O fim de Lost por Alexandre Maron

E acabou, acabou e acabou. Esperei passar no AXN para comentar. Afinal, era safadeza falar da série que só quem baixou viu (se bem que provavelmente mais gente viu por download do que pelo AXN, mas tudo bem).

Então, deixo a minha interpretação final, que vai caber em uma ou duas linhas: Lost é uma poderosa alegoria sobre os perigos de confiar cegamente em deuses e líderes. Religião, patriotismo, o que você quiser. São formas imperfeitas (e muitas vezes desonestas) de controle. Lost ilustra isso muito bem.

Jacob, o semi-deus que deu as cartas por séculos na Ilha, não passa de um filho meio bocó que, numa briga com o irmão, acabou o transformando num monstro. Ele manipulou pessoas durante muito tempo. Pessoas que viam nele uma ligação com o poder, com o divino, com um objetivo maior. Se Jacob não tivesse criado um monstro, tudo teria sido diferente. Tudo. Jacob mal sabia o que estava protegendo. Só sabia que era importante proteger a luz da Ilha.

Jack. Locke. Dois homens que inspiravam as pessoas ao seu redor. Gente que confiava neles para guiar suas vidas. No processo, eles invariavelmente, levaram várias pessoas à morte. Jack por não acreditar, tomou várias decisões absurdas. Locke, porque acreditava mais do que devia. Os dois, nos extremos, estavam errados.

Ben Linus seguiu a liderança equivocada de Jacob e virou um líder cheio de erros. Widmore passou décadas cometendo todo tipo de erros e causando a desgraça na vida de várias pessoas.

Um monte de líderes cegos. Gente que inspirava pessoas que os seguiam. E que as levava na direção errada. Direto para abismos. E um monte de seguidores sem noção, que acabavam morrendo das formas mais estúpidas. E morrendo, no fim, por pouco, quando não era por nada.

Sinceramente, depois de ver como Jack, Locke, Jacob, Fumacinha Preta e mesmo Widmore não precisavam ter morrido. Eles apenas, por conta de seguir idéias ou líderes equivocados, se deixaram morrer. Olhe bem pros seus líderes e sempre se pergunte se aquela pessoa está dizendo a verdade e, mais importante, indo na direção certa.

* Maron publicou este texto em seu blog.

O fim de Lost por Márvio dos Anjos

Eu não vi Lost. Mas admito que tentei.

Cedi à experiência de assistir pois havia tamanho frenesi por parte de amigos meus a respeito da série, que já causava furor nos EUA. Não sou afeito a novelas e séries, mas me interessei pela sensação de um fato inovador na teledramaturgia, seguido mundialmente.

Acho que parei no quarto capítulo, quando surgiu um urso polar naquela ilha tropical. Revoltou. Tive a impressão de que os roteiristas queriam me transformar no ratinho da roda do laboratório. Comigo, não.

E, por seis temporadas, foi um sucesso de audiência, tanto na TV quanto no fluxo de downloads pela internet. Notei muitos madrugando atrás dos arquivos e das legendas para verem em seus laptops – essa, sim, a inequívoca revolução na maneira de absorver um conteúdo televisivo. E meus amigos teorizavam, debatiam, alguns até ganharam dinheiro blogando sobre isso. E colecionaram perguntas que esperavam ver respondidas.

Pelo que leio na maioria dos comentários sobre o fim de Lost, há um grande cisma entre os telespectadores: muitas questões abertas foram tratadas como aspecto menor pelos roteiristas. Os fãs se dividem hoje entre o triunfo final de uma série apaixonante e a frustração por ter faltado algo, digamos, mais apropriado à expectativa gerada.

Traçar julgamentos sobre o valor dramatúrgico da série é tarefa que não posso desempenhar. Mas tampouco negaria o fenômeno pop que Lost representa, sua capacidade de mobilização de audiência – segmentada – de milhões de pessoas. Que debatem cientificamente cada detalhe, cada cena e cada fala. Tornaram-se especialistas.

E vão continuar divagando e gerando bibliografia – principalmente virtual – sobre o que eles acham que a tal da ilha era. Talvez não cheguem a nenhum consenso (aliás, é bem provável, pelo que tenho acompanhado). E talvez aí resida o maior valor de Lost.

A que mais pode almejar uma obra de arte senão essa existência para além do momento em que foi absorvida? Senão essa permanência viva em corações e mentes, alimentada pela paixão nostálgica de reviver, explorar e até destruir os êxtases inesperados que tal obra revelava? E ainda, uma audiência qualificada, disposta a debatê-la ao infinito, com espírito enciclopédico, procurando referências e comparações em tudo? Pela memória e pela disposição de seus fãs, Lost entrará no cânone das grandes obras do homem. Mas não para mim. Urso polar em ilha tropical? Não.

* Márvio publicou este texto em sua coluna.

O fim de Lost por Bruno Carvalho

Eu comecei incrédulo o último episódio de Lost, confesso. O turbilhão de informações, histórias, retornos e caminhos cruzados na jornada final para impedir que o Homem de Preto destruísse a ilha não me deixaram conectar de início com a essência da série. Mas isso foi de propósito. Afinal, não era essa a história que Carlton Cuse, Damon Lindelof e toda a equipe que escreveu uma das maiores sagas da televisão mundial quis contar. Claro, tivemos os momentos apoteóticos com Desmond, “Locke” e Jack no coração da ilha; os retornos de Boone, Shannon, Juliet, Rose, Bernard e Vincent; a libertação de Richard Alpert de seu encargo eterno; a auto condenação de Ben pelos seus erros e muito mais. A primeira parte foi vibrante e intensa a cada tiro e soco, mas à medida que o episódio avançava as iterações, aliterações, mistérios e mitologias foram tomando conta da tela. E assim, os borrifos de sangue foram se transformando em toques; os gritos em abraços e as palavras de desespero em momentos de conforto enquanto os eternos sobreviventes do voo 815 se reencontravam na outra realidade.

E como nós não percebemos pra onde tudo caminhava? Esperávamos o quê? Que um vídeo de orientação da Dharma Initiative aparecesse para nos guiar? Não. Precisávamos ser guiados pela emoção, pois no fim das contas estamos todos indo para um outro lugar, queiramos ou não. E foi esta a história que LOST contou nos últimos seis anos de nossas vidas: a jornada de pessoas que nasceram, viveram e morreram. Jack, Kate, Sawyer, Juliet, Jin, Sun, Hurley, Libby, Desmond, Penny e tantos outros foram levados à ilha para cumprir uma missão. E cumpriram. E uma a uma, sistematicamente, foram morrendo desde o início da série, como uma contagem regressiva que recusamos enxergar. E por quê? Por que todos morrem, inevitavelmente. E no fim não mais importaram os números, as teorias, os mistérios ou mitos. A realidade paralela foi apenas um ponto de encontro daqueles que a todo custo viveram juntos e não queriam morrer sozinhos, a “antessala” do paraíso para os que precisam dar um nome a tudo. Mas o maior feito deste final foi o de criar algo atemporal, completo e ainda assim aberto para (milhões de) interpretações. E falando em uma antessala, um dos poucos detalhes deste final que citarei é o local onde o caixão de Christian Shephard estava, com as diversas representações físicas de várias religiões.

Existem mais informações nos minutos, segundos e milésimos finais de LOST do que muitos conseguirão imaginar. A cena final, então, é ao mesmo tempo fantástica, enigmática e triste. Jack acordou naquele bambuzal confuso e pronto para uma grande aventura e no mesmo local seus olhos cheios de dor e conhecimento se fecharam. Com isso, a série e sua intenção permanecerão, invariavelmente, incompreendidas. O que foi real, irreal, imaginário ou não, no fim das contas, caberá a cada um. A ilha é um teste? O purgatório? Uns chamam de final aberto por não esgotar tudo como se fosse um drama investigativo. Eu chamo de final ideal, digno das melhores obras de ficção. Aqueles que não acabam quando realmente chegam ao fim, pois o que realmente importa é a jornada. Não foi um final fácil ou óbvio. Foi um final corajoso que fez jus aos seis anos da série. Afinal, estamos todos indo para algum lugar, não? Sim? Não? Vejo vocês em uma outra vida, brothas!

Que jornada. Que jornada.

* Bruno publicou este texto em seu blog.

O fim de Lost por Alexandre Versignassi

Foi passar meia-dúzia de episódios da primeira temporada para todo mundo ter certeza de que a ilha era o purgatório (o lugar onde você tem que fazer estágio antes de ser aceito no céu). Tinha sentido: os primeiros flashbacks mostravam os pecados e as frustrações de cada personagem. E a ilha era o lugar das redenções. Purgatório.

Seria um bom final para uma minisérie com uma dúzia de capítulos. E era para ser isso mesmo: os produtores tinham certeza de que Lost não passaria da primeira temporada, disseram isso várias vezes.
Mas aí veio o problema: o povo gostou demais da série. E os produtores ganharam um contrato para continuar por anos no ar (num primeiro momento, a ABC queria que Lost fosse eterno, enquanto durasse a audiência). Mas e agora? Como enrolar anos pra terminar com um final que todo mundo já tinha adivinhado?

Desmentir esse final, ué! Foram várias entrevistas dizendo que, não, eles não estão mortos. Que tudo ali era real e blá blá blá. Segundo passo: bolar histórias que se fechem em si mesmas, na medida do possível, enquanto o final original, o do purgatório, esperava na geladeira. E aí tome estações da Dharma, vila dos outros, tribo dos hostis, estátua, templo, Jacob, Samuel… Ah, pegadinha: esse era o nome do Homem de Preto nos scripts. Só não usaram na história para fazer charme, para inventar “mistério” onde não havia nada.

