A vez do Fióti
O sucesso de Emicida é uma parceria fraterna: enquanto Leandro rima e dá a cara a tapa pelos palcos da vida, seu irmão Evandro Fióti administrava sua carreira, construindo as fundações de seu escritório a partir de CDs vendidos de mão em mão no metrô. Hoje o escritório Lab Fantasma é um pequeno império, que administra as carreiras de Emicida e Rael e se tornou uma distribuidora digital, além de referência para uma nova geração de rappers pelo Brasil que viu que é possível ser bem sucedido artisticamente e nos negócios ao mesmo tempo. Como Emicida, Fióti sempre esteve envolvido com música e além de habilidoso violonista agora começa a colocar suas mangas artísticas de fora, ao anunciar o lançamento de seu primeiro EP ainda essa semana. Já gostei de cara por causa do título do trabalho: Gente Bonita (que era o mesmo nome da festa que eu fazia com o Luciano Kalatalo entre 2006 e 2010). Ele já mostrou o teaser do novo trabalho:
“Foi tudo orgânico”, me conta o novo artista: “Antes de montarmos a Lab, eu e o Leandro sempre se encontrava pra fazer algumas coisas. Mesmo trabalhando, quando eu fazia a produção de estrada, eu levava o violão e íamos compondo quando dava, mas as coisas foram ficando cada vez mais apertadas e isso deixou de ser possível. Porém, duas das parcerias que tenho com ele nesse disco já existem aproximadamente há oito anos, e eu até insisti algumas vezes pra ele lançar ‘Gente Bonita’ porque todo mundo a quem eu mostrava a música gostava. É um outro lado do Emicida como compositor que acho que vai surpreender o público. Mas na verdade Deus escreve certo por linhas tortas, ainda bem que ele não me ouviu e deixou mesmo para eu gravar porque essa música é linda.”
A música acabou batizando o novo disco: “O projeto não tinha nome no começo, mas depois me dei conta de que essa faixa sintetizava tudo o que eu queria passar, acho que é uma das letras mais fortes do trabalho. Dentro do estúdio, com os músicos, me veio esse nome. Tem a ver com a ideia que quero transmitir e até com o momento que eu estou vivendo, de um exercício de me apegar mais às coisas boas e positivas. E tem a ver também com uma coisa de enxergar o melhor nos outros; gente bonita são todas as pessoas que toparam estar comigo no projeto, colaboraram para que eu chegasse a este ponto. E num contexto mais amplo espero que sirva como uma mensagem positiva para todos que se identificarem com a faixa, para o povo da periferia, nosso povo, que todo dia precisa buscar motivação para levar a vida do jeito que ela é. Mesmo com todas as adversidades, continua sendo um povo alegre, feliz e bonito.”
Mas não é um disco de rap, já adianta: “Quem espera um disco de rap vai dar com os burros n’água!”, ri o compositor-empresário. “É um disco para que ouçam e pensem, reflitam e se divirtam. Ficou bem fincado nas raízes da música brasileira, está bem brasuca e isso reflete o meu gosto musical, me vejo nele inteiro, quem me conhece de longa data também vai compreender isso mais facilmente. Quem só conhece o Emicida vai ter a oportunidade de conhecer esse lado mais compositor dele também. Esse disco é vida que segue. Eu senti a necessidade de gravar essas músicas e fazer algo que as pessoas me cobravam há muito tempo, fui lá e fiz, sendo público do Emicida ou não, espero que as pessoas sintam e se identifiquem com a mensagem musical do trabalho. Estamos passando dias tão difíceis que vejo neste disco a possibilidade de as pessoas verem como nosso povo e nossa música são ricos e lindos e que isso sirva de combustível na luta diária de cada um. Se conseguir isso, já estou satisfeito. E quem não gostar não precisa falar nada, pode ir ouvir o que gosta.”
Também gravei a primeira vez que Fióti apresentou uma música ao vivo deste novo disco, quando juntou-se ao Rodrigo Ogi, ao Kiko Dinucci e ao Thiago França para tocarem o samba “Vacilão”, que estará no EP, num show de Ogi na Casa de Francisca.
“Gente Bonita”, a primeira faixa de trabalho, será lançada oficialmente nesta sexta-feira, dia 1° de abril. Não é mentira. O disco todo aparece em maio.
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