Resgatei uma entrevista que fiz pra Ilustrada com o pai do afrobeat Tony Allen, que saiu deste plano na última quinta, na primeira vez que ele veio ao Brasil, em 2004. A foto que ilustra o post saiu do Radiola Urbana do Ramiro, que fez uma playlist no Spotify em celebração ao mestre.
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Pulso de Tony Allen une Brasil e África
Baterista nigeriano que tocou nas bandas de Fela Kuti apresenta-se pela primeira vez no país, ao lado de Sandra de Sá
Como o multiinstrumentista nigeriano Fela Kuti (1938-97) exigiu o holofote da história para seus discursos de ritmo incendiário, o baterista Tony Allen foi deixado em segundo plano como uma espécie de Sancho Pança do jazz-funk africano. Mas basta ouvir qualquer álbum de Kuti para entender que Allen era a força motriz e a arma secreta das bandas do artista – Koola Lobitos e Africa 70.
Allen era companheiro de longa data e tocava com Kuti desde os tempos em que sua banda chamava Koola Lobitos. Formado nos anos 60 apenas por estudantes nigerianos que faziam faculdade em Londres, o grupo logo passaria por uma drástica transformação em sua primeira turnê aos EUA.
Lá, Fela Kuti foi apresentado à nata de uma cultura negra em plena ebulição, que incluía free jazz, movimentos políticos e rock alto. Absorveu com a mesma intensidade as palavras de Jimi Hendrix, Malcolm X, Ornette Coleman, Sly Stone e Eldrigde Cleaver e mudou a banda: a partir daquela viagem de 1969, os Koola Lobitos se tornavam Fela Kuti & Africa 70 e nascia um novo gênero musical, o afro-beat.
Idealizado por Kuti, o gênero não sairia do lugar não fosse o pulso preciso de Allen, que se apresenta hoje e amanhã dentro da programação do Fórum Mundial de Cultura. Kuti morreu em 1997, mas o trabalho de Allen continua a pleno vapor. Ele, que já havia colaborado com grandes nomes do pop africano (como Manu Dibango e Ray Lema), passou as duas últimas décadas experimentando gêneros desconhecidos e possibilidades em estúdio. Lançou seu último disco, “Home Cooking!”, em 2003, e tem colaborado com Damon Albarn, vocalista do grupo inglês Blur, e com o novíssimo MC e produtor inglês Ty. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Tony Allen deu à Folha.
Que semelhanças você vê entre a música brasileira e a do continente africano?
Tony Allen – O Brasil tem muitas semelhanças com a África, por serem continentes de ritmos que surgiram do sofrimento. Tivemos a escravidão no passado, que nos tornou irmãos de sangue. E são culturas de países que não tiveram oportunidade de desenvolvimento, por isso são culturas nascidas na pobreza, mas que não são pobres. Há um lado na pobreza que não é tão negativo, que faz com que os pobres vivam mais do que os ricos, tenham mais experiência e intimidade com a vida do que aqueles que se dizem ricos. E, para falar dessa vida, eles colocam a boca no mundo.
Você tem algum artista brasileiro favorito?
Gosto especificamente de Gilberto Gil, que é uma pessoa em que eu sempre presto atenção. Ele é tão político quanto artista, tem uma desenvoltura muito boa para falar e idéias que realmente importam. E tem estilo. Seu violão é uma assinatura inconfundível.
Ele é o atual ministro da cultura do Brasil…
Sim, eu sei, e parece uma escolha óbvia para o cargo -não por ser um artista representativo do Brasil, que também ele é, mas por ter uma visão ampla de toda a situação. Acredito que o fato de eu estar finalmente indo para o Brasil está diretamente ligado ao seu cargo no governo. Não que ele tenha me convidado ou intercedido ao meu favor, mas estamos na mesma sintonia.
Você o conhece?
Não, mas adoraria. Quem sabe, nessa viagem… Também não conheço Sandra de Sá, com quem irei tocar aí, mas acho que terei uma ótima oportunidade para conhecer seu trabalho.
Desde os anos 80, você está atento a outros gêneros musicais e novas técnicas de gravação…
Houve uma época em que eu percebi que o afro-beat poderia se estagnar, parar no tempo. E a música tem que se mover. E, se havia a possibilidade de um ritmo rico e forte como o afro-beat parar no tempo, eu mesmo teria que colocá-lo andando de novo. Por isso comecei a me aproximar de artistas de hip hop, produtores de dub e de dance music.
TONY ALLEN E SANDRA DE SÁ.
Quando: hoje (sábado, 26 de junho de 2004), às 20h30, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, SP, tel. 0/xx/11/3871-7700), e amanhã, às 15h, no Sesc Itaquera (av. Fernando do Espírito Santos Alves Matos, 1.000, Itaquera, SP, tel. 0/xx/11/6521-7272). Ingressos: R$ 15.
Volto a colaborar com a Ilustrada da Folha de S. Paulo depois de cinco anos e publico uma entrevista que fiz em 2018 com o guitarrista do Gang of Four, Andy Gill, morto no início do mês, quando ele falou sobre a abordagem política das letras de sua banda, sobre a nova onda de extrema direita que assola o mundo (“os conservadores estavam preocupados com a ascensão do nacionalismo que poderia tomar seus votos, então resolveram que era melhor abraçar alguma destas filosofias. Não se faz esse tipo de escolha…”), sobre o estado do jornalismo atual e sobre a possibilidade de não conseguir visto para tocar nos EUA devido às letras de seu grupo – dá pra ler a entrevista toda aqui.
Foi o que apurou a Folha de S. Paulo, na matéria de capa da Ilustrada de hoje, sobre como a crise econômica está afetando a programação do Sesc.
Diante dos números negativos, o Sesc SP decidiu “rever” sua programação, sobretudo atrações estrangeiras, atingidas pela disparada do dólar. Negociações que estavam avançadas, como a da vinda da banda americana de rock Wilco, estão em compasso de espera, segundo a Folha apurou. Oficinas culturais foram canceladas.
Perceba: não quer dizer que eles não vêm mais – e sim que estão em compasso de espera.