Aí veio o último capítulo e descobrimos que realmente não havia nada. A cabeça dos criadores estava vazia. Todos os mistérios importantes eram falsos. Tinham sido concebidos sem conclusão. Claro. Se a ideia original era a de que a própria ilha fosse o purgatório, quando ela deixa de ser, por decreto dos produtores, ela própria deixa de fazer sentido. Por isso a série acabou sem falar nada sobre a natureza mitológica da ilha. Transformaram ela num mundo “Caverna do Dragão”. Uma terra sobrenatural sem um propósito convincente.

E aí… chegou a hora de o programa terminar. Mickey Mouse tinha que partir. E o que fizeram? Em vez de bolar alguma coisa que amarrasse o mínimo que fosse as (ótimas) histórias que tinham criado para ganhar tempo, os produtores pularam fora do próprio barco. Resolveram manter aquele que seria o final original. Mas com outro purgatório, a realidade alternativa, já que a ilha tinha ganho o status de “lugar real”.

Fizeram provavelmente o mesmíssimo final que tinham na cabeça lá atrás. Christian Shephard é a maior evidência disso. Vemos o caixão dele vazio logo no comecinho da série. E o próprio Christian surge para Jack no mato – mas ainda sem falar nada.

Ele só falaria no final da primeira e única temporada imaginada originalmente para Lost. A cena: Jack encontraria Christian na praia (ou em uma eventual igrejinha que tivessem contruído na ilha). E…

– Pai, o que vc está fazendo aqui se está morto?
– O que VOCÊ está fazendo aqui, Jack?
– Então eu morri! Todo mundo aqui morreu…

Fim.

E seria bom. O problema foi colocar esse final agora, improvisado, como se nada tivesse acontecido entre a primeira e a última temporada.

É disso que boa parte dos fãs reclamou. Só que, na real, não aconteceu nada mesmo entre a primeira e a última. Histórias inconclusivas não são histórias. São passatempos. As viagens no tempo, os templos, a coisa de apertar o botão a cada 108 minutos para salvar o mundo… Foram brincadeiras bem legais. Mas soltas, sem nenhuma relevância para a história que tinham para contar.

Vender essas brincadeiras como elementos que formariam uma saga foi estelionato. Para piorar, a própria Lostpedia estava cheia de idéias de fãs que dariam conta de resolver tudo. De fundir aquela miríade de histórias sem pé nem cabeça numa narrativa coerente. A criatividade coletiva dos fãs tinha ultrapassado com folga a dos produtores. Mas eles preferiram fechar os olhos. Para um pecado desses, não tem purgatório.

* Versignassi escreveu este texto no blog da revista que edita.

O fim de Lost por Claudia Croitor

Será que eu morri, fui para um purgatório e minha punição é ter assistido a esse final de “Lost” e eu só vou entender tudo e conseguir fazer a travessia quando eu ler um comentário de um leitor me xingando e aí a luz vai se abrir para mim e eu vou assistir a um episódio que faça jus a tudo o que “Lost” representou desde 2004? Putz, preciso correr para uma igreja asap.

*

Pera. O final feliz de Lost foi que todos morreram e foram para o céu? O final da série da queda do voo 815 numa ilha que ninguém sabia onde ficava e onde ninguém conseguia chegar (lembra da paraquedista do Widmore? do pêndulo? do avião recriando as condições do voo 815?) por causa de uma energia eletromagnética absurda que foi liberada quando o Desmond parou de apertar o botão a cada 108 minutos, que tinha a Dharma, os Outros, as mulheres que não podiam engravidar, as crianças que sumiam no meio da mata quando apareciam sussurros, que tinha as estações dharma com um cano que levava os diários para o meio do mato, as viagens no tempo, o Faraday, a constante, que teve o Locke que voltou a andar, que tinha o Walt um garoto especial, que tinha Ben que manipulava a todos, que tinha as regras e o Jacob e o Alpert que não envelhecia, o final dessa série foi o PAI MORTO DO JACK ABRINDO A PORTA DE UMA IGREJA PARA TODOS OS PERSONAGENS MORTOS RUMAREM JUNTOS PARA A LUZ??

Para, vai.

Ó, posso falar? Eu derrubei uma lágrima no final. Por pura emoção de ver ali reunidos os personagens que eu acompanhei por anos, com teorias mil, sobre quem eu debati por incontáveis horas e posts, por ver que eu teria que me despedir deles. No more “Previously on Lost”. Triste. Mas foi meio que uma emoção final de novela, aquelas cenas de casamentos coletivos com madrinhas grávidas e vilões mortos. Porque eu estou inconformada que a realidade paralela, que a gente achou que surgiu da bomba explodida no passado (e da ilha no fundo do mar) era na verdade o além. O purgatório. A ante-sala do céu. Chame como quiser. Parece que eles inventaram isso meia hora antes de começar a gravar.

E qual o sentido de no além a galera ter outra vida, casar com outras pessoas? E o filho do Jack é quem, alguém pode me dizer? Um anjinho que foi fazer figuração para o coração do Jack se alegrar? Aí eles encontraram as almas das pessoas que tinham amado na, hã, outra vida e, com um toque mágico, despertam para a realidade, digo, para o além, para onde estavam e ficaram prontos para fazer a travessia, e entenderam que o que viveram na ilha foi a parte mais importante de suas vidas. Era esse o mistério da realidade paralela? Alguém REALMENTE achou isso genial?

Pensa, please. Os caras planejaram a realidade paralela para ser o céu. Eu desisto. E Michael e Walt não merecem ir para o céu? Nem Ana Lucia? Nem o filho da Penny? ah, eles não estavam prontos, olha que resposta ideal.

O Desmond levou o tal choque da energia eletromagnética no aparelho de Widmore e aí teve a visão do paraíso? Tipo numa experiência de quase-morte? “Lost”, no fim das contas, tem mais a ver com a novela “A Viagem” do que a gente imaginou.

Acho que tudo foi um truque, porque diante disso o resto do episódio final da série sem absolutamente nenhuma resposta sobre mistério nenhum até que fez muito sentido. Porque o Desmond era especial, viajava no tempo, conseguia se conectar em épocas diferentes – não que isso faça alguma diferença para a história que eles contaram – mas ele era especial. Por ser especial, ele conseguiu descer na luz sem virar monstro, por ser especial ele conseguiu arrancar a rolha do lago dourado (era essa a rolha do inferno?), isso permitiu que o Locke-capeta fosse morto, aí o Jack colocou a rolha no lagoa de volta e tudo ficou bem.

Mas oi, o Jacob não podia pensar nisso antes? Arruma alguém para descer lá. Precisava de todo esse drama, séculos a fio, vidas destruídas, morte, tudo vai desaparecer se o Locke-capeta deixar a ilha, nossas filhas irão desaparecer?

Poxa, e tudo isso foi um erro do Jacob, como a gente comentou no episódio passado. Porque o irmão dele só queria sair dali e viajar, só isso. Aí Jack arrumou tudo, se sacrificando por um bem maior, Hurley virou o novo Jacob (o segredo é ter um recipente para beber água suja, veja você, e qualquer um vira o novo Jacob. Basta ter um copo ou uma garrafa à mão), numa dupla do barulho com Ben, almoçando aos domingos com o casal Rose e Bernard, ah que bonito.

Pergunta honesta: se o Jack não tivesse descido na rolha do inferno e tivesse dado um jeito de todo mundo entrar no avião e ir embora da ilha, deixando o Locke-capeta lá sozinho, o mundo ia acabar? Ou o Locke-capeta ia ficar lá sentado esperando outro navio chegar?

Percebe onde eu quero chegar? Tenho a terrível sensação de que nada do que a gente viu nas primeiras temporadas tem a ver com a batalha final. Nada, absolutamente nada. Viagens no tempo? Nem. Coincidências no passado dos losties? Zero? Números? Nem vou entrar nessa. Energia eletromagnética? Putz. Dharma? Quem? Comida Dharma chegando na ilha, lembra? No idea. Viagens no tempo? No fim nem a bomba teve a ver com nada, teve? Porque não era uma nova realidade. Era O PURGATÓRIO.

Triste. Muito triste.

*

E a Eloise, que parecia saber de tudo? Serviu para que?

*

Pô, e a Nadia? Ela não era o grande amor do Sayid? E aí quem vai pro céu com ele é a Shannon? Sacanagem.

*

A Claire da ilha não tava mais limpinha nesse episódio?

*

O Aaron não tinha que estar mais velho no céu? Ah é, lá o tempo não existe, foi mal, Christian.

*

A luz da porta da igreja é a luz da ilha? Juro, dúvida honesta. Porque a ilha é a rolha do inferno mas guarda a luz do céu?

*

Por favor, se o episódio fez sentido para você (não vale “me emocionei com todos juntos”, tem que fazer sentido) explica o porquê nos comentários, com clareza e educação. Eu realmente queria ler opiniões de gente que curtiu.

*

Por fim, o que eu tenho a dizer é: por pior que tenha sido essa sexta temporada, e ela foi muito ruim na minha opinião, eu não considero perdido todo o tempo que eu investi nessa série. Em última instância, uma série de TV serve para nos divertir, é entretenimento, e eu me diverti horrores assistindo a “Lost”. Foi divertido demais ficar acordada madrugadas e madrugadas à espera do episódio, dar pause nas cenas para tentar entender os sussurros, fuçar em um milhão de blogs para achar os detalhes escondidos nos quais eu nunca reparava, comprar livros só porque os personagens liam e eu queria ler também, gastar posts e posts escrevendo sobre a série no blog e lendo comentários de leitores e debatendo com meus amigos e debatendo com desconhecidos, lendo entrevistas dos produtores, inventando listas e quizzes (opa, carlão!) divertidíssimos para o Séries Etc.

Para mim, as três primeiras temporadas de “Lost” estão sem dúvida entre as melhores coisas já produzidas na televisão e eu adorei ter acompanhado tudo isso em tempo real, adorei, bem ou mal, ter participado da série mais bombante do século 21, da série que inaugurou um novo jeito de ver TV.

