Exit Through the Gift Shop: Banksy é um documentarista ou não?

, por Alexandre Matias

Spoilers abaixo, pra quem ainda não viu o filme do cara…

Mas afinal, Exit Through the Gift Shop é um documentário? A história do picareta que fingiu ser um documentarista e acabou virando artista e só então objeto de um documentário é real ou é mais um golpe genial de recontextualização de realidades que caracterizam toda a obra do inglês? Thierry Guetta jura que sua história é “100% real” e sustenta que há provas para validá-la, caso seja necessário. O artista, que agora atende pelo codinome de Mr. Brainwash e é um artista de sucesso, inclusive irá para a cerimônia do Oscar deste domingo, trajando Dolce & Gabbana. O próprio Banksy também sustenta que seu personagem, por mais incrível que possa parecer, é real.

Documentários fake, que misturam elementos de realidade e ficção tentando fazer que o espectador não perceba a linha entre a verdade e a mentira, são mais do que uma tendência dos últimos anos, e se consolidam como um dos principais tons do século 21. É uma discussão que envolve os túneis-de-realidade descritos por Timothy Leary, questões metalingüisticas (ave RAW), o jornalismo, a publicidade e o showbusiness, do humor de Borat e Office, passando pelos reality shows e pela apresentação de Ricky Gervais no Globo de Ouro deste ano.

Falando especificamente de cinema, mesmo que exemplos anterores já possam ter surgido nos primeiros filmes dos Beatles ou do Woody Allen, é, de novo, Orson Wells quem define este gênero, em F for Fake. O filme de 1973, na verdade, reúne elementos que já haviam sido experimentados por Wells em diferentes fases de sua vida – tanto a locução da chegada dos alienígenas de Guerra dos Mundos em 1938 quanto o fato de o personagem principal de Cidadão Kane ser inspirado em uma personalidade de verdade já brincavam com os limites da realidade e da ficção. F for Fake leva essa discussão para um outro patamar e pergunta quem é o autor, quem é a obra, o que é autoria, misturando cinema, magia, o maior falsificador de todos os tempos e Pablo Picasso.

O filme de Banksy parece ser uma continuação ou homenagem de F for Fake e, como seu antecessor, também escrotiza por completo o mercado de artes, tratando-o como farsa. Mas o fato de ser um documentário sobre alguém querendo fazer um documentário e por seu autor final ser uma das celebridades mais anônimas do mundo (quem é Banksy? Quantos são? É ele mesmo em frente à câmera, com a voz distorcida?), torna a premiação de hoje especialmente curiosa, basicamente por um ponto: e Exit Through the Gift Shop ganhar, quem irá receber o prêmio? Ou melhor: o que irá acontecer? E se o documentário for desvendado como farsa?

E mais: ao desmascarar uma farsa (seu filme) dentro de outra (o Oscar), Banksy não estaria sendo um documentarista de fato, revelando os próprios podres e os do showbusiness? Não seria ele, como o Zizek disse ao descrever o Assange, uma espécie de Coringa no último filme do Batman, que põe tudo à iminência do colapso apenas por ameaçar contar a verdade?

Em breve, saberemos. Esta noite.

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