Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

DM: Adúmáadán, o novo Last of Us e picardias estudantis

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A gente tinha um assunto em mente para a edição desta semana do DM, mas o deixamos de lado à medida em que começamos a falar sobre vários outros assuntos, entre molecagens politicamente incorretas, a continuação do jogo The Last of Us, além de eu ter pedido pro Dodô ler um trecho da distopia pós-coronavírus que ele cogitou no domingo na Folha de São Paulo. E conseguimos fazer um programa mais curto, é sério!

Todo o show: Nick Cave sozinho no Alexandra Palace

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Era inevitável que o concerto que Nick Cave deu sozinho no mítico Alexandra Palace, em Londres, aparecia online logo depois de ser transmitido em regime fechado – só não achei que fosse aparecer tão logo e justo no YouTube. A apresentação reforça o sentimento de solidão global que nos atravessa nesses dias de isolamento social. Armado apenas de sua voz e um piano de cauda, Cave equilibra-se entre a solenidade e o desolamento e se seus shows tradicionais o fazem ir da raiva à prece, aqui estes sentimentos se transformam em desespero e desalento, e atravessando diferentes momentos de sua carreira (que versões absurdas para “Mercy Seat” e “Jubilee Street”, ele tocou poucas canções de seus discos mais recentes, ambos carregados da tristeza e do luto da perda de seu filho adolescente, puxou duas canções de seu grupo tosco Grinderman (que, sem guitarras e rosnados, parecem rascunhos de canções menores de Bob Dylan) e uma inédita, “Euthanasia”, e a primeira versão ao vivo para Idiot Prayer”, que batiza a apresentação. Assista antes que tirem do ar.

“Spinning Song” (em versão falada)
“Idiot Prayer”
“Sad Waters”
“Brompton Oratory”
“Palaces of Montezuma”
“Girl in Amber”
“Man in the Moon”
“Nobody’s Baby Now”
“(Are You) The One That I’ve Been Waiting For?”
“Waiting for You”
“The Mercy Seat”
“Euthanasia”
“Jubilee Street”
“Far From Me”
“He Wants You”
“Higgs Boson Blues”
“Stranger Than Kindness”
“Into My Arms”
“The Ship Song”
“Papa Won’t Leave You, Henry”
“Black Hair”
“Galleon Ship”

Pedro Pastoriz sonhando acordado

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Alegria que o grande Pedro Pastoriz finalmente vê seu Pingue-Pongue com o Abismo ver a luz do dia, três meses depois da data que havíamos pensado originalmente, em abril, devido, claro, à quarentena e à pandemia. Neste processo, com o qual trabalho venho trabalhando como diretor artístico do lançamento junto ao cantor e compositor gaúcho, repensamos como o disco poderia ser apresentado nos meses seguintes e Pedro começou a explorar outros caminhos longe do palco, especialmente a partir de entrevistas Linha Cruzada feitas através Instagram ou do programa de humor Comitê. Tais ações conversam com o clima onírico e inquieto do disco, qualidades que parecem contraditórias mas que, a partir dos novos horizontes enxergados por Pedro, é um saque com efeito contra as expectativas. Abaixo, o release que escrevi para o lançamento, que foi produzido pelos mesmos músicos que o acompanham no disco (Arthur Decloedt, do Música de Selvagem, e Charles Tixier, produtor que trabalha com Luiza Lian) e ainda conta com participações de Fausto Fawcett, Lydia Del Picchia e Tomas Oliveira. Discão.

Pedro Pastoriz – Pingue-Pongue com o Abismo

Pingue-Pongue com o Abismo é um lugar imaginário, uma metrópole de papelão, uma tarde ensolarada numa paisagem cinzenta, um brinquedo sério. Como em seus discos anteriores, Pedro Pastoriz condensa sensações e situações em canções que soam como crônicas, contos ou conversas, que descrevem relacionamentos, memórias e ansiedades. Mas neste terceiro álbum, o cantor e compositor gaúcho, que também é vocalista do Mustache e os Apaches desbrava fronteiras conceituais e invade outros territórios narrativos, como a poesia, a publicidade, o teatro, a comunicação institucional, a auto-ajuda, o jingle, o rap, o esquete de comédia e outras possíveis formas de texto musicado que nunca havia cogitado em seus discos anteriores, num disco influenciado por outras disciplinas, por acontecimentos pessoais e seu próprio subconsciente. É um salto que consolida sua carreira solo e aumenta seu espectro de atuação para muito além da canção.