E isso ninguém, nem o Christian Shephard transformado em anjo de luz, vai estragar.

*

Última coisa. As cinco primeiras temporadas não serviram para quase nada, né?

* Claudia escreveu este texto em seu blog.

O fim de Lost por Carlos Alexandre Monteiro

“Onde estamos, pai?”

“Esse é um lugar em que todos vocês criaram juntos para que pudessem encontrar uns aos outros. A parte mais importante de sua vida foi o tempo em que você passou com essas pessoas. É por isso que todos vocês estão aqui. Ninguém consegue fazê-lo sozinho, Jack. Você precisava de todos eles, e eles todos precisavam de você”.

“Para quê?”

“Para se lembrarem… e para seguir adiante”.

O que faz isso tudo por que passamos, sentimos, experimentamos valer a pena? Minha resposta é direta: por acreditar em que tudo acontece por um motivo e que por trás desta gigante e inexplicável razão existe a simples necessidade de encontrarmos a felicidade. Estas são duas verdades pessoais que trago comigo desde antes de “Lost” e que foram erguidas como nunca em “The End”, o emocionante e inesquecível desfecho da série.

De seu início à comovente cena final, no ocaso de uma odisseia, “Lost” consagra a certeza de que, por incríveis seis temporadas, vivenciamos uma fábula sublime e unicamente grandiosa a respeito de nossa busca pela felicidade, procura ora consciente ora inconsciente, mas nunca de fato estagnada. Uma luz que, em tese, deveria nos ser facilmente encontrável por estarmos frequentemente mergulhados no escuro, mas que por muitas ocasiões desaparece por nos deixarmos cegar por este breu que é tão humano quanto os personagens que nos conduziram, através de suas jornadas, por um encontro com nossas próprias histórias.

“The End” comprova um ritual de seis anos de duração em que nos foi dada uma chance, uma escolha: a de nós e eles nos tornarmos um só. E, uma vez fechado o livro, me sinto plenamente feliz por ter me servido do copo e ver que não estive, ver que não estou sozinho. Muitos, somos Locke em crenças inabaláveis; somos Hurley no amor à inocência; somos Sawyer quando ora renunciamos, ora revelamos o que trazemos; somos Kate ao acertarmos errando; somos Sayid ao encontrar pesadelos que contam nossa história mas não nos mostram; somos Charlie ao sucumbirmos diante de nossas fraquezas e ao conseguirmos nos fortalecer diante delas; somos Desmond na luta pelos amores que nos dão constantes de vida; somos Jack em transformações que, mesmo em morte, nos apontam a direção.

Em seu encerramento, “Lost” desfaz-se em definitivo de supostos embates para atar laços fundamentais: ciência como caminho para chegarmos à fé, esse patamar alcançável de uma força que nos transcende; e livre arbítrio que nos permite antecipar ou retardar o destino, que se torna dharma ou karma de acordo com o que merecemos. Tudo ao sabor da epopeia de nossos personagens, contada através deles; vivida por todos nós, losties que sempre fomos.

E por fim, nem a mais generosa noção do nosso merecimento poderia antecipar a força e o sentido das lágrimas dos momentos finais, donas da mais pura e alcançável felicidade. Nada vai nos roubar a emoção de estar naqueles abraços que celebraram o amor e a paz que envolvem os que seguem juntos dos seus para um voo maior. Nada vai nos tirar a sensação de que, após uma saga de dúvidas e fé, desilusão e esperança, quando os olhos se fecharam, a luz de “Lost” se fez presente não pela última e mais bela vez, mas para sempre. Para todo o sempre.

* Carlos Alexandre Monteiro escreveu este texto em seu blog.

O fim de Lost por Ana Maria Bahiana

“This is the end/ beautiful friend/ of everything that dies, the end”
(The End – The Doors)

“And in the end the love you make is equal to the love you take”
(The End- The Beatles)

Vocês já perderam alguém importante na vida de vocês? Eu já . Mais do que posso contar com calma. Para qualquer pessoa que já perdeu alguém importante em sua vida, ou que já teve que enfrentar cara a cara sua própria mortalidade, o episódio final de Lost, no ar ontem as 21h aqui nos EUA, foi um banquete altamente satisfatório e catártico.

Não, as grandes perguntas não foram respondidas – o que, como explico aqui neste texto da UOL TV é, antes de mais nada, um modo muito inteligente e orgânico de manter a mitologia da série viva ab aeternum (para citar outro pedaço da mitologia). Mas A grande pergunta que os show runners Damon Lindelof e Carlton Cuse decidiram abraçar neste fim de série – a própria natureza humana e seu destino – foi completamente respondida, com a eficácia dos bons contadores de história , em volta da fogueira, desde o princípio dos tempos.

Escrever para TV fechada é fácil. (Mentira: é difícil, tão difícil quanto produzir qualquer boa obra audiovisual. ) Difícil mesmo é escrever para TV aberta , com o nível de sofisticação e profundidade que Lost atingiu, consistentemente, nestes seis anos. Escrever para TV aberta durante seis temporadas é ser Scheherazade eternamente adiando a decapitação por ordem do soberano mal humorado e todo poderoso, insatisfeito com os índices de audiência, os indicadores demográficos e o retorno dos anunciantes. Ser capaz de tirar uma história de dentro de outra história de dentro de outra história, fiel ao princípio da narrativa que deu partida a tudo mas capaz de manter o sultão feliz é feito para poucos.

No processo dessas mil e uma noites na Ilha, a visão inicial de JJ Abrams, possivelmente mais Além da Imaginação e Arquivo X do que Livro Tibetano dos Mortos, sofreu as transformações necessárias para sua sobrevivência. O mito da Ilha, construído para servir de base à narrativa e aos arcos dos personagens, tornou-se menos importante do que os personagens em si. Lost estreou numa época difícil – depois do 11 de setembro, tendo como plateia uma sociedade cínica, paranóica,fracionada e profundamente ferida. A virada que Carlton Cuse e Damon Lindelof propuseram conduziu a série na direção de sua humanidade , e não daquilo que era extra ou sobre-humano. É possível fazer uma indagação filosófica sobre o sentido da vida, 50 minutos por semana, três meses por ano, durante seis anos? Por incrível que pareça, é. E em TV aberta.

O que comoveu e permaneceu do último episódio de Lost – além de seu magnífico roteiro, escrito com enorme rigor de estrutura e o tipo de humor entre-dentes que estava fazendo falta na série, ultimamente (“não acredito em muita coisa, mas acredito em fita adesiva”, foi minha fala favorita) – foi a sinceridade com que abraçou o humano em todos nós, dos seus criadores a seus personagens e a toda a platéia. Se aprendermos a viver juntos, não morreremos sozinhos, foi o que restou depois que o último olho se fechou na última e maravilhosa cena. É o oposto do que tudo a nossa volta parece estar dizendo. As forças que nos separam, dividem e isolam não são tão poderosas quanto as forças que nos fazem procurar o Outro e reconhecer nela ou nele sua luz interior, igual à nossa: aloha, e namastê.

Uma palavra final sobre o magnífico trabalho de Michael Giacchino, tão integral ao impacto de Lost que, nos roteiros, suas entradas eram anotadas como “O Giacchino” (assim: “aqui, O Giacchino aumenta a tensão”; “tapete triste de O Giacchino por baixo do diálogo”). A música em Lost era velha-escola, gravada ao vivo no estúdio Eastwood do lot da Warner, com uma orquestra de músicos sinfônicos experientes, que acabou conhecida como Orquestra Lost. Era ao mesmo tempo incrivelmente avant garde e profundamente romântica, respeitosa do trabalho dos atores mas, ela mesma, um ator, adicionando sua voz – a harpa sinistra, os violinos e metais abstratos, o piano pensativo – ao coro dos desempenhos. Mais uma vez, uma lição concreta de colaboração, comunidade, estar junto.

Namastê!

* Ana Maria escreveu este texto em seu blog.

O fim de Lost por Gabriel Ritter

“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro”.

O Encontro Marcado, de Fernando Sabino.

* Gabriel citou este trecho em seu blog.

Lost: The End

Comentem. Eu comento no final do dia.

Atualização (25 de maio):

Meu comentário vai demorar um pouco mais, mas já adianto: adorei o fim da série. Fui gravar o Comentando Lost ontem com o Ronaldo, mas a gente ficou fritando tanto em cima do episódio que achou melhor esperar uns dias pra ficha cair direito. O último programa sobe ao ar ainda essa semana, garanto.

E à medida em que o dia for passando, vou colando comentários, teorias, versões e considerações em sites alheios aqui nesse mesmo post. E conto com a sua participação.

Diz o Diogo:

A idéia de que a redenção é possível para todos, que há um lugar (céu, nirvana, outra vida, planos evolutivos, ou o que quer que a fé de cada um acredite) em que encontraremos as pessoas que foram importantes pra gente nessa vida é muito bela. Por isso gostei bastante do final, mesmo sendo Ateu. Achei incrivel. Mas espero que vcs nao esperassem batalhas épicas de supersyajins no final , nem grandes explosoes e coisas, e q possam ver a beleza da coisa.

E depois acrescentou:

Eu acho que o final na Igreja foi mais simbólico, pra fechar o ciclo. Como no primeiro episódio o Jack tava indo fazer o funeral do pai, nada mais natural que o fim de tudo, o encontro deles em seu lugar especial em que tudo é revelado, fosse nesse funeral que nunca ocorreu em vida. Esse lugar não era o purgatório na minha opinião, o purgatório é uma concepção da Igreja Católica que foi inventada pelo Vaticano como instrumento de manipulação e não está na Bíblia! ja na Igreja do funeral, existe um vitral com símbolos de todas as religiões, ou seja, é um lugar espiritual, que aceita todos. Lembram do céu de Amor Além da Vida onde cada um constrói o seu? É mais ou menos isso, mas não é o céu, e sim um lugar que é a criação conjunta de todos eles. Pra onde eles vão? Não sei, nunca saberemos. Mas foi bonito pacas.

