Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Lovecraft Country, a nova série de Jordan Peele e J.J. Abrams inspirada na mitologia do escritor de horror H.P. Lovecraft, libera seu último trailer e começa a mostrar seus monstros – especificamente de Cthulhu, o deus supremo deste universo maligno, que finalmente vemos seus tentáculos na tela.
https://www.youtube.com/watch?v=dvamPJp17Ds
Lovecraft Country estreia dia 16 de agosto, na HBO.
Autor de Fama, O Expresso da Meia-Noite, Quando as Metralhadoras Cospem, Asas da Liberdade, Mississipi em Chamas, Pink Floyd – The Wall, Evita e Coração Satânico, o diretor Alan Parker morreu nesta sexta-feira, vítima de uma doença que lhe acompanhava há tempos, como revelou sua família. Ele pertencia à última geração de diretores ingleses a ser bem sucedida comercialmente, ao lado de nomes como Ridley Scott, Adrian Lyne e John Boorman, e equilibrava sensibilidade e tino comercial em filmes que sempre iam bem nas bilheterias, mesmo tratando de temas delicados ou fugazes. Havia parado de dirigir em 2003 e deixa um legado vivo, embora sem o peso histórico que suas obras tiveram em seu tempo.
A partir dos anos 1980, a ficção científica determinou que o futuro havia chegado. A partir deste período, as histórias do gênero passaram a abordar questões como compulsão tecnocientífica, cataclismo ecológico, realidade virtual, ultracapitalismo e rebeldia política, para vislumbrar um futuro distópico que parecia ser o estágio final da humanidade. Filmes como Blade Runner, Akira, 12 macacos, Matrix, Wall-E, A.I., Exterminador do futuro e Gattaca, entre outros, estabeleceram que o futuro seria necessariamente opressor e pessimista. As características comuns a essas produções, entre outras, serão analisadas no curso, a fim de mostrar como elas contribuíram para uma ideia cínica e pessimista de futuro. Este é mais um curso que eu e o André Graciotti ministramos, a partir do próximo dia 3, na Casa Guilherme de Almeida. Ele acontece online durante todas as segundas de agosto e as inscrições, gratuitas, podem ser feitas no site da Casa Guilherme.
Billie Eilish lançou sua “My Future” na calada da noite e ela a princípio parece ser só mais uma balada triste com as que lançou depois que seu When We All Fall Asleep, Where Do We Go? se tornou um fenômeno – a lilyallenesca “Everything I Wanted” e a música-tema do próximo filme de James Bond, “No Time to Die“. Mas aí, antes de chegar nos dois minutos de música, ela engata um groovezinho macio e aponta para um futuro improvável para ela mesma, entre o soul, o funk e a disco music, como se vislumbrasse sua versão para o Melodrama da Lorde – um segundo disco suntuoso e classudo, bem diferente do minimalismo do primeiro.
Fora que esse singelo clipe em animação também abre outras possibilidades de formato…
O Sesc Pinheiros está começando um projeto chamado Radar Sonoro, que irá registrar a movimentação da música brasileira durante a quarentena de 2020. O projeto trará textos e vídeos que dissecam como anda nossa produção nesta época tão estranha e para inaugurar a série, me chamaram para escrever um panorama de como foram estes primeiros quatro meses de clausura e como artistas de diferentes cidades e gêneros musicais estão conseguindo trabalhar neste período. Escrevi sobre esta intensa quarentena e pincei vinte artistas que lançaram seus trabalhos desde que entramos neste estado de suspensão. Confere lá no site do Sesc. E na sexta, às 11 da manhã, entrevisto o Felipe S., do Mombojó, sobre seu disco Deságua, cujos planos de lançamento tiveram que ser redesenhados por conta da pandemia.
