Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

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Mas só enquanto estou de férias, já volto.

Vida Fodona #527: Viajar sob o sol

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Deixando aí uma playlist pra vocês antes de ficar umas duas semaninhas mezzo fora do ar… Volto no início de junho.

Engatando a marcha lenta

climatias

Fico duas semaninhas offline (ma non troppo): vou passear em Amsterdã e Barcelona com meu amor e deixo o Trabalho Sujo no piloto automático com eventuais atualizações nas minhas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter. Sigo conectado por lá, mas num ritmo bem menor. Quem quiser mandar notícias, mande nos comentários aí. Até a volta!

O Step Psicodélico de Tatá Aeroplano

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Músico e compositor de múltiplas facetas, Tatá Aeroplano chega a um consenso artístico com as próprias personalidades em seu melhor disco, o delicioso Step Psicodélico, que ele decidiu lançar no Trabalho Sujo. Seu terceiro disco solo repete a colaboração com a banda formada por Junior Boca, Dustan Gallas e Bruno Buarque com quem colaborou nos dois primeiros álbuns, mas chacoalha-se manhoso erguendo ecos de suas personas em projetos do passado e do presente, como o Jumbo Eletro, o Cérebro Eletrônico e o Frito Sampler.

Ter incluído o termo “psicodélico” no título do disco ajudou na definição deste conceito. “Entramos pra gravar o disco e ele não tinha nome ainda”, me explica por email. “Foi assim com o Na Loucura & Na Lucidez (seu disco anterior), eu vou sentindo tudo na hora, o inconsciente e o acaso estão agindo o tempo todo. Quando a gente já estava com o disco todo gravado, saquei que a canção ‘Step Psicodélico’ daria nome ao disco. Foi natural, e eu me senti à vontade com nome.” O disco também teve forte influência de Júpiter Maçã, um dos gurus de Tatá, quemorreu no ano passado quando ele gravava os vocais com uma nova convidada de sua banda, a vocalista Julia Valiengo, que também participa da banda Frito Sampler.

Além de Julia, outros amigos de Tatá participam desse Step, como Peri Pane (que abre o disco com sua “Todos os Homens da Terra” e seu timbre grave), Ciça Gois e Bárbara Eugenia, com quem divide vocais na faixa título. Esta, inclusive, é sua parceira em um de seus próximos trabalhos, já que Tatá não para: “Nós vamos lançar no ano que vem”, planeja. “Não vejo a hora da gente entrar em estúdio pra gravar com a Bárbara esse disco vai ser massa demais”, comemora.

O disco também pode ser baixado no site oficial de Tatá e ouvido no Bandcamp e no YouTube (e, em breve, em todas as plataformas de streaming).

Quando você começou a pensar nesse disco? Quando você viu que Na Loucura & Na Lucidez havia terminado seu ciclo e era hora de começar um novo?
A gravação do primeiro disco em 2012 no Estúdio Minduca com Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque, foi marcante e um baita aprendizado pra mim, tive uma verdadeira aula de produção musical com os rapazes. Em dezembro de 2013 já engatamos no disco Na Loucura & Na Lucidez. Foi muito boa a experiência de lançar o primeiro disco em 2012 e o segundo em 2014. No ano passado eu já tinha organizado da gente gravar um novo álbum. Eu componho numa velocidade insana, é música o tempo inteiro, a gente vai atropelando um disco no outro.