A Melina emenda:

E o recado final do Christian foi pra gente né? Depois de seis anos… Let’s move on.

O Gustavo acha que:

… o clichê Manoel Carlos + Shyamalan foi um modelo necessário para não haver SUICÍDIOS em massa dos fãs ontem, já que o fim é triste, sim. O grande mistério da ilha (”O que é a ilha? De onde vem a luz? Que lógica é essa do Jacob X Mib e por que ela não continua com o Hurley?) não é resolvido, todos morrem sem respostas e sem atingir a “iluminação”, precisando de um mundo de sonho para conseguir viver a vida que queriam por algum tempo, lembrar de tudo e aceitar a morte.

E por isso eu chorei e achei do caralho.

Pena que isso não é bem um spoiler da vida, pois nós vamos apagar igual apagamos quando vamos dormir

A Lili odiou, mas considera:

ficamos sem respostas, sem fim e sem série. pra mim, moving on não é closure. foi um episódio lindo, eles finalmente aprenderam a perdoar, a amar e a fazer as escolhas certas. mas não deveria ter sido o último. eu topava ser enrolada ainda por um bom tempo…

Delfin acrescenta que…

…é um final que tem muito a ver com o PKDick, se os fãs mais radicais pararem para pensar, por exemplo, em Valis e, prncipalmente, em Ubik.

A Ana completa:

Além de tudo, a ideia do flashsideways não ter NADA a ver com a trama principal, ser algo descolado (e espiritual, então a lógica de lá não se aplica ao resto do plot) é bem legal porque permite a validação de certas coisas científicas que foram apresentadas durante a saga na ilha.

A Letícia reclama:

Não fico puta da série ter acabado espiritualmente, ligeiramente religiosa, de querer terminar com um clima de “we’re all going to a better place”. Mas oi? Que tal explicar o RESTO DA SÉRIE e não só os últimos 13 episódios (que pra mim também poderiam ter uma explicação melhor)?

E acrescenta:

Ainda prefiro a teoria mais básica e batida, de que os flash-sideways são um universo paralelo iniciado após a explosão da bomba no final da quinta. Depois de duas horas de finale eles deviam simplesmente ter explodido a ilha e se reencontrado no universo paralelo, enterrado o pai do Jack (que por sinal, todo mundo esqueceu que foi o maior douchebag na vida real, né?) e moved on. VIVOS. A surpresa não teria sido tão grande, mas pelo menos teria feito sentido.

E o Marcio:

O final de LOST foi exatamente igual ao fim de Nárnia e teve o mesmo propósito: mostrar que toda a ação, os dramas e as provações eram mesmo parte de uma grande jornada espiritual. A luz no coração da ilha é, no fim das contas, nosso axis mundi, um canal de comunicação com o transcendente.

Assim, Desmond não era só a chave de segurança da Ilha, mas o guia, o barqueiro que atravessa nossos protagonistas para o Outro Lado. Como n’O Senhor dos Anéis, todos aqueles que tocam a Ilha mudam e tem como último descanso as terras de além mar.

O Roberto divaga bonito:

O principal agente para a validade ficcional é o próprio indivíduo.
Eis o sujeito, dotado de sua mais forte faculdade.
Para a ação, ele buscará, antes, a sustentação.
O embasamento pode estar:
na estrutura narrativa que emirja da lógica que mais o apetecer (cada sujeito organiza como lhe aprouver os fatos relativos);
no conjunto que mais atenda nele sua demanda por realidade, conforme a vigência dos conceitos, quando organizaram satisfatoriamente a existência deste mesmo sujeito-histórico;
no sem-fim de opções (com elas, mais conjuntos) que se imprimem em auto-importância na proporção que o sujeito se incline;
na categoria (pois das diferentes inclinações, as categorizações surgem);
no sujeito, tomado;
no predicado, restando apenas a figura.
“Se a desligar e a ligar novamente, o chocolate irá cair.”

Parabéns, Lost, por colocar a onisciência da habilidade de busca à disposição de seus espectadores.

Bruno, que não assiste à série, aplaudiu:

Lost, a ilha, as provações e loucuras é o que vc quer que seja. Achei fodaço.

Chico Barney também deu seu pitaco:

O episódio foi sensacional, e resolveu a questão fundamental da série.

No final, eles não estavam mais perdidos.

A Geo disse que:

aqui em casa sobrou apenas uma camiseta com o logo dharma e a opinião de que depois de tanto cartucho queimado, prevaleceu a lógica da navalha de ockham.

Hein, navalha de quê? Wikipedia:

A Navalha de Occam ou Navalha de Ockham é um princípio lógico atribuído ao Lógico e frade Franciscano inglês William de Ockham (século XIV). O princípio afirma que a explicação para qualquer fenómeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do fenómeno e eliminar todas as que não causariam qualquer diferença aparente nas predicções da hipótese ou teoria. O princípio é frequentemente designado pela expressão latina Lex Parsimoniae (Lei da Parsimónia) enunciada como:”entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem” (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade). Esta formulação é muitas vezes parafraseada como “Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenómeno, a mais simples é a melhor”. O princípio recomenda assim que se escolha a teoria explicativa que implique o menor número de premissas assumidas e o menor número de entidades. Originalmente um princípio da Filosofia Reducionista do Nominalismo, é hoje tido como uma das máximas heurísticas (regra geral) que aconselham economia, parcimónia e simplicidade, especialmente nas teorias científicas.

Ahn… E ela completa:

mas, porra, foi emocionante!

Outro Bruno vem…

“…engrossar o caldo dos que ficaram insatisfeito.

Acho toda essa interpretação cheia de misticismo e simbologias muito bonita, mas não convence. Quem é fã esperava mais, e, a primeira vista, o “no final tava todo mundo morto” parece ser o jeito mais facil de se encerrar o ciclo. Um final simples para uma série complexa demais.

Que diabos a Penny estava fazendo na “igreja”? E o Walt, Michael, e todos os outros que não estavam no lugar marcado, não mereceram rendenção?

É complicado, eu não enguli esse final…”

Atualização (26 de maio):

E seguem comentando. O Diego não gostou:

Pra mim ficou claro que eles nao imaginavam tamanho sucesso e alongaram e enrrolaram o maximo que puderam, dai voltaram pra primeira temporada e acabaram tudo.

Na real so teria 3 temporadas, por ai.

Juntaram um bocado de cultura pop, com um pouco de fisica e pronto, foi uma boa serie com um final indecente, melodramatico, meloso e chato.

Nem o Oga:

explicar com “estavam todos mortos”, ou “foi tudo um sonho” ou pior “eram ETs”, é coisa de filme de fiçcão ruim. Achei que o Lost seria diferente…Espero que no box tenham 3 horas de extras pra justificar tanto tempo lost

Regismax adorou:

Lindo! Ficou mais com as teorias de física quantica do que as religiosas. Uma realidade que se resolve, legitimando pra sempre a outra realidade.

Um sem fim de referências, teorias e conceitos…não tente explicar de forma simplista : purgatório ou “todos estavam mortos”.

Um final corajoso, digno de todas as temporadas.

o que aconteceu, aconteceu.

O Eduardo pondera sobre a raiva de quem não gostou do final:

Felizmente curti o desfecho mesmo, mas mesmo que não tivesse gostado, dificilmente algo poderia desabonar a série e tudo que ela representou nessas 6 temporadas. O fato de considerarmos tudo o que aconteceu permite, no meu ver, um final “redentor” (ou novelesco para alguns) como o que vimos.

Para quem definitivamente não gostou do final, seria interessante lembrar de cada comentário engraçado do Hurley, cada expressão misteriosa do Locke, cada chapação do Desmond, cada desenrolar de fatos na ilha (e fora dela) e pensar se um final que tenha desagradado, realmente pode por tudo isso a perder. (meio sentimental esse parágrafo, mas Ok, se J.J. Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse podem, eu também me dou esse direito, hehe)

O capítulo final inflou ainda mais todo o clima de comoção e (já) nostalgia dos fãs da série. Os insights dos personagens, quando eles se lembravam da “outra vida”, contribuíram muito pra isso, e a cena final foi um primor. Um verdadeiro tributo aos amantes da série.

E no final de tudo, na ilha particular que cada um de nós criou na mente durante esses anos, todos estavam certos e todos errados, porque afinal, o desfecho não atendeu totalmente a teoria do “eles estavam mortos”, apenas criou outro ponto de partida para mais dezenas de teorias, como foi em toda a série.

O comentário do Chico Barney é decisivo: “No final, eles não estavam mais perdidos”. Resumindo, para mim, o ciclo foi muito bem encerrado, mesmo que o “encerrado” seja no melhor estilo Lost.

Felipe é todo dúvidas:

Ainda estou absorvendo todas as informações, mas é inegável que teve sua parcela de decepção… um seriado tão revolucionário, tão foda, teve um final de novela das 8 realmente. Mas acho que para ter uma impressão melhor e mais clara, preciso rever mais umas três vezes.

Agora o que já sei que faltou responder e que me deixou fulo é:

– Afinal qual é a porra do poder/efeito especial/talento/dom/divindade do Walt? Afinal passamos metade de uma temporada ouvindo aquela desgraça do Michael gritando Waaaalllt, Waaaallt… afinal porque aquela peste foi capturada?? Alguém sabe me responder!?

– Outros pontos que eu não gostei… Wildmore era o fodedo durante todo o tempo, e morre assim sem mais nem menos (tudo bem a vida real é assim, mas ali não era vida real)? A participação dele nesta temporada final foi tão boa quanto a do personagem do Santoro…

Enfim, ainda tem muita coisa para observar.

