Loki

E no domingo ainda deu pra pegar a parte final do show da Luedji Luna no Sesc Pompeia, também dentro da programação do Sesc Jazz ,que estava acontecendo na antiga Choperia da unidade. Não pude ver o encontro dela com a maravilhosa Alaíde Costa, que subiu para dividir algumas canções com ela no palco, mas deu gosto ver Luedji liderando uma banda da pesada, com naipe de metais e vocais de apoio dentro da programação de um dos melhores festivais de jazz do Brasil (ainda mais à luz dos discos que ela lançou esse ano, dando passos para além do neo-soul em que habitava). E ainda citando D’Angelo no finzinho… Foi demais.

#luedjiluna #sescjazz #sescpompeia #trabalhosujo2025shows 227

Tempo Rei Roberto

Sábado tive o prazer de assistir a mais uma apresentação da turnê Tempo Rei de Gilberto Gil e, mesmo com o clima frio e uma chuvinha chata insistindo em cair (que felizmente só transformou-se em tempestade já de madrugada), o orixá ancestral da nossa música não deixou o pique cair em momento algum. Ele está mais disposto e mais desenvolto do que nos shows que vi no primeiro semestre e, embora mantendo exatamente o mesmo setlist, o roteiro do show e os arranjos das músicas, ele conseguia evoluí-las dentro de seu gingado, do toque de seu violão e de seu canto, a pura serenidade encarnada num velho baiano festeiro contagiou o público que lotou pela segunda noite no fim de semana o estádio do Palmeiras. E se na noite anterior, ele já havia surpreendido ao trazer Seu Jorge para São Paulo, ninguém podia imaginar que ele chamaria o próprio Roberto Carlos para sua festa de despedida dos grandes shows e o público boquiaberto pode acompanhar a inusitada dupla de astros dividindo “A Paz” pela segunda vez no repertório da turnê (a primeira veio quando chamou Marisa Monte pro show do Rio no início da excursão) e o acompanhou em sua “Além do Horizonte”, que Roberto, cheio dos toques, preferiu cantar sem usar termos negativos, invertendo o polo da letra quase como uma mania pessoal (mas sem deixar que isso estragasse o sábado histórico). Tempo Rei mesmo! Um encontro majestático que deixa interrogações sobre a presença de medalhões da nossa música que ainda não estiveram neste palco, como Maria Bethania, Miton Nascimento e, esse é óbvio e tem que acontecer, Jorge Ben. Ou falta mais alguém?

#gilbertogil #robertocarlos #gilbertogiltemporeai #trabalhosujo2025shows 225

Felizmente o baú de Neil Young não tem fundo e ele acaba de anunciar a edição que comemora o 50º aniversário de um de seus discos mais importantes, Tonight’s the Night. A edição, limitada (cuja pré-venda só acontecerá pelo site do bardo canadense), sairá no dia 28 de novembro e traz seis faixas inéditas registradas durante as gravações do disco de 1975, entre elas uma versão de “Raised on Robbery” com a participação de Joni Mitchell. Mas para anunciar a nova versão (que traz uma nova capa multicolorida, usando a foto preto e branco do disco original), ele pinça a primeira versão de “Lookout Joe”, de 1973, que na nova edição substituirá a versão que conhecemos. Ouça-a na íntegra abaixo: Continue

A cantora espanhola responsável pelo torpedo musical Motomami aos poucos prepara sua volta ao disco, espalhando pistas pela internet e pela vida real. Desligou sua conta no Twitter, mas antes disso twittou “Lux = Love”. Depois trocou sua foto de perfil no Instagram para uma imagem que mostra um feixe de luz e abriu um formulário em seu site rosalia.com, que também traz um novo logo – além de ter aparecido um vídeo, sem som, que mostra a espanhola no estúdio. Ao mesmo tempo, foram avistados em duas cidades diferentes (Nova York nos EUA e Callao no Peru, por enquanto), cartazes que muitos especulam ser a capa do disco, que ainda traz uma partitura musical que ela publicou em sua mailing list via Substack (e que seus fãs já estão tocando-a em vídeos online). Aparentemente o disco chama-se Lux e será lançado em novembro.