O título – meio niilista, meio dadaísta – foi emprestado de uma referência do poeta beat Allen Ginsberg a uma de suas inspirações, o escritor Carl Solomon, tema da terceira parte de sua obra mais importante, Uivo, a quem ele dedicou todo o poema. Seu trabalho foi reunido pela primeira vez no meio dos anos 60 em dois livros, Mishaps, Perhaps (1966) e More Mishaps (1968), que formaram a base de seu único livro publicado no Brasil, De Repente Acidentes (lançado em 1989). Ginsberg citava-o nominalmente na terceira parte de Uivo (“I’m with you in Rockland / where you scream in a straight jacket that you’re losing the game of the actual ping pong of the abyss”, “Estou contigo em Rockland / Onde você grita numa camisa-de-força que está perdendo o jogo do verdadeiro pingue-pongue com o abismo”) e esta imagem, além de outras levantadas por este livro, grudou no inconsciente de Pedro desde que ele o conheceu, ainda em sua adolescência, quando apaixonou-se pela obra a ponto de andar com ela para cima e para baixo e ser reconhecido como seu leitor apaixonado.

A lógica daquele livro renasceu no fazer deste terceiro disco e sua apresentação não-linear, com textos de diferentes tamanhos, humores e intensidades, funcionou como inspiração inconsciente para seu novo álbum, principalmente na utilização de vinhetas, pedaços de textos musicados que não chegam a se tornar canções, acentuando a natureza polifônica do disco.

Outra influência crucial foi a mutação da banda que o acompanhou em seu disco anterior, Projeções (2016). Originalmente um quarteto formado por Pedro, o baixista Arthur Decloedt (Música de Selvagem), o guitarrista Artur Vac (Grand Bazar) e o vocalista do grupo O Terno, Tim Bernardes, fazendo as vezes de baterista, ela passou por duas mudanças de formação que trouxeram o produtor Charles Tixier (Luiza Lian) para a bateria, metamorfoseando o quarteto em um novo trio, que ainda contava com Arthur e Pedro.

Foi este trio que decantou o repertório escolhido para o disco, enxugando bastante o número de canções e materializando as vinhetas a partir das ideias que o autor tinha de outros formatos musicais. A improvável união de violão, contrabaixo elétrico e MPC firmou-se durante as gravações no estúdio Canoa, sob os auspícios do produtor Gui Jesus Toledo, grande entusiasta do trabalho de Pedro e sócio do selo RISCO, que apostou nessa aventura. Juntos, Pedro, Arthur e Charles, que também produziram o disco, passearam por outros instrumentos, tocando synths, mellotrons, teclados de baixa fidelidade, harpa paraguaia, fazendo colagens, usando samples e enfileirando efeitos sonoros, criando esse lugar mental ao mesmo tempo verdadeiro, artesanal e artificial. Todas as vozes são de Pedro Pastoriz.

Durante a produção, Pedro soube da morte da sua mãe e a perda inevitavelmente abalou o disco – e sua cabeça. Em pouco tempo, ele viu-se num lugar em que espiritualidade, meditação, luto, misticismo e saudade misturavam-se de forma tão díspar e sintética quanto a linguagem que estava desenvolvendo para o disco. Isso não tirou o disco do prumo, e sim acentuou sua natureza plural, forçando Pedro a um amadurecimento artístico que não previa, mas que consolida-se no resultado, cuja sonoridade parece o tempo todo muito familiar e incomum.