Como aconteceu o processo de criação e gravação do disco? O quanto os músicos estiveram envolvidos no processo de criação?
A nossa dinâmica musical dentro de estúdio é ótima. Tudo muito visceral. Quando entro pra gravar eu me entrego de corpo e espírito e vivemos totalmente dentro do clima do disco. Acho que nós vamos emendando os ciclos entre um disco e outro. São os tempos que vivemos, onde tudo é intenso. Tem a vida real e tem a vida virtual. Viver esse novo momento tem sido incrível.
No ano passado eu fiz uma mini tour incrível em Portugal. Tomei contato com alguns nomes da música popular de lá, como Serginho Godinho e Fausto, com a geração atual, Samuel Úria …Capitão Fausto. Voltei pro Brasil e eu fui participar do álbum Frou Frou da Bárbara. O Peri Pane estava lá também e me mostrou a letra de “Todos Os Homens da Terra”, eu li uma vez e criei a melodia na hora. No dia seguinte, o Peri me enviou a música, e nesse mesmo dia eu musiquei uma letra do Gustavo Galo … passei a tarde inteira compondo … nasceu no mesmo dia “Step Psicodélico”, “Dois Lamentos” e “Passando o Chapéu Na Noite Purpurina”, num só dia nasceu a espinha dorsal do disco.
Ontem, nos reunimos pra festejar. E lá pelas tantas, todos dançando e curtindo as canções que nos embalaram na adolescência. Todos estiveram totalmente envolvidos durante as gravações. O disco tem a participação preciosa e fundamental da Julia Valiengo, que também faz parte do banda do Frito, a gente tem uma conexão musical cósmica e ela canta comigo em boa parte desse novo trabalho. Foi o terceiro álbum com as mesmos parceiros, Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque no mesmo estúdio. Então fica fácil porque a gente tá muito entrosado. Levantávamos todos os arranjos coletivamente e já gravávamos tudo. Foi um disco muito ao vivo. Eu ficava com a Julia, num compartimento cantando juntos de frente pro outro. Rendeu super essa dinâmica e muita coisa de voz feita nos primeiros takes ficaram.

Step Psicodélico faz uma espécie de genealogia da psicodelia ecoando Mutantes, o pós-tropicalismo, Júpiter Maçã, Of Montreal, Tame Impala, Boogarins. Você acha que o cânone da música psicodélica está cada vez mais sólido?
Acho sim, aliás, a música psicodelica sempre alterou meus sentidos naturalmente, me causa uma embriaguez canábica que eu adoro. E nos dias de hoje, que não existe mais a industria da música, a gente segue livre gravando os discos buscando a sonoridade que a gente mais gosta. Por isso a música psicodélica atual vive seu apogeu. É um dos momentos mais incríveis para essa psicodelia. Aliás, a geração dos 20 anos agora está deliciosamente psicodélica. Tá lindo demais e na música essas bandas que você citou são sempre fonte de inspiração pra mim.

O que você tem achado desse revival psicodélico, tanto no exterior quanto no Brasil? Quem são seus novos artistas favoritos nesta seara?
Semana passada vi o show da banda Luneta Mágica em Sampa, adoro eles, são de Manaus estavam em turnê por Sampa. Piro com o Supercordas, O Terno, Rafael Castro, tem meu amigo Juliano Gauche que também é adepto da psicodélia em seus álbuns, Cidadão Instigado, o Junior Boca tem uma banda incrível chamada Submarinos, curti muito o som Phill Zr, que eu conheci recentemente, ele é do interior e muito talentoso, conheci no ano passado o Gago Gnomo, outro cara que bebe na fonte da psicodelia e inclusive me acompanhou em alguns shows que eu fiz em Sampa. Mutantes e Júpiter Maçã vivem comigo o tempo inteiro. É tanta coisa que eu já me perdi aqui … Das bandas gringas … Of Montreal, Connan Mockassin, Tame Impala, Grizzly Bear, são artistas atuais que me fizeram a cabeça e os psicodélicos mili anos nunca saem do meu toca discos, Love, Jefferson Airplane, Tyranossauro Rex, The Doors.

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Júpiter Maçã morreu antes do lançamento desse disco. Sua morte influenciou o disco de alguma forma? Quais suas principais lembranças do saudoso Flavio Basso?
Eu estava com a Julia quando soube do Flavio. A gente tinha acabado de gravar naquele dia as canções em voz e violão pra enviar pro Bruno, Dustan e Boca. Em janeiro eu fui fazer um show com a Julia no Teatro Rural, que fica ao lado do Galpão Busca Vida, e um amigo nosso, o Davi Daidone, nos contou uma história que ele tinha vivido em Joanópolis, a cidade ficou sem luz por conta de uma tempestade e sempre que acontece isso algumas pessoas saem pelas ruas incorporando o lobisomen … No dia seguinte eu estava com a Julia e fizemos a canção “Copo de Pedra”, eu sinto uma influência roqueira do Jupiter nessa canção.
Eu convivi bastante tempo com o Flavio, entre 1999 e 2003. Ajudei ele a fazer o média metragem “Apartment Jazz” e pude acompanhar ele criando, em ação, foi minha maior escola até hoje. Aprendi muito com ele. O Flavio vivia criando o tempo todo e tudo que ele fazia tinha a assinatura dele.

