Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Um gole de Fernê

Foto: Julia Maurano

Foto: Julia Maurano

O nome da banda originalmente era Folk Project e reunia amigos de diferentes escolas da Zona Oeste de São Paulo que se reuniram, como o nome entrega, para tocar folk. “Mas o projeto foi tomando outras formas na medida em que nossas personalidades ultrapassaram as referências, assim, o som foi ficando menos acústico, mais intenso e catártico”, me explica a vocalista do Fernê, Manuela Julian, em entrevista por email. Aos poucos as guitarras foram entrando nas composições, rugindo microfonias que deixavam a vocalista mais à vontade para soltar-se e liberar a banda para entrar num estágio entre o indie e o noise, mas sem nunca deixar a melodia e a melancolia sair do primeiro plano. O quinteto agora prepara-se para lançar o primeiro EP e antecipa o primeiro single, “Consolação”, em primeira mão para o Trabalho Sujo.

Além de Manu, que também canta na banda Pelados, o Fernê ainda conta com outros nomes em ascensão da cena paulistana em sua formação, como o cantor e compositor Chico Bernardes, irmão do Tim d’O Terno, que deixa o violão de lado para assumir a guitarra e vocais, e o baterista Theo Cecato, que toca com a Sophia Chablau e Laura Lavieri. Completam a formação o baixista Tom Caffe e o guitarrista Max Huszar, sendo que este último entrou após a gravação do EP, que aconteceu no ano passado. “Gravamos o EP no Estúdio Canoa, com o querido Thales Castanheira como produtor e técnico”, lembra a vocalista, “foram tardes muito gostosas onde gravamos todo o som ao vivo, direto na fita cassete. Muita música, papo e baião de dois.”

Entre as referências musicais, citam desde bandas contemporâneas como Fleet Foxes, Beach House e Grizzly Bear quanto clássicos como Nick Drake, Tortoise, Neil Young e claro, Clube da Esquina e Mutantes. “Caetano Veloso e Björk são exemplos de artistas que unanimemente ocupam um lugar especial para todos nós, chegamos a fazer covers deles por isso”, explica Manu, mencionando “Terra” e “Hunter” como versões escolhidas.

O disco, que leva apenas o nome da banda, será lançado no início de setembro, pelo selo Seloki, e devido à quarentena, o grupo obviamente não fará shows. “Já que estamos entocados e separados, infelizmente não temos previsão para um show: estamos esperando um momento mais apropriado pra nosso reencontro”, continua a vocalista, que promete que uma audição em primeira mão do EP através da conta da banda no Instagram (@ferne.insta).

“Olha, passar pelo processo de lançamento sem poder tocar ao vivo é uma tristeza, porém, estamos aproveitando esse momento para elaborar nossa linguagem visual e ideias para o projeto de maneira profunda, o que achamos que querendo ou não é um processo importante”, continua a vocalista, reforçando que eram essencialmente uma banda de shows, “estamos morrendo de saudade do palco…”.

Yo La Tengo e uma noite sem dormir

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O Yo La Tengo abriu a quarta-feira anunciando o lançamento de mais um EP, o segundo lançado nesta quarentena (depois do ótimo ambient instrumental We Have Amnesia Sometimes). Sleepless Night é um projeto em parceria com o artista japonês Yoshitomo Nara, que escolheu com o grupo versões de músicas para tocar em sua exposição de retrospectiva no Los Angeles Country Museum of Art. São músicas de Bob Dylan, Flying Machine, Delmore Brothers, Ronnie Lane e dos Byrds reunidas no disco com a faixa inédita “Bleeding”. O grupo escolheu “Wasn’t Born To Follow”, composta por Carole King e Gerry Goffin e eternizada pelos Byrds, para mostrar no anúncio do disco, cuja capa é desenhada pelo próprio Nara.

O disco será lançado em outubro e já está em pré-venda. Abaixo, sua capa e a ordem das músicas:

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“Blues Stay Away” (dos Delmore Brothers)
“Wasn’t Born to Follow” (dos Byrds)
“Roll On Babe” (de Ronnie Lane)
“It Takes a Lot to Laugh” (de Bob Dylan)
“Bleeding”
“Smile a Little Smile for Me” (do Flying Machine)

Um grande show pode virar um grande filme?