Neste processo, Pedro entrou num buraco de minhoca que o lançou de volta à sua adolescência e passou a buscar respostas racionais para seu drama pessoal em diferentes fontes: a meditação, a psicologia, a espiritualidade e a arte foram veículos nesta busca infrutífera, que só foi render algo quando Pedro regurgitou tudo aquilo em seu inconsciente. Pingue-Pongue com o Abismo é um disco que foi composto quase todo em sonhos.

“Eram sonhos loucos que ressignificavam todas as informações de um jeito improvável, absurdo, geralmente beirando a comédia”, lembra Pedro, citando como o texto de Freud “Recordar, Repetir, Elaborar” parece ter originado um sobre um serviço que encenava memórias antigas com atores em um palco, tema de uma das canções. Neste processo, houve a constatação de que a repetição funcionava como uma prisão, uma dificuldade de se quebrar um comportamento, um vício, um hábito – e o disco passou a ser encarado como o desafio de sair deste loop.

De sonoridade ímpar, Pingue-Pongue com o Abismo é tanto um disco de variedades da metade do século passado quanto uma colagem pós-moderna no início do século 20 e uma provocação conceitual aos limites da canção neste novo século. Usando a repetição como conceito e tentando, paradoxalmente, não se repetir, ele passeia por baladas idílicas, chavões, levadas latinas, timbres retrô, frases assobiáveis, refrães pegajosos, instrumentos improváveis, copy and paste absurdistas, palavras de ordem, mensagens subliminares e propagandas surreais. As presenças da atriz Lydia Del Picchia, do poeta Fausto Fawcett e do tocador de taças Tomas Oliveira soam tão improváveis quanto familiares fazendo o disco aprofundar o cancioneiro de Pedro para além da linhagem trovadora que atravessou seus dois discos, criando um universo sonoro próprio, jocoso e introspectivo, irônico e minimalista, melancólico e palhaço, expondo contradições que descortinam um novo compositor, pronto para iniciar uma nova fase de sua carreira.

Pingue-Pongue com o Abismo, por Pedro Pastoriz

“Dolores”
“Foi uma das primeiras do novo repertório, fiz a melodia dela no quarto de um hotel no Rio de Janeiro em uma noite tocando assistindo TV sem volume. Foi uma busca de tentar reproduzir aquele mundo praiano pintado em aquarela, uma espécie de mundo da doçura do Harry Belafonte, do Henri Salvador, e aquela coisa das harpas bolivianas do Pájaro Campana, que Charles conseguiu traduzir na maestria, com harpas sintetizadas. A letra fala de uma maneira naïf de alguém que se foi sem avisar e deixou pra trás memórias e objetos, algo que pode ter relação com os dias que vivi arrumando as coisas da minha mãe depois de sua morte. Foram dias que fiquei sozinho em sua casa, li cartas e abri caixinhas de uma pessoa que eu amava tanto, e que pude conhecer ainda mais enquanto organizava esses objetos. “

“Fricção”
“Começamos a tocá-la no início da ser turnê do Projeções, meu disco anterior, ainda com Tim na bateria e Vac na guitarra. A intenção é que ela tivesse essa coisa cool francesa, meio Françoise Hardy, um tanto Burt Bacharach. Um ponto alto são as linhas vertiginosas de baixos do Arthur e as taças, instrumento criado e tocado pelo meu parceiro de Mustache e os Apaches, Tomas Oliveira.”

“Sessão das Sete”
“Foi a música que veio por último. Eu e minha namorada, Talita, pegamos algumas sessões das sete em semanas seguidas no Belas Artes e isso me lembrou uma época dos meus 20 anos lá em Porto Alegre, onde tinha esse hábito semanal de ir no cinema. Achei que precisava puxar esse clima pro disco, e ela tem essas referências de uma noite que parece que já foi vivida, de um filme que já foi visto. Me surpreendi com a combinação dos arranjos com os elementos que pintaram, usei um violão de 12 cordas nessa música, e achei que casou com o MPC do Charles, a sonoridade ficou bem nova pra mim.”