Sergio emenda:

Como muitos achei piegas um pouco a reunião na igreja e acharia muito pior se não estivessem todos mortos, mas fiquei extremamente satisfeito de entender que tudo que aconteceu na ilha aconteceu mesmo. Que todo sacrifício de todos não era fruto de alguma imaginação, sonho ou engodo qualquer…

E o truque de desviar nossa atenção com a realidade paralela, fazendo todo mundo acreditar que de algum modo mais uma vez o destino corrigiria o caminho levando todos de volta pra ilha me parecia mais um inferno do que o céu onde todos encontraram paz no final…

é tudo meio bobo, ingênuo, solução fácil? Pode ser, mas acho que amarrou bem a história e afinal, todo mundo morre mesmo né?! depois de acompanhar tantos anos os personagens, mais triste seria um final seco. Acho que muita gente não aguentaria. Afinal o coração precisa de alento. Precisa acreditar que no fim tudo dá certo. Se não aqui, em algum outro lugar. Pelo menos.

E tão bela a cena final, quando Vincent sai da floresta, vai até Jack, lambe sua cara e deixa ao seu lado. O cão deita em companhia e Jack fica pronto pra morrer. Lindo.

Se não responderam os mistérios… paciência. Nenhuma resposta seria mesmo satisfatória. Let´s move on.

Any não quer conversa:

O seriado foi excelente, mas o “The End” foi sim uma bosta.

Na verdade ele seria bom SE os roteiristas tivessem pensado nesse final nada original (como vocês sabem essa premissa é bem antiga, desde os anos 80) desde o início da série, coisa que eu duvido muito.

Aí foi o seguinte: Os roteiristas se perderam com tanto mistério, que ficou difícil explicar, números em todo lugar, mecânica quântica, viagens temporais, tudo isso seria difícil explicar em tão pouco tempo, os caras aproveitaram a deixa de muita gente que desde o inicio do seriado já havia levantado essa hipótese (que os roteiristas negaram na época, alegando que o seriado era de pura ciência) e usaram o tal final ridículo e nada original (repito).

Ninguém venha dizer que quem não gostou foi porque não entendeu que não é verdade, assim como quase 100% dos fãs esperavam realmente muito mais (e não estou falando em todas as respostas mastigadas não), nada tão fácil como misticismo.

Assim é fácil: Junte um monte de mistérios sem nenhuma ligação aparente e quando muita gente estiver fazendo conjecturas e você não tiver explicação (ninguém teria mesmo), você lança uma resposta Deus Ex Maquina, e quem não gostar é porque não entendeu.

Agora sejam sinceros e digam se esperavam mesmo o suposto final de Caverna do Dragão? Duvido.

George Lucas estava certo.

O Eder não gostou, mas menos:

Acho que me decepcionei com o final “Scooby Doo” porque espera que a razão de tudo fosse lógica e não espiritual. Dá uma sensação de que todo o jogo com o tempo foi em vão, todas as teorias a respeito da física foram nulas, pois a teoria que venceu foi uma das primeiras (quem, já na primeira temporada, não cogitou a possibilidade de que eles estivessem mortos e que a ilha era uma espécie de purgatório? Muita gente pensou isso logo após o primeiro episódio). Acho que tudo isso não pode ser confirmado (o que torna o final menos decipicionante) é fato de que não ficou claro “quando” eles morreram, pois não dá pra afirmar que eles morrem logo na primeira queda, já que a realidade palela (um quase-céu?) só passou a existir após a explosão (todos morreram na explosão? se sim, porque toda essa lenga lenga de homem preto? Se não, como diabos conseguiram sobreviver a uma explosão daquelas?). Essas e tantas outras questões é que fazem valer a pena, que tornam o que Lost é, um fenômeno. O final foi brega,mas foi bonito, uma despedida que não foi muito honesta conosco, mas que tratou com carinho esses personagem que nós, ao longo de 6 anos, aprendemos a gostar como se fossem reais.

Arthur vai além:

A primeira impressão foi o que o final tinha sido digno, apenas digno, com o legado da série.

Mas após umas duas horas de sono na madrugada o episódio não saía da cabeça, era assustador… Preciso ver de novo, mas agora já acho o episódio fantástico, de uma coragem ímpar que será lembrado para sempre depois dessa chuva de críticas prematuras. O caminho que os caras escolheram não podia ser mais condizente com esta 6a temporada. E a escolha sobre o final dividiu os espectadores entre aqueles que compraram ou não a ideia, entre quem é cético e quem tem fé (independente de religião, fé em alguma coisa que não se precisa saber o que)

Se é ciência ou religião, no fundo, pra mim pouco importa. A série sempre foi baseada em mitologia e falsa-ciência. Acho que todos precisamos acreditar em algo que não precisa de interpretação, de fundamentos, de respostas. Lost mesmo e outras obras-pop ensinaram que as respostas não importam tanto, mas sim a interpretação que cada um faz das perguntas.

Chega de sobre-analisar tudo: quem gostou, aproveite; quem não, “let it go”.

Rafael segue cético:

Justamente por ser Lost a série mais imprevisível entre todas que eu assisti, já desconfiava que, qualquer que fosse o final, seria “broxante”. E justamente por isso não me enchi de expectativas, pois sabia que o único jeito de “o fim” me agradar seria, se existisse, um modo de aumentar ainda mais as dúvidas ao invés de tentar respondê-las. Mas enfim, aparte essa “Novela Mexicana”, em que quase todos os parzinhos se encontram, eu achei o final satisfatório. Afinal, não deixar margem para o mistério e para a dúvida, na minha opinião faria o final ter sido bem pior.

Carlos lamenta:

A série representa bem o lado negativo de ser nerd, ficar hipotetizando mil coisas que não correspondem com a realidade, só existem na cabeça da criatura… O tempo q os nerds mais hardcore poderiam ter usado para aprender a se sociabilizar foram pelo cano.

E completa:

Só quero ver um video do Hitler falando a respeito desse final e de quem se prestou a acompanhar a série inteira…

Gabriel se revolta:

Fala sério, quer dizer que tem gente que fica 6 anos acompanhando uma série SÓ PRAVER O FINAL??? E se você se divertiu por 6 anos e não gostou do final, foi tudo uma perda de tempo? Que investimento do seu tempo mais infeliz, hein? Repensem seu entretenimento. Deixem de assistir séries, vejam só filmes, assim quando o final não agradar vocês só perdem umas duas horas. Ou então assistam Além da Imaginação, é meia horinha e acabou. Se não gostarem de um episódio não vão nem rever os personagens.

O Terron ironizou:

Eu achei legal. Eles estavam morando na letra de “Imagine”, do Lennon:

*”Imagine there’s no Heaven / It’s easy if you try / No hell below us”

Apesar de todos os personagens terem “falhas no caráter”, algo que fizeram questão de reforçar o tempo todo, ninguém foi pro inferno no fim.

*”Above us only sky”

A cena final, com o Jack olhando para cima

*”Imagine all the people / Living for today”

No fim, quando o Christian diz que o tempo é irrelevante naquele lugar

*”Imagine there’s no countries / It isn’t hard to do / Nothing to kill or die for / And no religion too / Imagine all the people / Living life in peace”

Essa é fácil: todo mundo, de todos os países (coreia, iraque, eua) e de todas as religiões acaba junto, em paz, no mesmo lugar

*”You may say that I’m a dreamer / But I’m not the only one / I hope someday you’ll join us
And the world will be as one”

Aqui é sobre como todos achavam que poderia ser um sonho do Jack. Mas no final ele não estava sozinho, todos estava lá com eles. E o mundo deles só foi criado, como explicou o Christian, quando todos chegaram

*”Imagine no possessions / I wonder if you can / No need for greed or hunger / A brotherhood of man / Imagine all the people / Sharing all the world”

Essa é a apoteose final, quando todos abandonam seus problemas da Terra e partem para a paz espiritual.

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Sim, eu estou zoando.

O Pablo se emocionou:

Confesso que me emocionei uma meia dúzia de vezes. E acho que justamente era esse o intuito da coisa toda. Fazer o público ter contato com seu lado espiritual, ou se confrontar com a pergunta mais sem resposta de todas (mais do que qualquer mistério de Lost): o que acontece depois da morte?

Os criadores de Lost sabem que essa pergunta jamais terá uma solução, então se penduraram nela para criar toda a trama da série. Todo o resto, as referências a ficção-científica, foi tudo perfumaria para nos manter ocupados durante seis anos. Conseguiram, né?

Foi assim – a bomba explodiu e acabou pro Jack (e pra vários outros). O que vemos na sexta temporada é o rito de passagem do herói para “o outro lado”. Na realidade paralela, vemos o que “poderia ter sido” se todos fossem bons, bacanas e honestos. Na ilha, acompanhamos a luta de Jack pela redenção espiritual. Quando ele enfim cumpre sua “missão”, está pronto para partir. Como não existe temporalidade no “outro lado”, todas as pessoas importantes para Jack aparecem juntas na igreja. Mas não quer dizer exatamente que todas morreram juntas quando a bomba explodiu ou coisa parecida. Elas foram morrendo ao longo dos anos, e se juntaram todas ali na “igreja” para juntas pularem para o outro lado.

Os criadores de Lost sabiam que se equilibrassem ciência com fé, seria a combinação perfeita para nos manter ligados. O desfecho inteiramente baseado na fé não pode ser considerado uma enganação, ou simplesmente uma “solução fácil”. Não foi nada fácil nos manter acompanhando esse tempo todo. Eles se arriscaram, e no fim, tiveram sucesso. O público queria que houvesse uma explicação científica ou lógica para as grandes questões da existência humana, mas o fato é que ninguém tem essas respostas – nem os roteiristas de Lost. Todas essas questões não respondidas servem como metáfora para os grandes mistérios que o homem jamais conseguirá resolver na vida terrena.

Mas claro, isso sou só eu falando.

O Jairo não gostou:

Eles não explicaram o sentido da vida ou o segredo do universo mas me deixaram triste. E hoje eu to me sentindo bem mais triste pois o significado do fim que eles apresentaram é em certa medida tremendamente desesperançoso, tem o impacto do abandono, da solidão absoluta.

