Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Que prazer ser amigo de um mestre – e poder aprender em papos deliciosos que podem durar horas. Qualquer conversa com o mister Pena Schmidt é uma viagem no tempo e no espaço e começamos falando do mercado da música em plena quarentena, falando de experiências interessantes em transmissões ao vivo e experiências bizarras como o show drive-in em que o buzinaço vira aplauso, mas daí depois deixei ele falar do livro novo do William Gibson, de outras dimensões, de ler ficção científica a luz de velas no sítio da Cantareira quando ele morava com os Mutantes e outras histórias deliciosas. Chega mais.
O Bom Saber é meu programa semanal de entrevistas que chega primeiro para quem colabora com meu trabalho, como uma das recompensas do Clube Trabalho Sujo (pergunte-me sobre como colaborar pelo email trabalhosujoporemail@gmail.com). Além do Pena, já conversei com Fernando Catatau, Mancha, André Czarnobai, Larissa Conforto, Ian Black, Bruno Torturra, Roberta Martinelli, Dodô Azevedo, Negro Leo, Janara Lopes, João Paulo Cuenca e Alessandra Leão – todas as entrevistas podem ser assistidas aqui ou no meu canal no YouTube, assina lá.
A musa Angel Olsen anunciou nesta terça-feira que lança no final de agosto um disco-irmão do suntuoso All Mirrors, o melhor disco do ano passado. Quando ela começou a trabalhar neste disco, havia comentado que as músicas novas pediam dois caminhos diferentes: um mais cru e solitário, com poucos instrumentos, outro mais orquestrado e deslumbrante. Por um momento imaginava-se que o disco do ano passado poderia ser duplo, mas quando All Mirrors foi lançado ficou evidente que ela havia descartado a parte mais intimista do disco. Ao anunciar Whole New Mess mostrando sua faixa-título, ela também mostra capa e a ordem das músicas (abaixo), mostrando que grande parte do repertório do novo disco também está em All Mirrors – “Whole New Mess” é uma das raras exceções.
As faixas do novo disco são variações das do disco anterior, com títulos quase idênticos, às vezes mudando só o acréscimo de parênteses. Assim, “Lark” vira “Lark Song”, “New Love Cassette” é “(New Love) Cassette”, “All Mirrors” torna-se “(We Are All Mirrors)”, “Summer” se transforma em “(Summer Song)”, “Too Easy” vira “Too Easy (Bigger than Us)”, “Tonight” se metamorfoseia em “Tonight (Without You)” e por aí vai. As versões do novo disco foram gravadas apenas por Olsen com suas guitarras pelo produtor Michael Harris em uma igreja convertida em estúdio no estado de Washington chamada The Unknown. O disco sairá no dia 28 de agosto e já está em pré-venda.
“Whole New Mess”
“Too Easy (Bigger Than Us)”
“(New Love) Cassette”
“(We Are All Mirrors)”
“(Summer Song)”
“Waving, Smiling”
“Tonight (Without You)”
“Lark Song”
“Impasse (Workin’ For The Name)”
“Chance (Forever Love)”
“What It Is (What It Is)”
E o Polimatias desta semana é uma aula sobre o fenômeno Elena Ferrante. Fiz como todo mundo que não sabe tem de fazer: escutei e perguntei à querida Polly Sjobon porque esta autora italiana não é só um fenômeno de vendas como um clássico literário moderno. E ela vai muito além da tetralogia Amiga Genial, devidamente dissecada, e fala também sobre os livros anteriores, dá a dica por onde começar a lê-la, sobre sua personalidade misteriosa (sem entregar nada, claro), a série feita pela HBO e muito mais.
Renato Barros, que nos deixou nesta terça-feira após complicações em uma cirurgia que fez há pouco mais de uma semana, não foi só um dos maiores guitarristas da história do Brasil como foi o responsável pela musicalidade da Jovem Guarda. Liderando o longevo grupo Renato e Seus Blue Caps, ele tocou e compôs para quase todos os intérpretes que passaram pelo programa apresentado por Roberto Carlos nos anos 60, além de ter o timbre fuzz distorcido que caracterizou grandes clássicos de nosso cancioneiro.
