Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Gilberto Gil ♥ Chico Buarque

E como se não bastasse ter convidado Djavan para participar de seu novo show no Rio de Janeiro no sábado, Gilberto Gil materializou a conversa que tinha em gravações em vídeo no novo show ao chamar o próprio Chico Buarque para seu palco e dividir os vocais em “Cálice”, um dos grandes momentos desta nova turnê, que ao subir neste patamar tornou-se histórico. Inacreditável.

Assista abaixo:  

A vingança de Kim Gordon

Além de seu evento principal, o Popload desse ano desdobrou-se em dois eventos paralelos realizados no Cine Joia – o primeiro deles com a banda nova-iorquina Lemon Twigs, um dia antes do festival e o outro no dia seguinte, com a mestra Kim Gordon fazendo uma apresentação solo. E diferente do primeiro deles, o segundo contou com uma abertura à altura da atração principal. E não apenas porque a norte-americana Moor Mother – artista,ativista e poeta – transita em uma seara musical tão perigosa e transgressora quanto a atual fase da fundadora do Sonic Youth, mas por ter convidado Juçara Marçal e Kiko Dinucci para a acompanharem na primeira parte de sua apresentação, que pode ser considerada um dos grandes momentos do festival como um todo. Juntos, os três desbravaram um caminho tortuoso entre o canto e a fala, com Moor Mother e Juçara entrelaçando vozes em uma ação contínua entre som e sentido, enquanto Kiko seguia tornando seu violão percussivo, batucando riffs, linhas de baixo e ruídos para as duas soltarem-se livres. Depois que a dupla saiu, Moor Mother seguiu sozinha no palco igualmente virulenta, cuspindo versos em dois microfones, um deles sempre com algum efeito, enquanto disparava bases eletrônicas e pesadas a partir de seu computador. Mas depois do ataque inicial do trio, seu solo perdeu um pouco do atordôo, tornado livre justamente por não ter nenhum elemento sonoro pré-gravado. E era só o começo da noite…

Depois Kim Gordon subiu ao palco do Cine Joia para encerrar as atividades do Popload Festival deste ano como principal artista do segundo show paralelo do evento – e quanta diferença um lugar pode fazer a um show. Porque ela apresentou um show bem parecido – tanto em repertório quanto em duração – com o que fez na versão completa do festival, no dia anterior. Mas colocá-la em uma casa de shows sem luz natural e com o foco totalmente preso nela fez toda a diferença – principalmente porque no sábado ela tocou ao ar livre, sob a luz do sol e com o som e atenção do público dispersos. O domingo foi a vingança de Kim Gordon, que ainda contou com um ótimo som no Cine Joia, que potencializou ainda mais a virulência de sua apresentação. Vestindo uma camisa social e gravata preta no lugar do moletom do dia anterior, ela veio mais a rigor para um show que, como o outro, priorizava seu segundo álbum, The Collective, à frente de uma banda de rock novíssima que não ficava presa às amarras do gênero – muito pelo contrário, buscava explorar com vigor e ruído os espaços abertos por Kim em sua investigação musical em torno da música urbana deste século. O canto falado e quase ausência de contato com o público reforçavam a frieza da sonoridade daquele quarteto, solapando bordoadas sonoras que passavam pela banda anterior de Kim como referência (ela inclusive pegou na guitarra em várias canções), mas não reverência, fazendo todos saírem felizes do encontro ao perceber que ela continua um motor da transgressão, mas não quer olhar para trás. Muito foda.

#moormother #jucaramarcal #kikodinucci #kimgordon #cinejoia #trabalhosujo2025shows 105 e 106

Abaixo algumas fotos que a Bárbara Monfrinato fez do show:  

Dua Lipa ♥ Alphaville

Neste fim de semana Dua Lipa voltou pra fazer mais duas datas na Alemanha, em Munique, e no primeiro show ela preferiu jogar no rasinho e em vez de cantar uma música em alemão, preferiu escolher um hit alemão cantado em inglês (como já havia feito ao pinçar uma dos Scorpions na semana retrasada), ao puxar a baladaça “Forever Young” do grupo Alphaville. Bom, mas podia ser melhor, hein…

Assista abaixo:  

Gilberto Gil ♥ Djavan

No sábado, no primeiro show que Gilberto Gil fez no repeteco de aparições no Rio de Janeiro neste fim de semana, ele chamou ninguém menos que Djavan para dividir com ele os vocais de sua “Estrela”… Já tô sacando que está se desenhando um disco ao vivo dessa turnê de despedida cheio de participações ilustres, uma pra cada show. Vai vendo…

Assista abaixo:  

Sabadaço no parque!