Não sei se Jack e os outros losties foram para um outro plano espiritual mas não consigo parar de pensar na completa falta de sentido da vida. Escuridão e pó? A morte é apenas uma noite longa? Não há nada lá? Ó Deus, exista!!!

Tiago gostou:

Pra mim, o final foi coisa linda. A parte da igreja é aberta demais – o que é uma delícia e não poderia ser diferente sendo Lost o que é (foi).

Na real, eu acho esse lance de purgatório meio balela. vejo essa realidade paralela como um espaço onde essas pessoas (que viveram intensamente aquilo na ilha) precisavam relembrar do que viveram, para enfim seguir. Só isso.

e, pq tem a realidade paralela? por causa da porra da bomba, ou todo mundo esqueceu disso?

O problema de encaixar aí é: e o pai do Jack vivo?

Ahhhhh, fode minha cabeça, Lost!

Igor não gostou:

Legal a parada espiritual (apesar de que animes japoneses como Akira e Evangelion fizeram finais parecidos e muito melhores) mas eu realmente achava que estávamos construindo algo aqui, não precisava nem explicar friamente, era só mostrar que tudo faz sentido, e isso não aconteceu.

O final de Lost foi como um final de temporada, e acredito que não era isso que esperávamos. Lost acabou e não deixou nem sequer uma base sólida para que criássemos as nossas próprias teorias.

A minha impressão é que Lost foi uma série feita por amadores.

E o Mateus:

Lost tô eu. Acabei de ter um flashback de Twin Peaks, Arquivo X, Matrix e BSG… com um Q de Caverna do Dragão. Isso é bom? Ruim? Let go…

Atualização (27 de maio):

Diz o Luiz Benedito:

Foi um ótimo final de temporada, mas, na minha opinião, ganhou o prêmio Arquivo X de pior final de série.
Pra mim, os redatores/produtores mandaram a real pros fãs, quanto às suas expectativas quanto o final da série, em duas frases:
“Uma pergunta só vai levar a outra pergunta”
“Let it go.”

O Cassiano pondera:

Achei muito bom o final de Lost, mas como muitos fans que assitiram desde o início, não ter as respostas de muitos enigmas me incomodou um pouco. Do que se mostrou, todas peças se encaixam, mas parece q sobraram peças. E é por isso que entendo a raiva de muitos, pois as peças que sobraram são todas relacionadas aos enigmas que os fizeram despertar interesse pela série. Quem não assistiu aquele monte de viral que eles criaram entre a segunda e terceira temporada, dando total foco no que seria o DHARMA, o sentido daqueles números. Enfim, boa parte dos que viraram fans, foi pq achavam q um dia iriam entender todo esse mistério. Volto a repetir que o desfecho de Lost foi épico, mas compreendo a indignação dos que não gostaram.
Fico na espera de um novo seriado: Dharma Initiative… hahah

Diz a Lulu:

Primeiramente, queria agradecer o Alexandre por só agora fazer um post mesmo sobre o final. Como minha internet é lerda, decidi aguardar um sofrido dia e meio para assistir na televisão. E mesmo tentando me segurar, eu entrava no seu blog, mas fui forte o suficiente para só agora depois de assistir, checar os 64 comentarios.

Bem, achei emocionante. Achei muito “fica comigo” quando rolava os beijos mucho lokos. Foi muito fofo.
Achei divertida a cara do Hurley de “fudeu” quando o Jack passou a função pra ele.

Só que fiquei chateada com o finalzinho. De tantas possibilidades, foi logo essa? Concordo com quem escreveu que o “move on” do pai do Jack foi para os fãs. Eles vão precisar…

Mas sério, pelo menos, explicar os poderes do Walt eu já ía agradecer.

Mas no geral, foram fudidas as últimas três temporadas. E aja imaginação e fôlego!

Diz o Dani:

acho que a ilha não segue porque a “redenção”, se é que se pode chamar de redenção, foi só do jack, era dele que se tratava, ele não parecia aceitar o que havia ao seu redor (”you don´t have a son”). eu eu chorei bastante, lírico e simples, sem que ninguém precise explicar muito, porque morte é algo que todos intuímos e é isso aí.

Aí vem o Vinícius com seus dois centavos:

Quem comprou a idéia de que o passado seria mudado errou porque já sabiamos que nada poderia ser feito. A série cansou de falar nisso. A linha do tempo é única e acabou, acabou.

Ainda não entendo bem porque a necessidade contar essa história pós-morte, mas acabou se tornando uma narrativa necessária para amarrar a série.

Ah, fanáticos, – caso apareçam – estou simplificando bem minhas impressões, que fique claro. Não vai dar pra ficar escrevendo horas e horas… infelizmente.

Por fim, vi toda a série, aproveitei toda a experiência que foi possivel – lendo, navegando, ouvindo podcast, comentando em blog – e foi divertido. E o fim foi digno com tudo e de qualidade. Só fico na dúvida se empolgo de rever. Quem sabe mais tarde, com outras idéias e tal.

O Zanan pira fundo:

Senhores, discutir a cor da casca do ovo, sua textura e composição nos impede te chegar ao cerne da questão. E por sua própria natureza, a Série Lost continuará a ser um ovo cuja casca não conseguimos quebrar e ficamos a imaginar o que está dentro contido.

Sendo asim, tudo que quiserem, será. São os inúmeros universos paralelos dentro do universo de cada um. Para saberem mais, digitem Urantia e abram a mente.

A Cristina não gostou:

Como assim, aquele final super novelesco? Como assim essa redenção de todos os personagens. Me poupe! Tanta intensidade de sentimentos pra chegar no final e ficar aquele “beijinho, beijinho, tchau, tchau”? Não gente. Eu sei que deve ter gente aqui que realmente gostou. Mas será que alguns não estão simplesmente só tentando ver o lado bom pra não diminuir a imporância da série? Isso não é necessário. Ela já tem seu lugar ao sol e vai deixar saudades de qualquer jeito. Só acho que todos nós fããs merecíamos um final melhor. Um final a lá Twin Peaks, que não deixou pedra sobre pedra. Era isso que eu esperava e era isso que a gente merecia.

O André vai em outra linha:

Eu ainda não sei se gostei, e ler as opiniões de outras pessoas ajuda a manter minha opinião em aberto. Isso porque não entendi tudo e o que entendi ganha outras interpretações aos olhos dos outros.
Algumas explicações são muito ruins, como o lance da rolha na caverna. A cena final é muito boa, beleza de sacada.
E como bom fã de Arquivo X eu já não esperava muitas respostas, então isso não me incomodou… muito.

Daniel vai longe:

rapaz, foi do caralho! Foi triste, desesperançoso e melancólico prá cacete. E tenho uma teoria!

Sempre achei que LOST era sobre contar histórias. O cara que tava contando aquela história de viagens no tempo, mistérios e sofrimentos era o Jacob. Um cara meio coxinha, cheio de recalques, com pouca consideração pelas pessoas e com uma mania por jogos e por complicar desnecessariamente as coisas. Depois dele foi o Jack, que só contou um pedacinho, o da morte do MIB. Depois foi o Hurley (AAÊE!). Hurley era o “dono da história” agora (com uma ajuda do Ben), e na história dele – um cara que se preocupa com todo mundo e quer todo mundo feliz – não tem daddy issues, as pessoas não morrem tragicamente, os casais ficam juntos, as crianças não estão órfãs e todo mundo está contente – não é o final triste e desesperançoso que vimos. O flashsideways não é uma realidade paralela ou um purgatório / paraíso, o flashsideways é o fim da história contado pelo Hurley!

Pô, o Ben deu a deixa lá! “Não dá prá sair da Ilha!” “Ah, isso era só a maneira do Jacob de fazer as coisas. Claro que dá.” Ou seja, a história é da maneira que você contá-la. O próprio Ben queria reescrever a história: quando ele matou o Widmore ele disse “Ele não salva a filha dele no final”. E não podemos esquecer que no flashsideways o Hurley é o cara MAIS fodão. Rico, poderoso e com a loira.

É isso. LOST foi do caralho. E acompanhar LOST aqui no SUJO também foi foda.

Vennícius responde bem algumas perguntas sem resposta. Tem umas boas:

– O que é a ilha?
R: É um espaço de terra cercado de água por todos os lados.

– Para que apertar o botão?
R: Para deixar o locke doidão.

– O que o vincent comia?
R: Restos mortais.

– Para que servia a Dharma
R: Era uma organização de narcotráfico, que tentou desenvolver uma nova droga luminosa. Seus efeitos são: Flashbacks, Viagens no tempo, e Visões de mortos.

– Qual a importancia do Walt?
R: Nenhuma, tanto que sumiu.

– Por que Jacob viajava livremente para fora da ilha?
R: Porque ele ganhou o passe livre da ilha, jogando com o irmão. Seu jogo, suas regras.

– O que é a luz?
R: O coração da ilha! Ooohh =D

– O que eram os números?
R: A lendária constante do numero pi.

– Quem construiu aquela estátua, e os templos?
R: Pedreiros.

– Como Ben tinha a lista dos passageiros?
R: Google.

– Por que o irmão de jacob virou a fumaça preta?
R: drogas.

– Quem era a mãe de Jacob e MIB?
R: Dercy Gonçalvez.

– Para onde foi o avião que Lapidus pilotou?
R: Caiu no mar, por falta de combustível, 15 minutos após decolar.

– Qual o prato favorito do Desmond?
R: Penny ao molho funghi.

– Como funcionava o sistema para mover a ilha?
R: Aparentemente ao girar a roda, a agua luminosa era canalisada fazendo com que a ilha toda se movesse…. e então… o tempo…. eh… então a agua… e…. é isso.

– Por que Charles queria tanto voltar para a ilha?
R: Depois de ver o que a ex-mulher virou.. até eu iria.