Quem aguenta ver um filme de quatro horas? Quem aguenta ver uma série com dez episódios de uma hora? Qual é o tempo ideal de um filme? Os filmes da Marvel são uma enorme série exibida no cinema? Mad Men é um filme de dezenas de horas? Eu e André Graciotti não nos apegamos a nenhum filme ou série específicos pra falar sobre tempo gasto – ou aproveitado – assistindo narrativas audiovisuais por horas e horas em mais uma edição do Cine Ensaio.
O grupo instrumental Música de Selvagem encerra o ciclo de seu disco Volume Único, seu disco de 2018 que contou com a participação de Tim Bernardes, Luiza Lian, Sessa e Pedro Pastoriz como vocalistas convidados ao lançar, em primeira mão no Trabalho Sujo o registro que fizeram da única vez que os quatro tocaram ao mesmo tempo, na sala Adoniran Barbosa do CCSP, quando eu era curador de música de lá.
São quatro vídeos em que cantam músicas compostas pelos vocalistas convidados: Sessa canta sua “Música”, Luiza vai de “Dois Blocos” (que mistura suas “Cadeira” e “Tem Luz (Úmido V)”), Pedro Pastoriz canta “Assovio” e o vocalista do grupo O Terno canta “Morto”. Os quatro são acompanhados pelos músicos do grupo, o baixista Arthur Decloedt, os saxofonistas Filipe Nader e Oscar “Cuca” Ferreira, o baterista Guilherme Marques e o trumpetista Amilcar Rodrigues.
“Esse show foi o único show que fizemos com os quatro compositores convidados durante esses dois anos de vida do disco”, me explica o baixista Arthur. “É realmente muito difícil juntar todo mundo, principalmente por conta das agendas, por isso a gente fez alguns shows com somente alguns convidados. O fato de ter todos os quatro fez desse show muito especial, ainda por cima porque ele rolou em um verdadeiro templo da música de São Paulo, que é a sala Adoniran Barbosa do CCSP.”
Ele antecipa que o grupo está começando a preparar o sucessor deste álbum, batizado de O Pensamento Selvagem, que ainda está sendo discutido por seus integrantes em videoconferências durante essa interminável quarentena. “Ainda estamos definindo as bases, mas já posso adiantar que teremos a participação da artista sonora Luísa Puterman e da cantora Inés Terra. Estamos buscando incessantemente fazer algo que ainda não fizemos como grupo”, conclui Arthur.
Mais uma semana começando com Festa-Solo no twitch.tv/trabalhosujo (sempre às 21h) – semana passada foi assim…
Radiohead – “Jigsaw Falling Into Place”
Spoon – “WhisperI’lllistentohearit”
Pixies – “Gouge Away”
Rapture – “Miss You”
Holy Ghost – “Wait and See”
Destiny’s Child – “Jumpin’ Jumpin'”
Tom Tom Club – “Genius of Love”
Laid Back – “White Horse”
Konk – “Your Life (Party Mix)”
Chemical Brothers – “Got To Keep On”
Hot Chip – “Flutes”
Grimes – “Genesis”
Harmony Cats – “Margarida (Felicidade)”
Anita Ward – “Ring My Bell”
Indeep – “Last Night A D.J. Saved My Life”
Slits – “I Heard It Through The Grapevine”
Yoko Ono – “Walking On Thin Ice (Radio Edit)”
Ting Tings – “Great DJ”
Elastica x Rapture – “WAYUH Connection”
Sunshine Underground – “Dead Scene”
New Young Pony Club – “Ice Cream”
Cassiano – “Onda (Poolside & Fatnotronic Edit)”
Paulinho da Viola – “Roendo as Unhas (Victor Hugo Mafra Re-Edit)”
BaianaSystem – “Playsom”
Daniela Mercury – “Nobre Vagabundo”
Moraes Moreira – “Cara e Coração”
A Cor do Som – “Zanzibar”
Fafá de Belém – “Emoriô”
Emilio Santiago – “Bananeira”
Bixiga 70 – “Deixa a Gira Girar”
Tincoãs – “Cordeiro de Nanã”
Erasmo Carlos – “Mané João”
Tim Maia – “Coroné Antonio Bento”
Luiz Gonzaga – “Respeita Januário”
Gilberto Gil – “Eu Só Quero um Xodó”
Dominguinhos – “Lamento Sertanejo”
Elis Regina – “Atrás da Porta”
O grupo A Cor do Som é um dos raros representantes pop da categoria supergrupo no Brasil, quando um conjunto reúne músicos de outras formações para criar um trabalho coletivo forte. Formado no meio dos anos 70 pelos irmãos Mu (tecladista que tocava com Jorge Ben) e Dadi Carvalho (baixista dos Novos Baianos), pelo guitarrista Armandinho (o herdeiro do trio elétrico original, o de Dodô e Osmar, este último seu pai), pelo baterista Gustavo Schroeter (que tocava no grupo A Bolha) e pelo percussionista Ary Dias, o grupo foi o primeiro artista brasileiro a apresentar-se no Festival de Montreux na Suíça a pedido do organizador do evento, Claude Nobs, impressionado pelo virtuosismo e experimentalismo da banda, que até então era instrumental.