“Chicletes Replay”
“Essa música foi feita a partir de um poema curtinho que tinha escrito, em uma volta de show na madrugada, dia nascendo. Deixei uma cidade na noite anterior, dormi na van depois de um show, dormi, acordei naquela solidão ancestral e contemplativa de quem viaja no escuridão de uma estrada no meio da noite. Dormi de novo, sonhei profundamente, acordei no susto, parei em um posto, voltei pra estrada. E chegando na cidade tive essa revelação de como as coisas se repetem consecutivamente desde sempre – grandes manchetes, possíveis novos finais de mundo, novas eleições, novas promessas de esperança, que é justamente o que possibilita que as coisas continuem sendo como são. Acredito que em Roma ou na China antiga as coisas e os sentimentos e as expectativas eram muito parecidas com as de agora. Os personagens e as ações estão aí desde sempre, e a gente se limita com essas cobranças complicadas e repetidas de apego a uma identidade, uma história que a gente imagina serem únicas, essas coisas. Ela tem esse discurso publicitário e traz esse produto que promete unir histórias tão dissonantes, experiências de vida tão diferentes a partir do consumo de algo fácil, rápido e descartável, um chiclete. Foi uma música feita em sonho, em parte. “

“Lydia Réplica”
“Nós e Outros foram duas peças que vi no ano passado e que me pegaram muito. Vi mais de uma vez e levei caderninhos pra anotar várias coisas, no escuro do teatro. Depois de algum tempo achei as anotações e eram totalmente incompreensíveis. As duas peças são uma parceria do Grupo Galpão de Minas Gerais, com o diretor Márcio Abreu. Nós tem elementos de repetição no texto, quase um remix de palavras, e uma história de despedida amarga e engraçada, e queria trazer isso pro disco de alguma forma. Então convidei a Lydia Del Picchia, diretora e atriz do Grupo, pra participar e “remixar” um texto comigo, uma réplica / reprise / continuação de Chicletes Replay. E foi de primeira, fácil como descobri que as coisas podem ser.”

“Alzira”
Quando componho uma música raramente falo da minha vida pessoal de forma direta, pelo menos. E essa música saiu espontaneamente, é sobre minha mãe. Tinha uma conexão muito forte com ela, e durante os meses de composição pra esse disco eu tinha muita dificuldade de sentar pra compor. As idéias vinham em sonhos, quando meu superego cochilava. Minha mãe morreu um acidente de carro, e muita coisa mudou na minha vida, noites ficaram muito longas e dias muito curtos. Essa música eu levei num ensaio já me desculpando, achando que não devia entrar e que gostava mais da melodia, algo assim. E foi Charles quem me falou: ‘justamente por ser uma história tão pessoal que tu deveria cogitar trazer ela pro repertório, pensa nisso’. Acho que se eu quisesse escrever uma música pra uma coisa tão forte e tão complexa, iria querer florear demais. E isso é impossível, então aceitei essa música como ela veio, porque é importante pra mim.”

“Cachorro Replay”
“Essa vinheta fala por si, do meu animal com o animal em si.”

“Janela”
“Na rua onde eu moro – ou melhor, na rua onde minha janela está presa – conheço quase todos os personagens, vendedores das lojas de música, algumas pessoas que esperam o ônibus barulhento sempre na mesma hora, alguns casais reincidentes que brigam na entrada do hotel, um sujeito que entrega água de bicicleta e todos os dias desce o pequeno declive com uma excitação admirável, gritando: ‘Eu vou morrer, eu vou morrer!’ Todos gritam, aplaudem, jogam qualquer tipo de energia de volta pra esse sujeito. E são raros os momentos, infelizmente, que eu desejo ver essas pessoas. Então geralmente fumo um cigarrinho e ouço um som ao final do dia, quando as pessoas já voltaram pra casa. Essa música foi feita em um desses, dias, um exercício de composição. Fumava meu cigarrinho e olhava pra rua, e assisti alguém que ficou embaixo da minha janela, excessivamente imóvel, uma figura híbrida de existencialismo e alienação total, o que me sugeriu muitas possibilidades possíveis pro futuro e pro passado daquela pessoa. No final das contas é tudo um tanto de projeção, achei justo ela estar no disco.”