Depois de anos tocando em bandas e apresentando programas sozinho, Luiz Thunderbird finalmente sai solo em um disco. Este Pequena Minoria de Vândalos ainda não tem data para ser lançado, mas foi idealizado quando Thunder juntou músicas para um novo disco e viu que suas duas outras bandas estavam em momentos opostos: enquanto o Devotos de Nossa Senhora Aparecida completa 35 anos no ano que vem, o Tarântulas, que agora chama-se Elektromotoren, viu-se confrontado com a agenda de lançamento do primeiro disco solo de seu outro integrante, o guitarrista Guilherme Held. Assim, Thunder resolveu partir para este álbum, que vem lançando no contagotas. Começou fazendo uma versão para “A Obra“, do grupo pós-punk mineiro Sexo Explícito, e agora vem com “Insuportável”, com sua guitarra ruidosa emulando a de Andy Gill, falecido guitarrista do Gang of Four, cujo clipe estreia em primeira mão no Trabalho Sujo.
“As minhas várias bandas sempre tomaram muito do meu tempo e energia”, ele me explica quando pergunto sobre este primeiro disco. “Eu tinha essa vontade há muito tempo e dei inicio à pré-produção no final de 2019, gravações começando em novembro”, mas como todos em 2020, teve seus planos atropelados pela quarentena. “Estava no meio do processo de gravações e composições”, ele diz, contando que já tem sete músicas prontas e quatro em processo. “Creio que a melhor coisa a fazer é lançar singles, mostrando aos poucos parte do disco. Por enquanto estamos indo bem nessa estratégia. A cada single, produzo um videoclipe. Estou curtindo esse trampo de, após gravar a música, partir pra videografia dela. É muito prazeroso e abriu uma nova frente de trabalho pra mim. Desde sempre dirigi meus programas na internet, desde 2008, pelo menos. Ano passado dirigi, ao lado do Zé Mazzei, um doc sobre a Lucinha Turnbull. Curti estar do outro lado da câmera!”
Os ecos pós-punk dos primeiros singles não vêm por acaso. “Tenho uma relação muito íntima, desde os anos 80, com o gênero e minhas bandas preferidas vêm desse período: Gang of Four, Pixies, James Chance and the Contortions, mais experimental. Eu curto disco-punk do ESG, do Liquid Liquid e até reconheci similaridades do single “Insuportável”com o som do Speedtwins da Holanda.” Mas o disco vai para além do pós-punk e flerta com a poesia concreta, em parceria com Held, com o rock psicodélico, em parceria com a banda Bike, e com o rock clássico, ao lado de Odair José.
Enquanto a quarentena não acaba, Thunder segue lançando o disco aos poucos. “Aguardo com tremenda ansiedade uma vacina para poder voltar aos palcos, adoro ensaiar, arranjar as músicas, pensar no setlist, fazer shows com platéia, excursionar, isso me faz muita falta.” Ele compensa essa falta, como todos, usando a internet. “Tenho me divertido com lives no instagram, faço todas as terças, às 21h, a live do meu podcast Thunder Radio Show, onde entrevisto convidados. Já faz sete anos que faço esse podcast e achei que as lives seriam a continuação desse trabalho, que depois publico no IGTV. Todo domingo, às 19h, eu faço a live Dedo Mingo, tocando violão e cantando. Nunca toquei tanto violão na minha vida. Isso tem me ajudado a encarar essa quarentena.”
Ele acaba de lançar sua autobiografia (Contos de Thunder) e já tem mais dois livros engatilhados. “No mais, eu queria poder passear com minha bicicleta com mais segurança. Eu, às vezes, dou uma volta, mas pareço um astronauta paramentado. É o mínimo que eu posso fazer nesse caso. Responsabilidade comigo e com o próximo.”
Depois da live de oito horas e de ter aproveitado a brecha no Faustão para mandar a real, Emicida deu mais um passo na escalada que escolheu subir durante este período de quarentena. Se não pode fazer shows, aproveitou o período para consolidar-se de pensador e provocador de discussões. Em mais uma oportunidade, nesta semana, no Roda Viva da TV Cultura, ele foi bem direto em relação aos pontos que prega.
E, na boa? Ele tá certo. Vai longe, esse Leandro.