Mas o sucesso de crítica não garantia a venda dos discos e sua gravadora pressionou para que eles gravassem canções com letras, o que o transformou em um dos grupos comerciais brasileiros mais bem sucedido da virada dos anos 70 para os anos 80. Mas mesmo com hits como “Zanzibar”, “Beleza Pura”, “Abri a Porta”, “Menino Deus”, “Zero”, “Magia Tropical” e “Suíngue Menina”, o grupo não arredava o pé dos instrumentais e mais de quarenta anos após sua formação, consegue retomar este momento, anunciando para o próximo dia 30 o primeiro disco sem vocais em décadas, Álbum Rosa (a capa segue abaixo). Para anunciar o lançamento, anteciparam uma nova versão para “Frutificar”, realizada em isolamento devido à quarentena, que ainda contou com a presença do baterista Jorginho Gomes, que fez parte do grupo em outra formação.
O novo álbum traz todas as músicas que o grupo gravou no mitológico show que fizeram no festival de Montreux na Suíça, em 1976, que virou disco (“Dança Saci”, “Chegando da Terra”, “Arpoador”, “Cochabamba”, “Brejeiro”, “Espírito Infantil”, “Festa na Rua” e uma versão para “Eleanor Rigby”, dos Beatles) e mais quatro outras faixas instrumentais lançadas após o grupo entrar em sua fase vocal.
Mais notícias de Rincon Sapiência durante a quarentena, mas ao contrário do single anterior, ele não quer mais nem ouvir falar do assunto e retoma o tema do Mundo Manicongo, que lançou no ano passado, lançando o clipe da irresistível “Malícia”, em que seguimos assistindo-o desbravar musicalmente o continente africano, especificamente as musicalidades de Angola, do Congo, de Gana e da Nigéria. E assim ele manda meter dança!
Peter Green, que morreu neste sábado, entrou para a história como o fundador do Fleetwood Mac, embora o som que tenha consagrado a banda fuja completamente do blues rock que ele concebeu em 1967. O grupo que dez anos mais tarde lançaria o clássico da fossa em alto estilo Rumours começou com a saída de Green do legendário grupo John Mayall’s Bluesbreakers, onde substituiu ninguém menos que Eric Clapton quando tinha apenas 19 anos. Ele pertenceu à grande safra de guitarristas ingleses dos anos 60, que beberam no blues elétrico dos anos 50 para parir a psicodelia, o hard rock e o heavy metal nas décadas seguintes, e foi um dos guitar heroes mais emblemáticos do período. Saiu dos Bluesbreakers e levou o baterista Mick Fleetwood e o baixista John McVie com ele e, ao lado do guitarrista Jeremy Spencer, criou o grupo Peter Green’s Fleetwood Mac featuring Jeremy Spencer com o nome de seus integrantes, que logo foi reduzido apenas para o nome que o consagrou. Green liderou o grupo até o início dos anos 70, emplacando seus primeiros hit, como “Man of the World”, “Black Magic Woman” e “Albatross”. Saiu do grupo em carreira solo mas logo cedeu à esquizofrenia, que lhe tirou dos holofotes e dos palcos, sendo lembrado sazonalmente principalmente por ter fundado o grupo mais tarde consagrado com a entrada do casal duo Lindsey Buckingham e Stevie Nicks.