“Replay Esportes”
“Li sobre budismo e espiritismo e outros ismos, seguindo a vida depois do trauma da perda da minha mãe. Fiquei mais tempo interessado na meditação transcendental. A idéia de ficar em silêncio, entrar em contato com os pensamentos de outra forma, e de aceitar alguns vazios que estão ali. É relativamente difícil entrar em contato com a informação do como fazer, com a prática e os exercícios. São muitos livros falando sobre os benefícios, como pode mudar sua vida. Mas não ensinam muito sobre a prática. Tem aplicativos que jogam uma ansiedade estranha na prática, com programas de metas e de desempenho, o que pra mim é o oposto de ouvir sua própria respiração e investigar o que está acontecendo em seu corpo. E em algum momento meditando voltei com essa cena do esporte de alto rendimento no abismo na meditação e uma mistura totalmente improvável de tudo isso.

“Teatro Replay”
“Fazendo terapia no ano passado, conheci um texto do Freud que fala sobre Recordar, Repetir e Elaborar, e em alguns momentos minha terapia foi em um caminho de como tendemos a repetir ações na intenção de superá-las. Racionalmente era isso. Mas então algo bem mais legal aconteceu. Sonhei com esse serviço de uma companhia de teatro que prometia ajudar as pessoas a reviverem melhores momentos de suas famílias através de atuações em um teatro, e achei que que tinha algo ali. Foi uma das primeiras músicas do disco e foi outra música feita em sonho, em grande parte.”

“Resposta sobre Hostel Replay”
“Esse é um reclame do meu disco anterior, misturado com um comercial. É também importante afirmar o que não se é.”

“Faroeste Dançante”
“Essa música é uma parceria com o Fausto Fawcett, que admiro muito e que mensalmente acompanho suas participações nos sarau Trovadores do Miocárdio. Em uma das edições levei meu exemplar do livro Santa Clara Poltergeist pra ele e disse que estava fazendo uma música que eu estava tentando emular algo Fausto Fawcett. Ele riu e me falou pra mandar a música pra ele. O processo foi fácil, todo a distância. Foi minha primeira parceria com outro letrista, ouço e ainda fico maravilhado com a idéia de ter um fonograma com o man. Tem um solo de MPC cabuloso do Charles, eu uso um violão de 12 cordas nessa faixa, e Arthur toca um controlador synth bass.”

“Sol”
“Essa veio de um desses exercícios de meditação, tem qualquer coisa de influência naquela linguagem do Instituto Dharma, do seriado Lost.”

“Boogaloo”
“Essa música era uma das preferidas do público na turnê de 15 shows que fiz na Alemanha em setembro de 2019. Ela surgiu a partir da idéia de eu ensinar português pros alemães, formando uma grande miniorquestra junto com as palmas e os calcanhares batendo no chão. E eu gritava “Napoleão”, e eles repetiam, e eu mandava “A egiptologia!”, e eles morriam de rir com os fonemas. Ela fecha o disco, com solo de liquidificador.”

Vida Fodona #659: Festa-Solo Extra (24.7.2020)

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Vida Fodona ao vivo numa sexta-feira? Sim, às 21h, no twitch.tv/trabalhosujo – e dá pra ouvir logo depois que a festa acabar… agora.