Atualiza lá Is Wilco Comingo to Brazil?, vai que…
Estive essa semana com o jovem Leandro lá no Museu Afro Brasil e conversamos sobre o disco que ele lança essa semana, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa em matéria para a Ilustrada:
Emicida combate o racismo com novo álbum ‘pra cima‘
Antes de definir a data de lançamento de seu “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, que chega na sexta (7) a todas as plataformas de streaming digital e às lojas de disco no final do mês, o rapper Emicida fez uma escalada de monólogos contundentes em shows no Circo Voador, no Rio, e na Virada Cultural, em São Paulo.
Já apontava para um disco tão tenso, agressivo e radical quanto estes dias de 2015.
O clipe da inédita “Boa Esperança” reforçava esse rumo ao apresentar um cenário de guerra civil começando de dentro das casas, quando empregados de uma mansão pegam seus patrões como reféns depois de serem humilhados durante o trabalho.
O nome da música foi tirado de um dos irônicos nomes dos navios negreiros que traziam africanos para a América. Para dirigir o clipe, o rapper chamou João Wainer (do filme “Junho” e repórter especial da Folha) e Kátia Lund (de “Cidade de Deus”). Tudo indicava que o novo álbum viesse com sangue nos olhos.
O disco foi gravado e composto em sua primeira visita à África, quando passou por Angola e Cabo Verde, em março. “O ‘Boa Esperança’ é a expectativa mais óbvia sobre mim”, diz Emicida em entrevista no Museu Afro Brasil, em SP.
“Mas por que eu não posso cantar ‘Passarinhos’?”, pergunta sobre a bucólica canção composta no ukulele e dividida com Vanessa da Mata. “Em que momento minha poesia está distante de uma coisa positiva?”
“Sobre Quadris”¦” está longe de ser um disco pesado. Há mais momentos leves e contemplativos, como “Mufete”, “Baiana” (gravada com Caetano Veloso), a vinheta “Sodade”, a balada “Madagascar” e a já citada “Passarinhos”, e outros essencialmente positivos, como “Salve Black (Estilo Livre)”, “8”, “Mandume” e “Chapa” e até familiares, como “Mãe”.
Pra cima
Embora quase todas as músicas falem de racismo, preconceito e diferenças, Emicida não quis deixar o clima pesar de propósito. “Sabe por que é um disco pra cima? Porque quando os pretos estão reclamando, na miséria, dormindo na calçada, todo mundo acha que tá tudo no lugar certo. Mas quando eu tô à pampa, tô legal”¦”, pausa para enfatizar a quebra de expectativa.
“James Brown foi foda quando cantou ‘I Feel Good’. O mundo tá pegando fogo, os pretos tão morrendo, e ele levantou no meio daquela porra e falou: ‘Tô legal, pode continuar. Vocês não vão me derrubar’. Soa como arrogância, mas não é nariz empinado, é cabeça pra cima. O disco fala dessa pluralidade de mil coisas que os pretos são, que podem ser, mas são limitados a ser sempre a mesma coisa.”
E continua explicando por que resolveu abordar a questão: “Acho muito bacana essa ânsia do Brasil que agora quer desmascarar tudo e combater o que tá errado. Ok, então pra mim o problema mais sério do Brasil é o racismo, que ninguém fala. Tá aqui a minha contribuição, vamos desmascarar isso também”.
Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa
Artista: Emicida
Gravadora: Laboratório Fantasma
Quanto: R$ 19,90
O pessoal da Ilustrada pediu para que eu falasse um pouco mais sobre a morte de um dos maiores nomes da música do século passado, Ornette Coleman. Postei o vídeo aqui.
Em show em SP, Ornette Coleman tocou no escuro; era sobre-humano
Ornette Coleman era daqueles sobre-humanos como Picasso, James Brown, Crumb, Eduardo Coutinho, Lou Reed e Orson Welles, uma força revolucionária encarnada em uma pessoa que redefiniria forma e conteúdo de toda uma linguagem artística.
Sua musicalidade demolidora expandiu ainda mais os limites do jazz, que já haviam sido extrapolados por Miles Davis e John Coltrane –ele queria ir mais longe que os outros dois.
Em sua última apresentação no Brasil, quando tocou em 2010 no Sesc Pinheiros, ele pôde mostrar um pouco dessa força.
A luz elétrica acabou no meio de uma do disco “Dancing in Your Head” (justo qual!) e depois de alguns segundos em silêncio, ele e sua banda prosseguiram no escuro, criando um momento único para os presentes.
No fim do show, mesmo aos 80 anos, ele foi encontrar o público à beira do palco, dando autógrafos e cumprimentando todos até que o último saísse. Mais que um mestre, um guru.
Conversei com a Tulipa sobre seu terceiro disco, Dancê (que pode ser ouvido inteiro aqui), para uma matéria na Ilustrada de hoje.
Novo álbum de Tulipa Ruiz vai da disco dos 70 ao pop dos 80
João Donato e Lanny Gordin estão em Dancê, trabalho que a cantora lança hoje
Um disco dançante, com capa feita pelo lendário quadrinista americano Robert Crumb. Esses eram os horizontes que Tulipa Ruiz colocou para seu terceiro disco, “Dancê”, quando recebeu o sinal verde para começá-lo, no fim de 2014.
Enfiou-se no carro de Gustavo Ruiz, seu irmão, guitarrista, produtor e principal parceiro. Juntos, os dois desceram para a praia de Camburi, no litoral paulista. Foi o começo de um retiro musical que da praia foi para a cidade mineira de São Lourenço.
Passaram 15 dias enfurnados em pré-gravações no estúdio caseiro de Gustavo. Depois se encontraram com a banda num sítio perto de Campinas. Gravaram o disco no estúdio da Red Bull, no centro de São Paulo, onde a cantora recebeu a reportagem – “Dancê” será lançado nesta terça (5), em formatos físico e digital.
“Eu tinha duas certezas”, diz Tulipa. “Queria um disco dançante, mas no sentido que você quisesse celebrá-lo com o corpo, não necessariamente um disco de dance music. Sabe quando o impulso vem primeiro aqui antes de ir pra cá?”, aponta para o quadril e depois para a cabeça.