– O que eram as injeções que deram na Claire?
R: Vacina para evitar Influenza (FLU)

– Por que a fumaça matou o Mr Eko?
R: “Ele olhou torto para mim” diz a fumaça em entrevista exclusiva para a NewYorkTimes

O Deivison retoma a discussão:

O episódio final de Lost me fez ficar martelando por horas em quem estaria na minha ante-sala pra “seguir em frente”. Só uma série histórica poderia nos proporcionar isso. Ainda bem que vive isso tudo!

Atualização (28 de maio):

Tiago reclama:

Independente de gostar ou não (eu particularmente não gostei), esse fim nos faz chegar a uma conclusão. Diferente do que os roteiristas afirmavam desde o inicio da serie, que eles já sabiam como a serie, esse final com eles na igreja, realidade paralela, passagem pra outro plano, foi totalmente improvisado.

Como se chega a essa conclusão? Não existe nenhum gancho durante a serie pra esse desfecho, diferente do final da historia ´´original´´. Em across the sea, os produtores deixam explicito a ligação de adão e eva. A cena do jack com o vicent no bambuzal foi filmada a anos, deixando claro que os roteiristas, ja sabiam desse rumo da historia.

Já a realidade paralela só foi inserida da historia na sexta temporada, nao tem ligação com mais nada, nem com a historia da ilha na sexta temporada. Ou seja, é uma historia totalmente paralela. se fosse excluida a serie se fecharia da mesma forma.

Pra mim, isso foi uma tentativa dos roteiristas de desviar a atenção da historia furada que eles tinham na mão, e funcionou, ja que muitos adoraram o final.

Pra aqueles que gostaram, um exercicio mental (não me crucifiquem, isso é um ponto de vista), analisem a serie inteira sem a RP, e vejam como a serie foi furada, dependendo desse retalho improvisado pra se fechar.

E o Cadu disse que:

A história desta última temporada foi exatamente igual a história do livro Ubik, de Philip K. Dick, como o Delfin bem citou. Aliás, K Dick está entre os autores mais referenciados em Lost (seja direta ou indiretamente). E ainda que essas referências sejam legais, principalmente pra quem curte o autor, como eu, bem que o roteiristas de Lost poderiam não ter ficado tão preso as idéias dele, e ousassem uma outra solução pro final da série. Afinal, Lost ficou famosa por ser justamente uma história que inovava nas soluções narrativas, mas no fim, apelou pras mesmas soluções já usada por K. Dick, ao invés de tentar algo próprio.

Outro Cadu acrescentou:

Acho q a ideia dos produtores foi usar a ilha como uma alegoria entre céu e inferno, exatamente como disse jacob: uma rolha. mas ainda assim acho q não era o purgatório. Era uma ilha real. Acho meio impossível negar a relação bíblica da série dadas as milhoes de referencias. Inclusive tem um vídeo no youtube do JJ dizendo que a teoria do purgatório foi a teoria inventada por fãs que ele mais gostava.

Uma coisa que me chamou a atenção foi o ator que interpreta o Jack dizer, no programa do jimmy kimmel, que tudo que se passou fora da ilha pós queda do avião (flashback, foward e sideways) pode ter sido um sonho do Jack uma vez que ele foi o ultimo a aceitar que estava morto. Segundo ele, isso pode ter durado anos ou pode ter durado um nanossegundo. Ou seja todo esse lance do pessoal se abracando na igreja, da cirurgia do Locke, do filho dele, do lance com o pai, de “precisar” voltar para ilha etc aconteceu durante aquele ultimo momento onde ele vê o avião partindo da ilha. Essa cena aliás foi uma metáfora do momento que ele realmente “let go. moved on”. Não houve segundo avião, foi tudo parte do processo de aceitação.

monstro, bomba, urso polar etc podem ter sido nanossegundos da “passagem” de cada um dos outros personagens, já que todos tinham pendências a resolver. Se aceitarmos a teoria do sonho, tudo é possível.

O único sobrevivente do acidente foi o cachorro que, ao contrario dos humanos, sabia o que tinha que ser feito: mostrou amor ao próximo ate o ultimo momento. Este foi o karma que os outros personagens tiveram que entender e superar. O que importa é o que você faz em vida. E o cão cumpriu sua função.

PS: Um dia depois do season finale assisti dois episódios da primeira temporada (acho q os eps 2 e 3) e já dava para perceber que o Locke, em alguns momentos, já era o Black Smoke até a cena em que o javali aparece. A partir desse momento, sabe-se lá porque, foi visível a mudança do Locke num cara místico pois as pernas dele pararam de funcionar novamente por alguns segundos e ele percebeu que fora tocado de alguma forma pela Ilha, mas nao sabia que era o Black Smoke ainda. Ou seja, o Mib não estava certo de que o Locke era o candidato certo e começou a testar os outros personagens aparecendo como o pai morto do Jack ou o urso polar, por exemplo. Ou seja, já sabiam como a série ia acabar desde o começo.

PS2: como alguém disse no twitter, os produtores optaram por um jogo de espelhos com a audiencia. O desfecho define quem nós somos. Quem é mais racional e cético odiou. Quem acredita em coisas mais místicas achou o final lindo. A controversia foi intencional.

O LucasCM engrossa o coro:

não dava pra não gostar. era lost acabando.
e eu ainda acertei que o jack morre e o hugo assume o jacobismo 🙂

achei o final da realidade-ilha muito bom.
teria feito, mesmo na saida que eles deram, muitas coisas (mortes de jin, sun e sayid) antes, mas acho que ficou de bom tamanho.

o fora da ilha é foda, pq podia ser qualquer coisa. tinham umas 90 teorias na internet que fariam sentido.
e até que não achei mal. eles deram um jeito de fazer a primeira coisa que todo mundo achou que era (o lance de estarem todos mortos) sem que ninguém desconfiasse. palmas para eles.

minha grande critica é que eu gostava mais da série quando seus problemas eram mais simples.
primeiro era losties x ilha (física, não mística)

depois losties x outros
depois ben x widmore
depois jacob x fumacinha
depois ninjas-hippies x fumacinha
que culmina nos clichês fist-fighting e tiro-seguido-de-comentário-sagaz.

mas eu gostava do hatch. gostava dos numeros. da torre da rousseau. dos hieróglifos. da dharma. e isso tudo, no final das contas, nao era nada. ok, quase nada.
e dava pra ter um pano de fundo “grandioso” (fé x ciência, destino x livre arbítrio e por aí vai…) com estes temas.

talvez tivesse gostado mais se o foco do programa caísse mais pra essas coisas.
mas não é pq não foi que não curti.

outra coisa: geral propagandeia como os caras são uber-fodas por terem criado uma “rede de lost”, no torrent, no lostpedia, no twitter, no raio que o parta.
mas não sei até que ponto isso foi intencional e/ou mérito dos caras.
não podemos esquecer que lost era um show da ABC. e um show bem caro, se não me engano foi o piloto mais caro da história.
e desconfio que a ABC tenha perdido uma boa grana com isso tudo. não vi nenhum episódio na TV.
fortaleceu a “marca” lost? sem dúvida. mas e daí? como isso reverteu pra ABC? você comprou uma caneca com a cara do hurley e um suéter escrito “dude, we’re lost”? eu não comprei…

imagina o JJ / CC / DL chegando na emissora e falando: “ó, vamos fazer o maior show da história. o star wars da geração 00. vamos mudar a forma de consumir conteúdo, vamos entrar pro zeitgeist de uma geração. vamos estar no livros das faculdades… mas essa nerdaiada toda vai ver o show via torrents piratões”.
acha que saíam de lá com o go-ahead?

pra terminar, uma das poucas coisas que li sobre o “the end”. não sei se é verídico, mas achei bem legal: http://bit.ly/bK5GOD

Vale ler o link sugerido. Mas, sim, a ABC faturou dinheiro vendendo Lost, veja. E o José Lopes comenta o que o Lucas disse:

os mistérios existiram e vão continuar existindo…Mas eu queria dizer aqui que eu gostei… e cada dia que passa, pensando mais um pouco, gosto ainda mais. O que comporta, dentro do contexto da série, qual é o nome real do MIB? Por que ele tinha se transformado em fumaça? São questões que não importam, creio eu. Cada temporada teve suas ânsias próprias, seus conflitos próprios e o que importa é que, no final, todos ficam juntos.

Me lembrou muito o fim do livro “O Pêndulo de Foucault” do Umberto Eco: os três personagens buscam nas 600 páginas do livro respostas sobre sociedade secretas, entidades do mal, demônios, filho de Jesus, templários e sobre todos os seus mistérios. Dois deles morrem justamente por aqueles que acreditam nesses mistérios. No final, o terceiro personagem que restou, depois de alguns acontecimentos, passa a pensar no filho, na esposa e, contemplando o pôr-do-sol, chega à conclusão que não existem mistérios….não há nada para ser descoberto.

A cena do Jack olhando o avião partir é linda…

E o Felipe Martins conversou com a ironia do Terron:

O Terron ironizou, mas me lembrou de uma música do beatles para explicar, explicar não, mas sim contextualizar, a realidade alternativa/limbo/ceú/sala de espera que acompanhou a em paralelo a história da ilha:

In my life

There are places I remember all my life,
Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain.

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall.
Some are dead and some are living.
In my life I’ve loved them all

Though I know I’ll never lose affection
For people and things that went before,
I know I’ll often stop and think about them,
In my life I’ll love you more.

Though I know I’ll never lose affection
For people and things that went before,
I know I’ll often stop and think about them,

Ainda preciso assistir mais uma vez para cair a ficha do que aconteceu. Mas eu achei muito bom o episódio, ainda não sei se achei bom o final da série, mas o episódio foi fodástico!