Fale um pouco do tributo que vocês fizeram a Júpiter na Virada Cultural. Quem teve a ideia e como você foi envolvido? Alguém ficou de fora por algum motivo incontornável?
Eu participei do tributo ao convite do Clayton Martin e do Astronauta Pinguim. Eles me convidaram pra eu entrar pra banda e cantar uma parte do repertório do man. Eu não acompanhei a escolha dos convidados e tals, mas muita gente que tocou com Jupiter estava lá: Julio Cascaes, Ray Z, Pinguim, Clayton, Dustan Gallas, Glauco Caruso, Marcelo Gross. Eu sonhei essa noite que tinha outro show onde estavam o Thunderbird e o Scandurra, os dois estavam fazendo shows na Virada do estado que bateu com a Virada de são paulo.

Como serão os shows desse disco? Quando acontece o lançamento e qual a formação da banda?
A gente faz sempre da mesma maneira, gravamos o disco e depois caimos na estrada com o DJ Marco, que solta todos os arranjos que o Dustan Gallas escreve para as canções. Agora teremos a Julia Valiengo conosco, então os shows terão as presenças de Bruno Buarque na bateria, Junior Boca na guitarra, Dustan Gallas no baixo, DJ Marco nos samplers e eu e a Julia nos vocais! Vamos lançar o disco na rede hoje e o show de lançamento em breve será anunciado.

A música brasileira vive sua fase mais rica?
É um dos momentos mais ricos com certeza, acho que hoje, pela facilidade em gravar discos com qualidade técnica e com as mudanças do mercado fonográfico, todo mundo que tiver afim de fazer um álbum colocando toda a verdade e amor lá dentro … sai com um belo disco pra lançar e divulgar. Nós vivemos o melhor momento pra fazer esse tipo de coisa nos dias de hoje.

Laya solo

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A vocalista do Jardim das Horas começa a mostrar seu trabalho solo. Laya se descobriu compositora na banda cearense de trip hop, que mudou-se para São Paulo e agora entra em hiato. “Desde que comecei a compor com a banda, muitas canções nasceram e não entraram no repertório, elas existem e nascem de todo jeito a toda hora”, me explica por email. “Eu adoro cantar outros compositores também. Não faltava conteúdo pro trabalho solo, acho que faltava coragem”, ri.

O primeiro disco ainda está sendo gravado e conta com Maurício Tagliari na produção, a quem ela se refere como “professor”. O disco tem a participação de nomes como Thomas Harris, Danilo Penteado, Igor Caracas, Bubu, Mariá Portugal, Luca Raele, Ju Perdigão, Ceruto e ela interpreta músicas próprias, parcerias e músicas de Clima, Rômulo Fróes e Tom Zé. “Adoro esse trabalho de intérprete”, comemora.

O primeiro fruto deste novo trabalho é o clipe de “Vem pra Chuva”, que estreia aqui no Trabalho Sujo. Laya apresenta seu trabalho num show na próxima sexta, dia 3, no Itaú Cultural, em São Paulo. “Canto com Mauricio Tagliari no violão e na guitarra, Igor Caracas no vibrafone e na percussão, Bubu no baixo e Mariá Portugal na bateria. Teremos também a participação de Luca Raele tocando piano Rhodes, clarineta e clarone.”

HQs em série

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Criador de Walking Dead vai transformar a história das histórias em quadrinhos em um seriado – escrevi sobre isso lá no meu blog no UOL.

