Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
A dupla australiana Avalanches lança mais um single de seu terceiro álbum, desta vez gravado com a International Space Orchestra, em colaboração com artistas tão diferentes quanto Jamie xx, Clypso, Neneh Cherry e o clash Mick Jones, além de usar samples do disco que a sonda espacial Voyager carregou consigo com sons que representassem o planeta para uma possível civilização alienígena que eventualmente a encontrasse no espaço.
Pelo jeito a temática do novo álbum, que ainda não tem nome nem data definida de lançamento, deve ser o espaço sideral – e a dupla já avisou que terá participações de nomes como Jpegmafia, Dhani Harrison, Cornelius, entre outros – além Rivers Cuomo, Blood Orange e Sananda Matreiya (o novo nome de Terence Trent D’Arby), nas faixas que já mostraram anteriormente.
O penúltimo disco dos Doors com Jim Morrison, Morrison Hotel está sendo revisitado em uma reedição de aniversário de 50 anos, trazendo uma versão remasterizada do disco em vinil e CD e um segundo CD cheio sobras de estúdio, incluindo uma versão para “Money (That’s What I Want)”, além de um encarte com textos sobre o disco. A nova versão será lançada em outubro e já está em pré-venda no site da banda, que também liberou uma das versões alternativas de “Peace Frog” com “Blue Sunday”, que pode ser ouvida como aperitivo.
Eis a cara do disco e, abaixo, a ordem das músicas:
Disco 1: The Original Album
“Roadhouse Blues”
“Waiting For The Sun”
“You Make Me Real”
“Peace Frog”
“Blue Sunday”
“Ship Of Fools”
“Land Ho!”
“The Spy”
“Queen Of The Highway”
“Indian Summer”
“Maggie M’Gill”
Disco 2: Mysterious Union
“Queen Of The Highway” (Take 1, She Was A Princess)
“Queen Of The Highway” (Various Takes)
“Queen Of The Highway” (Take 44, He Was A Monster)
“Queen Of The Highway” (Take 12, No One Could Save Her)
“Queen Of The Highway” (Take 14, Save The Blind Tiger)
“Queen Of The Highway” (Take 1, American Boy – American Girl)
“Queen Of The Highway” (Takes 5, 6 & 9, Dancing Through The Midnight Whirlpool)
“Queen Of The Highway” (Take 14, Start It All Over)
“I Will Never Be Untrue”
“Queen Of The Highway” (Take Unknown)
“Roadhouse Blues” (Take 14, Keep Your Eyes On The Road)
“Money (That’s What I Want)”
“Rock Me Baby”
“Roadhouse Blues” (Takes 6 & 7, Your Hands Upon The Wheel)
“Roadhouse Blues” (Take 8, We’re Goin’ To The Roadhouse)
“Roadhouse Blues” (Takes 1 & 2, We’re Gonna Have A Real Good Time)
“Roadhouse Blues” (Takes 5, 6 & 14, Let It Roll Baby Roll)
“Peace Frog/Blue Sunday” (Take 4)
“Peace Frog” (Take 12)
No começo deste mês o grupo Washed Out mostrou seu novo disco, o excelente Purple Noon, em que retoma sua sonoridade já clássica depois do experimento funky Mister Mellow. E para marcar o lançamento do disco, cuja atmosfera foi inspirada no filme franco-italiano O Sol por Testemunha, de 1960, com sua vibe de por do sol no Mar Mediterrâneo, o grupo apresentou-se ao vivo na beira do mar, ao por do sol, numa apresentação deslumbrante…
“Time to Walk Away”
“Reckless Desires”
“Too Late”
“Face Up”
“Hide”
“Paralyzed”
“Leave You Behind”
De quebra, o cérebro e coração da banda, Ernest Green, apresentou novamente parte do repertório do disco em um show na cozinha de casa gravado para a rádio KEXP, ao lado de sua companheira e também integrante da banda, Blair Greene.
“Paralyzed”
“Time To Walk Away”
“Face Up”
“Too Late”
E o disco tá lindão…
Em outra reedição caprichada da Rhino, o disco que consolidou a importância do Sepultura na cena mundial, Beneath the Remains, ganha uma nova versão em vinil com direito ao disco de 1989 remasterizado a partir das fitas originais, além de um segundo disco com faixas gravadas no Rio de Janeiro, algumas em versão instrumental, antes do grupo registrar as versões definitivas na Flórida, e músicas tiradas do show que o grupo mineiro fez no clube Zeppelinhalle, na cidade alemã de Kaufbeuren, no dia 22 de setembro do ano de lançamento do disco, com direito a versões para “Symptom Of the Universe” do Black Sabbath e “Holiday In Cambodia” dos Dead Kennedys:
São apenas 1500 cópias do disco, que já está à venda.