Depois de três anos de sua edição mais recente no Centro Esportivo Tietê e muita boataria (inclusive sobre seu fim), finalmente o Popload Festival voltou a materializar-se. O festival voltou no mesmo local em que o C6Fest realizou suas três edições e apenas uma semana após a edição mais recente deste, suscitando inevitáveis comparações entre os dois eventos – e o festival idealizado pelo jornalista Lúcio Ribeiro a partir de seu portal de notícias parece ter se saído melhor, mas já já falo sobre isso. Cheguei tarde por motivos de Inferninho Trabalho Sujo, mas a tempo de ver nossa senhora Kim Gordon mostrar seu trap noise no palco montado na parte de trás do Auditório Ibirapuera e por melhor que tenha sido o show (e foi, com Kim esparramando-se pelo palco com seu moletom que reforçava “Golfo do México” na fuça do desgraçado no posto de presidente dos EUA) havia algo intrinsecamente oposto no falto da matriarca da juventude sônica tocar sob o sol de um sábado lindo e antes do fenômeno teen islandês Laufey. Sua sonoridade urbana e noturna contrastava diretamente com a tarde juvenil que se espalhava pelo parque do Ibirapuera – o que não chegou a comprometer o show, mas criou uma sensação estranha que talvez pudesse ser mudada com a troca de posições entre seu show e o show que aconteceria em seguida naquele palco, afinal boa parte do público da Laufey não estava nem aí pro showzaço de Kim Gordon, que felizmente teve sua vez no dia seguinte, na apresentação paralela que aconteceu no Cine Joia.

Laufey, por sua vez, é um fenômeno e fez adolescentes – e seus respectivos pais – reunirem-se inclusive durante o show da Kim Gordon para garantir um bom lugar para assistir sua musa. O público era muito, mas muito jovem – incluindo crianças – e em pouco tempo o lugar estava repleto de meninas usando lacinhos, apetrecho que é sinônimo da cantora que parece estar prestes a explodir em escala global. Musicalmente, ela faz um pop inofensivo e quase insípido em baladas que por vezes flertavam com a bossa nova e música erudita, acompanhadas aos berros por um público visivelmente emocionado. Um show comportado no palco e agitado no público, que puxou a bússola do festival para o norte magnético do pop, aos poucos desfazendo seu histórico de indie rock que já trouxe artistas como PJ Harvey, Pixies, Belle & Sebastian, Patti Smith, Wiico, Iggy Pop, Spoon e Phoenix, entre outros, para o Brasil. Mas, felizmente, esse histórico não foi abandonado, como veríamos no show que aconteceu em seguida naquele mesmo palco.

Antes disso, um breve comentário sobre o segundo palco, anunciado um pouco antes da realização do festival, que trouxe um frescor pop ainda maior ao reunir artistas em ascensão, desde a ótima nova fase da baiana Jadsa (que acabou de lançar um disco maravilhoso, Big Buraco) à revelação electroescracho carioca do Vera Fischer Era Clubber. Havia uma boa sincronia entre os palcos, que fazia o palco menor começar exatamente no momento em que o palco maior terminava sua atração, funcionando como trilha sonora para o festival mesmo que você não estivesse próximo ao… palco. Quer dizer, não dá pra chamar esse novo palco propriamente de palco, afinal de longe parecia um estande de divulgação de alguma marca ou mesmo um local para pegar bebida. Com pouco mais de meio metro de altura e uma largura ridícula, o que fazia o palco funcionar musicalmente o desfazia como atração, colocando-o quase como uma vírgula no tamanho do evento. Não era preciso um palco bem maior como o segundo palco do C6Fest, mas bastava subir mais alguns centímetros de altura (nem meio metro) e abrir um pouco mais sua largura para que as atrações ganhassem uma força ainda maior. Outro erro foi colocar Yago Opróprio como atração de encerramento deste palco, fazendo o trap do MC destoar completamente da transição entre os shows da St. Vincent e da Norah Jones (além de perder a oportunidade de marcar um golaço ao deixar apenas mulheres na segunda e principal parte do festival sem precisar levantar essa bandeira). Felizmente o show de Maria Beraldo, uma versão reduzida de seu disco Colinho, com músicas de seu primeiro álbum, Cavala, sobressaiu como uma das grandes atrações da noite, mesmo num palco tão pequeno e um show tão curto.