Veja abaixo: Continue

Kevin Parker lançou o quinto disco de seu Tame Impala nessa sexta-feira e… Deadbeat ainda não desceu. Tem boas ideias de músicas, bem como é boa a ideia de revisitar o final dos anos 80 e o início dos anos 90 em busca de referências de música eletrônica e pista de dança para embalar suas canções psicodélicas, mas bastam algumas audições para o disco soar apenas monótono. E parece que o próprio Kevin sabe disso, tanto que lançou o novo álbum no mesmo dia em que o Tiny Desk o trouxe para mostrar as novas músicas no já tradicional cenário do programa da rádio norte-americana NPR. Ao abandonar a linguagem eletrônica e abraçar inúmeros instrumentos de corda – todos parentes do violão – para mostrar acusticamente um disco sintético ele parece ao mesmo tempo indeciso (e desconfortável com as novas músicas) ao mesmo tempo em que parece querer mudar o jogo nas versões ao vivo dessas músicas. Uma pena, mas parece que o disco nasceu pra ser esquecido…

Assista abaixo: Continue

Criado antes da pandemia a partir da aproximação de dois monstros sagrados da música – o produtor norte-americano pai do techno de Detroit Jeff Mills e o baterista nigeriano que inventou o afrobeat Tony Allen – o projeto Tomorrow Comes the Harvest veio ao Brasil pela primeira vez esta semana, quando recebeu o público em duas noites lotadas na Casa Natura Musical. Criado a partir do trato entre os dois mestres de não combinar nada antes de subir no palco, improvisando tudo na hora, o duo cresceu com a incorporação do tecladista francês Jean-Phi Dary, mas quase virou história quando Allen faleceu em 2020. Felizmente, os dois remanescentes do grupo não desistiram da ideia e chamaram o percussionista indiano Prabhu Edouard para juntar-se ao grupo e cada nova apresentação abre universos distintos de música para além de composições pré-definidas. A regra aqui é uma só: crescendos intermináveis que hipnotizam o público em ciclos repetitivos que abrem espaço para improvisos musicais dos três protagonistas: Mills pilotando uma mesa de som e uma bateria eletrônica ao mesmo tempo em que toca pratos, atabaque e um pandeiro, Edouard esmerilhando nas tablas ao mesmo tempo em que joga efeitos eletrônicos sobre elas e Dary dividido entre um piano de cauda, teclados elétricos e sintetizadores de todos os tamanhos, criando longos transes sinuosos, em que jazz mistura-se com música indiana, muita percussão e beats de música eletrônica, tudo temperado enquanto vai sendo cozido, num deleite sonoro que poderia estender-se por horas. Inacreditável.

#tomorrowcomestheharvest #jeffmills #jeanphidary #prabhuedouard #casanaturamusical #trabalhosujo2025shows 223

O segundo Tiny Desk Brasil, exibido nessa terça-feira, foi também o primeiro a ser gravado, no dia 2 de setembro deste ano – e foi a edição cuja gravação pude presenciar ao vivo. Depois de João Gomes, a não assumida mesinha foi para outro extremo do espectro da nossa música e reuniu o querido trio Metá Metá ao idiossincrático Negro Leo, numa curta apresentação em que além de tocar “Rainha das Cabeças”, “Bará Bará” e “Obatalá”, ainda fizeram “Sem Cais” (que Leo compôs para o soberbo Delta Estácio Blues, segundo disco de Juçara Marçal, produzido por Kiko Dinucci, trazendo finalmente Thiago França para o universo DEB) e “Eu Lacrei” do próprio Leo num show, como de praxe, foda.