Ava Rocha: “Mate você mesmo!”

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Eis o clipe NSFW e cabeçudo de “Auto das Bacantes”, a música mais dedo na cara de Ava Patrya Yndia Yracema que Ava lançou no ano passado.

Fala Fióti!

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Conheci o Evandro Fióti quando seu irmão Emicida ainda estava na fase das mixtapes, vendendo CDs e camisetas baratinho logo após seus shows. O rapper descia do palco para cumprimentar os fãs e seu irmão vinha logo em seguida, mostrando os produtos à venda. Aos poucos ele assumia o papel de empresário de Emicida para liberá-lo das funções burocráticos, mas o convívio com os dois mostrava que a carreira do MC era administrada pelos dois, numa clara divisão estratégica para conseguiver viver de música.

Os anos foram passando e a dupla de irmãos hoje é dona do Lab Fantasma, que administra tanto a carreira de Emicida como de seu comparsa Rael, além de funcionar como uma distribuidora de música digital e agendar shows no Brasil e no exterior. Mas o progresso profissional aos poucos deixou Fióti mais à vontade para voltar ao violão, seu instrumento de vocação, onde aos poucos burilava clássicos da MPB em vídeos que postava sorrateiramente nas redes sociais.

Talvez só ele soubesse, mas era o início de sua carreira artística. Ao violão pode descobrir-se músico, compositor – a princípio ao lado do irmão – e finalmente cantor, deixando sua personalidade musical revelar-se em seu EP de estreia, o impressionante Gente Bonita, em que canaliza diferentes autores brasileiros – Djavan, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Edson Gomes, Luiz Melodia, Jorge Ben – para criar um cânone particular de uma musicalidade híbrida, nascida com pés no samba mas que flerta com o soul, a MPB e até com o reggae (“Leve Flores”, que encerra o disco, é a minha favorita).

O disco é apresentado com o clipe de “Obrigado, Darcy”, que conta com a participação de Caetano Veloso lendo uma máxima do velho antropólogo saudado na canção. “Fui gravar o clipe no Rio e a Paula (Lavigne, esposa e empresária de Caetano) estava voltando de Nova York e me chamou no WhatsApp para eu ir à casa dela”, ele me conta em entrevista por email. “Há tempos não nos víamos, eu mostrei um primeiro corte para ela do vídeo, e ela achou bonito. Aliás, a Paula é uma das pessoas que mais me incentivaram nos últimos anos a fazer esse projeto, aí tinha aquela parte do vídeo em que eu estou caminhando. Eu iria colocar a foto de Darcy e a frase escrita, mas pensei: ‘Pô, será que Caetano topa ler isso? Seria tão lindo e importante nesse momento’. Eu sou tímido, mas sou cara de pau! Vou te falar que até agora ainda não acreditei. Tive noites de insônia reouvindo a gravação de voz dele para saber se isso estava de verdade acontecendo, coisas loucas da vida, meu primeiro EP, meu segundo clipe e conto com Caetano Veloso colaborando comigo, é surreal! Só posso agradecer…”

É uma estreia de peso, embora Fióti precise relaxar um pouco mais, deixar tudo soar mais à vontade. Suas composições já são assim, mas sua interpretação ainda tem um certo recato, alguma timidez que com certeza irá soltar-se ao vivo. “Vou começar pensar nisso agora, mas vai ser para o segundo semestre”, ele me explica sobre os shows. “Já tem algumas datas confirmadas, divulgaremos em breve, vou usar meu tempo para fazer preparação vocal, pois eu preciso, fiquei muito tempo parado e nunca fiz show de verdade. Já toquei em bares de São Paulo, mas show mesmo nunca fiz, sempre estive no backstage nesse quesito, então quero me preparar bem e juntar alguns músicos amigos que topem entrar nessa brincadeira gostosa comigo, estou me preparando. E em breve novidades…” Abaixo, mais da conversa que tive sobre seu primeiro disco, um lampejo de otimismo neste momento tão bizarro para a cultura brasileira.

