Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
“É uma orquestra de noise”, me explica, empolgado, Jorge Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi, em entrevista ao telefone. Ele comemora finalmente o encontro nos palcos com seus ídolos Young Gods, um dos grandes pilares da música eletrônica e do rock industrial europeus, que acontece durante esta semana, com shows em São Paulo e no Rio, e culmina com uma apresentação conjunta em julho, no festival de Montreux, na Suíça, que comemora sua quinquagésima edição.
“Mas é uma conversa antiga”, lembra o vocalista, explicando que os grupos se conheceram na primeira turnê europeia da banda brasileira, há vinte anos, quando Chico Science ainda era vivo. “E é uma admiração mútua, eles já conheciam o som, mesmo porque Franz (Treichler, líder da banda) é filho de brasileiros. A gente tava num festival na Dinamarca e viu o show. A gente já conhecia, mas foi muito impactante ver aquela massa sonora ao vivo. Lembro que eles tocaram com o Ministry. A gente trocou CDs e começou uma conversa, mas aí aconteceu o que aconteceu com Chico em 97 e não retomamos essa conversa. Mas Franz continuou vendo nosso trabalho e quando pintou essa oportunidade no festival de Montreux, que vai ter um momento “a Suíça encontra o Brasil”, ele lembrou da gente, me deu um toque e a gente começou a se conversar.”
As duas bandas começaram a trocar figurinhas pela internet e resolveram fazer os shows coletivamente, as duas ao mesmo tempo, tocando músicas uns dos outros. “Eles chegaram aqui na semana passada e já estamos no quinto ensaio, tá tudo funcionando muito bem, a eletrônica com a percussão, tá muito forte”, comemora Jorge, que não descarta novos shows e até uma colaboração autoral com o grupo suíço. “Mas agora não deu tempo, ficamos focados no ensaio e na dinâmica do setlist”, explica, citando clássicos dos Young Gods como “Skin Flowers”, “Le Rouge” e “Kissing the Sun” e músicas da Nação como “Defeito Perfeito”, “Um Satélite na Cabeça” e “Maracatu Atômico” como parte do repertório.
O show em São Paulo acontece nesta quinta-feira, no Cine Joia, e no Rio de Janeiro acontece na sexta, no Circo Voador. Estou com três pares de ingressos para quem quiser assistir ao show de São Paulo. Para concorrer é só comentar abaixo que música da Nação Zumbi você queria ver sendo tocada ao lado dos Young Gods e por quê. E não esqueça de deixar seu email para que eu entre em contato em seguida.
Passeei pelo centro de São Paulo na Virada Cultural e presenciei que a motivação política da festa não brigava com a animação do público – e relatei o que vi, com vídeos, lá no meu blog no UOL.
Escrevi lá no meu blog no UOL, sobre como o novo filme – Jornada nas Estrelas: Sem Limites – deve retomar o tom otimista e sério do seriado clássico, antecipando o aniversário de 50 anos da saga de Gene Roddenberry.
A pedidos da redação, escrevi um artigo para o Aliás do Estadão sobre como a inaptidão da classe política brasileira com os meios digitais pode nos levar a um estado de vigilância típico de ditaduras.
Enterrados no passado
Proibir o WhatsApp ou tentar limitar a navegação na rede pode até render piadas. Mas mostra como políticos brasileiros ainda não entendem a internet
Nas últimas semanas, a internet voltou ao noticiário quando se começou a falar sobre o limite de consumo de acesso à rede em pontos fixos e devido à proibição do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. Duas questões aparentemente distintas, mas que têm uma base comum apoiada sobre dois preceitos atrasados: a distância etária de nossos representantes eleitos do funcionamento prático das novas tecnologias e como essas mesmas tecnologias podem ser fortes ferramentas de controle da sociedade.
O desnível etário entre as autoridades políticas e a realidade digital do século 21 é rotineiramente noticiado quando legisladores são flagrados visitando sites pornôs ou trocando imagens por WhatsApp nas assembleias. Até o áudio do discurso de posse do hoje presidente em exercício Michel Temer (dono de ótimo 4G, para vazar 14 minutos de áudio “sem querer”) ou o vídeo em que a deputada Jandira Feghalli flagrou o ex-presidente Lula exaltando-se ao celular são exemplos de que não importa o espectro ideológico, os representantes políticos ainda estão aprendendo a lidar com a tecnologia. Qualquer adolescente sabe da importância de observar o que se fotografa, mesmo num simples selfie, de reler algo antes de enviar e da existência da navegação anônima.