“E tinha entrado numa viagem de que a capa seria do Crumb”, gargalha, ao que o irmão sacode a cabeça, olhando pra baixo: “Pouco pretensiosa.” Ela própria ri da ingenuidade, lembrando da pergunta que fez à época: “‘Gente, e se a capa for do Crumb?”
“Cheguei falando que ele ia adorar, porque sou um desenho dele e não ia nem cobrar!” Ela conta que achou a assessora do pai da HQ underground. “E ela disse: ‘Linda, o Crumb não trabalha mais'”.
POP NA VEIA
Mas se a segunda certeza não se confirmou, a primeira é a espinha dorsal sinuosa de “Dancê”, que escorrega pela pista, puxando a transição da disco music dos anos 1970 rumo ao pop oitentista.
As referências vão do “Realce” de Gilberto Gil aos primeiros Marina Lima e Ney Matogrosso, passando por Rita Lee na fase Lincoln Olivetti, a banda Vitória Régia de Tim Maia, o “Lindo Lago do Amor” de Gonzaguinha, o “Cartaz” de Fagner e o Caetano new wave.
O disco é também o cavalo de Troia de um novo cânone musical brasileiro. À primeira audição, parece superfluamente pop, lembrando hits de mais de 30 anos atrás.
Mas “Tafetá” tem a ilustre presença de João Donato. “Expirou” convoca o “guitar hero” Lanny Gordin. O mestre da guitarrada Manoel Cordeiro e seu filho Felipe surgem em “Virou”. Contemporâneos como o trio Metá Metá (na densa “Algo Maior”) e o produtor Kassin (na fútil “Físico”, inspirada em Olivia Newton-John) ajudam a engrossar um Olimpo do nosso pop atual.
O novo disco também é análogo à própria carreira de Tulipa, que surgiu quase tímida com o singelo “Efêmera” (2010) e começou a botar suas garras de fora no intenso “Tudo Tanto” (2012), lançado dois anos depois. “Dancê” parece botar o ponto final na primeira etapa de sua carreira.
Dancê
Artista Tulipa Ruiz
Lançamento Ponmello/ Natura Musical
Quanto R$ 29,90
Na Web www.tuliparuiz.com.br
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Escrevi sobre o Dia de Guerra nas Estrelas pra edição online Ilustrada de hoje, saca só:
Em 2015, fãs têm motivos de sobra para comemorar o ‘Star Wars Day’
Fãs da saga “Guerra nas Estrelas”, criada por George Lucas nos anos 70, estão com motivos de sobra para comemorar 2015. Afinal, neste ano eles estão vendo a materialização de algo que nem os mais entusiasmados podiam cogitar no início deste século: o episódio 7 da saga chega aos cinemas do mundo todo em dezembro deste ano.
As comemorações devem se concentrar nesta segunda-feira: afinal, em 4 de maio já é oficialmente comemorado o Star Wars Day —que, como acontece há alguns anos, também é festejado no Brasil.
A escolha da data vem de um infame trocadilho em inglês, misturando a pronúncia de “4 de maio” (“May the fourth”) com a bênção que os guerreiros sagrados da série de filmes dão uns aos outros, “que a Força esteja com você” (“may the Force be with you”).
As origens da brincadeira linguística remetem à chegada de Margareth Thatcher ao poder em 1979. O partido conservador inglês saudou a Dama de Ferro com um anúncio no jornal “London Evening News” no dia de sua posse como primeira ministra inglesa, em 4 de maio. Eles publicaram uma saudação que fazia alusão ao filme de maior sucesso no final daquela década: “May the fourth be with you, Maggie”.
DISNEY + LUCASFILM
Apesar do trocadilho existir há tempos, só a partir desta década que o 4 de maio começou a ser comemorado efetivamente. A princípio, em um encontro realizado no Canadá em 2011, que tinha exibição dos filmes, concurso de cosplay, jogos de adivinhação e premiações para as melhores paródias e homenagens feitas na internet.
O evento foi um sucesso e passou a se repetir ano a ano. A data ganhou Força —com o perdão do trocadilho— após a Disney ter comprado a Lucasfilm, produtora da saga, em 2012. Assim, a partir de 4 de maio de 2013 o Dia de Guerra nas Estrelas deixou de ser uma comemoração feita somente por fãs para ganhar chancela oficial da indústria do entretenimento.
A incorporação da Lucasfilm à Disney também impulsionou esta nova fase da franquia ao ressuscitar algo que era encarado pelos fãs como lenda urbana: a última trilogia da saga original.
O sucesso do primeiro “Guerra nas Estrelas”, em 1977, redesenhou a indústria do cinema como a conhecíamos. A saga inaugurou novos parâmetros no mercado: uma data única para o lançamento nacional de um filme, o foco no entretenimento e no público infanto-juvenil, a importância dos efeitos especiais na tela grande e o início da popularização em massa da ficção científica (mesmo que, na prática, “Guerra nas Estrelas” não tenha nada de sci-fi).
George Lucas não tinha como prever isso, embora apostasse todas suas fichas nesse sucesso. Quando o primeiro “Guerra nas Estrelas” tornou-se o grande campeão de bilheterias da temporada, o diretor e produtor sacou uma carta de sua manga: não era apenas um filme, eram três trilogias e o filme de 1977 era o quarto volume de uma saga enorme.
Só quando “Guerra nas Estrelas” reestreou no cinema para começar a divulgação do segundo filme, o grande “O Império Contra-Ataca” (1980), que Lucas adicionou o número do episódio (4) e um novo subtítulo (“Uma Nova Esperança”) ao primeiro filme. O sexto volume e terceiro filme (“O Retorno de Jedi”) veio em 1983, e assim Lucas encerrou a trilogia clássica, fazendo os fãs especularem sobre que histórias seriam contadas nos episódios 1, 2, 3, 7, 8 e 9.
Os três primeiros capítulos ganharam vida na virada do milênio: “A Ameaça Fantasma” (1999), “O Ataque dos Clones” (2002) e “A Vingança do Sith” (2005) contavam como o jovem Anakin Skywalker se transformaria no vilão Darth Vader. Os fãs, porém, ficaram frustrados com filmes enfadonhos e infantilizados, ao mesmo tempo superproduzidos e politicamente corretos.