Desde o anúncio de sua carreira ao lançamento do EP, como a vida de artista alterou sua vida de empresário?
Olha, eu acho que ainda vai alterar um pouco, sobretudo na privacidade. Vai ser difícil, acredito eu, ser produtor, empresário nem tanto. Até aqui tudo corre como o planejado, pois optei por fazer esse projeto no começo do ano, quando há menos demandas, e também gravei à noite para não prejudicar o trabalho no escritório. Vamos ver como as coisas vão andar, mas até aqui está tudo sob controle!

“Obrigado, Darcy” foi gravada bem antes de chegarmos a essa situação política bizarra pela qual o país atravessa. Você acha que ela tem uma outra leitura neste momento?
Eu escolhi essa música para o projeto em 2014. Acho que a leitura que ela dá nesse momento é o que a história nos mostra: existe um Brasil elite que não quer largar suas mordomias e seus privilégios e usa todos os seus métodos escrotos para obter o que quer. Darcy dedicou sua vida, até entrou na política para tentar mudar esse quadro, mas realmente o Brasil é um país muito difícil, muita gente gosta mesmo de ver a desgraça toda que aí existe e só pensa em algo quando essa desigualdade lhe bate à porta, seja um assalto, seja um sequestro ou a perda de alguém próximo.
Nosso povo não precisa de muito para se tornar uma grande nação, a gente só pede educação, cultura e saúde para todos. Equilibrando a balança social, dando dignidade às pessoas, todos estarão no mesmo patamar de igualdade para pleitear um emprego, uma boa faculdade, ter uma vida digna de verdade. Mas existe um projeto no Brasil em curso há mais de 500 que favorece os mesmo sempre, esse projeto visa esmagar o povo que vive às margens, e isso é muito triste. Nosso povo já apanhou demais, nossos ancestrais nos guiarão, vamos passar por mais essa fase, vai ter sangue, vai ter morte, vai ser horrível, mas a história vai nos absolver como sempre. É importante se manter na luta, pois a cada passo dado, ao menos a gente não está mais no mesmo lugar, da mesma maneira que a luta hoje é diferente e um pouco “melhor” para mim do que foi para minha mãe e meus avós. Pode ser que meu neto colha os frutos de um país mais justo, então você tem que ir por prioridades.
O momento agora é de resistência para não ter retrocessos. Nem mesmo nosso voto eles respeitam mais. Em pleno 2016, num país como o nosso, uma das maiores nações do mundo, eles estão conseguindo fazer o Brasil passar um vexame sem precedentes. Recebo mensagens dos meus amigos da música de fora do país e está todo mundo estupefato com o que estamos vivendo, é muito triste, mas tenho o maior orgulho das pessoas que estão do mesmo lado que eu. Tem uma parcela da população perdida, a quem a mídia porcamente ilude e engana, aproveitando-se do sistema, que não investe no ser humano. E tem um outro grupo, que é o que sempre mandou no Brasil desde os tempos da colônia, que não quer abdicar de nenhum de seus privilégios, mesmo que pra isso eles precisem jogar a gente ainda mais para a desgraça. O Brasil infelizmente hoje é isso ai…