O meio é a mensagem: a nova obra de Lana Del Rey, Violet Bent Backwards Over the Grass, não é um disco, mesmo que ela esteja nos vocais e seja acompanhada musicalmente pelo produtor e braço direito Jack Antonoff. Mas o que determina este formato? Tal apresentação de poemas poderia ser tranquilamente um disco de spoken word, uma vez que ela lê seus textos sobre bases instrumentais, como ela mostrou no único poema que disponibilizou no YouTube, o fluxo de consciência beat “LA Who Am I to Love You?”, uma ode à sua cidade favorita:
“I left my city for San Francisco
Took a free ride off a billionaire’s jet
L.A., I’m from nowhere, who am I to love you?
L.A., I’ve got nothing, who am I to love you when I’m feeling this way and I’ve got nothing to offer?
L.A., not quite the city that never sleeps
Not quite the city that wakes, but the city that dreams, for sure
If by dreams you mean in nightmaresL.A., I’m a dreamer, but I’m from nowhere, who am I to dream?
L.A., I’m upset, I have complaints, listen to me
They say I came from money and I didn’t, and I didn’t even have love, and it’s unfair
L.A, I sold my life rights for a big check and I’m upset
And now I can’t sleep at night and I don’t know why
Plus, I love Zac, so why did I do that when I know it won’t last?L.A., I picked San Francisco because the man who doesn’t love me lives there
L.A., I’m pathetic, but so are you, can I come home now?
Daughter to no one, table for one
Party of thousands of people I don’t know at Delilah where my ex-husband works
I’m sick of this, but can I come home now?
Mother to no one, private jet for one
Back home to the Tudor house that borned a thousand murder plots
Hancock Park, it’s treated me very badly and resentful
The witch on the corner, the neighbor nobody wanted
The reason for Garcetti’s extra security
L.A., I know I’m bad, but I have nowhere else to go, can I come home now?
I never had a mother, will you let me make the sun my own for now, and the ocean my son?
I’m quite good at tending to things despite my upbringing, can I raise your mountains?
I promise to keep them greener, make them my daughters, teach them about fire, warn them about water
I’m lonely, L.A., can I come home now?I left my city for San Francisco
And I’m writing from the Golden Gate Bridge
But it’s not going as I planned
I took a free ride off a billionaire and brought my typewriter and promised myself that I would stay but
It’s just not going the way that I thought
It’s not that I feel different, and I don’t mind that it’s not hot
It’s just that I belong to no one, which means there’s only one place for me
The city not quite awake, the city not quite asleep
The city that’s still deciding how good it can beAnd also
I can’t sleep without you
No one’s ever really held me like you
Not quite tightly, but certainly I feel your body next to me
Smoking next to me
Vaping lightly next to me
And I love that you love the neon lights like me
Orange in the distance
We both love that
And I love that we have that in common
Also, neither one of us can go back to New York
For you, are unmoving
As for me, it won’t be my city again until I’m dead
Fuck the New York Post
L.A., who am I to need you when I’ve needed so much, asked for so much?
But what I’ve been given, I’m not sure yet
I may never know that either until I’m dead
For now, though, what I do know
Is, although, I don’t deserve you
Not you at your best and your splendor
With towering eucalyptus trees that sway in my dominion
Not you at your worst
Totally on fire, unlivable, unbreathable, I need youYou see, I have no mother
And you do
A continental shelf
A larger piece of land from where you came
And I?
I’m an orphan
A little seashell that rests upon your native shores
One of many, for sure
But because of that, I surely must love you closely to the most of anyoneFor that reason, let me love you
Don’t mind my desperation
Let me hold you, not just for vacation
But for real and for forever
Make it real life
Let me be a real wife to you
Girlfriend, lover, mother, friend
I adore you
Don’t be put off by my quick-wordedness
I’m generally quite quiet
Quite a meditator, actually
I’ll do very well down by Paramhansa Yogananda’s realization center, I’m sure
I promise you’ll barely even notice me
Unless you want to notice me
Unless you prefer a rambunctious child
In which case, I can turn it on, too
I’m quite good on the stage as you may know
You might have heard of me
So either way, I’ll fit in just fine
So just love me by doing nothing
And perhaps, by not shaking the county line
I’m yours if you’ll have me
(Quietly or loudly, sincerely your daugther)
But regardless, you’re mine”
Acontece que Violet Bent Backwards Over the Grass só vai estar disponível em plataformas e aplicativos que lidam com áudio-livros, mas não nas plataformas digitais de música. As coisas ficam mais complicadas quando ela também anuncia que a obra terá não apenas uma, mas três versões físicas: o livro, o vinil e o CD. Será que o repasse dos direitos autorais nas plataformas digitais para livros lidos é melhor que a das de música? A decisão certamente não é só estética – eis o LP e o CD do livro que não deixa mentir…
E a imagem que ilustra este post é um retrato de Lana feito por ninguém menos que Joan Baez.