Íamos falar de Juntatribo, mas Lovecraft Country, a nova série de horror da HBO, nos fisgou logo após seu primeiro episódio, por isso pulamos o festival indie campineiro para dedicar a edição desta semana do DM à investigação da obra e do personagem que inspiraram a série, o incel chamado H.P. Lovecraft, bem como a história de seu legado e sua mitologia, que foi parar inclusive nas mãos de Alan Moore. Também celebramos as cabeças por trás da série – nominalmente JJ Abrams, Jordan Peele e Misha Green – e descobrimos que o futuro da era de Aquário é o Grande Lebowski.
Ninguém merece essa temperatura…
Azymuth – “As Curvas da Estrada de Santos”
Negro Leo – “Esplanada”
Tatá Aeroplano – “Trinta Anos Essa Noite”
Taylor Swift – “The Lakes”
Weyes Blood – “Wild Time”
Caetano Veloso – “You Don’t Know Me”
Pink Floyd – “Sheep”
Carole King – “Beautiful”
Chico Buarque – “Pelas Tabelas”
Hot Chip – “Flutes”
Tame Impala – “Is It True (Four Tet Remix)”
Chromatics – “Twist The Knife (8 Track Instrumental)”
Lana Del Rey – “LA Who Am I to Love You”
Khruangbin – “Dern Kala”
Doors – “The Changeling”
Bonifrate – “Psykick Dancehall”
Herb Alpert – “This Guy’s In Love With You”
Angel Olsen – “Waving, Smiling”
Jay-Z e Pharrell, dois monstros do pop deste século, se uniram no single “Entrepreneur”, que celebra iniciativas negras espalhadas pelo planeta, em uma ação em parceria com a revista Time, que dedica a capa de sua edição semanal à “nova revolução norte-americana”, um levantamento feito por Pharrell em como seu país está mudando a partir da presença de negros no mercado como patrões – ou “empreendedores”, como reforça o título da canção. Mas o clipe forte e mensagem importante da música não se refletem na faixa em si, que é apenas passável.
Que maravilha essa transformação a que Kieran Hebdan submeteu em uma das faixas do disco mais recente de Kevin Parker. O remix que o senhor Four Tet fez para “Is it True?” tira a faixa mais besta do disco novo do Tame Impala, The Slow Rush, dos anos 80 para elevá-la espiritualmente rumo a uma dimensão fluida entre beats da virada do século e acordes ambient que parecem sempre terem existido, aprofundando a canção para além de seu ar pop vespertino original.
Um Sonic Youth aqui, um Belchior ali, um Plato Dvorak com Frank Jorge acolá, um Alceu Valença mais adiante… A disparidade de autores reunidos no primeiro disco de versões lançado por Pedro Bonifrate nesta quinta-feira dissipa-se quando enfileirados na ótima surpresa que é este Diversionismo: versões & fantasias (2004-2020). “Volta e meia pensava em juntar essas versões que fiz por aí e que achei que ficaram legais, inventivas em relação às gravações originais, num álbum só pra elas”, me explica por email, falando de um disco que inevitavelmente soa folk e psicodélico, derretido e solar como a maioria de seus trabalhos, seja em carreira solo, seja à frente do falecido grupo Supercordas.
“Engraçado é que a maioria dessas versões foram encomendadas pra tributos de artistas que certamente não seriam meus primeiros escolhidos se eu fosse pensar em que versões fazer por mim mesmo”, continua quando pergunto sobre as músicas escolhidas para o disco. “Por exemplo, eu acho que se ouvi um disco inteiro do The Fall foi uma ou duas vezes no máximo”, Bonifrate lembra da versão que fez para o tributo ao grupo inglês de Mark E. Smith, proposto pelo dono do selo Midsummer Madness, Rodrigo Lariú. “Ele me passou algumas sugestões e “Psykick Dancehall” me chamou atenção pela letra que achei muito bonita, então foi quase como musicar uma poesia”. Bonifrate também lembra desta maravilhosa versão, que soa como um encontro de Neil Young com George Harrison, como marco para definir o rumo deste disco. “Eu realmente gostei muito de como ficou, o Lariú também, mas ainda ficaria pequeno pra ter um álbum cheio”, relembra.
Diversionismo só começou a ganhar uma cara a partir da quarentena de 2020. “Durante o isolamento tive vontade de fazer com ‘Home of the Brave’, do Spiritualized, o que eu já tinha feito ao vivo uma vez ou outra e isso já inteiraria uns 30 minutos e achei que estava de bom tamanho. Já estava organizando o material pro disco quando o Pedro Montenegro pediu um cover de qualquer música brasileira pro programa dele na Soho Radio de Londres, o BarKino. Então fiz ‘Íris’ do Alceu pra ele e a coisa ficou ainda mais redonda”.
E entre um Sonic Youth quase indígena (“100%” como se fosse “My Wild Love” dos Doors), um Belchior renascido no Magical Mystery Tour (com uma lisérgica “Hora do Almoço”, gravada no disco-tributo organizado pelo Scream & Yell) e uma “Happiness is a Warm Gun” tocada num saloon, ainda há espaço para um afrossamba! “O tributo aos Afro-Sambas d’A Escotilha me pegou totalmente de surpresa, eu podia escolher quase qualquer faixa e não me via fazendo nenhuma, é tão tipo não-a-minha-onda que não visualizei”, lembra Pedro. “Mas no final ouvi o ‘Lamento de Exu’ e pensei ‘ah isso é bem abstrato, consigo fazer algo com isso’. Depois ouvi a versão de 1990 do Baden Powell sozinho e ela sim me encheu de ideias, e acabei fazendo uma das gravações minhas de que mais gosto.”
