Uma das bandas mais importantes da cena independente dos anos 80 nos Estados Unidos também era uma de suas bandas mais perigosas. O grupo foi alvo de um dos melhores documentários sobre bandas de rock já feitos, o inacreditável The Hole Truth And Nothing Butt, lançado este ano, em que as histórias escabrosas do grupo são contadas por eles mesmos com sordidez e dor ao mesmo tempo em que o diretor Tom Stern faz o próprio grupo olhar para o abismo que os transformou naquele caos agressivo em movimento em um filme doloroso e apaixonado. Os remanescentes do grupo – o vocalista Gibby Haynes, o guitarrista Paul Leary, o baixista Jeff Pinkus e o baterista King Coffey – não se reencontravam desde o último show em 2016, quando desistiram de apresentar-se ao vivo por cansaço, cogitando a possibilidade de fazer um último disco no ano seguinte, sem sucesso. A banda se dissolveu sem anunciar um fim e voltou a se rever justamente por conta do documentário de Stern, que entrevistou todos eles e contou com a participação de todos na divulgação do filme. O que culminou com a estreia comercial do documentário – que até então só estava sendo exibido no circuito de festivais, inclusive no brasileiro In Edit deste ano -, que aconteceu nesta terça-feira quando, após a exibição no Egyptian Theatre, em Hollywood, na Califórnia, o grupo voltaria a se encontrar para um bate-papo com o diretor, mas que acabou culminando na primeira apresentação ao vivo do grupo em oito anos, quando tocaram “Cherub”, “The Colored FBI Guy” e “The Shah Sleeps in Lee Harvey’s Grave” para deleite e incredulidade dos presentes – ainda mais que o grupo esteve recusando ofertas de centenas de milhares de dólares para voltar aos palcos. Tomara que eles voltem de vez, mesmo sabendo que, como sempre, será outra dose de mais pesadelos na estrada.
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Desde o ano passado Chappell Roan vem incluindo a clássica “Barracuda”, do grupo Heart, em seus setlists, mas neste domingo, quando tocou no Forrest Hills Stadium em Nova York, ela teve uma participação especial digna dos shows da Dua Lipa, quando convidou a guitarrista do grupo original, Nancy Wilson, para tocar um dos riffs mais memoráveis de sua carreira. Ficou foda.
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Eis o trailer de Ozzy Osbourne: No Escape From Now, o documentário que relata os últimos seis anos do vocalista fundador do Black Sabbath. Dirigido por Tania Alexander, o documentário começou como o registro de turnê de despedida antes da pandemia, que teve de ser interrompida em 2019 após Ozzy ter sofrido uma queda. O acidente trouxe uma série de questões de saúde à tona, tornando-o infeliz e insatisfeito com a vida até que sua esposa Sharon Osbourne propôs que ele fizesse um concerto para despedir-se dos fãs, seu principal arrependimento, além de ter largado os palcos. O filme então conta como Ozzy superou a barra de sua péssima saúde com a ajuda da família e retomou a vontade de viver a partir da realização do espetáculo Back to the Beginning, último adeus do vocalista e de sua banda com a formação original, que aconteceu em sua cidade–natal em julho deste ano, além de mostrar seus encontros com grandes nomes do metal que apresentaram-se no evento para celebrar sua importância até sua morte – previsível mas inesperada – no dia 22 de julho deste ano. O documentário deverá estrear no dia 7 de outubro no canal de streaming Paramount+, mas bem que podia ir para os cinemas para ampliar a catarse – e o luto – coletivo.