Claro que não é um problema só das lideranças brasileiras. O presidente americano Barack Obama, num jantar mês passado em Washington, comparou Hillary Clinton, de seu próprio partido, com um parente velho que acabou de entrar no Facebook. “Cara América, você recebeu meu cutucão?”, disse Obama, fazendo voz de senhora de idade. “Está aparecendo na sua timeline? Não sei se estou usando isso direito. Com amor, tia Hillary.”
Só agora a geração que dava as cartas no mundo até metade dos anos 90 começa a entender a internet. E não apenas políticos. Empresários, acadêmicos, artistas, agentes do terceiro setor (e, triste dizer, jornalistas) que nasceram entre o fim da Segunda Guerra e o início da Guerra Fria até há alguns anos tratavam a rede como moda passageira, novidade adolescente, bobagem descartável como o bambolê ou o chá-chá-chá. A geração que viu a TV engolir o rádio recusava-se a crer que nos computadores havia algo tão revolucionário.
Até que a geração seguinte, que cresceu ciente do potencial dos novos meios, começou a dar certo. E empresas como Google e Facebook passaram a dominar a rede de forma avassaladora. A transposição da internet dos PCs para os celulares acelerou exponencialmente a inclusão digital, e até os pais desses políticos e empresários já trocavam memes e vídeos dos anos 90 em grupos de WhatsApp – mesmo assim, eles ainda achavam que não passava de moda passageira.
Não é. E a tão festejada disrupção proporcionada pela internet já reinventou mercados, negócios e políticas. Da mesma forma que algumas das maiores empresas do mundo hoje não têm nem vinte anos de idade, há pequenos grupos de jovens empresários desconstruindo impérios inteiros a partir de aplicativos para celulares ou serviços online. Não é só o Netflix matando as locadoras, o Spotify substituindo o rádio ou o Uber deixando os táxis no passado. É um novo sistema de funcionamento da sociedade a partir da concentração da população mundial em cidades (um fenômeno recente) e das novas tecnologias. O NuBank e o Bitcoin podem reinventar as finanças, enquanto o fundador do PirateBay quer virar a publicidade do avesso como fez com o mercado de entretenimento, desta vez associando seu sistema de micropagamentos Flattr com o sistema de bloqueio de anúncios Adblock Plus. Bloqueio de anúncios? Sim: esses dispositivos estão cada vez mais populares e podem até matar a fonte de renda de Google e Facebook, detentores de imensa parte da publicidade digital.
E qual a reação dos CEOs e políticos do planeta a esse novo funcionamento das coisas? A proibição. A censura. O controle. Embora as suspensões do WhatsApp gerem piadas engraçadinhas sobre não ter que responder mensagens o tempo todo, muita gente, que usa o aplicativo para seus negócios, perdeu dinheiro com isso. E as piadas perdem a graça quando não é o WhatsApp suspenso por uns dias, mas o Facebook fora do ar.
Rimos quando soubemos, há dez anos, da vontade da modelo Daniela Cicarelli de tirar o YouTube do ar por causa de um vídeo comprometedor que havia caído na rede. Hoje não dá mais pra rir – isso é uma possibilidade. Basta uma decisão judicial feita em qualquer uma das comarcas coloniais que tomam conta do País para que nosso acesso à internet seja cortado. Imagine você suspender a transmissão da televisão por causa de um programa de uma emissora? Ou cortar a linha telefônica de alguém cujo filho passou um trote? É uma decisão tão arbitrária quanto essa, que não é percebida assim justamente por causa dessa descompensação de entendimento entre quem regula as leis digitais e quem as utiliza. Os primeiros rascunhos de legislação digital brasileira exigiam que se digitasse o CPF toda vez que a internet fosse acessada, e que o histórico de navegação fosse guardado por meses. Imagine o dinossauro burocrático que estaria nascendo…
Associe isso a um Congresso Nacional e a assembleias legislativas comprometidas com empresas interessadas só no lucro e você tem um país dando um cavalo de pau de volta ao início do século 20. Época em que uma providência desse tipo também foi tomada de forma abrupta. O rádio era tão universal quanto a internet, qualquer um com transmissor falava de casa com o mundo inteiro. O Estado percebeu o poder mobilizador desse meio e determinou que só o governo poderia dizer quem podia utilizá-lo. Emissoras de rádio foram concedidas a grupos políticos ou familiares que o usaram também como curral eleitoral, transformando celebridades radiofônicas em políticos e distorcendo notícias. Não por acaso grande parte de nossos legisladores são descendentes dos primeiros donos de rádios, pouco interessados em compartilhar seu poder.
