Classic Tineijão
Sempre é um prazer poder ver nossos amigos musicais escoceses quando eles vêm ao Brasil – e felizmente o show do Teenage Fanclub segue sendo aquela celebração ao alto astral, mesmo quando puxam canções mais melancólicas. Escrevi sobre esse momento pro Toca UOL.
Teenage Fanclub celebra sua aura de pop clássico numa noite emocionada
O segundo semestre de 2025 certamente irá ser lembrado por uma geração de fãs brasileiros de indie rock como o período em que assistiram bandas que cresceram ouvindo assumirem suas facetas clássicas. Esse movimento começou na semana passada, com a vinda do Supergrass ao Brasil e segue até o fim do ano, quando assistiremos a shows de grupos como Weezer, Yo La Tengo, Stereolab, Green Day e Oasis passarem mais uma vez pelo Brasil, desta vez já atravessando décadas de experiência no meio da música.
O grupo escocês Teenage Fanclub, que apresentou-se na última quinta-feira (4) no Cine Joia, é o veterano desta leva. Embora na ativa desde anos 80, o grupo hoje liderado pelo guitarrista Norman Blake foi o última destes a pisar no Brasil ,naquela mágica semana de 2004 em que fizeram três shows no Sesc Pompeia em São Paulo para encerrar a breve turnê no mesmo festival de Curitiba que trouxe os Pixies pela primeira vez ao Brasil.
Em sua terceira passagem pelo país (além de 2004, voltaram ao país em 2011, quando tocaram no Circo Voador no Rio de Janeiro e em São Paulo no clube The Week), o Teenage Fanclub talvez seja a banda de sua geração que menos sofreu com a idade, mesmo com a ironia inescapável do próprio nome do grupo — “fã clube adolescente”, em inglês.
Desde que despontou no cenário pop mundial (na mitológica edição de 1992 do festival inglês de Reading, tocando no mesmo dia que Nirvana, Nick Cave, Mudhoney, Pavement, L7, Screaming Trees e Melvins), o grupo sempre primou pelo pop perfeito, bebendo em fontes como Beatles, Byrds, Big Star, Orange Juice e Beach Boys para conjurar a comunhão catártica a partir de músicas fáceis de cantar, de celebração coletiva.
E foi isso que vimos durante a quinta-feira, quando o grupo esgotou os ingressos para o show no Cine Joia após fazer um show alto astral no Circo Voador, no Rio de Janeiro, no dia anterior. A multidão de quarentões que se espremia na casa de shows da Liberdade aumentava alguns graus na temperatura já quente da noite e deixava o grupo à vontade para passear suas canções memoráveis.
Tocando músicas de quase todos seus discos, eles enfatizaram o repertório nos álbuns mais solares do grupo, que os consagrou nos anos 90 — Bandwagonesque de 1991 e Grand Prix de 1995 —, além das canções dos dois discos mais recentes — Endless Arcade de 2021 e Nothing Lasts Forever de 2023 — e talvez isso tenha dado um tom menos pop e mais formal para a apresentação, em comparação às vindas anteriores.
Isso diz respeito especificamente à saída do baixista Gerard Love, um pouco antes da pandemia. Fundador e principal compositor do grupo ao lado de Blake, ele dava um equilíbrio mágico ao grupo, com canções mais doces que as do companheiro de banda, e sente-se a ausência de músicas como “Star Sign”, “Sparky’s Dream”, “Ain’t That Enough”, “Discolite” e “Don’t Look Back” no repertório recente – bem como as possíveis equivalentes a essa caso Love continuasse na banda.
Há um aspecto intrinsecamente familiar no palco, Norman e o outro guitarrista da banda, Raymond McGinley estão juntos desde 1989 e o baterista que fundou a banda como eles (Francis Macdonald) retornou ao posto no ano 2000 e segue com eles desde então.
Os dois novatos do grupo não são propriamente jovens: o atual baixista Dave McGowan tocava teclado com o grupo desde 2004 e assumiu o instrumento quando Love deixou o grupo, e o novo tecladista Euros Child — que entrou na banda em 2019 — é o fundador de um dos grupos mais instigantes do pop britânico dos anos 90, a banda galesa Gorky’s Zygotic Mynci. Mas por mais que tenham uma intimidade impressionante no palco, sente-se a falta da melancolia doce das canções — e da postura de palco — de Love.
Mas isso não torna o show menor e o grupo manteve a empolgação no talo, jogando sempre para a galera principalmente da metade do show em diante, quando passaram a tocar menos músicas novas e voltassem para o velho repertório, encerrando a primeira parte da apresentação com sua faixa de assinatura “The Concept”, a música que abre o clássico Bandwagonesque em que sua segunda parte deixa a banda improvisar um longo encerramento em câmera lenta em que uma das grandes armas da apresentação ficava evidente – o entrosamento dos dois guitarristas do grupo, que ecoa tanto o de Neil Young com suas bandas, o de John Lennon com George Harrison nos Beatles ou o dos três guitarristas dos Byrds, David Crosby, Gene Clark e Roger McGuinn.
O grupo voltou ao palco para uma sequência que encerrou a noite com uma descarga sentimental característica de suas apresentações, quando enfileirou “God Knows It’s True”, “Falling Into the Sun”, “Mellow Doubt” e o hino “Everything Flows”, que antes de apresentar como sendo seu primeiro single, foi o momento para Blake emocionar-se no microfone e agradecer, sem acreditar, o envolvimento do público brasileiro com a banda.
“Vir lá de Glasgow e tocar aqui por tanto tempo, é inacreditável”, disse antes de emendar uma música que começa falando que “você fica velho todo ano, mas não muda” antes de puxar um refrão que canta que “eu nunca sei pra que lado fluir, aponte para um rumo que eu não conheça”. A próxima parada brasileira do grupo acontece neste sábado (6) em Belém, quando toca como principal atração do dia no festival paraense Se Rasgum, que completa 20 anos.
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