Arctic Monkeys – “Snap Out of It”
Deerhunter – “Breaker”
Angel Olsen – “Shut Up Kiss Me”
My Bloody Valentine – “New You”
Tame Impala – “Feels Like We Only Go Backwards”
Som Imaginário – “Cenouras”
Supercordas – “Ipupiara”
Mopho – “A Geladeira”
Boogarins – “Lucifernandis”
Mutantes – “Preciso Urgentemente Encontrar um Amigo”
Walter Franco – “Feito Gente”
Moby – “Honey”
Kanye West – “Goldigger”
Erasure – “Stop!”
Metronomy – “Love Letters (Soulwax Remix)”
Missy Elliott – “Lose Control”
Duffy – “Mercy”
Apples in Stereo – “Elevator”
Arcade Fire – “Afterlife”
Far East Movement – “Like A G6”
Chromeo – “Fancy Footwork”
Radiohead – “Idioteque”
Pulp – “Disco 2000”
Blur – “Girls & Boys”
Elastica – “Line Up”
Pink Floyd – “Interstellar Overdrive”
Roxy Music – “Love Is The Drug (Todd Terje Disco Dub)”
Lorde – “Royals (Tambozão Edit)”
Nego do Borel + Anitta + Wesley Safadão – “Você Partiu Meu Coração”
Anitta – “Paradinha”
Luis Fonsi + Daddy Yankee – “Despacito”
Justin Bieber – “Sorry (Pagode Remix)”
M.I.A. – “Paper Planes”
Rihanna – “Consideration”
Beyoncé – “Hold Up”
Katy Perry + Juicy J – “Dark Horse”
Santana + Rob Thomas – “Smooth”
Maroon 5 – “This Love”
Daniel Merriweather + Mark Ronson – “Stop Me”
Led Zeppelin – “Dancing Days”
Haim – “If I Could Change Your Mind”
Lauryn Hill – “Doo Wop (That Thing)”
TLC – “No Scrubs”
Taylor Swift – “Style”
Stevie Wonder – “I Wish”
Red Hot Chili Peppers – “Suck My Kiss”
Outkast – “Roses”
Modjo – “Lady (Hear Me Tonight)”
Michael Jackson – “Billie Jean”
Meghan Trainor – “All About That Bass”
Marvin Gaye & Tammi Terrell – “Ain’t No Mountain High Enough”
Wilco – “Someone to Lose”
Queen – “Don’t Stop Me Now”
Olivia Tremor Control – “Jumping Fences”
Nirvana – “Love Buzz”
Jamie xx + Young Thug + Popcaan- “I Know There’s Gonna Be (Good Times)”
Hanson – “Mmmbop”
Maglore – “Me Deixa Legal”
Paralamas do Sucesso – “Selvagem”
Céu – “Minhas Bics”
Rita Lee – “Tititi”
Metrô – “Cenas Obscenas”
Glue Trip – “Elbow Pain”
Lana Del Rey – “Ultraviolence”
Air – “Playground Love”
Negro Leo – “Outra Cidade”

Gilberto Gil e Chico Buarque de volta ao “Copo Vazio”

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Canção emblemática da amizade de Chico Buarque e Gilberto Gil, a joia “Copo Vazio” volta em versão atualizada com os dois dividindo vocais. A canção foi feita por Gil para Chico gravar no clássico Sinal Fechado, de 1974, um disco em que o compositor carioca se faz de intérprete para driblar a censura da ditadura militar, que o perseguia a cada nova música. Gil sintetiza aquele momento com sua característica sensibilidade de buda-nagô, simplificando a dor do compositor calado na imagem que batiza a canção.

A gravação, no entanto, é antiga e foi sugerida por Andrucha Waddington, em 2014, quando filmava os dois para a trilha de seu filme Rio, Eu Te Amo.

Taylor Swift cria o próprio Folklore

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O belo Lover, de 2019, já havia feito Taylor Swift se reerguer do tropeço que foi Reputation, de 2017, e agora ela parecia que iria colher os frutos disso, numa ascendente contínua que seria consagrada com a turnê do disco do ano passado, que encerraria este ano com ela no topo do elenco do festival de Glastonbury deste ano, mas aí veio o coronavírus – e todos os planos foram pro brejo. Mas de forma inesperada, ela consegue retomar a escalada majestática que acompanha sua discografia nos últimos dez anos lançando algo completamente improvável: um disco-surpresa produzido durante a quarentena. Não bastasse fugir de toda a calculada estratégia que ela faz em sua carreira, Folklore, anunciado poucas horas antes de ser lançado nas plataformas digitais, é uma pequena obra-prima acústica e foi gravado ao lado de pouquíssimos – e improváveis – colaboradores, Aaron Dessner do National, Justin Vernon (o Bon Iver, você sabe) e seu produtor de longa data Jack Antonoff, além de um certo William Bowery – que muitos supõem ser seu atual namorado, o ator Joe Alwyn. É isso: Taylor Swift lançou um disco de indie folk no meio do maior evento global desde a Segunda Guerra Mundial.