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Se tecnicamente ainda não saímos do período pandêmico, que dizer mentalmente? A arte mais uma vez mostra que não estamos 100% resolvidos em relação a esse período nefasto que atravessamos e cada vez mais obras vêm rever essa fase com uma certa distância no olhar. Uma delas é o EP que Thiago França lança nesta quinta-feira ao lado de Marcelo Cabral. Samples & Naipes, como seu título entrega, é composto de partes de músicas que Thiago gravou durante a quarentena interminável e decidiu compartilhar com o compadre baixista, que usou seu viés produtor para picotar as músicas e recriá-las incluindo até gravações do saxofonista em outros contextos. “Durante a pandemia, quando eu me dei conta de que a coisa ia longe eu me dediquei a ficar gravando coisas em casa, como exercício, pra não ficar parado sem criar nada”, França começa a lembrar, “e uma das empreitadas foi esse EP, que eu comecei regravando músicas minhas, já que tava sem idéia pra compor, entreguei pro Cabral e dei carta branca pra ele, já mirando nas coisas que ele fez no Naunym, disco eletrônico dele.” “Quando ele me convidou comemorei porque podia voltar a criar, que é a coisa que a gente mais sentia falta e comecei a picotar sax, respiração, o som dos dedos batucando nas chaves, com o ouvido atento à cada coisa, não só ao tema, mas quebrando a cabeça pra onde poderia ir, sem precisar respeitar nada, métrica, sampleei coisas dos outros discos dele, tem um monte de Thiago aí”, continua Cabral, falando que jogou muitas coisas da máquina de sampler, inclusive coisas do Marginals, grupo de free jazz que ele tinha com o Thiago. “Eu e o Cabral tocamos junto há muito tempo, então mesmo remotamente tem muito entrosamento e muita confiança um no outro também, e por mais que eu desejasse essa estética mais eletrônica, super produzida, não queria perder orgânico, o ‘tocado’, e eu sabia que ele ia entender isso sem precisar explicar.” Entre as faixas do EP estão a faixa título do disco RAN da Space Charanga, “Nostalgia Perus” do disco que Thiago fez em homenagem ao clássico livro Malagueta, Perus e Bacanaço de João Antonio, “Pedra do Rei” que ele gravou com sua Espetacular Charanga do França e a clássica “Angolana”, do Metá Metá, que ele antecipou em primeira mão para o Trabalho Sujo. Ouça abaixo: Continue
Munido apenas de sua guitarra e alguns synths, Fabio Golfetti nos conduziu às suas viagens sonoras – que expandem e retraem – nesta terça-feira no Centro da Terra, quando apresentou seu espetáculo solo Música Planante pela primeira vez – e sozinho no palco, diferente do que tem pensado para seguir em frente, quando tocará as mesmas músicas que mostrou com a banda que gravou seu único disco solo, lançado em 2022, chamado Songs and Visions. Além das canções deste disco, também passeou por composições solo que remontam aos anos 90 (quando ainda apresentava-se como Invisible Opera, mesmo tocando sozinho), sua onipresente versão para “Tomorrow Never Knows” dos Beatles e músicas dos grupos em que hoje toca, como o Gong e seu Violeta de Outono, de quem tocou “Declínio de Maio” somente com voz e guitarra, para emendar com a clássica instrumental “Telstar”, surf music britânica que o pioneiro eletrônico Joe Meek compôs para festejar o lançamento do primeiro satélite britânico ao espaço (que batizou a canção), no início dos anos 60. Uma viagem…
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Um prazer receber nesta terça-feira no palco do Centro da Terra, um dos principais nomes do rock progressivo brasileiro, o guitarrista Fabio Golfetti. Mais conhecido por seu trabalho no grupo psicodélico paulistano Violeta de Outono ou como atual guitarrista do grupo inglês Gong, ele há anos cria e toca obras sozinho com seu instrumento, indo para além do formato canção, explorando texturas atmosféricas num espetáculo intimista que apresenta pela primeira vez com o título de Música Planante. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.