As produções faturaram muito dinheiro e renovaram a franquia para uma nova geração. Mas, logo após a segunda trilogia, George Lucas começou a dar entrevistas anunciando que não iria fazer os três últimos filmes que havia prometido. Repetia que a história era composta apenas por seis longas e choramingava dizendo não ter vontade de se envolver com a série por ter sido avacalhado pelos velhos fãs devido às decisões que tomou nos três filmes mais recentes, como a inclusão de Jar-Jar Binks.
DESPERTAR DA FORÇA
Até que a Disney comprou a Lucasfilm e começou a rever esta história —o resultado é este 2015 agitadíssimo. O anúncio dos três novos filmes veio quase que simultaneamente à compra da empresa de George Lucas pela gigante de Walt Disney por US$ 4 bilhões, em 2012.
O sétimo episódio da saga, “O Despertar da Força”, foi agendado para dezembro de 2015, sob a direção do criador da série “Lost”, J.J. Abrams, o responsável por reapresentar a saga “Star Trek” para uma nova geração com os dois últimos filmes da franquia, em 2009 e 2013.
O elenco do novo filme foi apresentado no fim de abril de 2014, e une os novatos John Boyega, Daisy Ridley, Adam Driver, Oscar Isaac, Andy Serkis e Lupita Nyong’o aos veteranos Harrison Ford, Carrie Fisher, Mark Hamill, Anthony Daniels, Peter Mayhew e Kenny Baker. Estes últimos vivem os clássicos personagens da trilogia original (Han Solo, Princesa Leia, Luke Skywalker, C3PO, Chewbacca e R2D2, respectivamente).
O aquecimento para o 2015 de “Guerra nas Estrelas” começou ainda em dezembro do ano passado, quando foi divulgado um trailer de 90 segundos que instigou os fãs com novos cenários, novos personagens, um sabre de luz em forma de cruz e um voo rasante da Falcão Milenar de Han Solo.
Outro trailer, este com dois minutos, foi lançado em 16 de abril, provocando choro em muito marmanjo ao reapresentar Han Solo e Chewbacca em sua última cena.
O novo trailer foi o início do fim de semana Star Wars Celebration, uma espécie de Comic Con temática de “Guerra nas Estrelas” em Anaheim, Califórnia. Uma série de novidades sobre o próximo filme foi apresentada, mas sem entregar muito sobre a história. A celebração terminou com um novo anúncio: a série de filmes “Star Wars Anthology”, que contará histórias da saga paralelas às três trilogias.
O primeiro filme, “Rogue One”, conta como os Rebeldes conseguiram os planos para destruir a Estrela da Morte no filme de 1977 —não deve ter nada de Jedis ou sobre a Força, já que nesta época os Jedis eram tidos como extintos. O filme foi anunciado para 2016 e é uma prova de que a nova encarnação de “Star Wars” quer alcançar as mesmas proporções épicas do Marvel Cinematic Universe, a cronologia única que une todos os filmes do estúdio Marvel, desde o primeiro Homem de Ferro (de 2008) até as produções agendadas para 2019.
Pouco se sabe sobre “Episódio 7 – O Despertar da Força”, mas há várias pistas indicadas no trailer. Talvez a personagem de Daisy Ridley (Rey) seja da nova geração Skywalker, e possa se envolver com Finn (John Boyega), um provável stormtrooper fugitivo. Outra: o Império dos filmes anteriores não sucumbiu, e o sabre que Luke Skywalker segurava quando teve sua mão decepada por Darth Vader reapareceu misteriosamente.
Na única cena que apareceram no segundo teaser, Han Solo e Chewbacca estavam apontando armas para alguém. Uma nova versão do robô R2D2, batizada de BB8 (e que gira sobre uma esfera, em vez de arrastar-se com rodas), foi apresentada, mas não vimos ainda o que aconteceu com o androide C3PO.
4 DE MAIO
O 4 de maio, portanto, aumenta as expectativas em relação a mais revelações sobre o próximo episódio da saga. O dia já começou com o anúncio que o oitavo longa da série será filmado na Inglaterra e dirigido pelo norte-americano Rian Johnson (que assinou três dos melhores episódios de “Breaking Bad” e o filme “Looper: Assassinos do Futuro”, de 2012). O longa estreia apenas em 2017.
Aproveitando as comemorações, a revista “Vanity Fair” estampou a nova dupla de protagonistas Rey e Finn ao lado dos velhos conhecidos Han Solo e Chewbacca, além do simpático robozinho BB8, na capa de sua edição de junho, fotografados por Annie Leibovitz, uma das maiores retratistas de sua geração.
A publicação promete ainda extras com o elenco de “Star Wars 7” em seu site. O primeiro deles, um vídeo dos bastidores do ensaio com Leibovitz, foi divulgado no domingo.
E não são apenas novidades oficiais: na Austrália, um grupo de fãs construiu uma réplica gigante da nave Falcão Milênio usando blocos de Lego. No Brasil, há ao menos dois grandes encontros de fãs da saga programados para o 4 de maio: em São Paulo, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, às 19h30, e no Rio de Janeiro (Livraria Cultura Cine Vitória, no centro, às 19h30). Nos dois eventos, haverá bate-papos sobre o novo filme com presença de especialistas. No shopping Villa-Lobos há uma exposição de capacetes dos soldados do Império (os stormtroopers) customizados por artistas brasileiros.
A data de lançamento do primeiro “Guerra nas Estrelas”, em 25 de maio, também é comemorada anualmente, mas devido ao fato de coincidir com o “dia da toalha” (instituído duas semanas após a morte do escritor inglês Douglas Adams, o criador da série de livros “O Mochileiro das Galáxias”) e com o “glorioso 25 de maio” (da série “Discworld”, do autor inglês Terry Pratchett, morto em março ), a data é comumente referida como “o dia do orgulho nerd”. Mas isso é outra história.
