Emicida 2015: alto astral contra o racismo

, por Alexandre Matias

emicida-2015

Estive essa semana com o jovem Leandro lá no Museu Afro Brasil e conversamos sobre o disco que ele lança essa semana, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa em matéria para a Ilustrada:

Emicida combate o racismo com novo álbum ‘pra cima

Antes de definir a data de lançamento de seu “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, que chega na sexta (7) a todas as plataformas de streaming digital e às lojas de disco no final do mês, o rapper Emicida fez uma escalada de monólogos contundentes em shows no Circo Voador, no Rio, e na Virada Cultural, em São Paulo.

Já apontava para um disco tão tenso, agressivo e radical quanto estes dias de 2015.

O clipe da inédita “Boa Esperança” reforçava esse rumo ao apresentar um cenário de guerra civil começando de dentro das casas, quando empregados de uma mansão pegam seus patrões como reféns depois de serem humilhados durante o trabalho.

O nome da música foi tirado de um dos irônicos nomes dos navios negreiros que traziam africanos para a América. Para dirigir o clipe, o rapper chamou João Wainer (do filme “Junho” e repórter especial da Folha) e Kátia Lund (de “Cidade de Deus”). Tudo indicava que o novo álbum viesse com sangue nos olhos.

O disco foi gravado e composto em sua primeira visita à África, quando passou por Angola e Cabo Verde, em março. “O ‘Boa Esperança’ é a expectativa mais óbvia sobre mim”, diz Emicida em entrevista no Museu Afro Brasil, em SP.

“Mas por que eu não posso cantar ‘Passarinhos’?”, pergunta sobre a bucólica canção composta no ukulele e dividida com Vanessa da Mata. “Em que momento minha poesia está distante de uma coisa positiva?”

“Sobre Quadris”¦” está longe de ser um disco pesado. Há mais momentos leves e contemplativos, como “Mufete”, “Baiana” (gravada com Caetano Veloso), a vinheta “Sodade”, a balada “Madagascar” e a já citada “Passarinhos”, e outros essencialmente positivos, como “Salve Black (Estilo Livre)”, “8”, “Mandume” e “Chapa” e até familiares, como “Mãe”.

Pra cima
Embora quase todas as músicas falem de racismo, preconceito e diferenças, Emicida não quis deixar o clima pesar de propósito. “Sabe por que é um disco pra cima? Porque quando os pretos estão reclamando, na miséria, dormindo na calçada, todo mundo acha que tá tudo no lugar certo. Mas quando eu tô à pampa, tô legal”¦”, pausa para enfatizar a quebra de expectativa.

“James Brown foi foda quando cantou ‘I Feel Good’. O mundo tá pegando fogo, os pretos tão morrendo, e ele levantou no meio daquela porra e falou: ‘Tô legal, pode continuar. Vocês não vão me derrubar’. Soa como arrogância, mas não é nariz empinado, é cabeça pra cima. O disco fala dessa pluralidade de mil coisas que os pretos são, que podem ser, mas são limitados a ser sempre a mesma coisa.”

E continua explicando por que resolveu abordar a questão: “Acho muito bacana essa ânsia do Brasil que agora quer desmascarar tudo e combater o que tá errado. Ok, então pra mim o problema mais sério do Brasil é o racismo, que ninguém fala. Tá aqui a minha contribuição, vamos desmascarar isso também”.

Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa
Artista: Emicida
Gravadora: Laboratório Fantasma
Quanto: R$ 19,90

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