Confira abaixo: Continue

Kiko Dinucci encheu o Centro da Terra mais uma vez, agora como integrante da temporada que o selo Desmonta está fazendo no teatro, sempre trazendo velhos e novos compadres em apresentações feitas para o aniversário de 18 da iniciativa de Luciano Valério. O bardo de Guarulhos veio só com o violão e, ao contrário de seu plano original, em que testaria novas sonoridades com seu próprio repertório, preferiu focar no período em que lançava discos pelo selo anfitrião, reunindo no decorrer da noite músicas do disco que lançou com seu Bando Afromacarrônico, no Duo Moviola que tinha com Douglas Germano (#voltaduomoviola), no seu disco de compositor Na Boca dos Outros (em que convidava vocalistas para cantar suas músicas) e nos dois primeiros do Metá Metá. Entre as canções, soltou seu lado cronista lembrando dessa fase de sua biografia, indo das noites de quarta-feira no Ó do Borogodó aos tempos do Cecap em Guarulhos, enumerando causos que misturava personagens típicos e situações do início de sua carreira profissional, quase sempre confirmando algumas dessas histórias com o próprio Luciano, que conhece desde os tempos do prézinho, como chamávamos a aula de alfabetização (hoje o primeiro ano) nos tempos em que a TV só tinha seis canais e saía do ar de madrugada. No percurso, passeou por “Deja Vu”, “Fio de Prumo”, “Engasga Gato” e “Santa Bamba” (duas em que reclamou dos trava-línguas que compunha quando era mais novo), “Partida em Arujá (Manezinho)”, “Depressão Periférica”, “Anjo Protetor”, “Oranian”, “Cio”, “Samuel”, “Mal de Percussión” e “São Jorge”, sempre alternando o tanger das cordas de seu violão sambista entre o batuque da fundo de quintal e o pogo de shows de hardcore, usando quase sempre o corpo do instrumento como percussão. No bis voltou com duas pérolas pessoais, a ode ao samba paulistano “Roda de Sampa” e a clássica contemporânea “Vias de Fato” que, tocada depois que Kiko ironizou não ter hits, foi acompanhada por todos num coro silencioso, solene e apaixonado. Tudo isso sob a luz atenta de Giorgia Tolani, por vezes intensa e difusa, outras hiperrealista, como os causos musicados de Kiko. Foi lindo.

#desmontanocentrodaterra #desmonta18 #desmonta #kikodinucci #centrodaterra #centrodaterra2025 #trabalhosujo2025shows 221

O grupo mineiro Varanda acaba de comemorar o primeiro aniversário de seu disco de estreia, Beirada, e encerra 2025, que viu o grupo, entre outras coisas, ser escalado para tocar na próxima edição do Lollapalooza, com o lançamento de um EP que encerra sua primeira fase. Rebarba é o nome do disco de cinco músicas que chega às plataformas de streaming nessa terça, reunindo composições que o grupo preparou durante a gravação de Beirada mas que só veem a luz do dia agora — e eles antecipam em primeira mão aqui para o Trabalho Sujo um clipe em 360º que fizeram para uma das músicas, “Ela Já Me Ama”, gravado no bunker da banda, o Estúdio LadoBê, em Juiz de Fora, que traz a vocalista Amélia do Carmo tocando violão e o guitarrista Mario Lorenzi se arriscando no synth. “O disco abriu muitas portas pra gente, tem trazido muitas boas oportunidades da gente espalhar o nosso som, tocando em novos lugares e até pra públicos novos nos lugares que a gente já tocou, porque muitos novos ouvintes chegaram esse ano”, explica o baixista Augusto Vargas. “Estamos na ansiedade pro ano que vem, pra além do Lolla, esperamos chegar em novos lugares e lançar outro disco”, continua Augusto, que diz que a banda ainda não está com planos de novo disco por enquanto. “Mas já existem várias músicas pra serem trabalhadas e estamos querendo começar isso logo”, conclui.

Veja a capa do EP e assista ao clipe abaixo: Continue

Rock e letras

Retomei minhas colaborações com o jornal Valor Econômico batendo um papo com o compadre Rodrigo Carneiro, a voz e a presença dos Mickey Junkies, que está lançando seu terceiro livro, Jardim Quitaúna – Crônicas de paixão, política e cultura pop, pela Terreno Estranho. Continue