STAR WARS DAY NO BRASIL
Em São Paulo
Quando: seg. (4), às 19h30
Onde: Livraria Cultura do Conjunto Nacional, av. Paulista, 2.073, Cerqueira César, tel. (11) 3170-4033
Quanto: grátis
No Rio
Quando: seg. (4), às 19h30
Onde: Livraria Cultura – Cine Vitória, r. Senador Dantas, 45, centro, tel. (21) 3916-2600
Quanto: grátis
O líder do Superchunk e dono da gravadora Merge Mac McCaughan vem ao Brasil pela quarta vez lançar o primeiro disco que lança com seu próprio nome. O disco Non-Believers também está sendo lançado pelo selo brasileiro Balaclava Records, que organiza seu primeiro festival no Centro Cultural São Paulo com direito a shows dos norte-americanos Shivas, dos brasileiros Shed e Soundscapes, além do show de Mac, que acontece no sábado. Conversei com ele por telefone há alguns dias e a íntegra do papo saiu no site da Ilustrada.
‘Papa’ do indie e líder do Superchunk, Mac McCaughan lança disco em SP
Um dos papas da cultura indie norte-americana apresenta-se em São Paulo no próximo sábado (25). Mac McCaughan, 47, atravessou os anos 1990 como a voz e uma das guitarras do Superchunk, uma das bandas mais autossuficientes do underground. E, ao lançar seus próprios discos, consolidou a reputação de sua gravadora, a Merge, no século atual.
A Merge entrou nos anos 2000 colhendo os frutos plantados na década anterior e atingiu o topo das vendas ao emplacar o grupo Arcade Fire como um dos principais nomes do música pop – e não apenas indie – atual.
A gravadora ainda conta com outros nomes de peso, como Spoon, Caribou e She & Him, além de queridinhos da crítica como M. Ward, Lambchop, Neutral Milk Hotel e Camera Obscura. Sem falar dos veteranos do rock alternativo, como Lou Barlow, Stephin Merrit, Dinosaur Jr. e Robert Pollard.
É nesta última categoria que McCaughan entra para o elenco da própria gravadora, ao lançar o primeiro álbum com seu próprio nome, depois do último disco do Superchunk, “I Hate Music” (2013) e de seu projeto solo, Portastatic.
“Non Believers” acaba de sair nos EUA e será lançado primeiro no Brasil no Balaclava Fest, que acontece neste final de semana (25 e 26) no Centro Cultural São Paulo.
Em entrevista por telefone à “Ilustrada”, Mac falou da quarta vinda ao Brasil – a primeira sem o Superchunk – e da evolução da cena indie no Brasil, além de falar sobre a sonoridade de seu primeiro disco solo e a busca por autenticidade fora da internet. Leia, abaixo, os principais trechos da conversa.
O Superchunk veio ao Brasil pela primeira vez em 1998, quando pouquíssimas bandas indies de fora daqui se arriscavam a fazer turnês no país – algo que se tornou corriqueiro nos últimos 15 anos. Você consegue perceber essa evolução?
É bem interessante notar isso, na verdade. Fomos ao Brasil pela primeira vez graças aos esforços do Jefferson [Santos] e Marcos [Boffa] da Motor Music, que ficava em Belo Horizonte. Eles haviam levado o Fugazi para aí e o Ian [McKaye], falou que a gente precisava ir também, mas devíamos saber que era como excursionar com uma banda punk nos Estados Unidos em 1978. Ele disse que não havia lugares específicos para tocar. Às vezes eram casas de shows de rock, mas às vezes eram restaurantes, cafés, bares, o que fosse. E ele disse que isso era incrível, e é claro que queríamos ir.
Nos sentimos com muita sorte por termos tocado aí da primeira vez, acho que foi em 1998. Voltamos logo em 2000, e depois em 2011. Sempre nos divertimos aí. Estou feliz por ir a São Paulo nesta semana, mas gostaria de voltar e tocar em alguns dos lugares que tocamos há muito tempo, em cidades pequenas, que não são tão pequenas e sim grandes, mas de que eu nunca tinha ouvido falar.
Acho que agora é bem mais comum ter bandas excursionando por aí em todo tipo de festival. Muitas bandas da Merge já tocaram aí desde que nós tocamos no Brasil pela primeira vez. E agora acho que as coisas estão bem mais, digamos, profissionais.
Mas o que nos deixou mais impressionados desde a primeira vez foi o entusiasmo das pessoas em nossos shows. Não tínhamos nenhuma expectativa em relação a saberem nossas músicas, mas as pessoas sabiam todas as letras, basicamente por causa da internet, e isso foi muito cedo em relação ao acesso mundial das pessoas à rede. Foi ótimo.
Você já havia pensado em como a internet poderia mudar a relação entre músicos e fãs?
Acho que uma das primeiras vezes que pensamos nisso foi após o primeiro show que fizemos em São Paulo. Ficamos impressionados porque era tão difícil comprar nossos discos aí e mesmo assim as pessoas sabiam todas as letras. O lado ruim disso é que você pode saber todas as músicas sem nunca ter comprado um disco [risos], o que torna difícil ter uma banda. O mesmo aconteceu há alguns anos, quando voltamos depois que gravamos o disco “Majesty Shredding”.
Por que lançar um disco com seu próprio nome quando você já tem o Superchunk e lançava discos como Portastatic?
Acho que a resposta fácil é que quis tornar as coisas mais simples. Quando comecei a gravar com o nome de Portastatic, o Superchunk estava fazendo seu próprio som. Mas eu queria poder gravar outro tipo de som, em casa, um som mais calmo, fazer coisas diferentes que não eram definidas como sendo de uma banda de rock.
E assim o Portastatic me serviu com o bom propósito de ser uma existência paralela ao Superchunk nos anos 1990 e 2000. E quando o Superchunk parou em 2002, o Portastatic tornou-se uma banda de rock. Mas ainda era um bom lugar para experimentar músicas e sons diferentes.
E, nos últimos anos, quando o Superchunk voltou à ativa, gravando discos e fazendo shows, comecei a fazer apresentações solo com meu próprio nome, porque cheguei num ponto em que posso tocar músicas do Superchunk e do Portastatic, todas misturadas no mesmo setlist.