E que maravilha de disco. Ela recolhe-se ao tom intimista da quarentena e cerca-se de mestres da canção que voltam-se para o acústico com a mesma curiosidade que ela, mas sem tirar o pé do século 21, que paira sobre o disco como um fog eletrônico, que pixela a visão como uma versão digital das ondas de calor que distorcem a imagem que vemos através das chamas. Folklore está longe de ser um disco ortodoxo, como se quisesse abraçar a utopia de um tempo que nunca viveu, e por mais que evoque cordas cátedras (“Epiphany”), ar country (“Betty”) ou dedilhados solenes (“Illicit Affairs”), se localiza essencialmente no século 21, depois que o gênero passou pela feliz deformação alt.country no final na virada do milênio. É um disco de folk que reverencia o Nixon do Lambchop e o Summerteeth do Wilco tanto quanto Nashville, Johnny Cash ou Woody Guthrie. Conversa, de alguma forma, com o primeiro single do excelente 1989, “Out in the Woods”, quando prenunciou que iria lançar algo completamente diferente em 2014. E é com este auxílio instrumental que ela compõe algumas de suas melhores canções: “Cardigan”, “Seven”, “Mad Woman”, “August”, o dueto com Bon Iver em “Exile” e a magistral “The Last Great American Dinasty”, que é o mais perto que Taylor Swift chegou de Bob Dylan. E isso não é pouco – ela está criando seu próprio folclore, precioso o suficiente para que ela retome sua ascensão rumo ao topo do pop. E fazer isso em plena pandemia é admirável.

Sérgio Ricardo (1932-2020)

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Pioneiro na bossa nova, no cinema novo e na era dos festivais, Sérgio Ricardo era um monumento à cultura brasileira: conheceu João Gilberto no apartamento de Nara Leão em 1958, lançou um disco de bossa nova um ano antes de lançar seu filme (Menino da Calça Branca, de 1961) dentro do movimento cinema novo e inaugurar sua carreira como cineasta. Tocou no histórico concerto da bossa nova no Carnegie Hall, fez a trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol e teve seu filme de 1964 (Esse Mundo é Meu) incensado pela revista francesa Cahiers du Cinema. Quebrou seu violão em protesto em um festival na televisão ao vivo e teve a ideia de lançar o Disco de Bolso do jornal Pasquim, cuja primeira edição trazia o lançamento de “Águas de Março”, de Tom Jobim. Mais um mestre que perdemos para o maldito coronavírus.

Ginge pra acabar com “a falta de músicas pop boas”

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Reunindo alguns dos principais nomes da nova cena independente mineira, o quarteto Ginge é um pequeno supergrupo local ao parear duas ex-integrantes do grupo Miêta (Bruna Vilela e Marcela Lopes) ao lado de Vítor Brauer (que além de sua carreira solo, também é da Lupe de Lupe) e do guitarrista Fernando Motta, que também tem seu trabalho solo. “Eu e o Vitor tínhamos acabado de voltar da turnê de quatro meses que fizemos em 2017”, lembra o guitarrista e vocalista Fernando Motta, que tem seu próprio trabalho solo. “A gente ouviu muita música no carro durante as viagens e comentava que sentia falta de músicas pop boas, tanto no nosso nicho quanto de uma maneira mais geral mesmo do rock. Chamamos primeiro a Bruna, que compartilhou dessa impressão com a gente. Aí inicialmente a banda seria nós três: eu tocaria baixo, a Bruna guitarra e o Vitor, bateria. Mas a banda ainda não tava completa, a gente queria várias harmonias de voz. Aí tivemos a ideia de chamar a Marcela e ela pilhou. Foi perfeito porque ela canta muito e é muito inventiva com as melodias pra backing vocal também. Ela passou pro baixo e eu fui pra segunda guitarra. No primeiro encontro na casa dela, a gente fez ‘Marília’, que ela canta. Gostamos tanto que escolhemos pra ser o primeiro single. A sintonia entre a gente foi muito forte e ali a gente viu que a gente tinha uma banda completa mesmo.”