E isso é muito perigoso. Não bastasse a crise institucional na política do País, ainda começamos a conviver com um fantasma que pode tirar nossa capacidade de mobilização, formas de interação digital, velocidades de conexão. A suspensão de serviços digitais fere diretamente a base da teia mundial de dados, a chamada neutralidade de rede, e transforma a internet não em canal de comunicação, mas em central de vigilância. Não é exagero comparar essas decisões com a natureza de ditaduras herméticas e descoladas da realidade mundial. Quem protestar pode ficar sem acesso à internet, o que funciona hoje como exílio forçado. Dormimos no Brasil e acordamos na Coreia do Norte.
Isso não é brincadeira. Não é motivo de piada. É uma das situações mais sérias que um País pode passar, um controle sofisticado das comunicações tocado por pessoas com a cabeça enterrada no século passado. E isso não mudou com saída de um presidente e a entrada de outro, interino. Então, quem não quiser fazer parte disso, muda de país? Forja a própria morte e deleta-se da internet? Entra no modo “radio silence” para fugir do controle?
O terceiro disco do Metá Metá – batizado de MM3 – começa a aparecer. O teaser na semana passada mostrava um trecho de “Mano Légua”, uma das novas faixas do álbum, que agora aparece na íntegra.
E junto dela vem também “Corpo Vão”:
Intenso. O terceiro disco do Metá Metá deve aparecer inteiro até o início do mês que vem e conta com Marcelo Cabral e Sérgio Machado respectivamente no baixo e na bateria, que participaram da criação do disco desde o início, junto com os três integrantes do grupo.
Updeite: olha o disco inteiro pra download aê.
Meu primeiro livro é uma ficção para jovens adultos: PC Siqueira está morto é, ao mesmo tempo, um livro de YouTubber, uma crítica à vida digital que todos levam e um mindfuck de Troia – e já está em pré-venda. Deixa que o protagonista – que é uma pessoa de verdade – explica isso melhor:
O Radiohead deu início à turnê de seu novo disco em Amsterdã, num show nesta sexta-feira, em que tocou quase todo o A Moon Shaped Pool e mais de 20 músicas, de todas as fases. E agradeça à boa alma que filmou a íntegra do show. O setlist completo vem logo depois.
“Burn the Witch”
“Daydreaming”
“Decks Dark”
“Desert Island Disk”
“Ful Stop”
“Morning Mr. Magpie”
“There There”
“The Daily Mail”
“My Iron Lung”
“Videotape”
“Identikit”
“The Numbers”
“The Gloaming”
“Lotus Flower”
“Everything in Its Right Place”
“Idioteque”
“Bodysnatchers”
Bis
“Bloom”
“Present Tense”
“Paranoid Android”
“Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief”
“Weird Fishes/Arpeggi”
Bis 2
“You and Whose Army?”
“Reckoner”
Tulipa surfa na onda levantada pelo Grammy que ganhou no ano passado e aproveita uma miniturnê pela América Latina para lançar um single “en español”.
A tour começa neste sábado em Quito, no Equador, e segue para o México, com shows dia 25 em Guadalajara, dia 28 em Puebla e dia 1° de junho na capital daquele país.
E, pensando bem, dá pra fazer uma bela coletânea dela a partir dos seus três discos pra mostrar para os hermanos, não?
Escrevi lá no meu blog no UOL sobre o X-Men: Apocalipse: o novo filme baseado nos mutantes da Marvel, que tem seus prós e contras mas fica na média dos filmes de super-herói de hoje.