Acho que sem ter essa regra que adotava, que separava o que era para o Superchunk e o que era para o Portastatic, cheguei a um ponto mais divertido e mais simples para mim se eu as tocasse solo. E se eu estava fazendo shows com meu próprio nome, deveria gravar discos com meu próprio nome também, em vez de continuar com essa coisa à parte do Portastatic.
Resisti a essa ideia por muito tempo, acho que ter um nome de banda é mais cool [risos], mas cheguei num ponto em que eu tenho de aceitar que é o meu nome. Mesmo que ninguém vai aprender a soletrá-lo ou pronunciá-lo corretamente, é o nome que eu tenho.
Quando você começou a gravar o disco?
Comecei a trabalhar nele no ano passado, provavelmente na primavera [do hemisfério norte, entre março e junho], bem no começo. Fui terminá-lo no outono. Gravei e mixei todo o disco em casa, além de tocar tudo exceto em uma música, “Our Way Free”, em que eu não consegui fazer a bateria soar como eu queria que ela soasse.
Tentei diferentes baterias eletrônicas, tentei eu mesmo tocar bateria, mas não estava me sentindo satisfeito e quase tirei essa faixa do disco. Porém, mandei a música para o Michael Benjamin Lerner, da banda Telekinesis, que também grava pela Merg. Perguntei se ele podia ser o baterista naquela música. Ele me mandou de volta um mix em que basicamente havia acertado de primeira. Ele meio que salvou essa música. A Annie Hayden, que era do Spent, e Jenn Wasner, do Why Oak, cantam em uma música.
Mas no fundo era só eu mesmo, o que é um dos motivos para levar tanto tempo em um disco solo, em que você pode trabalhar em seu próprio ritmo. É uma das coisas legais disso. Eu tinha bem mais músicas do que as que acabaram no álbum, mas quando eu entendi qual era o mundo sonoro que eu estava fazendo, tirei as faixas que não se encaixavam nele. Ao fazer discos eu ainda quero ter um sentimento unificado – não que todas as músicas tenham que soar iguais, mas elas têm de funcionar juntas.
Li que você havia gravado o disco falando de uma sentimento nostálgico em relação a uma determinada época na música…
Não é propriamente nostalgia, mas poder explorar um tipo de música que descobrimos a uma certa idade e que ainda tem algum tipo de ressonância ou ainda criam uma emoção a que você ainda se apega. A maioria das coisas que você ouvia quando tinha 14, 15 anos e que ficam por toda a sua vida.
Já ouvi falar que o gosto musical das pessoas amadurece aos 23 anos.
Acho que isso tem uma certa verdade, porque quando eu tinha 23 anos era 1990, mas eu estava ouvindo muitos discos de 1985 em vez dos de 1990 [risos]. Mas acho que o disco explora esse período de tempo do início dos anos 80, quando houve muita transição na música e as pessoas começaram a sair do punk rock para outro lugar, mas eles não sabiam para onde e por isso experimentavam sons e instrumentos diferentes, a que não tinham acesso antes.
Quando eu estou gravando um disco e pego um instrumento que não sei tocar – ou mesmo uma guitarra ou teclado que nunca havia usado –, quase sempre isso funciona como um ótimo ponto de partida para compor uma música . E sinto a mesma coisa em relação a esse período, essa época em que as pessoas tinham essa nova tecnologia, mas não sabiam como dominá-la. E assim muita música interessante foi criada. Era nessa época em que eu pensava quando gravei o disco.
Um tipo de som que não tinha rótulo antes dos anos 1990, que depois começou a ser referido como “alternativo” ou “indie”.
É engraçado, quando eu estava no segundo grau, se referiam a bandas como R.E.M. como sendo “college rock”, porque as rádios college [universitárias] eram os lugares em que era possível ouvir essas bandas. Depois, isso virou “rock alternativo” ou outra coisa do tipo. Mas eu não me importava que nomes teriam, porque nessa época eu vinha ouvindo bandas que ainda gosto, como o The Who, os Rolling Stones, o AC/DC.
Eram essas bandas que eu ouvia quando tinha 12 anos. E quando você começa a ouvir punk rock ou new wave, tudo soava totalmente radical e novo que você não precisava de um nome especial para isso. Era apenas tudo diferente, sabe? Para nós, talvez por morar em uma cidade pequena [o Superchunk é de Chapell Hill, na Carolina do Norte], nunca nos prendemos a um rótulo ou outro.
Gostávamos de tudo: das bandas hardcore, R.E.M., Smiths, New Order. Gostávamos de tudo porque era tudo bem diferente do que tínhamos acesso antes
Mas me referia ao fato de que, antes destes rótulos, os fãs dessas bandas se reconheciam por identidade estética. As pessoas ficavam amigas porque gostavam dos mesmos discos que pouca gente escutava
Sim, era muito importante para a gente, especialmente por viver em um lugar que não era Nova York. Você não podia ir lá ver qualquer banda ou comprar qualquer disco, você tinha que ir lá e descobrir as coisas no boca a boca, como você está falando, por meio de uma comunidade que gostava das mesmas bandas.
Você acha que essa sensação de comunidade que existia antes na música acabou?
Acho que em algum nível isso ainda existe, mas você tem que trabalhar ainda mais pesado para descobrir. Porque tudo está disponível o tempo todo on-line. Então, para descobrir coisas no meio disso tudo, você precisa encontrar pessoas comprometidas com a música, que mantêm um certo entusiasmo por alguma banda. Não acho que tenha desaparecido, acho que só é mais difícil de encontrá-las. De alguma forma isso pode ser expressado on-line, no Tumblr ou no blog de alguém. E tudo bem, mas quando essa comunicação acontece pessoalmente é mais eficaz.
E como você trabalha com isso, sendo dono de uma gravadora?
Temos que usar todas as ferramentas, o que inclui a internet, para encontrar as pessoas que achamos que irão gostar do disco e poderão trazer o máximo de pessoas para aquele trabalho.