Alguém estava preparado para o show da St. Vincent? Annie Clark mostrou não apenas seu completo domínio de palco – baita vocalista, baita guitarrista, baita performer – como fez a melhor apresentação da noite sem muita dificuldade. Equilibrando o repertório entre seu disco mais recente (o excelente All Born Screaming) e o pré-pandêmico Masseduction, ela mostrou que rock pode ser moderno sem soar nostálgico, como fizeram Wilco e Pretenders naquele mesmo parque no festival da semana anterior. Um dínamo no palco, ela se jogava pra cima de seus músicos com a mesma entrega que depois se atirou na plateia, surfando em cima das pessoas no ápice da apresentação, quando cantou “New York”. O único ponto negativo da apresentação foi sua duração, curta com menos de uma hora como os outros shows do festival, mas até aí, é a natureza do evento. Um dos melhores shows do ano, sem dúvida.

O Popload Festival terminou com a maravilhosa Norah Jones fazendo seu pop de câmara para um público tão emocionado quanto o de Laufey – embora menos afetado e obviamente mais velho (tanto que as duas se encontraram no palco perto do fim do último show). Elas foram responsáveis por dar uma cara menos rock ao festival, o que não é propriamente um problema, e a quantidade de mulheres no elenco traduziu-se da mesma forma entre o público, mais feminino do que o festival que aconteceu no Parque Ibirapuera na semana anterior. Como o C6Fest, o Popload Festival peca por querer encher seu elenco com muitas atrações, sacrificando inclusive shows que tocaram mais cedo, como o ótimo Exclusive Os Cabides, obrigado a tocar antes do almoço. O preço das coisas dentro do festival também era salgado, mesmo que houvesse alternativas oficiais para comprar ingressos mais baratos – e havia uma área vip injustificável (pelo tamanho) na parte direita do palco – até quando vamos materializar essa divisão de castas? Mas ao contrário do outro festival, o Popload acerta ao concentrar seus shows em um dia e ao deixar mais atrações brasileiras na parte final do evento, mesmo que num palco pequeno. Só resta saber se vão mesmo em direção ao pop, deixando o indie rock que sempre o caracterizou perdendo espaço para atrações de outros gêneros musicais… E que venha a edição do ano que vem!

#kimgordon #laufey #mariaberaldo #stvincent #norahjones #poploadfestival #poploadfestival2025 #parquedoibirapuera #trabalhosujo2025shows 099, 100, 101, 102 e 103

Caos desembestado

Sexta-feira foi dia de um Inferninho Trabalho Sujo pautado pelo acaso e pela criação espontânea, quando os três artistas reunidos na Porta Maldita só tinham uma regra como repertório – como chegar do silêncio do início ao silêncio do final deixando suas ferramentas musicais expandirem o som de forma intensa e desenfreada. A noite começou com os Giallos percorrendo esse percurso com bateria, percussão, theremin, guitarra e trombone, com o vocalista Cláudio Cox soltando sua verborragia e suas maracas num spoken word tenso e agressivo, que ainda contou com a participação do saxofonista do Naimaculada, Gabriel Gadelha, convidado para participar da segunda parte do show. Free jazz com rock de confronto na veia.

Depois dos Giallos foi a vez do Pode Tudo Mas Não Pode Qualquer Coisa, projeto de improviso livre puxado pelos Fonsecas e quem eles quiserem chamar no dia. Como o baixista Valentim Frateschi estava no Rio de Janeiro, eles convidaram o baixista Julio Lino – uma espécie de Thundercat alto astral -, um monstro do baixo de seis cordas, e, de quebra, a tecladista Júlia Toledo e os seis foram do rock desembestado ao jazz funk, com Thalin tinindo jazzman na bateria, Felipe Távora solto entre os vocais e os efeitos e Caio Colasante levando sua guitarra para muito além do rock, num encontro que pareceu que durou horas – ou segundos – enquanto chegou em uma hora de improviso.

