” de seu professor de cello Yaniel Matos (que deverá ser seu primeiro single, produzido por Kroner), a maravilhosa versão para “Teardrop” do Massive Attack (quando deixa sua voz resplandecer como deve ser) e “Ponta de Areia” de Milton Nascimento (esta última só em seu instrumento e a pedidos do público). Uma apresentação mais concisa, sem participações especiais e mais direto ao ponto que a primeira, mostrando com ela aos poucos vai tomando conta do próprio voo.

Depois foi a vez de Fernando Catatau e Isa Stevani mostrar mais uma vez seu espetáculo Outra Dimensão, que realizam juntos: enquanto Isa projeta imagens tridimensionais que vão se desintegrando e reestruturando em movimento, Fernando faz sua guitarra rugir provocando reações nas imagens exibidas por Isa. E assim o público da Porta, onde foi realizada mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo, ia aos poucos entrando em paisagens silenciosas que hora pareciam estar numa gruta, num planeta inóspito, no espaço sideral ou numa floresta, imagens abstratas que ganhavam novas camadas com os movimentos propostos pelo som das duas guitarras tocadas por Catatau, que também cantarolou no final da apresentação, causando momentos de reflexão, meditação e transe entre o ruído e o silêncio, reforçando a sensação que o Inferninho na Porta abre uma outra categoria de festa. Uma que, quando discotequei, não pedia apenas música para dançar, mas abria espaços para misturar The Cure com Boards of Canada com instrumentais do BaianaSystem, Big Star e Tulipa Ruiz. Alguma coisa está acontecendo…

Assista abaixo:  

Mario de Andrade surreal!

Surreal! O adjetivo é óbvio e perfeito para comemorar o inacreditável IV Festival Mário de Andrade, que a Biblioteca Pública de mesmo nome, um dos aparelhos culturais mais clássicos de São Paulo, discorre neste fim de semana. São três dias celebrando 100 anos de surrealismo numa mostra de fazer o olho de qualquer um que goste de arte e cultura brilhar de tantos nomes e temas fodas que serão abordados. Boogarins com Edgar, Grupo Rumo completando 50 anos, Sophia Chablaue e Uma Enorme Perda de Tempo tocando o Loki? do Arnaldo Baptista, Bia Junqueira e Vj Spetto relendo o Manifesto Surrealista, Noporn om Jup do Bairro celebrando Liana Padilha, Caetano Galindo lendo Leonora Carrington e Samuel Beckett, Luiza Lian tocando seu 7 Estrelas, Jal Vieira e Fábio Kabral falando sobre afrofuturismo, Verônica Stigger e Taisa Palhares falando sobre mulheres surrealistas, Getúlio Abelha, Peter Pal Pelbart e Bruna Beber falando sobre loucura e criação artística, Ava Rocha tocando seu Néktar, Daniel Galera e Márcia Tiburi falando sobre distopias, Cristhiano Aguiar e Santiago Nazarian falando sobre o insólito na ficção, performance de Fabiana Faleiros, Maria Isabel Iorio, Gal Freire e Renato Negrão lendo poemas de Roberto Piva (que também será celebrado por Marcelo Drummond e Teatro Oficina), Eduardo Sterzi e Gustavo Silveira Ribeiro falando sobre censura na literatura brasileira, Márcia Kabemba e Pedro Cesarino falando sobre xamanismo e literatura, estreia do documentário O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli e exibições de As Pequenas Margaridas (de Věra Chytilová) e muitas outras falas, mostras, feiras, debates, shows, exposições e outras atividades que acontecerão nos dias 15, 16 e 17 deste mês. E o melhor: tudo de graça! A programação completa pode ser vista nesse site.

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Fernando Catatau + Isa Stevani e Francisca Barreto

Mais Inferninho Trabalho Sujo essa semana? Outra vez na Porta? Sim, numa programação relâmpago reuni duas apresentações novíssimas para celebrar a parceria com esta que é uma das melhores novas casas de show de São Paulo. A noite começa com a segunda apresentação autoral de Francisca Barreto, que desta vez juntou-se a Bianca Godoi e Victor Kroner para mergulhar em canções lindíssimas com sua voz e violoncelo formidáveis. Depois é a vez de Fernando Catatau e Isa Stevani apresentarem a composição audiovisual Outra Dimensão, performance em que imagens digitais geradas em 3D reagem de forma generativa ao som de guitarras e samplers em tempo real. E além das duas apresentações, também discoteco antes, entre e depois dos shows. A Porta fica na rua Horácio Lane, 95, entre os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, em frente ao cemitério, e abre a partir das 19h. Os ingressos já estão à venda neste link – e comprando antes sai mais barato.

“Ainda há tempo de fazer algo mudar!”