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Interrompemos tudo praquela notícia que todo mundo queria saber: Massive Attack em São Paulo dia 13 de novembro, no Espaço Unimed! E com os irmãos Cavalera no palco – e a notícia só melhora, segundo a Pitchfork os Cavalera tocarão seu clássico Chaos A.D. na íntegra nesse mesmo dia – só não sabemos se será o show de abertura ou se tocarão DURANTE o show do Massive Attack… Mas não custa perguntar: o disco escolhido não deveria ser o Roots? Afinal o show conta com as ONGs Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e vem ao Brasil em novembro pra coincidir com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, e o disco de 1996 parte do ponto de vista indígena… Ingressos à venda a partir desta terça-feira!
Domingo foi dia de celebrar o aniversário do Massari em mais um Massarifest que ele organiza perto de sua data festiva, sempre trazendo representantes daqueles que ele chama de “os bons sons” para uma comunhão de velhos fãs de rock pouco ortodoxo. O festival que fiz no dia anterior infelizmente me impediu de ver a conjunção Oruã com o Retrato que abriu a noite, mas pude ver os senhores Bufo Borealis – em formação completa, com dois tecladistas – mostrar seu jazz funk no palco do Fabrique (“o mais alto que já tocamos!”, constatou o baixista Juninho Sangiorgio) e também saudar a passagem de Hermeto e sua música universal, como bem lembrou o baterista Rodrigo Saldanha ao final do show. A imagem do mestre alagoano surgiu no telão do festival e por lá permaneceu em todo o show do Violeta de Outono, que visitou hinos dos anos 80 e 90 de sua psicodelia paulistana com sua formação clássica: Fabio Golfetti na guitarra e voz, Angelo Pastorello no baixo e Claudio Souza na bateria. E a noite encerrou com um atropelo sônico equivalente ao grupo que fechou a primeira edição do festival no ano passado, quando o reverendo trouxe o grupo noise japonês Acid Mothers Temple. O trio norte-americano A Place to Bury Strangers passou por cima do público algumas vezes: primeiro engolir a audiência com uma massa sonora indescritível, que fez o vocalista e guitarrista Oliver Ackermann quebrar seu instrumento na segunda música, depois quando a atirou para os braços do público e mais tarde quando a pendurou no teto da casa de shows. Mais tarde desceram do palco para tocar no meio do público, levando inclusive partes da bateria. De volta ao palco, o baixista John Fedowitz retomou o ruído elétrico tocando baixo e guitarra ao mesmo tempo, até que Ackermann voltasse do público, pegasse seu instrumento, e a elétrica Sandra Fedowitz, que parece uma pré-adolescente com um sorriso ligado em 220 volts, retomar sua bateria e mais uma vez abordar bruscamente o público com um soco sonoro. Ave Massari!
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A notícia da morte de Hermeto Pascoal veio no meio da realização do Chama Festival que fizemos neste fim de semana e não teve como dissociar a tristeza pela notícia da alegria de estar imerso em sons, realizando um evento em que todos estavam ali mais pela música propriamente dita. Vivíamos o universo que Hermeto cantava. A vida é boa demais. Obrigado, mestre! Escrevi sobre sua importância lá pro Toca UOL: Continue
Encontrar Hermeto Pascoal era sempre uma alegria. Seu entusiasmo contagiava desde a primeira vista ou primeira nota, sempre efusivo e alto astral, sem tempo ruim. Essa era sua mensagem e a música era seu idioma. Pude vê-lo dezenas de vezes ao vivo, entrevistá-lo outras tantas e por outros apenas conversar e agradecê-lo por proporcionar essa magia que fazia questão de realizar coletivamente, inclusive conseguindo realizar uma apresentação do mestre no Centro Cultural São Paulo, quando fui curador de música de lá. Queria aproveitar pra registrar um abraço ao compadre Flávio Scubi, empresário do mestre alagoano, responsável por manter a carreira do Hermetão à toda, não apenas nos shows como fonograficamente. Reuni alguns momentos que pude vê-lo (alguns shows na íntegra) aí embaixo… Obrigado, mestre!
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