Mas gerar esse entusiasmo e essa conexão ainda é algo muito pessoal. Há duas bandas da Merge que acabaram de lançar discos – Waxahatchee e Moutain Goats – e elas são exemplos de artistas que, quando você vai vê-los, percebe que as pessoas que estão os assistindo não ouviram falar da banda num site e foram ver o show.
São fãs, muito leais, muito envolvidos. Ouviram muito os discos, estudaram as letras e tudo mais. Acho que isso é uma emoção importante de manter entre as pessoas engajadas e apoiando artistas e bandas de que gostam.
Para terminar, como é o formato do show aqui em São Paulo? Pode pedir para tocar Superchunk?
O show é basicamente eu sozinho, só que estarei tocando guitarra. Então será um show solo elétrico e eu vou tocar músicas do disco novo e do Superchunk. Provavelmente esta semana vou perguntar para as pessoas no Twitter se elas têm pedidos e vou tentar tocar o que elas querem ouvir. Toco muitas coisas, tanto músicas novas quanto velhas.
BALACLAVA FESTIVAL
Quando sáb. (25) e dom. (28).; Mac McCaughan se apresenta no sábado
Onde Centro Cultural São Paulo – r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, São Paulo, tel. (11) 3397-4002
Quanto de R$ 10 (meia) a R$ 20
Entrevistei o pessoal do Bixiga 70 sobre seu terceiro disco pra edição de hoje da Ilustrada – o disco vai ser lançado com shows hoje e amanhã na choperia do Sesc Pompeia. Vai ser foda!
Banda Bixiga 70 apresenta disco composto a 20 mãos
Só com criações coletivas, terceiro álbum está disponível para download
Os dez integrantes do grupo paulistano de música instrumental Bixiga 70 são tachativos em afirmar que estão mais juntos do que nunca: “É o fim de um ciclo”, comemoram. A união está explícita na ficha técnica de seu terceiro disco, mais uma vez batizado apenas com o nome da banda, que sublinha que todo o trabalho foi composto, arranjado e produzido coletivamente, diferentemente dos dois anteriores, em que cada músico trazia um tema para ser desenvolvido em grupo.
“Acho que a gente conseguiu chegar em um lugar coletivo graças à dinâmica desses cinco anos juntos”, explica o baterista e um dos fundadores da banda, Décio 7. “Bixiga 70”, o novo disco, já está para download gratuito no site da banda (www.bixiga70.com.br) e marca uma maturidade musical em que as diferentes influências de músicos se diluem no groove instrumental ritualístico próprio das apresentações do grupo.
Diferentes musicalidades – nordestinas, caribenhas, jamaicanas, africanas, jazz, cumbia, funk – se fundem num caldo grosso cada vez mais característico do som paulistano da banda. “A gente tá muito embriagado nisso, de curtir o lance dos dez estarem muito alinhados em fazer som juntos”, emenda o saxofonista Cuca Ferreira.
O novo disco também traz uma mudança em relação às composições, que desta vez foram realizadas em estúdio, ao contrário dos discos anteriores, quando eram compostas entre ensaios e passagens de som. “Chegamos no estúdio sem nenhuma ideia pré-concebida, tudo foi composto do zero no estúdio”, explica o guitarrista e tecladista Maurício Fleury. Após sua terceira turnê europeia, no meio do ano passado, o Bixiga 70 voltou ao Brasil e descobriu que tinha um prazo estreito para entregar o disco contemplado através de um edital – este foi o primeiro disco da banda que não foi autoproduzido. A data-limite obrigou os dez integrantes a se enfurnar no estúdio-casa da banda, o Traquitana.
Localizado no número 70 da rua 13 de maio, no baixo do Bixiga (daí o nome), o estúdio é o motivo de existência da banda, que começou quando Décio e o guitarrista Cris Scabello passaram a tomar conta do lugar, mudando seu nome para Traquitana. A história daquele endereço remete à virada dos anos 60 para os 70, quando ali funcionava o bar Telecoteco da Paróquia, ponto favorito dos músicos profissionais da época para beber – e tocar – após o expediente. Reza a lenda que nomes como Sarah Vaughan e Stevie Wonder se apresentaram no local, quando estiveram no Brasil. “Foi aqui que o Benito di Paula lançou o ‘Retalhos de Cetim’”, lembra Décio.
Foram 45 dias em que a banda não arredou pé do Traquitana até fechar o disco que será lançado em dois shows no Sesc Pompeia, nos dias 16 e 17 da semana que vem. Forte influência no novo trabalho foi a parte final da viagem europeia, quando a banda passou pelo Marrocos e, além de um show, ainda pode coordenar um workshop que teve momentos cruciais para o desenvolvimento do novo disco. “Teve um cara que eu tive que parar e pedir pra ele me ensinar como é que ele tirava microtons africanos de um instrumento europeu, o saxofone, que não foi feito para tocar aquilo”, entusiasma-se Cuca.
Além de alinhada musicalmente, a banda também divide os trabalhos do lado empresarial: Cris toma conta do administrativo da banda, Maurício cuida das mídias sociais e das negociações com selos e turnês pela Europa, função dividida com o saxofonista Daniel Nogueira, que também cuida da divulgação nos Estados Unidos, enquanto Décio e o trompetista Daniel Gralha cuidam da parte técnica e de logística de shows. Completam a banda o baixista Marcelo Dworecki, o trombonista Douglas Antunes e os percussionistas Rômulo Nardes e Gustávo Cék.
BIXIGA 70
Artista Bixiga 70
Gravadora independente
Quanto gratuito, para download no site bixiga70.com.br
Lançamento qui. (16) e sex. (17), no Sesc Pompeia, ingressos esgotados
Eis a matéria que fiz pra Ilustrada com o Cidadão Instigado sobre seu novo disco, Fortaleza, que sai em breve…
Cidadão Instigado aposta em rock pesado
‘Fortaleza’, novo disco da banda, bebe na fonte dos anos 70 e traz influências de grupos como Led Zeppelin e Pink Floyd
“Nossas raízes são essas”, explica Fernando Catatau sobre o acento setentista impregnado no quinto disco de sua banda, o Cidadão Instigado. “É o som que a gente sempre quis”. A espera pelo disco, que só para sair, é compensada na afirmação mais pesada do grupo: o épico Fortaleza, que chega à internet e aos palcos neste início de abril. A banda disponibiliza o disco para download gratuito ainda esta semana em sua página do Facebook (/bandacidadaoinstigado) e apresenta-se no palco do Sesc Pompeia na quinta (9/4) e sexta-feira (10/4) da semana que vem.