Como você está vendo essa mudança radical de rumo do governo interino, sobretudo no que diz respeito à cultura?
Rapaz, tirando meu EP e os projetos que me empolgam aqui na Lab, esse ano de 2016 está sendo uma lástima. Esse momento político é horrível, o povo foi para a rua “contra a corrupção” num movimento elitizado, bancado pela grande mídia, que não representa o Brasil em sua pluralidade e sua diversidade. Pode pegar as fotos aí, você não vê negros, não vê mulheres negras, não vê gays, não vê índios nas manifestações que aconteceram pedindo o impeachment. Eu acho que a Dilma cometeu erros, mas daí a tirar uma presidenta honesta, rasgar a Constituição, meu voto e o voto de 54 milhões de pessoas é uma bizarrice. Tudo foi muito bizarro, até hoje não acredito que estamos vivendo isso e tenho medo do futuro, de verdade.
Depois da votação na Câmara dos Deputados, chefiada pelo Eduardo Cunha, eu fiquei chocado com amigos que ainda assim continuaram apoiando o processo. Teve Bolsonaro atacando a Dilma, louvando torturador , deputado pedindo a volta da ditadura… Mas também não me conformo de Dilma e o PT terem jogado esse jogo até aqui, os caras são bandidos, mano, bandidos de gravata, desses que o Brasil nunca prende, eles foram até o fim emparelhados com a mídia para defender seus nojentos interesses, ficou muito claro isso depois do fatídico 17 de abril. O Temer estava na chapa de Dilma como vice. Eu concordei com isso? Sim, aliás votei na Dilma e votaria de novo hoje se do outro lado tivesse o Aécio, mas o Temer estava ali para uma função, buscar governabilidade, todo mundo sabe que o PMDB manda nesse país desde sempre. Dilma precisava, sim, de aliados no Congresso, mas a coisa foi ficando cada vez mais dificil para o governo, aquela bancada da Bala, da Bíblia e dos Bois, aqueles caras são nojentos, não tem como dialogar com aqueles seres desumanos, são nefastos, podres, querem mais que o povo morra na merda, que mais mães percam seus filhos na guerra contra a polícia, que no Nordeste muita gente volte a passar fome, que o Brasil volte a ser aquele país das maravilhas, onde tudo, inclusive a corrupção, vá para debaixo do tapete. Quem bancou esse golpe foram os corruptos chefiados por Eduardo Cunha, emparelhados com a mídia, são golpistas. Eles só precisam assumir isso, e quem os apoia também. Temer deu um golpe, como o PMDB sempre fez na história aliás! Mas ele deu um golpe, ele não está tocando o projeto de governo para o qual foi eleito, é um governo ilegítimo, que não veio das urnas e retirou uma mulher honesta do seu cargo. Tenho certeza de que as coisas vão se esclarecer, e a história vai mostrar quem estava de cada lado. É nisso que acredito, a gente, nesse quesito, sempre esteve do lado que perde mesmo. É seguir na luta resistindo, e no nosso caso usando a arte para abrir a cabeça dos nossos parceiros. Falei para caralho!
Mas respondendo à sua pergunta: tô vendo tudo e a gente vai continuar nas ruas gritando que não aceita esse governo ilegítimo, não tem diálogo com Temer. Me preocupo com a Cultura, mas me preocupo mais ainda com o Ministério da Justiça, que agora tem em sua liderança Alexandre Moraes, secretário de segurança pública de São Paulo por um tempo, que carrega nas costas várias chacinas na periferia, responsável pela repressão violenta dos protestos que aconteceram nos últimos 2 anos. Enfim, que justiça é essa? Os caras querem mesmo implantar uma ditadura. O que posso te dizer é que estou chateado com isso. Queremos o que é nosso por direito, votamos em um governo e não vamos aceitar retrocessos, o discurso é: volta, Dilma e traz o Brasil de volta rumo ao futuro. Se não for isso, não dá para ser nada, infelizmente…

Como você vai casar o lançamento do disco com esse momento atual? Os shows tendem a soar mais politizados?
Eu ainda não pensei nisso em detalhes, mas não vai ser um show político, não, até porque eu não sou tão expert assim, preciso ler muito mais, aprender muito mais. Essa parte eu deixo pro show do Emicida, ele cumpre bem esse papel mais contundente e político! Claro que vou me manifestar através da arte e expor meu lado e meus sentimentos, até porque não tem muito como separar uma coisa da outra. A arte que fazemos gera transformação, é impossível não dialogar com a política, mas quero um show alegre, pra cima e bem brasileiro, esse sou eu, não consigo fugir.

Amor de resistência

veraegito

Conversei, lá no meu blog no UOL, com a Vera Egito sobre seu primeiro longa metragem, Amores Urbanos, que, em tempos conservadores, tornou-se um manifesto sobre as relações neste início de século.

O terceiro disco do Metá Metá já está entre nós

mm3-metameta

Bem que eu falei que MM3 poderia sair a qualquer instante – e ele já está pra download na página do Metá Metá