Bufo, ouvinte número 2 do Comentando Lost, segue:

A ilha é real (assim como tudo que aconteceu com os personagens), mas também é um purgatório como o flashsideways (vide os sussurros). A diferença é que são estágios diferentes, a ilha é a porta de entrada e o flashsideways a saída. Ou um é o purgatório-inferno e outro purgatório-paraíso. No último, os mortos não sabem que estão mortos, os problemas que tiveram em vida continuam, mas de forma mais amena já que cada um tem algo que alivia (Jack tem o filho, Kate a convicção de inocência, Locke tem Helen, etc), alem de terem uns aos outros como ajuda para superar essa etapa e alcançar a iluminação.

Porém na ilha, a situação é diferente: os mortos tem consciência que estão mortos, se lembram de quando eram vivos, sabem que estão presos em um lugar real, assim como podem contatar o mundo real, seja através dos sussuros, seja através de pessoas que são sensíveis a isso como Hurley e o menino de preto. Também é um lugar de sofrimento, onde eles pagam o sofrimento que causaram em vida. Mas ao invés de pagar seus pecados, eles contemplam voltar a viver, manipulando os vivos para que destruam a ilha.

Ao se transformar em monstro de fumaça, o MiB virou a personificação desses mortos, mas é evidente que eles já estavam agindo antes, com a aparição da mãe verdadeira ao menino de preto e revelando os segredos da ilha para ele adulto. Por isso que impedir que ele saísse da ilha era impedir que nosso mundo acabasse como os filmes do George Romero (a sétima temporada “zumbi” que eles tanto faziam piada no podcast).

Fala Vitor:

Eu acho que eles erraram quando filmaram o Flash sideways na esperança de ninguém se ligar do que estava acontecendo, e no final explicar: olha, não é realidade paralela é só o pós vida, algo que já repudiamos na primeira temporada. (cá entre nós, eles criaram esse preconceito na primeira temporada)

Os fans assistiram pensando “pera, não faz sentido, a vinheta do season finale da 5ª ficou branca, alguma coisa mudou… CAR#@*$!! o avião não caiu?!?! Isso é algum tipo de REALIDADE PARALELA!!” Pronto, foi definido assim e assim ficou até o final. Até a fatídica decepção.

E se tivesse terminado com todos morrendo (no mesmo esquema de que um dia todos morrem, o hurley demorando mil anos pra morrer e o jack logo depois nos bambus), e de repente eles despertassem na realidade paralela, com a ajuda do Desmond, vivendo essa realidade paralela no entanto conscientes do que ocorreu na ilha. E no lugar de terminar com a reunião na igreja terminasse numa, sei lá, “festa de fim de ano” HAUHAUAHUA…

Pensa que legal que seria, estariamos discutindo que no fim das contas eles conseguiram sair da ilha, da maneira MAIS LEGAL EVER, levando a memória pra outra realidade. Aliando a fé de querer sair da ilha com a física absurdista dos livros do Hawking. (esse final teria me feito reassistir a série religiosamente)

Eu não estou dizendo que não gostei do fechamento, eu gostei, mas foi fraco. Foi o que meus professores chamam de A PRIMEIRA IDÉIA.

O Jairo ainda abre outra dúvida:

Eu ainda não vi novamente o episódio final mas me lembro que tinha um esqueleto na caverna da rolha, não tinha? De quem seria? Significa que outros tentaram destampar a parada e falharam? Mais uma pergunta para LOST.

E você, achou o quê?

E, em tempo, como eu disse no domingo, essa semana é quase de recesso aqui no Trabalho Sujo. Rolam atualizações sim, mas beeem devagar. E esse post (com a discussão sobre o fim da série) segue sendo o mais recente, todo dia.

Atualização final deste post (28 de maio):

Stop.

O fim de Lost por Adriana Almeida

Já deu? Chega de Lost? Bom, há controvérsias. Ao responder em alguns blogs que falaram do fim de Lost, eu ainda estou recebendo ainda hoje, os novos comentários que esses posts receberam, e notei uma coisa: num primeiro momento era um embate equilibrado sobre quem gostou e quem não gostou, agora, parece que é um assunto em pauta apenas pra quem não gostou.

A idéia é que quem gostou já absorveu isso em suas vidas e tocou em frente, de forma análoga aos personagens da série. Quem não gostou ainda está remoendo a história do fim. E o protesto é sempre o mesmo: Não respondeu às perguntas e foi um final novela das 8. Aí eu peço desculpa pela prepotência: Vocês não entenderam nada! Não é o fato de ter gostado ou deixado de gostar que me diz que vocês não entenderam. Gostar é uma questão de escolha pessoal e pronto. Tem gente que gosta de jiló, tem gente que não.

A questão é que os motivos de vocês não terem gostado remetem ao fato de vocês terem comprado gato por lebre. Lost não é um livro de Ágata Christie, está muito mais pra um de Gabriel Garcia Marques…

GGM é meu escritor favorito e 100 anos de solidão meu livro de cabeceira. Em momento nenhum isso prova a genialidade dele de forma absoluta. Prova apenas pra mim. E por estarmos tratando da mesma vertente literária, era de se esperar que eu gostasse de LOST e quem não gosta de GGM, detestasse…
Mas aí a polêmica fica em outro patamar. O patamar de gostar ou não de um determinado gênero literário. E talvez de ter havido alguma confusão na hora de comprar o produto (ser convencido a assistir LOST). Então vamos falar do processo de venda.

Depois da Sky + eu quase não vejo mais propaganga: gravo meus programas e pulo os comerciais. Mas vez por outra me pego assistindo em especial comerciais de séries que eu assisto e choro de rir. Na própria AXN: os comerciais de Raising the Bar são extremamente focados nos romances entre os personagens dando um ar falso de uma série que tenta ser sexy: a série é sobre os dilemas da defensoria pública e até rola romance, mas num plano secundário: não é barrados no fórum como a propaganda faz parecer. E esse é um exemplo de milhares. Durante muito tempo me perguntei se quem faz as propagandas não podia assistir a série antes de falar tanta besteira. Ingenuidade minha: sexo vende muito mais do que dilemas morais, então no exemplo que dei, a propaganda se concentra nas insinuações de sexo muito mais do que nos dilemas de defender judicialmente quem não pode pagar por caros advogados.

Então entendo que você justifique suas críticas dizendo: Lost foi vendida como uma série de mistérios, e série de mistérios precisam que esses mistérios sejam “resolvidos” no final. Bom, você caiu no conto do vigário, acha mesmo que Activia é mágico e faz ir ao banheiro regularmente e que beber Jonhy Walker faz você ir longe na vida. Propaganda é propaganda e não dá pra confiar cegamente. Alias, vamos combinar, não dá pra confiar e ponto.

Então vamos concordar em um ponto: as propagandas do AXN a cerca de LOST eram “propagandas enganosas” que o levaram a pensar que LOST era uma série scifi com respostas lógicas aos mistérios propostos. Acione o procon, mas não reclame da série.

Lost era uma parábola narrada através do Realismo Fantástico. O fato do capítulo final já ter estado escrito desde o episódio piloto de LOST é a prova que os seus roteiristas não se perderam no meio da série e colocaram um final meia boca porque não conseguiram explicar os mistérios. Eles nunca quiseram explicar nada nesse nível de romance detetivesco… Isso não os faz perfeitos e que não tenham tropeçado aqui ou alí, ou que a série tenha um ou outro erro de continuismo, mas apenas que responder às perguntas levantadas pelos mistérios da série nunca foi a intenção primordial da obra, aliais, nem primordial nem secundária. Eram elementos simbólicos usados pra contar a história e apenas isso.

Realismo Fantástico, também chamado de Realismo Mágico ou Maravilhoso é uma corrente literária do século XX, em especial latino americana, que tem como nomes de destaque Gabriel Garcia Marques (Colômbia, e ganhador do Nobel de literatura), Julio Cortázar (Argentina), Arturo Uslar Pietri (Venezuela), José J. Veiga (Brasil), José Luis Borges (Argentina) e Alejo Carpentier (Cuba).
Toda a idéia do Realismo Fantástico é a de fundir duas visões tidas como antagônicas:a cultura da tecnologia e a cultura da superstição e através delas, contar uma história cujo interesse é mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum (Os Losties viajam no tempo, eles acham isso estranho, mas ninguém para e surta e diz: Viajar no tempo é impossível, vamos buscar uma explicação científica pra isso ou melhor, vamos assumir que estamos todos loucos. Ao contrário, eles encaram o improvável como algo factível dada a realidade da ilha) e usar essas passagens como metáforas e críticas sociais.

Diferente do surrealismo, o inesperado irreal é incorporado na realidade e possui coerência interna. Não necessita de uma explicação lógica, mas possui uma explicação mítica (e eventualmente mística) que é compartilhada num nível subconsciente e está em concordância com os demais elementos da história.
Wikipédia básica para a galera… são características do realismo fantástico:

Conteúdo de elementos mágicos ou fantásticos percebidos como parte da “normalidade” pelos personagens;

– Elementos mágicos algumas vezes intuitivos, mas nunca explicados;
– Presença do sensorial como parte da percepção da realidade;
– O tempo é percebido como cíclico, como não linear, seguindo tradições dissociadas da racionalidade moderna;
– O tempo é distorcido, para que o presente se repita ou se pareça com o passado;
– Transformação do comum e do cotidiano em uma vivência que inclui experiências sobrenaturais ou fantásticas;
– Preocupação estilística, partícipe de uma visão estética da vida que não exclui a experiência do real.

Opss, acabo de descrever LOST.

Você tem TODO O DIREITO de não ter gostado de Lost, mas então, desgoste dele pelo que ele é: uma obra de Realismo Fantástico. E para uma obra dessa vertente literária, Lost não possui grandes falhas e cumpre o que se propôs. E (para quem gosta do estilo) foi uma obra prima se pensarmos que foi algo que passou na normalmente rasa e pouco significativa televisão…

Gosto não se discute, mas entendimento sim…

* Adriana escreveu este texto em seu blog.