O escritor e compadre João Paulo Cuenca está lentamente mudando sua carreira ao incluir os papéis de diretor de cinema e ator em seu currículo. A Morte de J.P. Cuenca, seu primeiro filme, é irmão de seu novo romance, Descobri Que Estava Morto, que ele lança na próxima edição da Flip, em Paraty, em que participa de uma das mesas da tenda dos autores. As duas obras se complementam ao contar a história de sua morte, descoberta a partir de um homônimo que usava todos seus dados e apareceu morto em um prédio invadido. E como queria lançar livro e filme ao mesmo tempo, abriu uma campanha de financiamento coletivo para colocar o filme no cinema ao mesmo tempo em que o livro chegasse às livrarias.
“O crowdfunding é para levantar dinheiro para a distribuição do filme”, ele me explica por email. “As distribuidoras interessadas só poderiam lançar o filme comercialmente no ano que vem. E como eu achava muito importante que ele saísse junto do livro, na época da Flip, resolvi fazer na raça, mesmo. Distribuição independente de guerrilha. O problema é que realmente é caro distribuir um longa-metragem: você precisa ter alguém cuidando da relação com as salas em todo o país, fazer trailer, cópias em DCP, posters, envios, ter uma assessoria de imprensa etc. Muita coisa envolvida pro filme chegar ao circuito comercial no timing certo. Esse crowdfunding é uma campanha de pré-venda: você recebe tudo o que comprar. Eu estou agradecendo muito cada um que está participando, as pessoas não fazem idéia de como é importante.” Quem quiser colaborar com o filme, basta seguir as coordenadas no link do site Kickante.
Notório crítico tanto do governo derrubado pelo golpe quanto do próprio golpe, JP tem uma visão pessimista sobre o futuro próximo do país: “Sombrio”, resume. “Para melhorar, ainda vai piorar muito. Estou aqui preparando minha armadura de escafandro.” Por ter sido traduzido em vários idiomas, ele é chamado por veículos estrangeiros para explicar o que está acontecendo por aqui. “Já escrevi textos para jornais gringos e também falei pra TV de fora”, continua. “Acho que, por incrível que possa parecer nesse momento, quem mora fora do Brasil entende muito melhor o que está acontecendo do que a média do povo brasileiro. É só comparar a cobertura do NYT, da BBC e do Guardian com o que você encontra em panfletos como a Veja e o Jornal Nacional.” E resume a importância da cultura neste momento trevoso: “É um farol. Único ponto de referência para um país que está derretendo junto a todas as suas instituições.”
Como aconteceu a história de sua morte?
O cadáver de um homem foi identificado pela PM com a minha certidão de nascimento num edifício ocupado na Lapa, Rio de Janeiro. Isso foi em julho de 2008. Descobri em 2011 e contratei detetives pra descobrir como minha certidão parou lá. No processo, comecei a ir cada vez mais ao quarteirão do prédio que virou um condomínio reformado. E aí começa a história.
Era um livro que virou um filme ou um filme que virou um livro? Como vc acha que essas midias – incluindo disco, HQ etc – que antes viviam separadas vão se juntar neste século?
As duas coisas aconteceram juntas, os processos se retroalimentaram. Eu consegui morar no prédio onde morri com grana do filme. Eu descobri coisas que entraram no filme por causa da pesquisa para o livro. É difícil para mim separar uma coisa da outra nesse momento. Até porque esse tripé se complementa com uma performance presencial: o filme e o livro continuam cada vez que estou lá falando deles. E não é só uma obra aberta: o inquérito policial também ainda está aberto. Quem ler e ver o filme vai entender do que estou falando.
Como será sua participação na Flip este ano? É a primeira vez que você sobe no palco principal da festa ou estou enganado?
Eu fui convidado da primeira Flip, em 2003, e depois participei algumas vezes moderando mesas e em outros espaços da festa. O primeiro lançamento do livro Descobri Que Estava Morto será lá. Tenho uma relação especial com a Flip, eu vi a primeira estourar. Estava em Paraty desde antes – fui escrever um conto que está num livro comemorativo da primeira festa, o Paraty Para Mim, com o Chico Mattoso e o Santiago Nazarian.