O trio instrumental paulistano de jazz rock Atønito lança nesta sexta-feira seu segundo disco, Aqui, e antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo o clipe de uma faixa que mostra a disposição do grupo para trilhar novos rumos: “Sentido”, com clipe assinado pelo casal Francisco Porto e Luiza Queiroz, traz Luiza Lian como convidada e é a primeira faixa cantada da história do trio formado por Cuca Ferreira no sax barítono, Rô Fonseca no baixo e synth e Loco Sosa na bateria e synth. “Eu havia conhecido a Luiza por conta do Música de Selvagem, e havia ficado absolutamente impressionado com sua energia, potência, capacidade de improvisação, características que normalmente se encontram em grandes instrumentistas”, lembra Cuca, em entrevista por email. Incluir vocal num trabalho que levanta a bandeira do instrumental não foi por oportunidade: “O Atønito é um grupo instrumental e como tal valorizamos a livre interpretação da nossa música”, continua o saxofonista. “Mas nesse disco tínhamos uma mensagem que havia sido escrita em palavras antes do próprio som.”
Ele se aprofunda nessa questão: “O Atønito nasceu em 2016, naquele que acreditávamos ser um dos piores momentos da nossa história, ano da concretização do golpe”, explica Cuca, lembrando que voltaram a pensar em novo disco depois das eleições para presidente. “quando nos juntamos pra começar a trabalhar pro segundo disco, decidimos que dedicaríamos nossa música para refletir e atacar os caminhos que nosso país havia tomado, marcado pelo crescimento do fundamentalismo religioso e pela tentativa de destruição da identidade nacional, que vinha sendo tão arduamente construída. Após algumas conversas iniciais, coloquei esses pensamentos em um texto, que funcionou como uma espécie de roteiro, de narrativa, a partir da qual compusemos e criamos as músicas que viraram o disco” – o texto citado está no final deste post.
“Nesse texto, concluíamos que o problema fundamental vem da nossa incapacidade de resolver o conflito entre indivíduo e espécie, nossa incapacidade de encontrar equilíbrio entre necessidades e desejos coletivos e individuais. Somos cada vez mais empurrados para um confinamento solitário digital, desconectando-nos da percepção que só a coletividade garante a existência dos indivíduos. Fizemos o disco para debater isso. Ou seja, um disco instrumental, mas cuja inspiração veio da palavra”, conclui o líder da banda, lembrando que o disco já havia sido gravado antes de entrarmos em quarentena. “A quarentena afetou o lançamento, que estava previsto para maio. E nos fez questionar o quanto ainda fazia sentido, mas revisitamos nossos pensamentos originais e percebemos que as questões que nos motivaram só ganharam mais força. Do ponto de vista do nosso discurso, a quarentena só deu mais significado ao que queríamos dizer.”
“Luiza é a única convidada do disco, mas gosto de dizer que para esse disco tivemos entre nós três um processo criativo muito mais coletivo”, relembra. “No primeiro disco, as composições partiram praticamente de ideias minhas. Em Aqui não, tudo foi criado e executado coletivamente, ou seja com muito mais participação do Ro Fonseca e do Loco Sosa”, segue Cuca, lembrando de como Luiza registrou sua parte: “Ela foi pro estúdio, discutimos o texto e ela acabou por dar palavras finais à letra. E a melodia ela criou em poucos takes já valendo.”