Fortaleza é o álbum mais ambicioso do Cidadão Instigado, cheio de riffs memoráveis, grooves de rock e coros de platéia. Saem os teclados do ensolarado Uhuuu! (2009) para a entrada de vocais e violões contemplativos. E, embora pesado em sua extensão, ele também traz momentos tranquilos e líricos.
O disco é o resultado final de um processo que começou em janeiro de 2012, quando a banda passou doze dias enfurnada em uma casa de praia de Icaraizinho de Amontada, próxima a Jericoacoara, no Ceará, arranjando as canções de Catatau.
Um ano depois se reencontraram no estúdio paulistano El Rocha onde gravaram as bases. “Continuamos laboratoreando”, emenda Catatau sobre as gravações que se seguiram entre os estúdios caseiros da banda até o início deste ano, quando foram gravados os vocais logo após o carnaval.
“Foi um processo parecido com a mudança entre o Ciclo da De:Cadência (de 2002) e o Método Túfo de Experiências (de 2005), de reinventar tudo”, conta o guitarrista, lembrado pelos outros integrantes sobre a época em que pensou até em mudar o nome da banda.
Mudanças
A mudança desta vez foi na formação: o guitarrista Régis Damasceno foi para o baixo, o baixista Rian Batista assumiu violões e teclados e o tecladista Dustan Gallas tomou conta da segunda guitarra.
Só Catatau, o técnico Kalil Alaia e o baterista Clayton Martin permaneceram nos mesmos lugares. A mudança traz novos e notáveis ares ao grupo.
Nesse processo surgiu o título do disco, que deu o rumo pesado da produção. A banda cita Led Zeppelin, Black Sabbath, Raul Seixas e Thin Lizzy como influências. Além, claro, do Pink Floyd, pois as gravações ocorreram ao mesmo tempo em que a banda fazia apresentações tocando a íntegra do clássico Dark Side of the Moon (1973).
“Começamos a reparar no desenho das músicas, como uma se encaixava na outra e como iam do estúdio para o palco”, explica Régis.
Clayton também fala sobre como mapa de palco do grupo inglês – que toca alinhado horizontalmente – ajudou o Cidadão a se reinventar ao vivo. O Pink Floyd também foi crucial para uma das assinaturas do novo disco, os arranjos vocais quase sempre naquele falsete de soft rock dos anos 70, que ficaram a cargo de Rian.
Declaração de amor
O nome da capital cearense inevitavelmente levou à composição da faixa-título, uma declaração de amor à cidade natal da banda, que ao mesmo tempo questiona os valores da sociedade atual (“Cidade marginal!”, canta dúbio Catatau).
“Não é uma música só sobre Fortaleza, fala do que aconteceu com o mundo todo, essa cara de banheiro de shopping de Miami. Eu sou o único paulistano da banda e vi isso acontecer no meu bairro, a Moóca”, reforça o baterista Clayton sobre a música que ainda conta com a participação do guitarrista Dado Villa-Lobos, do Legião Urbana, nos violões.
A referência à capital cearense quase trouxe o arcano hotel Iracema Plaza, para a capa do disco. Mas, como explica Regis, “o título não é um nome próprio, é um substantivo” e a banda optou pela capa preta com o nome da banda escrito em letras pontiagudas para enfatizar sua raiz rock e exigir o trono do gênero no Brasil. As credenciais estão à mostra.
FORTALEZA
Artista | Cidadão Instigado
Gravadora | independente
Quanto | grátis (www.facebook.com/bandacidadaoinstigado)
Shows | 9 e 10/4, às 21h30, Sesc Pompeia, r. Clélia, 93; tel. (11) 3871-7700; de R$ 9 a R$ 30.
Fortaleza dissecada
“Até que Enfim”
Baixo e bateria recebem o ouvinte com um galope à Saucerful of Secrets que ganha ares de velho oeste à entrada da guitarra e ao violão.
“Dizem que Sou Louco por Você”
Uma canção de amor que abre com um riff mortal e fecha com outro pesadaço.
“Os Viajantes”
Uma balada psicodélica com um solo cortante e vocais de Doobie Brothers.
“Perto de Mim”
“Ah se fosse assim eternamente eu só chorava…” Uma triste canção ao violão, que ganha ares de space rock graças às entradas das guitarras, teclados e vocais.
“Ficção Científica”
A paranoia de Catatau com os avanços tecnológicos traduz-se em uma faixa com várias facetas – pesada, dançante, lírica e alucinógena.
“Fortaleza”
“Minha Fortaleza ‘réia’ o que fizeram com você?”, pergunta o épico repente elétrico, apontando dedos para “os governantes” e “a elite” que desfiguraram a capital cearense.
“Besouros e Borboletas”
O “lado B” do disco abre com uma avalanche de groove lisérgico, que torna-se uma pacata canção para tocar na rádio AM, com todos os “u-uhs” e “a-ahs” que tem direito.
“Dudu Vivi Dada”
A bela balada melancólica – que também tem suas doses de riffs e arranjos vocais – é um dos melhores momentos do disco.
“Land of Light”
Um reggaeinho aparentemente inofensivo, é uma das gratas surpresas do disco – e ainda puxa a levada do samba-reggae em seu último minuto.
“Green Card”
Refrão para ser cantado em uníssono, riff de metal que conversa com timbres eletrônicos e guitarras que solam à distância, a faixa ironiza a fila para conseguir cidadania norte-americana.
“Quando a Máscara Cai”
Outra faixa bem pesada, é a segunda parte da faixa “Zé Doidim” do disco O Ciclo da Dê:Cadência, de 2002.
“Lá Lá, Lá Lá Lá Lá…”
O disco termina como se os Beatles fizessem uma faixa vocal sem letras para cantar o por – ou o nascer – do sol.