Nesta quinta-feira o Inferninho Trabalho Sujo atingiu um novo patamar. Em nossa terceira edição no Cineclube Cortina, batemos nosso recorde de público ao mesmo tempo em que apresentamos um artista que foge do padrão de um artista iniciante – apesar de sê-lo. Em vez de mais de um show por noite, uma única apresentação, inspirada num único disco, mostrando que mesmo que as pessoas no palco ainda estejam na casa dos vinte anos isso não se traduz apenas em urgência, intensidade ou carisma, elementos intrínsecos do início de qualquer carreira artística. Claro que o coletivo Maria Esmeralda tinha tudo isso, mas ao apresentar pela terceira vez a história de seu disco no palco, reforçam os elementos daquilo que chamam “nova ternura” no disco, algo que é sensível e responsável ao mesmo tempo, equilibrando diferentes metades para que possamos driblar esse futuro espartano que teima em se avizinhar. E ao espalharem-se mais uma vez pela sala de estar que montam em seu palco, o inacreditável Thalin, VCR Slim, Pirlo, Cravinhos (de novo esmerilhando na guitarra e no violão) e Langelo reuniram mais uma vez parte das participações do disco, celebrando-o ao lado dos grandes Doncesão, Servo, Quiriku, Rubi, Matheus Coringa e Marília Medalha (mais uma vez em uma gravação), que ajudaram a temperar ainda mais a noite épica, mostrando que um dos melhores discos de 2024 também é um dos melhores espetáculos do ano. Baita orgulho de dar esse palco pra eles, afinal é essa nova geração que vai tomar conta daqui a pouco – ou como eles mesmos dizem: “Ainda há tempo de fazer algo mudar!”

Assista abaixo:  

Leonardo Irian (1993-2024)

Baita perda para o rap nacional: Leonardo Irian, o MC Leo do grupo Síntese, faleceu nesta sexta-feira. Fundador do grupo de São José dos Campos ao lado do MC Neto, Leo entrou para a história do rap brasileiro com o disco Sem Cortesia, lançado em 2012, com faixas curtas, de produção crua e sem refrão, que lançou a banda para o resto do país no mesmo ano em que ele descobriu que era esquizofrênico. Esta condição colocou sua carreira em pausa, fazendo o grupo seguir principalmente na voz de Neto, que ainda mantinha o parceiro por perto, levando sua palavra e tentando, quando pode, trazê-lo de volta aos discos e aos palcos, que sofria com internações e até um período que ficou desaparecido em 2020. A causa de sua morte não foi informada.

E o Picles no Rio de Janeiro?

Nós vamos invadir sua praia! O Picles acaba de anunciar sua primeira incursão para fora de São Paulo e o foco inicial é o Rio de Janeiro, quando promovem, entre os dias 5 e 9 de dezembro um festival itinerante passando pro quatro diferentes casas de show do balneário fluminense. Dia 5 eles levam O Grilo e Chorões da Pisadinha para o Agyto, no dia seguinte Anelis Assumpção, BNegão e Tulipa Ruiz tocam no Sacadura 154, no sábado tem Esteban Tavares, Jonas Sá e Julia Mestre no Galpão Ladeira das Artes e encerram a invasão dia 8 com shows de Rafael Castro e Silvia Machete, além de DJ set de Alice Caymmi no MotoCerva. Os ingressos já estão à venda e tem mais informações no Instagram que eles criaram pra divulgar a nova fase. Mas será que eles teriam coragem de abrir um Picles no Rio?

O ano em que os Beatles conquistaram o mundo

Eis o primeiro trailer de 1964, documentário sobre a chegada dos Beatles aos Estados Unidos produzido por Martin Scorsese com cenas inéditas e entrevistas exclusivas que estreia no próximo dia 29 no Disney+.

Assista ao trailer abaixo:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Maria Esmeralda

E o Inferninho Trabalho Sujo tem o prazer de apresentar o disco Maria Esmeralda ao vivo como parte das comemorações dos 29 anos do Trabalho Sujo no próximo mês. A oportunidade única de ver ao vivo em 2024, em São Paulo, a obra-prima feita por Thalin, Cravinhos, Pirlo, VCR Slim e Iloveyoulangelo acontece na edição do dia 14 de novembro no Cineclube Cortina. Corre que os ingressos são limitados e se você ficar de fora dessa, vai saber quando é o próximo…A festa é a primeira atração das comemorações dos 29 anos do Trabalho Sujo, que acontece no mês que vem. Os ingressos são limitados e já estão à venda aqui.

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Um passado à mostra

Forte, bonito e triste: assim é Ainda Estou Aqui, o novo filme de Walter Salles sobre a história de Eunice Paiva, mãe de Marcelo Rubens Paiva (autor do livro original), e mulher do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello genial, humanizando um nome que ficou associado apenas à política), sequestrado pela ditadura militar brasileira dos anos 70. Com uma atuação soberba de Fernanda Torres como a protagonista do filme e uma direção de arte impecável, Salles recria o clima tenso do início dos anos 70 no Brasil, nos atira nos porões da ditadura num segundo ato devastador e depois nos embala entre a beleza da resistência insistida por Eunice e a tristeza da inevitabilidade de sua situação, nos fazendo pensar sobre esse momento de trevas que ainda atravessamos no país, mais de meio século passado – e começa a ser visto pelo exterior a partir do dia 17 de janeiro, quando estreia nos cinemas dos Estados Unidos. De ver com olhos marejados.

Que tal assistir à Olivia Rodrigo fora do Lollapalooza?

Eu queria tanto ver o show da Olivia Rodrigo sem precisar ir ao Lollapalooza e parece que essa vontade vai ser realizada em Curitiba, quando ela faz seu show solo no estádio Couto Pereira no dia 26 de março junto com a St. Vincent! Os ingressos começam a ser vendidos nessa sexta-feira, neste link.