Sobre lançar um disco durante a pandemia, tudo é experimentação, mas já está mexendo até na formação do grupo. “Eu particularmente sempre fui do ao vivo e é muito complicado não poder contar com esse caminho para manter o projeto ativo, mas o caminho que encontramos até agora foi esse, de trazer a arte visual para junto da música. Já havíamos feito isso com o Paulinho Fluxus, que é praticamente um quarto integrante do Atønito nos nossos shows. Os clipes que estamos fazendo são uma forma de fazer isso virtualmente. É como se agora a banda fosse baixo, sax, bateria e câmera. Esse disco tem 10 músicas, cinco já viraram imagem. Nos próximos meses teremos mais dois que já estão sendo criados.”
Atønito – Disco 2
AT / NITO
ATONITO
ATˆNITO
ATXNITO
Atønito nasceu e desenvolveu seu som a partir de um momento histórico marcado pela frustração,
pelo pessimismo e pela incredulidade.
Era 2016.
Com a tomada do poder por um grupo que não havia sido eleito, o Brasil soltava o freio e descia
de costas uma ladeira que vinha subindo a duras penas havia pelo menos 2 décadas.
Durante 20 anos, acreditamos que tínhamos encontrado nosso trilho, que aos poucos o futuro do
“país do futuro” chegava. Vivíamos sob a perspectiva da melhora, do otimismo, da confiança.
Para uma geração como a nossa, que nasceu no auge da ditadura militar e ficou adulta nas
décadas perdidas de 80/90, era a certeza de que construíamos um país com personalidade
própria, que finalmente começávamos a tirar o nariz da lama, como gerações anteriores não
haviam sequer imaginado.
Mas o Brasil provou que estávamos errados.
A completa falta de capacidade de manter o país no trilho seguida pelo completo atropelo aos
princípios que formam um Estado fez com que tudo que havia sido construído começasse a erodir
rapidamente.
É sob esse sentimento de perda, de desespero, de angústia, de incredulidade que nasce o
primeiro disco do Atønito.
Um disco do Grito. Expressão musical da raiva, dessa rasteira que tomamos do país. Do ódio que
é ter que dar a razão aos que sempre disseram que “o Brasil é isso aí mesmo”.
Isso foi no agora distante ano de 2017.
De lá pra cá as coisas pioraram muito.
O desastre saiu do plano institucional para o plano humano. Voltamos atrás não mais 20 anos de
desenvolvimento do país, mas séculos de conquistas e conclusões da espécie.
Celebra-se a ignorância. Escolhe-se o “olho por olho” como valor válido. Princípios que nortearam
a evolução da humanidade desde o século 16 agora passam a ser desprezados. Não se acredita
mais na busca do conhecimento, na busca da liberdade, na busca da convivência harmônica.
E o Brasil passa a trilhar um novo caminho, busca um novo modelo, que aparenta ser uma
espécie de mistura entre Porto Rico e Irã; por um lado mergulhando em uma subserviência
incondicional e sem nenhum orgulho próprio ao pior dos EUA, ao mesmo tempo que se apoia na
perpetuação da ignorância da populacão controlada pelo fundamentalismo religioso de pastores
da pior espécie.
Como reagir artisticamente a tudo isso? Como conseguir uma expressão artística – que pressupõe
sentimentos e sensibilidade – que reflita esse novo momento histórico?Descemos.
Do Grito fomos à Implosão.
A jornada agora é em busca do problema fundamental e essencial, chegar no “pré-sal” do que
vemos na superfície; fonte de todos os conflitos atuais:
A relação entre o indivíduo e a coletividade.
Entre o individual e o coletivo.
Entre o ser único e sua espécie.
Por um lado, a associação coletiva nos fez a espécie dominante no planeta. Por outro, implica em
consciência e aceitação de limitações individuais.
Ao longo da história humana, a nossa organização coletiva propiciou o desenvolvimento da
espécie. Mais recentemente, conforme esse desenvolvimento se exacerbou, se transformou na
própria ameaça à existência humana.
Esse é o conflito fundamental.
E é a inspiração e provocação para esse trabalho.
O disco discorre sobre a relação entre o homem e seu ambiente. Como a associação coletiva
propiciou o domínio desse ambiente, e como essa associação coletiva se transformou em fonte de
tensão insustentável para os indivíduos que a formam.
Como existir como indivíduo num modelo que é totalmente dependente da associação coletiva
para a própria subsistência dos seus indivíduos.