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O espetacular show American Utopia, que David Byrne trouxe para a Broadway no final do ano passado depois de ter circulado pelo mundo (passando inclusive pelo Brasil), vai se transformar num filme assinado por Spike Lee – e pelo trailer que acaba de ser revelado, o resultado pode ser épico, com a câmera de Lee movendo-se tão animadamente quanto os 11 músicos, cantores e dançarinos que dividem o palco com o eterno talking head.

O filme estreará em setembro no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, e depois chega para o público em geral através da HBO, no dia 17 de outubro.

Bom Saber #017: Ana Frango Elétrico

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Autora do melhor disco brasileiro de 2019, a carioca Ana Frango Elétrico está só começando – e com dois discos festejados, um livro no forno e uma reputação em construção, tanto no Brasil quanto no exterior, ela começa a repensar os próximos passos da carreira, depois de um período de reclusão criativa no início da quarentena. Aproveitei a deixa para conversar com ela sobre processo criativo, sobre assumir as produções de seus trabalhos e sobre como foram estes primeiros anos de sua carreira, como foco maior no sensacional Little Electric Chicken Heart, que agora está virando vinil. E ela aproveita para falar de novidades que vêm por aí – e mais rápido do que a gente possa pensar.

O Bom Saber é meu programa semanal de entrevistas que chega primeiro para quem colabora com meu trabalho, como uma das recompensas do **Clube Trabalho Sujo**. Além da Ana, já conversei com Bruno Torturra, Dani Arrais, Negro Leo, Janara Lopes, Tatá Aeroplano, João Paulo Cuenca, Eduf, Pena Schidmt, Roberta Martinelli, Dodô Azevedo, Larissa Conforto, Ian Black, Fernando Catatau, Mancha, André Czarnobai e Alessandra Leão – todas as entrevistas podem ser assistidas aqui no Trabalho Sujo – ou no meu canal no YouTube, assina lá.

Polimatias: Quando a cultura desperta

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Quando você descobriu que não era mais criança? Eu e Polly cogitamos a possibilidade desta revelação poder acontecer por livros,discos, filmes, programas de TV, por isso dedicamos essa edição do Polimatias para descer rumo à alameda das lembranças, vasculhando o fim de nossas infâncias para pinçar o momento em que a cultura nos fisgou – e como isso foi crucial para que nos tornássemos quem somos, mantendo sempre nossa curiosidade cultural alerta.

Tame Impala Soundsystem

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O grupo australiano Tame Impala finalmente mostra ao vivo seu quarto disco, The Slow Rush, que iria começar a ter seus primeiros shows ao vivo um pouco antes de começarmos essa quarentena. E o grupo de Kevin Parker se apresentou no formato trio, batizando-se de Tame Impala Soundsystem, e trazendo versões mais pista para três faixas de sua safra mais recente de canções – duas de seu disco mais oitentista, “Breathe Deeper” e “Is It True”, e uma que foi lançada no começo dos trabalhos do novo disco, “Patience”. O show aconteceu dentro da programação remota do Tiny Desk Concert da emissora pública norte-americana NPR.

Christopher Nolan conseguiu

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Christopher Nolan peitou a quarentena e a pandemia e vai conseguir estrear seu novo filme nos cinemas ainda em 2020. Mesmo que isso queira dizer que o filme vai estrear onde der, buscando salas de cinema em cidades que já estão em situação mais tranquila em relação ao coronavírus ou que fingem que a pandemia não é tão séria quanto realmente é, como nos Estados Unidos e no Brasil. E o último trailer, com uma música besta do Travis Scott, parece mostrar que a ação verdadeira do novo filme acontece para além das explosões e perseguições que vimos até agora, colocando seus personagens num inusitado cenário de guerra.

Mas mesmo no Brasil Tenet não vai estrear tão cedo – e sua estreia acaba de ser adiada do dia 10 para o dia 24 do mês que vem.

Mais um Batman vindo aí…

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Minha empolgação com filmes do Batman terminou antes que o segundo Batman do Christopher Nolan estreasse: por melhor que fossem as adaptações do diretor de Inception, desde o primeiro filme dava pra saber que ele era outro personagem, de novo, bem diferente do personagem dos quadrinhos. Encarnado em grande estilo por Michael Keaton, Val Kilmer, George Clooney e Christian Bale, o homem-morcego no cinema sempre foi um super-herói porradeiro, um Homem de Ferro monocromático, bem diferente do maior detetive do mundo vendido pelos quadrinhos – um personagem que usa a força quando necessário, mas quase sempre trabalha de forma cerebral. Por melhor que tenha sido a trilogia de Nolan (que não foi tããão melhor assim), ela pecava frontalmente ao transformar o herói em um justiceiro que dependia de armas e tecnologia para fazer seu melhor – sem contar a voz de monstro ridícula que o ator fazia quando colocava a fantasia, que com Bale se tornou uma armadura militar de vez.