Juntos, escolheram o nome de Ginge para o novo grupo, a partir desta incomum palavra em português. “A primeira definição que a gente viu no dicionário era ‘calafrio de emoção; frenesi’. Mas depois eu descobri que muitas pessoas falam isso quando têm gastura de alguma coisa, aqueles ‘arrepiaços’, tipo quando alguém arranha o quadro”, ri Fernando. “Acho que a primeira definição leva pra um lado mais poético da coisa, enquanto a outra leva pra um lado mais provocativo. Eu acho bom porque, querendo ou não, a gente é um pouco das duas coisas.” O grupo lança seu primeiro EP, gravado no final do ano passado, ainda presencialmente, nesta quinta-feira: as quatro músicas de Pré-Jogo têm clipe e duas delas (“Marília” e “Kaft Kapum”) anteciparam o lançamento do novo disco, as duas restantes (“Pergunta” e “Qualquer Um Sabe Fazer Shoegaze”) dão as caras em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.

Apesar do ineditismo do grupo, eles já haviam tocado juntos em diferentes formações e ocasiões. “Ano passado, eu e a Bruna Vilela fomos guitarristas na banda suporte do Vitor Brauer num show que ele fez durante a turnê com a mãe dele”, continua Fernando. “Eu também já toquei com a Miêta, ex-banda das meninas, em um festival na Matriz. Elas foram minha banda de apoio em algumas músicas e eu fiz um guitarrista adicional nas músicas delas. Basicamente a gente já era grandes amigos de dar rolês em BH. Então pode ser que tenha até outras vezes que a gente tocou junto e que eu não esteja me lembrando. Já fomos em milhões de shows uns dos outros e sempre saíamos pra resenha depois.”

Disco lançado, o grupo não vê a hora de fazer shows: “A gente conversa sempre dizendo que tá louco pra tocar essas músicas, fazer um show propriamente dito, mas enquanto tá longe disso, a gente ainda não tem nada de concreto pra anunciar”, lamenta o guitarrista. “Até agora a gente estava focado em lançar esse EP da melhor maneira possível e acho que conseguimos. Com a ajuda dos nossos amigos, conseguimos tirar quatro clipes muito fodas da cartola em plena pandemia. Então não tivemos muito tempo pra pensar no que dá pra fazer depois. Agora é divulgar o máximo possível e ver como vai ser a repercussão. Quem sabe a gente não tem alguma ideia viável de produzir algum conteúdo mais pra frente.”

Apenas Nick Cave

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O mestre australiano Nick Cave transmite seu show solitário Idiot Prayer nesta quinta-feira, prometendo tocar música nova e antecipando um trecho de “Galleon Ship”, de seu disco mais recente, o lírico e pesado Ghosteen.

O show não será ao vivo e foi registrado no clássico Alexandra Palace londrino pelo diretor de fotografia irlandês Robbie Ryan, que trabalhou em filmes de Noah Baumbach, Ken Loach, Stephen Frears e Yorgos Lanthimos. E ao contrário das famigeradas lives que pululam de graça pela internet nessa época, esta apresentação será paga (mais informações no site oficial de Cave).

A volta dOEsquema

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A novidade desta semana é reencontro com meus chapas dOEsquema. Pra quem não lembra, eu, Arnaldo Branco, Gustavo Mini e Bruno Natal conduzíamos um condomínio de blogs que reunia gente de todo o Brasil até 2015, quando resolvemos fechar o site devido à ascensão das redes sociais. Mas a conexão dos quatro continua e por mais que só tenhamos nos encontrado pessoalmente três vezes, seguimos trocando impressões, comentários e opiniões sobre assuntos diferentes. Consegui reunir todo mundo para um papo sobre redes sociais e resolvemos que vamos tentar manter a periodicidade quinzenal. Chega mais.