“Acho que essa aleatoriedade dos convites ditou a onda dessa compilação, as leituras me parecem improváveis em tantos aspectos, e acho isso ótimo”, prossegue. “Só a do Spiritualized, a do Alceu Valença e a dos Beatles partiram de uma vontade própria de fazer aquelas canções especificamente.” Quando pergunto se alguma ficou de fora, ele força a memória. “Se ficou, foi outra do Spiritualized que foi a primeira coisa que eu fiz quando tive um gravador de fita de 4 pistas na minha frente lá pra 1998, mas não consegui encontrar no meio de tantas fitas, e acho que hoje deve soar bastante tosca, até pros meus padrões”, confessa.
Ainda mais isolado devido à quarentena, ele segue no meio do mato em sua cidade-musa Paraty. “Olha, não posso dizer que estamos na pior. Moramos perto da natureza, temos duas crianças na casa que dão muito trabalho mas muita alegria também, e por enquanto temos esse ‘privilégio’ do isolamento social – que nada mais é do que um direito que só é garantido a poucos no Brasil. É doido como dá trabalho ficar em casa, tanta coisa pra fazer, pra limpar, pra secar, pra esfregar, pra martelar, pra rastelar e eu já me pergunto como é que eu conseguia existir trabalhando de 8h-17h antes disso”, confessa.
Quando fala na primeira pessoa do plural, refere-se a ele e à esposa, Thalita Silva, que cada vez mais participa do trabalho de Pedro, cantando desta vez em três canções, além de aparecer na capa do disco. “Na real ela já estava na capa do Museu de Arte Moderna (2013) e gravou uns vocais pra última faixa, ‘Canção de Pelúcia’. Volta e meia ela grava umas vozes, teve ‘Rock da Paçoca’ do Toca do Cosmos EP (2014), ‘Rã’ do Lady Remédios (2017), e na ‘Parte VI’ do Mundo Encoberto (2019) ela não só canta solo como toca caixa, meio que de um jeito como se toca a Caixa do Divino, do Maranhão, porque ela toca num grupo de caixa daqui de Paraty há alguns anos. Ela tem uma musicalidade muito intuitiva e uma voz muito bonita e aerada, que sempre cai bem.”
Mas nem só de versões vive o velho supercorda em 2020 e já anuncia mais um disco solo, o primeiro desde que seu antigo grupo acabou. “Um novo álbum como Bonifrate já está quase pronto, com canções próprias e inéditas”, revela. “O Diogo Valentino está terminando de mixar aí em São Paulo e deve sair nos próximos meses. Fora isso, vamos tentando ficar vivos e sãos pra encarar esse mundo esquisito que vem logo depois da curva.”
A cada passo em direção a seu novo disco, Billie Eilish reforça a mudança que tem atravessado como artista, sublinhando que não quer mais ser vista essa caricatura de enfant terrible com it-girl da geração Z que lhe transformaram e vem aproveitando este estranho 2020 como plataforma para esta mudança. Começou ainda em 2019, quando, com a contemplativa “Everything I Wanted” mudou o tom de sua abordagem, sublinhando a presença do irmão Finneas em seu processo criativo e entrou no novo ano, quando ela mostrou “No Time to Die”, música que compôs para o próximo filme de James Bond antes de entrarmos em quarentena. Agora ela surge como coadjuvante de luxo da eleição para presidente dos EUA, mostrando a recém-lançada “My Future” pela primeira vez ao vivo na convenção do partido democrata dos EUA que oficializou o nome de Joe Biden como . Não sem antes passar seu sabão no momento político atual de seu país.
“Você não precisa que eu diga que as coisas estão uma bagunça – Donald Trump está destruindo nosso país e tudo que nos importa. Precisamos de líderes que resolvam problemas como mudança climática e o covid – não os neguem. Líderes que lutarão contra o racismo sistêmico e a desigualdade. Começa votando contra Donald Trump e por Joe Biden. O silêncio não é uma opção e não podemos ficar de fora. Todos nós temos que votar como se nossas vidas e o mundo dependessem disso – porque eles dependem. A única maneira de ter certeza de nosso futuro é fazê-lo nós mesmos. Por favor registre; por favor vote.”
Mais uma vez acompanhada do irmão e de um baterista, ela dominou completamente a cena, cantando seu novo single com leveza e desenvoltura, ciente de todo o simbolismo da situação: o fato de votar pela primeira vez por ter apenas 18 anos, o fato de representar os nascidos no século 21 que, como ela, pode votar pela primeira vez para presidente em 2020 e estar cantando uma música chamada “My Future” em um evento que poderá decidir o futuro dela, de seu país e de todo mundo.
Ela vai longe…