A noite encerrou com o dono da casa, Arthur Amaral, experimentando uma nova versão de seu projeto Tranze, que contou com o baterista do Naimacuiada, Pietro Benedan (entre o jazz, o rock e o drum’n’bass!), que tocou pela primeira vez com o guitarrista Arthur Sardinha, o baixista Rafael Penna e o tecladista Lukas Pessoa, da banda Monstro Enigma, num encontro liderado pela pregação anticonformista de Arthur – trajando um jaleco – que deixou todo o flow Doors dominar a noite num caos desembestado. Terminei os trabalhos discotecando faixas improváveis como “A&W” da Lana Del Rey, “Dogs” do Pink Floyd e “Crazy Rhythms” dos Feelies para o público que ficou na casa até quase o sol raiar. Noitaça!

#inferninhotrabalhosujo #gialos #tranze #podetudomasnaopodequalquercoisa #aportamaldita #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 096, 097 e 098

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Giallos + Tranze + Pode Tudo Mas Não Pode Qualquer Coisa @ A Porta Maldita (30.6)

Nessa sexta-feira tem mais Inferninho Trabalho Sujo na Porta Maldita, quando reunimos três bandas que trabalham na base do improviso livre de natureza rock, com muito noise, microfonia e caos sonoro. Os Gialos já são uma banda clássica, o Tranze é o projeto beat do dono da Porta Maldita, o grande Tuta, e a bagunça do Pode Tudo Mas Não Pode Qualquer Coisa, reúne integrantes dos Fonsecas, Julio Lino e Julia Toledo. Shows completamente fora de controle, temperados pelo clima caseiro e aconchegante que só a Porta Maldita tem hoje – com discotecagem minha no final da noite. A Porta Maldita fica no número 400 da rua Luiz Murat, entre os bairros Pinheiros e Vila Madalena, e os ingressos já estão à venda neste link.

Duas vezes histórico

Tive que ir de novo no formidável encontro dos violões de Kiko Dinucci e Jards Macalé, que, nessa sexta-feira, fizeram um show quase idêntico ao que fizeram no dia anterior, numa apresentação menos informal – embora tenha rendido boas prosas entre as músicas, como na quinta – e um pouco menor que a anterior, talvez porque Jards tenha trocado “Mal Secreto” – que é mais extensa devido a uma citação do clássico da bossa nova “Corcovado” – por uma versão acachapante – e solitária – para “Movimento dos Barcos”, esta posta no repertório a pedido de Kiko. Escrevi sobre o show, que deverá repetir-se em algum momento em breve, em mais uma colaboração que faço para o Toca do UOL.  

A primeira música inédita do Pavement em 25 anos!

Pavements, o metadocumentário meio fake meio real inventado por Alex Ross Perry para celebrar a história e o legado da banda liderada por Stephen Malkmus, tem operado pequenos milagres. Além de despertar um novo interesse pela banda a partir de sua segunda turnê de retorno, o filme aos poucos está transformando o Pavement na principal banda indie dos anos 90, basicamente porque o peso da tragédia que abateu-se sobre o rock alternativo da época com a notícia do suicídio de Kurt Cobain, fez todos os potenciais concorrentes ao posto saírem correndo na direção contrária: o Sonic Youth radicalizou para um lado ainda mais experimental, os Smashing Pumpkins correu em direção ao rock progressivo, ao industrial e depois até para o metal; o Teenage Fanclub lançou um disco meio soturno para depois abraçar o power pop, o Blur e o Oasis se engalfinharam numa briga besta e os Foo Fighers miraram no mainstream, de onde não saíram desde que lá chegaram, anos depois.