Até me animei quando soube que Robert Pattinson (que, depois da saga Crepúsculo, tem se revelado um bom ator) assumiu o lugar de Ben Affleck (um acinte em muitos níveis ao personagem), mas mais pela carreira do novo ator do que propriamente pela possibilidade de finalmente a franquia da DC chegar direito às telonas. Tanto que quando o trailer do novo filme foi anunciado, eu nem me animei nem pra clicar para assistir. Mas alguns amigos falaram para dar uma chance e, tudo bem, é bom. Parece o final da série Gotham (que não vi até o fim) e Pattinson pelo menos não faz voz de monstro quando fala como o super-herói, mas tirando o esperto uso de “Something in the Way” do Nirvana, a impressão é que vamos ver mais do mesmo mais uma vez…

O diretor Matt Reeves tem crédito – é quem segura a câmera no excelente Cloverfield e acerta de jeito em dois filmes da trilogia do Planeta dos Macacos. E o filme ainda traz a Zoe Kravitz de Mulher-Gato, o Paul Dano como Charada, o Colin Farrell como Pinguim, o John Torturro como Carmine Fantino, o Andy Serkis como Alfred e o Jeffrey Wright como Comissário Gordon. Parece promissor, mas não tenho grandes esperanças…

Cine Ensaio: O futuro do fim do mundo

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Por que o cinema é tão obcecado com o fim do mundo? Distopias políticas, tragédias naturais, guerras aniquiladoras e destruições apocalípticas estão sempre na pauta de produções cinematográficas desde o início do cinema, mas no fim do século 20 este tema virou praticamente um gênero à parte. Mas o que acontece com o cinema quando vivemos em uma distopia? Quem ainda quer ver a civilização morrendo, o planeta explodindo ou a natureza definhando nos filmes quando a realidade mostra algo bem parecido? Eu e André Graciotti escolhemos este tema para conversar no Cine Ensaio desta semana.

Vida Fodona #668: Festa-Solo (17.8.2020)

vf668

Mais uma segunda-feira, mais um Festa Solo – a versão ao vivo do Vida Fodona no twitch.tv/trabalhosujo, às 21h – este foi o da semana passada…

Thiago França – “São Paulo de Noite”
John Coltrane – “Giant Steps”
Douglas Germano – “ISO 9000”
Rodrigo Campos + Kiko Dinucci – “Clareza”
Siba – “Marcha Macia”
Elis Regina – “Bala com Bala”
Trupe Chá de Boldo – “À Lina”
Vovô Bebê – “Êxodo”
Lulina – “N”
Destroyer – “Kaputt”
Glue Trip – “La Edad Del Futuro”
Stephen Malkmus – “Brainwashed”
Angel Olsen – “Whole New Mess”
Joana Queiroz – “Tempo Sem Tempo”
Josyara – “Solidão Civilizada”
John Cale – “I Keep a Close Watch”
Weyes Blood – “Andromeda”
Serge Gainsbourg – “La Ballade De Melody Nelson”
Gilberto Gil + Jorge Ben + Sergio Mendes- “Emoriô”
Elizeth Cardoso – “Eu Bebo Sim”
Erasmo Carlos – “Mané João”
Curumin – “Tudo Bem Malandro”
Felipe Dylon – “Musa do Verão”
Zombies – “Time of the Season”
XTC – “Mayor of Simpleton”
Paul Simon – “You Can Call Me Al”
Yo La Tengo – “Moby Octopad”
PELVs – “Even When the Sun Goes Down (I’ll Surf)”
Alanis Morrissette – “You Oughta Know”
Alanis Morrissette – “Ironic”
Alanis Morrissette – “Hand in My Pocket”
Green Day – “Welcome to Paradise”
Green Day – “Longview”
Pixies – “Winterlong”
Sonic Youth – “Incinerate”
Courtney Barnett + Kurt Vile – “Over Everything”
Crosby, Stills & Nash – “Suite Judy Blue Eyes”
Fleetwood Mac – “Dreams”
Edwyn Collins – “A Girl Like You”