Que paradoxalmente dedica cada vez menos espaço físico para seus indivíduos, pressionando
para uma proximidade física cada vez maior, ao mesmo tempo que empurra para o isolamento
atraindo para o confinamento digital, que mais paradoxalmente ainda legitima a existência
individual a partir da validação coletiva.
Reflexões e lembretes sobre cada música:
1. UNO (Vinheta Manifesto)
Da tensão inerente ao uníssono. Um som formado por três.
Somos um? One love? Somos mesmo a mesma energia que vibra em uníssono? Quando
passamos a ser muitos? E mesmo sendo muitos continuamos sendo apenas um?
2.
Quando éramos menores que nosso ambiente.
Quando surge a vida humana? Quando nos percebemos como indivíduo? Quando nos
percebemos como espécie?
Quando tínhamos mais recursos que necessidades?
Quando percebemos que o ambiente podia ser hostil? Quando percebemos que individualmente
éramos inferiores ao ambiente?
A melodia era maior, fica menor e acaba diminuta.
Manifestações de vida que começam a eclodir e aos poucos vão se reconhecendo.
3.Quando percebemos que a espécie tinha mais chances se seus indivíduos se organizassem
coletivamente. Começam as conquistas. A vida melhora. O coletivo prova ser melhor que o
indivíduo. A vida coletiva se prova melhor que a vida individual.
A construção da vida social.
A crença num futuro mais positivo a partir das conquistas coletivas.
4.
Trabalho.
Competição.
O interesse coletivo impõe novas regras à sobrevivência do indivíduo.
A velocidade aumenta, na mesma proporção que a consciência diminui.
5.
Começamos a buscar subterfúgios.
Válvulas de escape. Auto-alienação.
Felicidade artificial, plástico, vaidade, consumismo, “mascando clichê”, terra da fantasia do
pinochio, tá tudo aqui.
6.
“Tá tudo ótimo”
Essa música é uma homenagem direta ao principal artista do movimento “Realismo Cínico”, que
apareceu na China nos anos 90. Uma tentativa de transformar em música os quadros de Yue
Minjun, o “pintor das gargalhadas”, que melhor traduziu o conceito de realismo cínico. A angústia
por trás da gargalhada.
Qual o limite entre a gargalhada e o choro.
O clichê do palhaço desiludido e triste.
7.
A gargalhada quebrou o verniz. Cai o cenário e vemos a realidade atrás.
Vemos a prisão que vivemos. Celas cada vez menores. O indivíduo reduzido ao seu mínimo
espaço.
Fazendas humanas do Matrix. Marcel Marceau. Paredes se fechando, tipo cena de seriado de
ação antigo.8.
Só nos resta o mergulho interior. Reflexão.
Há uma luz no fim do túnel?
Há um túnel no fim da luz?9.
Seguimos! Vai dar trabalho. Ladeira acima. Sensação que sobe, sobe e nunca chega.
Areia, cimento, tijolo.
Cenas de trabalhos forçados.Texto para o último trecho da última música:
Mas não faz sentido.
Por que evitar de cruzar o olhar
Evitar de dirigir a palavra
fingir que não escuta
Se tudo que eu preciso para viver
foi feito pelo outro
tudo que eu como
tudo que eu visto
passou por tantas outras mãos antes de chegar às minhas
por que agir como se só eu existisse
como se aquela pessoa que está ao alcance do meu braço
simplesmente não estivesse ali
então agora é assim?
só existe o outro se for desse jeito?
Reificado
Coisificado
desmontado
desintegrado
fragmentado
em
giga
mega
kilo
bytes
de
bits
binários
Binários.
não mais bípedes
mas binários
só sim ou não
noite ou dia
par ou ímpar
certo ou errado
zero ou um
Binários como os bits
que reconstituídos
nos dão propósito
nos justificam
e nos validam
em forma de um polegar levantado
ou de um coração estilizado
Entrevisto o Nasi, lendário vocalista do Ira, nesta quarta-feira, a convite do Sesc Catanduva, a partir das 20h30, em uma live. Para assistir, é preciso se inscrever neste link.