O Pavement percorreu uma trajetória ainda mais bissexta ao negar o rótulo de principal banda da década radicalizando ainda mais no indiesmo – seu terceiro disco, Wowee Zowee (meu favorito), é um Álbum Branco de frustração de expectativas ao mesmo tempo em que explora territórios novos para o grupo, da balada country ao hardcore, e essa guinada ajudou a colocar lenha na fogueira do documentário idealizado por Perry, que é irônico e não é irônico ao mesmo tempo e faz com que o grupo, mais de um quarto de século após seu fim, se prontifique ao posto que ninguém queria. E ao contar a história do grupo misturando com um documentário de mentira sobre a banda, um musical (!!!) no teatro e uma exposição sobre o grupo, o filme conseguiu outro grande feito, ao trazer à tona uma música que o grupo gravou nos ensaios de sua turnê mais recente, quando gravaram, de forma descompromissada, “Witchi Tai To”, canção perdida que o norte-americano de origem indígena Jim Pepper gravou em 1971 a partir de uma música que aprendeu com seu avô, um hino da Igreja Nativa Americana, que celebra o peyote como caminho para o autoconhecimento. A versão do Pavement, lançada pela primeira vez na trilha sonora do documentário que saiu nessa sexta-feira, é a primeira música que o grupo lança desde o EP Major Leagues, de 1999. O sangue do cinema tem poder!

Ouça abaixo:  

Violões univitelinos

“E aí, doutor Kiko?”, perguntou Jards Macalé a Kiko Dinucci, que respondeu com outra pergunta (“E agora?”) prontamente respondida por Macau: “Agora foda-se”. Sabíamos que seria memorável, mas acho que nem Kiko nem Jards tinham ideia da química que baixou sobre os dois na primeira das duas apresentações que marcaram para esta semana no Sesc Pompeia. Mesmo com diferenças de geração, personalidade, origem e criação, os dois são gêmeos univitelinos no violão e dividem o mesmo humor – autodepreciativo e de um pugilismo quase fraterno – e apreço pelo baixo calão da vida, o que tornou a apresentação um acontecimento histórico. Passeando por diferentes fases do repertório de Jards, clássicos do samba e algumas canções de Kiko, os dois mostraram a força e a delicadeza de seus violões. Jards é da geração impactada diretamente por João Gilberto e seu instrumento fica entre o ritmo sincopado do mestre baiano e o suingue carioca de seu contemporâneo Jorge Ben, enquanto Kiko, guitarrista de nascença, convertido ao outro instrumento pelo samba, é diretamente influenciado pelo violão de Jards, além de trazer suas influências elétricas – do punk ao noise – para seu pinho. Mas o ponto em comum dos dois é a história do samba, visitada através de clássicos (como “Se Você Jurar” de Ismael Silva embutida em “Let’s Play That”, “Luz Negra” de Nelson Cavaquinho, “Ronda” de Paulo Vanzolini e “Favela”), e a devoção de Kiko por Jards, mencionada pelo próprio, que o perseguia por shows vazios em São Paulo quando ainda era adolescente (dele e de Itamar Assumpção, que não conheceu, como frisou). Isso deixou-o à vontade para passear com Jards em seus sambas imortais como “Pano pra Manga”, “Farinha do Desprezo”, “Boneca Semiótica”, “Depressão Periférica” e “Soluços” (esta no bis), além de duas que Jards tocou maravilhosamente sozinho: “Anjo Exterminado” e “Mal Secreto”. Kiko por sua vez fez duas de seu Rastilho sem Jards (“Febre do Rato” e “Gaba”) e lembrou que há cinco anos ele lançava seu clássico disco naquele mesmo teatro do Pompeia. Os dois ainda tocaram músicas que compuseram juntos, como “Vampiro de Copacabana” e “Coração Bifurcado”, mas tiveram um de seus melhores momentos quando emendaram “Antonico” – eternizada por Gal em seu disco ao vivo Fatal, que Jards visitou diversas vezes em diferentes momentos de sua carreira (tanto só quanto com o próprio Ismael, com Marçal e com Dalva Torres) e que Kiko vem tocando no momento acústico do show mais recente de Juçara Marçal – com uma que Jards nunca havia tocado ao vivo, “No Meio do Mato”, de seu disco Contrastes, de 1977. Um show que parece, ao mesmo tempo, um reencontro de velhos irmãos e o início de uma longa amizade musical. Sorte a nossa.

#jardsmacale #kikodinucci #sescpompeia #trabalhosujo2025shows 094